Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas frestas das árvores, criando padrões dançantes através dos vidros das janelas quebradas. Ivy abriu os olhos lentamente, ainda atordoada pela noite anterior. Seu corpo doía levemente, mas estava quente, graças ao cobertor onde seu corpo estava enrolado. Ivy não lembrava de ter buscado nenhuma coberta na noite anterior, então apenas imagina Lucian havia providenciado aquilo.Aquilo parecia ser gentil e atencioso, vindo de uma pessoa como ele. Mas bem, Ivy se recusava a pensar em Lucian como qualquer coisa, a não ser um homem cruel e misterioso.Ela levanta os olhos e observa Lucian em sua frente. Ele estava agachado perto da lareira já extinta, com o rosto um pouco avermelhado pelo frio da madrugada.– Levante-se – ele disse sem emoção, enquanto arrumava sua jaqueta e se preparava para partir. – É hora de voltarmos.Ivy suspirou, sentindo-se ainda pesada. Sua mente gritava em protesto, mas sabia que ele estava certo. Ela se levantou devagar,
O som dos pneus esmagando o cascalho foi a única coisa que quebrou o silêncio desconfortável no carro enquanto Lucian e Ivy voltavam para a alcateia.Conforme se aproximavam, os barulhos do caos chegavam até eles. Gritos e discussões ecoavam pela floresta, criando uma aura de tensão e confusão.Lucian estacionou o carro, saindo em um movimento rápido e fluido. Ivy, contrariando seu impulso de ficar no veículo, o seguiu imediatamente.Assim que passaram pelas árvores que cercavam a entrada do território da alcateia, a visão do tumulto os deixou estarrecidos. Lobos em forma humana discutiam acaloradamente no centro do campo principal. Algumas barracas estavam caídas, outros equipamentos destruídos. No topo da confusão estava Flora, cercada por um grupo de lobos submissos.– Isso é inaceitável! – um dos membros rugiu, mas recuou ao receber um olhar furioso de Flora.Ivy franziu o cenho e virou-se para Lucian.– O que diabos está acontecendo? – ela perguntou, irritada.Lucian ignorou a p
Ivy entrou em seu quarto e fechou a porta atrás de si com um movimento rápido. Seu corpo parecia pesado, como se carregasse o peso de algo que não entendia.Ela se jogou na cama, os pensamentos girando sem controle.– O que foi isso? – murmurou para si mesma, as mãos cobrindo o rosto.Defendeu uma alcateia que, semanas atrás, ainda a tinha como prisioneira. Falou com tanta convicção sobre ser a Luna de um homem que desprezava. O peito dela apertava com as lembranças da sua explosão.Lentamente, Ivy se sentou e olhou para o vazio. A lembrança da conversa no carro com Lucian veio à tona, quando Lucian dissera que ao tocar no báu, Ivy não adquiriu apenas memórias que não eram delas, mas também fragmentos de outras pessoas.– Não foi apenas coragem minha. – Ivy murmura. – Ao tocar no baú, eu adquiri fragmentos... partes de algo maior. Fragmentos de outra pessoa.Ela estreitou os olhos, algumas peças encaixando em sua cabeça. Talvez o que Ivy fizera não fora algo totalmente seu, mas inf
Capítulo 26Lucian cruzou os braços e permaneceu onde estava, observando Alaric com olhos penetrantes. Sua postura era rígida, o tom da voz tão frio quanto a tensão no ar. – Eu não vou negar que há motivos reais para eu ter permitido que você permanecesse na alcateia – começou Lucian, a voz firme e calculada. – Mas isso não te dá liberdade para ficar vagando pela casa, e muito menos rondando a Ivy.Alaric permaneceu em silêncio, seus olhos encontrando os de Lucian por um instante antes de desviar ligeiramente para Ivy. A surpresa de Lucian – e de Ivy – foi evidente quando, sem qualquer defesa ou resposta sarcástica, Alaric inclinou a cabeça levemente em sinal de respeito. – Com licença.Sua voz foi tranquila, quase como se ele tivesse esperado o confronto. Alaric virou-se e saiu da biblioteca em passos seguros e medidos, deixando para trás o cheiro leve de madeira queimada que parecia sempre acompanhá-lo. Quando Alaric fechou a porta atrás de si, o silêncio na biblioteca tornou-se
O choque nos olhos de Ivy deu lugar a uma explosão de indignação.– Hoje à noite?! Como assim? Eu... eu nem sequer concordei com isso!Lucian deu um passo à frente, aproximando-se dela.– Não é sobre concordar ou não. É sobre o que deve ser feito. Já era esperado que acontecesse mais cedo ou mais tarde, e os anciãos decidiram que agora é o momento certo.Ela passou as mãos pelos cabelos, tentando conter a frustração que subia como uma onda.Ivy fechou os olhos por um instante, tentando conter o turbilhão de pensamentos que a consumia. "Eu não sou essa pessoa", pensou, a respiração acelerada. "Não sou alguém que simplesmente segue ordens sem questionar. Eles não entendem o que isso significa para mim... o que significa perder mais uma escolha."Mas, no fundo, uma voz traiçoeira sussurrava: e se isso for exatamente o que você nasceu para fazer?– Você não pode simplesmente decidir isso por mim, Lucian. Não pode jogar essa responsabilidade em cima de mim como se fosse um peso qualquer!
