Ivy continuava imóvel, os olhos fixos na porta entreaberta. Seu coração martelava no peito, a respiração curta, descompassada.Ela deveria ir embora. Esse sempre foi o plano. Então por que não conseguia se mover?As palavras de Lucian ainda ecoavam em sua mente. Se for ficar… é porque quer.Um arrepio percorreu sua espinha, e antes que pudesse se conter, seus pés tocaram o chão frio. Como se movidos por uma força que ela se recusava a nomear, a levaram até a porta.Ela parou no batente, hesitante. O corredor estava mergulhado na penumbra, iluminado apenas pela luz fraca que vinha de algum cômodo distante.Lucian estava ali. Ela sabia.E então, o viu.Ele estava encostado na parede, um pouco à frente, de costas para ela. O terno impecável, a postura rígida, os dedos passando lentamente pelo maxilar, como se tentasse conter algo.Por um instante, Ivy pensou em recuar. Fechar a porta. Fingir que nunca havia se levantado.Mas já era tarde.Lucian virou o rosto, o olhar sombrio encontrando
Capítulo 68Grace soltou um suspiro dramático e lançou um olhar divertido para Ivy.— Bom, mas já está tarde. Acho que é melhor deixarmos essa conversa para amanhã. — Ela sorriu como se tudo estivesse sob controle, e talvez estivesse.Ivy, exausta demais para discutir, apenas assentiu. Seu corpo doía com o peso do dia, sua mente já nublada pela exaustão.— Ótimo — murmurou, desviando o olhar de Grace e de Lucian. — Eu vou para o meu quarto.Ela se virou, sentindo o olhar de ambos queimando em suas costas. Ao passar pelo corredor em direção ao quarto, captou fragmentos de uma conversa sussurrada.— Você tem certeza? — A voz de Grace era baixa, mas carregava um tom enigmático.— Acha mesmo que eu tenho mais controle de algo? — Lucian respondeu, seco.Ivy poderia ter parado para ouvir mais, poderia ter tentado entender, mas naquele momento, tudo o que queria era distância de mais uma confusão.Suspirando, empurrou a porta do quarto e a fechou atrás de si.O silêncio a envolveu, mas sua
O silêncio que pairava no salão era sufocante, mas dentro de Ivy, tudo gritava. Seu coração batia forte, a cabeça girava com a revelação.— Amanhã? — Sua voz saiu embargada, mas logo se firmou. — Por que tem que ser tão rápido?Ela olhou ao redor, buscando respostas nos rostos ao seu redor. Nenhum dos anciões desviou o olhar.Foi um deles, um homem de cabelos grisalhos e olhar severo, quem respondeu:— Ouvimos rumores de uma revolta ainda maior.Ivy franziu a testa, sentindo um arrepio na espinha.— Maior?O homem assentiu.— A morte de Ethan despertou uma raiva que não podemos conter por muito tempo. Muitos acreditam que essa foi a gota d’água. E se não fizermos algo rápido, perderemos o controle.Ivy sentiu o estômago revirar ao ouvir o nome de Ethan.— E acham que esse casamento vai mudar alguma coisa?Dessa vez, foi Grace quem respondeu:— Esse casamento precisa ser grande e público. Deve ser um símbolo.— Um símbolo de quê? — Ivy questionou, a voz levemente trêmula.— De unidade.
