POV: DravenO vento gélido cortava o céu escuro enquanto eu, na forma dracônica, e Kael, montado em minhas costas, avançávamos em direção à fronteira. Não trocamos palavras; o silêncio entre nós era carregado de tensão. Havia um peso em meu peito que eu tentava ignorar — uma combinação de raiva reprimida, um pressentimento desagradável e… algo mais. Algo que tinha olhos tão intensos quanto o fogo e que agora estava trancada em meu castelo.Quando nos aproximamos das torres de vigia da fronteira, avistamos o caos que se desenrolava ali. Soldados de Solaris estavam encurralados, cercados por meus guerreiros dracônicos. O cheiro de sangue humano pairava no ar, misturado ao fedor do medo.— Malditos invasores… — murmurei, cerrando os dentes.Kael manteve o silêncio. Ele sabia o que aquela visão me fazia lembrar: o cerco, a traição, o massacre que destruiu tudo o que eu amava.Assim que pousamos, nossos homens fizeram uma reverência rápida, mas eu não estava interessado em formalidades. M
POV: ElaraO coração batia com força enquanto eu caminhava apressada pelos corredores do castelo. Cada passo ecoava como trovões em meus ouvidos, impulsionado pelo pânico que crescia em meu peito. As palavras de Kael, o olhar sombrio de Draven antes de partir para a fronteira… algo estava errado. Muito errado. Cedric. Ele tinha invadido o território dos dragões. Eu nunca soube de qualquer inimizade que o rei usurpador nutrisse pelos dragões, mas era senso comum que éramos inimigos e não deveríamos confraternizar. O que será que ele queria? Será que sabia que eu estava aqui?Afinal de contas, eu fui vista sendo salva, pelo reino todo, por um dragão.Apressando o passo, ignorei os olhares curiosos dos guardas e servos. Eu precisava de respostas. Precisava de Draven. Ao virar o último corredor, ouvi vozes exaltadas vindas de uma enorme porta dupla à minha frente. O brasão dracônico estava esculpido na madeira maciça — a sala do conselho. Sem pensar, empurrei a porta e entrei.
POV: DravenA escuridão me envolvia como um manto sufocante. Eu não via nada, mas sentia.O cheiro de fumaça, de carne queimada, de sangue…Gritos ecoavam ao meu redor, misturando-se ao rugido furioso das chamas. O calor era insuportável, consumindo tudo. Eu tentava me mover, mas meu corpo estava preso, como se correntes invisíveis me segurassem.Então eu a vi.Elara, ajoelhada no meio do fogo, as vestes escuras chamuscadas, os olhos arregalados em terror. Ela tentava se levantar, mas algo a impedia.Um vulto surgiu das sombras. Cedric.Ele sorriu para mim antes de enfiar a lâmina através do peito dela.Eu gritei.Acordei ofegante, o coração martelando contra as costelas. Um suor frio escorria pela minha pele. Passei as mãos pelo rosto, tentando afastar a imagem da minha mente.Mas que merda.Levantei-me, sentindo um peso insuportável no peito. Eu precisava sair dali, respirar, afastar aquele maldito pesadelo.Saí do quarto, percorrendo os corredores em silêncio. O castelo estava merg
POV: Elara Olhei para meu reflexo no espelho de corpo inteiro. Eu estava linda.Meu vestido de noiva, branco com detalhes dourados, não era mais lindo apenas que o sorriso no meu rosto. O grande dia tinha chegado, afinal!— Sua Alteza! — chamou minha serva, entrando no quarto. — A cerimônia finalmente vai começar! Está na hora.. . .De braços dados com meu pai, cercada pelos convidados reais e também muitos de meu povo, caminhei até meu noivo. — Você está linda, meu amor. — Seus olhos azuis estavam radiantes. — Será uma honra ser seu marido e tomar conta deste reino.Tímida, sussurrei de volta enquanto nos voltávamos para o cerimonialista.— Estamos esperando desde crianças. Mal posso acreditar, Cedric!Com lágrimas de felicidade ameaçando cair, ele tomou minha mão e respondeu:— Sim, querida. Eu também mal consigo me conter de felicidade.O casamento terminou ao pôr do Sol. Éramos oficialmente marido e mulher.. . .— Não! — gritei em pânico, me lançando de joelhos no piso da enfe
