A apreensão que tomava conta do corpo de Ivy a deixava imóvel, cada célula do seu corpo ainda reagindo à proximidade de Lucian momentos atrás. A marca em seu pescoço pulsava levemente, um lembrete constante do vínculo perturbador que agora compartilhavam. Ela não sabia o que era mais assustador: a intensidade com que sentia sua presença ou a ideia de que, talvez, ela o desejasse. Lucian permaneceu parado, observando-a como se pudesse ler cada pensamento que passava por sua mente. Finalmente, ele falou, sua voz baixa e com um tom de autoridade. — Você precisa dormir, Ivy. Vai ser uma longa noite. Ela estremeceu, surpresa pelo comando súbito. Tentou se recompor, cruzando os braços numa tentativa de parecer indiferente. — Eu vou para o meu quarto. Lucian deu um passo à frente, fazendo-a recuar involuntariamente até encostar na parede. A intensidade no olhar dele não deixou espaço para questionamentos. — Não esta noite. — A declaração era simples, mas carregada de uma determi
A janela de vidro parecia vibrar com o impacto de mais uma pedra arremessada, trazendo Ivy de volta ao presente. Com o coração ainda disparado pelos eventos recentes, ela se aproximou lentamente, afastando a cortina com cuidado. Quando olhou para baixo, viu uma figura que imediatamente reconheceu: Alaric.Um alívio avassalador tomou conta dela ao perceber que não era mais uma ameaça desconhecida. Mas, ao mesmo tempo, havia surpresa e culpa. Ela tinha se esquecido completamente da promessa entre os dois — de que ele ficaria por perto, caso ela precisasse de proteção. Ivy abriu a janela, mantendo a voz baixa para que ninguém mais ouvisse. — Você está louco? Vai embora, Alaric. É perigoso você estar aqui!Ele sorriu de maneira desafiadora, aquele sorriso que a irritava e, ao mesmo tempo, a fazia sentir-se protegida. — Confie em mim, Ivy — disse ele. Antes que pudesse respondê-lo, Alaric inclinou-se, transformando-se rapidamente. Suas feições humanas deram lugar às de uma criat
Ivy parou, congelada, ao encontrar os olhos intensos de Lucian. O frio do inicio da manhã parecia abraçá-la, mas o calor do olhar dele era quase sufocante. Ela não sabia como começar a explicar sua ausência sem revelar demais.— Eu... precisava de um pouco de ar. — A voz dela soou mais trêmula do que gostaria.Lucian permaneceu em silêncio, o rosto mascarando qualquer emoção óbvia, mas seus olhos a perfuravam. Ele deu um passo à frente, a sombra de seu corpo tornando-se maior sob o fraco brilho do amanhecer.— O ar estava melhor longe do meu quarto? — Ele arqueou uma sobrancelha, a ironia evidente.Ivy engoliu em seco, tentando ignorar o aperto crescente em seu peito.— Não é isso. Eu… só precisava pensar.— Pensar. — A palavra saiu de seus lábios como um veneno suave. Ele a rodeou lentamente, como um predador avaliando sua presa. — E encontrou o que estava procurando?Ela sentiu o sangue fugir do rosto. Será que ele sabia? Será que ele viu Alaric?— Sim — respondeu, apertando os pun
— Lucian, não! — gritou Ivy, tentando puxar o braço dele. — Por favor, pare!O silêncio na masmorra era preenchido apenas pelos grunhidos abafados de Ethan enquanto lutava inutilmente contra o aperto implacável de Lucian. Ivy sentiu o ar rarefeito, como se a tensão fosse uma entidade viva ao seu redor. — Solte-o, Lucian! — implorou, avançando alguns passos. — Você vai matá-lo! — Ele insultou você. Me diga por que eu deveria deixá-lo respirar? — Lucian rebateu, sem desviar o olhar de Ethan, que agora começava a perder força em suas lutas.— Ele é meu irmão! — Ivy implorou, sua voz tremendo com desespero.Por um momento que pareceu uma eternidade, Lucian permaneceu imóvel, sua mandíbula travada, o ódio emanando dele como calor. Mas Lucian não desviou o olhar de Ethan, seus olhos brilhando em um tom dourado ameaçador.Ele apertou ainda mais o pescoço do irmão, fazendo Ethan sufocar em desespero. — O que você disse a ela? — Lucian exigiu, sua voz reverberando pelas paredes de pedra. I