Por um instante, o mundo inteiro pareceu se dissolver ao redor de Ivy. Tudo que restava era a respiração quente de Lucian contra sua pele, os olhos dele perfurando os seus, e aquela confissão que ainda pairava entre eles como um fio prestes a se romper.Ela podia sentir o próprio coração martelando no peito, como se quisesse pular para fora. Sua mente gritava para se afastar, mas seu corpo hesitou. Havia algo na maneira como Lucian a olhava, como se ela fosse a única coisa que ainda o mantinha de pé.Seus dedos tremeram ao lado do corpo, e por um breve segundo, Ivy sentiu a tentação de se inclinar, de ceder, de ver até onde aquele momento poderia levá-los.Mas então...— Ivy!A voz de Grace rompeu o ar como um estalo, arrancando Ivy daquele transe perigoso. Ela se afastou de Lucian num reflexo, sentindo seu coração ainda pulsar contra as costelas.Lucian permaneceu imóvel, seus olhos ainda fixos nela, como se pudesse ver algo que nem mesmo ela entendia. Mas não houve tempo para nada m
O silêncio era quase absoluto, quebrado apenas pelo som da respiração irregular de Ivy.Lucian segurava seu corpo frágil com um cuidado incomum, os músculos rígidos como se qualquer movimento brusco pudesse quebrá-la. Ele a deitou sobre a cama lentamente, mantendo os olhos fixos em seu rosto pálido.— Ivy... — ele chamou, a voz carregada de algo que parecia preocupação genuína.Ela piscou algumas vezes, tentando focar a visão. A vertigem ainda pesava sobre seus sentidos, como um resquício da tempestade que tomara sua mente momentos antes.Lucian deslizou a mão por seu rosto, afastando uma mecha de cabelo grudada à sua pele suada. Seus olhos analisavam cada detalhe, cada respiração superficial, cada tremor em seu corpo.— O que aconteceu com você?A pergunta veio baixa, quase um murmúrio, mas carregada de intensidade.Ivy queria responder, mas como? Como explicar algo que nem ela mesma entendia?Ela engoliu em seco, ainda sentindo o eco daquelas palavras em sua cabeça. Ele não pode ter
O céu estava cinzento naquela manhã. Nuvens pesadas pairavam como presságios sombrios sobre a mansão ancestral, ameaçando desabar a qualquer momento. Ivy observava a cena da janela de seu quarto, o coração batendo num ritmo errático.Agora, o vestido de noiva caía perfeitamente sobre seu corpo, juntamente com o véu translúcido cobrindo-lhe os ombros como uma névoa etérea.Uma batida suave interrompeu seus pensamentos.— Ivy, está na hora. — A voz de Helena soou do outro lado da porta, suave, mas carregada de algo que Ivy não soube identificar.Respirando fundo, Ivy se virou para o espelho. O reflexo devolveu-lhe o olhar, mas ela mal se reconhecia. Havia uma palidez incomum em seu rosto, um brilho de temor em seus olhos. E, por um momento, ela achou ter visto uma sombra atrás de si, como uma figura espreitando das profundezas do espelho.De todas as maneiras que um dia ela sonhara em se casar, certamente daquele jeito jamais passara em sua mente. Se casar por conveniência, com medo de
O mundo pareceu parar no instante em que os lábios de Lucian tocaram os de Ivy.Tudo ao redor – os murmúrios da floresta, o crepitar das tochas, os olhares atentos da alcateia – se desfez, restando apenas a sensação avassaladora daquele toque.O beijo não foi como Ivy esperava. Não foi apenas um cumprimento cerimonial ou um gesto ensaiado. Havia algo ali, algo intenso e real. Um calor percorreu seu corpo, um arrepio subindo por sua espinha, como se uma energia antiga corresse por suas veias. Ela sentiu sua alma se agitar, reconhecendo algo profundo e inexplicável.Lucian segurou seu rosto com delicadeza, seus dedos frios contrastando com o calor que ele emanava. Seu toque era firme, mas sua boca se movia suavemente contra a dela, explorando com uma paciência que a fez estremecer. Ivy perdeu a noção do tempo, sentindo-se presa àquele momento, como se nada além dele importasse.Ivy sentiu o coração de Lucian bater em sintonia com o seu, forte e frenético, como o de um lobo prestes a cor
O silêncio que se seguiu ao discurso de Ivy era tão denso que ela podia sentir o peso de cada olhar sobre si. O seu coração ainda estava disparado, as emoções fervendo em seu peito. Por um momento, temeu que suas palavras tivessem sido em vão, que ninguém acreditasse nela, que a guerra continuaria apesar de seus apelos.Mas então, um dos anciãos deu um passo à frente. Ele tinha o rosto marcado pelo tempo, rugas profundas de sofrimento e experiência. Seus olhos estavam marejados enquanto ele a olhava, a cabeça inclinada em respeito. Sem dizer uma palavra, ele se ajoelhou, colocando a mão sobre o coração em um gesto de submissão e paz.— Vejo nos seus olhos a coragem dos que sacrificam tudo pela paz... e no seu coração, a força de uma verdadeira Luna. Hoje, nos curvamos não apenas diante de você, mas diante do futuro que escolheu construir.Um murmúrio percorreu a multidão, e um a um, outros lobos seguiram o exemplo do ancião. Jovens guerreiros, mães com seus filhos, líderes de clãs.