POV: ElaraO silêncio era esmagador. A escuridão da cela que me envolvia só não era pior do que o cheiro de umidade e ferrugem que impregnava o ar. Minha pele estava coberta de poeira e suor, e meus pulsos latejavam com os hematomas causados pelas correntes que me prendiam. Mas nada doía mais do que a traição. Cedric. Eu o amava. Eu sempre o amei. Desde crianças, quando corríamos pelos campos, quando ele prometia que me protegeria para sempre. Quando ele dizia que eu era a única pessoa no mundo que ele queria ao seu lado…Meu corpo estava exausto, mas minha mente não me deixava descansar. Porque assim que meus olhos se fechavam, o pesadelo começava. O fogo. Os rugidos dos dragões. A sombra colossal pairando sobre mim. E a marca em minha testa, queimando como se fosse parte das chamas. . . .Acordei com um solavanco quando um jato de água gelada foi atirado contra meu rosto. Ofegante, tremendo, tentei abrir os olhos e enxergar através da névoa de confusão e frio. —
POV: Elara Acordei assustada, com a pele fria e embebida em suor. Olhei para os lados e vi que não estava numa cela escura e fétida, e não havia cordas ou grilhões me atando às paredes. Na verdade, eu estava num belo quarto. O lugar era quase tão lindo como meu antigo quarto no palácio. Eu estava deitada numa cama enorme, onde cinco pessoas poderiam dormir tranquilamente, com roupa de cama vermelha e fios de ouro nos travesseiros. Como se houvesse escutado meu arquejo assustado ao despertar, a porta se abriu e um homem surgiu. Não. Ele definitivamente não era um homem. Era muito alto, tinha pouco mais de dois metros facilmente. Sua pele era bem escura, como um céu noturno sem estrelas, e os olhos cor de laranja brilhavam como a mais quente das chamas. Ele era muito forte e musculoso, e as orelhas pontudas, parcialmente escondidas pelos cabelos trançados para trás, lembravam muito as de um elfo. “Princesa.” A sua voz era profunda e grave. Poderia facilmente se tornar intimidadora,
POV: ElaraO silêncio que se seguiu foi tão intenso que pude ouvir minha própria respiração acelerada. O salão parecia ter congelado no tempo, mas logo o som de passos ecoou pelas paredes de pedra. Os séquitos de Lysara, impassíveis, começaram a vir na minha direção.Minha pele arrepiou. Eu estava desarmada, em território inimigo, e algo me dizia que minha morte não seria nada rápida…Mas antes que qualquer um deles pudesse me tocar, a voz fria do Rei Dragão ressoou no ambiente: — Parem.Foi apenas uma palavra, mas carregada de um poder tão inegável que os guerreiros hesitaram no mesmo instante. Draven ainda não havia se movido de seu lugar, e nem precisava. Sua autoridade era total. Seus olhos âmbar estavam fixos em Lysara, estreitados em um olhar gélido. — Vossa Majestade não deve ser tocada. Houve um murmúrio de choque. Até mesmo Lysara piscou, atordoada, antes de soltar uma risada baixa e descrente. — Você só pode estar brincando. — Não brinco com coisas sérias. — O r
POV: Elara Já era chegada a hora. A hora da minha punição, fosse o que fosse.Eu estava andando de um lado para o outro, absorta nos meus pensamentos, quando um som na porta me fez congelar. Endireitei a postura, preparando-me para mais um embate com o rei dragão, mas, para minha surpresa, não era ele. Um homem alto e de ombros largos entrou no quarto, a expressão curiosa estampada no rosto. Ele possuía cabelos dourados e ligeiramente desgrenhados, contrastando com os olhos dourados que brilhavam com uma intensidade travessa. Sua presença não era opressora como a de Draven, mas havia algo nele… um ar de perigo velado sob a aparência descontraída. — Você é a humana. — Ele encostou-se à porta, cruzando os braços e me observando com interesse. — Imaginei quando finalmente nos conheceríamos.Eu franzi o cenho, irritada com a forma casual como ele se referiu a mim. — E você é? — Kael. — Ele inclinou a cabeça, avaliando-me como se eu fosse algum tipo de criatura exótica. — Guerrei