As palavras de Lucian ressoavam na mente de Ivy enquanto ela o encarava, sem saber o que falar ou se deveria falar. "Ficar ao meu lado." Era ao mesmo tempo uma promessa e uma ordem, mas Ivy sabia que significava muito mais do que parecia à primeira vista.— Fique ao meu lado e protegerei você. — Lucian repete outra vez e em seguida, simplesmente se afasta e vai embora.Ivy continuou parada no mesmo lugar, suas mãos tremiam, e ela sentia o peso de sua própria impotência.Mesmo agora, seu irmão estava trancado em uma masmorra, e Lucian era a única coisa que impedia o caos absoluto. Mas em quem ela deveria confiar?Ivy respira fundo e também começa a andar em frente. Ela para quando chega a um dos salões da mansão, onde o crepitar das chamas na lareira tornava o ambiente menos frio. A luz laranja dançava pelas paredes de pedra, mas não fazia nada para acalmar o turbilhão de emoções dentro dela.Enquanto afundava em uma cadeira próxima, seu pensamento voltou a Ethan.O ódio no olhar do i
Ivy estava no corredor lateral, onde a luz suave das tochas lançava sombras trêmulas nas paredes de pedra. Ela havia conseguido se posicionar discretamente em um canto onde podia observar tudo. Lucian estava ao lado dos anciãos, a expressão fechada enquanto ouvia os murmúrios ao redor. A tensão no ambiente era notável. Todos sabiam que a situação com o exercito rebelde havia atingido um ponto crítico, e qualquer decisão tomada ali poderia definir os rumos de um possível conflito. A reunião pareceu ter chegado ao seu ápice quando Lucian se dirigiu ao estrado, sua postura imponente dominando o salão. Todos os murmúrios cessaram enquanto os anciãos e os membros da alcateia esperavam suas palavras.Ivy, ainda parada em um canto, sentia os olhares de alguns recaírem sobre ela, como se sua presença ali fosse um acontecimento tão significativo quanto a própria reunião.Ela cruzou os braços, tentando ignorar a sensação de estar fora de lugar. Sua mente ainda estava agitada pelas cartas m
— Esse não é o momento para discutir ou debater. Vamos nos concentrar no que é essencial agora — Lucian disse simplesmente, sua voz soando firme, mas com um toque de hesitação. Ele não olhava diretamente para Ivy, talvez porque soubesse o que encontraria no olhar dela. — Lucian, está me dizendo que vai considerar isso? — Ivy questionou, sua voz carregada de incredulidade. — O que eu estou dizendo é que temos que avaliar todas as opções antes de tomar uma decisão final. — Ele virou-se novamente para os anciãos. — Mas se esta união for realmente necessária, eu preciso de respostas. Quem sugeriu isso primeiro? Quais os vínculos específicos entre Ivy e a alcateia rebelde? Ivy percebeu o que Lucian estava fazendo. Ele queria saber até que ponto os anciões sabiam sobre a ligação entre ela e os rebeldes. Principalmente, Lucian queria saber se eles estavam cientes sobre a identidade do verdadeiro líder daquela rebelião.Os anciãos trocaram olhares tensos antes de o líder responder: —
Ivy caminhava pelos corredores escuros da mansão, o eco de seus próprios passos parecendo amplificar o turbilhão de pensamentos em sua mente. O peso da conversa com Lucian ainda pairava sobre ela como uma tempestade que ameaçava desabar a qualquer momento. Cada palavra que ele dissera parecia reverberar, cada revelação aumentando o nó que se formava em sua garganta.Ela precisava de ar.Quando finalmente encontrou uma saída para os jardins externos, o frio da noite foi um alívio bem-vindo. Ivy respirou fundo, tentando acalmar as emoções que disputavam espaço em seu peito: raiva, tristeza, culpa e uma confusão crescente de sentimentos que ela não queria nomear. "Ele sacrificou tanto... e nunca disse nada. Por que esconder isso de mim? Ele acha que isso me protegeria?" Ivy murmurou para si mesma, segurando as mãos trêmulas.Por mais que estivesse irritada, ela também não conseguia ignorar o que ouvira. Lucian havia posto tudo em risco por ela. Aquilo a assombrava. — Perdeu o sono?