Ivy congelou, sentindo a mente girar em confusão. O ar parecia mais denso, carregado com a intensidade das palavras de Alaric.Ele deu um passo à frente, e ela quase recuou, mas parou a si mesma, incapaz de mostrar fraqueza. – Minha... companheira? – repetiu ela, como se as palavras fossem fragmentos de um idioma estranho que precisasse decifrar. – Você tem ideia do que está dizendo? Alaric inclinou ligeiramente a cabeça, sua postura uma mistura de autoridade e vulnerabilidade. – Não estou aqui para pedir permissão, Ivy. Estou aqui para te mostrar a verdade que eles tentaram esconder.A revelação pendurou-se no ar, deixando Ivy congelada.Seus olhos buscaram os dele, tentando decifrar o que significavam aquelas palavras, mas Alaric parecia completamente sério, suas feições tensas e concentradas.Ela buscou alguma resposta, mas só conseguiu balbuciar uma pergunta que soava mais como um sussurro. – O que... você está dizendo? Como assim, sua companheira? – perguntou Ivy, a voz baixa
— Não importa o que aconteça, Ivy, eles já nos condenaram. O único consolo que me resta é que, ao menos, estaremos juntos até o fim.Os corredores escuros da masmorra vibravam com o eco da voz de Ethan e das gotas d'água que caíam das paredes frias de pedra.Ivy estava sentada contra a parede, o metal gélido das correntes apertando seus pulsos e tornozelos. Ela havia perdido a noção do tempo ali dentro. Dois anos pareciam uma eternidade, um ciclo interminável de escuridão, fome e silêncio quebrado apenas pelos gemidos baixos de dor de seu irmão preso na cela ao lado.— Juntos até o fim, sim. — Ivy finalmente responde. — Mas isso não significa que vamos morrer sem lutar.Ethan não tivera tempo de rebater a resposta coberta de resignação e coragem de sua irmã, porque no mesmo instante, surgiu uma luz no fundo do corredor. A luz fraca das tochas iluminava os passos calculados de Lucian, o alfa. Ele era uma figura intimidante, com ombros largos e olhos que pareciam queimar de raiva ete
Ivy tentou resistir, lutar contra as sensações que inundavam seu corpo. O cheiro de Lucian parecia invadir cada fibra de seu ser, enquanto a conexão que surgia entre eles pulsava como uma corda apertada ao redor de seu coração. Ela sentia o peso de sua fome, de sua fraqueza.E o seu corpo acabou por ceder, desabando como se finalmente estivesse entregando tudo o que tinha lutado para segurar nos últimos anos. As correntes em seus pulsos tilintaram quando ela caiu no chão de pedra, seu cabelo rubro se espalhando ao redor de seu rosto pálido.Antes que possa apagar completamente, Ivy sente braços fortes e calorosos amparando sua queda. Aquele toque, aquele calor enviam conjuntos de faíscas sobre todo o seu corpo frágil, a deixando ainda mais desnorteada. Lucian reage antes que qualquer outro pudesse se mover. Em um movimento rápido, ele a segurou antes que seu corpo atingisse o chão completamente. Sua mão firme a amparou, mas o toque fez o laço entre eles pulsar ainda mais forte. Era