Destinada aos Dragões
Destinada aos Dragões
Por: Karen Moon
01. O casamento

POV: Elara 

Olhei para meu reflexo no espelho de corpo inteiro. Eu estava linda.

Meu vestido de noiva, branco com detalhes dourados, não era mais lindo apenas que o sorriso no meu rosto. O grande dia tinha chegado, afinal!

— Sua Alteza! — chamou minha serva, entrando no quarto. — A cerimônia finalmente vai começar! Está na hora.

. . .

De braços dados com meu pai, cercada pelos convidados reais e também muitos de meu povo, caminhei até meu noivo. 

— Você está linda, meu amor. — Seus olhos azuis estavam radiantes. — Será uma honra ser seu marido e tomar conta deste reino.

Tímida, sussurrei de volta enquanto nos voltávamos para o cerimonialista.

— Estamos esperando desde crianças. Mal posso acreditar, Cedric!

Com lágrimas de felicidade ameaçando cair, ele tomou minha mão e respondeu:

— Sim, querida. Eu também mal consigo me conter de felicidade.

O casamento terminou ao pôr do Sol. Éramos oficialmente marido e mulher.

. . .

— Não! — gritei em pânico, me lançando de joelhos no piso da enfermaria.  

Minha mãe, que parecia mais envelhecida do que nunca, também chorava desesperadamente.  

Nossa médica mais capacitada, com lágrimas nos olhos, parecia não saber bem como nos confortar:  

— Eu sinto muito... Alteza, Majestade... Ele estava muito doente. Parece que piorou de um dia para o outro... Fiz o que pude para salvá-lo…  

Era o fim do reinado de meu pai. Ele não parecia tão doente assim… Se eu soubesse…  

Quando me tranquei no quarto, ainda chorando muito, para vestir algo mais adequado para a cerimônia fúnebre, fui abraçada pelo meu marido.  

— Eu sinto tanto, Elara. — Dando-me um beijo na testa antes de me abraçar, ele continuou: — Mal posso imaginar o que você está sentindo…  

Soluçando, não consegui responder nada imediatamente. Então, com dificuldade, deixei que meus sentimentos finalmente dessem vazão:  

— Como pode algo tão terrível acontecer menos de uma semana depois do nosso casamento?! Como pode meu pai morrer assim, sem explicações?  

Cedric me abraçou com mais força.  

— Não se preocupe, querida. Eu vou tomar conta deste reino com muito amor, assim como seu pai fez.  

Não respondi. Minha garganta doía e meu corpo estava perdido em espasmos e soluços.  

. . .

Meu pai não foi o único que me deixou.  

Um mês após o enterro de meu pai, minha mãe, que não comia nem bebia e nem tocava mais sua harpa, seu instrumento favorito no mundo todo, se jogou do décimo quinto andar.  

Não me deixaram ver o corpo. A cerimônia foi de caixão fechado.  

Eu havia perdido meus pais, os dois pilares mais importantes da minha vida…  

Quando chegou a hora da cremação, não pude olhar. Fechei os olhos com força enquanto me debulhava em lágrimas.  

Carinhosamente, com delicadeza e muito tato, Cedric me abraçou, mandando às favas qualquer tipo de formalidade.  

— Eu estou aqui, querida. Eu vou cuidar de você…  

Funguei. Ele realmente cuidaria de mim…  

Porque havia sido a única pessoa que sobrou pra fazer isso.  

. . .

Três dias após a morte de minha mãe, Cedric deu a ordem aos guardas reais de constantemente me vigiarem, sempre guardando as portas e corredores principais, ou me escoltando até os jardins.  

Aparentemente, ele estava muito preocupado com a minha segurança. Agora que estava cem por cento focado nas políticas reais, não conseguia ficar muito tempo comigo, mas deixava claro que estava de olho em mim.  

Numa madrugada, exausta e suada após ter o mesmo pesadelo de sempre; o mesmo que me atormentava há algum tempo, resolvi me acalentar nos braços de meu marido. Ele não estava no quarto, no entanto.

Abri a porta e encontrei o guarda de prontidão.

— Algum problema, Majestade?  

Respirei fundo ao ouvir meu novo título. Eu era a rainha agora. Nunca me acostumaria com aquilo…  

— Quero ver Cedric.  

— É claro. Eu pedirei para que uma serva o chame imediatamente.  

— Não será necessário. Apenas leve-me até ele.  

— Sim… claro, Vossa Majestade — hesitou ele.  

Depois de caminharmos pelo corredor, paramos na frente da sala do conselho. O que será que Cedric estaria fazendo ali, justamente naquela hora morta?  

— Vou bater na porta e anunciá-la — disse o guarda, mas eu o impedi.  

— Ele é meu marido. Não preciso ser anunciada.  

— Mas—  

Antes que ele pudesse argumentar, empurrei a porta e entrei.

Cedric estava sozinho. De pé ao lado da grande mesa de mármore negro, segurava uma taça de vinho em uma das mãos e um pergaminho na outra. Seu olhar azul se ergueu para mim assim que atravessei a porta, mas ele não demonstrou surpresa. Apenas sorriu.  

— Minha rainha. — Sua voz era doce, acolhedora, como sempre. — O que faz acordada a esta hora?  

Fechei a porta atrás de mim, cruzando os braços.  

— Tive um pesadelo… Poderia me dizer por que estou sendo vigiada constantemente? Por que não posso sair sem guardas atrás de mim?  

Meu belo marido suspirou, pousando a taça sobre a mesa.  

— Eu só quero protegê-la, meu amor. Você passou por tantas perdas em tão pouco tempo… não quero que nada aconteça com você. Sobre o que foi o pesadelo?

Meus olhos pousaram no pergaminho que ele segurava. Os mapas. As marcas vermelhas. Meu peito se apertou.  

— O que é isso?  

— Apenas… documentos de estado. — Ele sorriu novamente, fechando o pergaminho como se nada fosse. — Coisas que você não precisa se preocupar, querida. Mas diga, sobre o que foi o pesadelo?

Dei um passo à frente.  

— Cedric. Você… Você está planejando alguma coisa.  

Ele ficou em silêncio por um momento. Depois, soltou um pequeno riso e se aproximou, pegando minha mão com delicadeza.  

— Você sempre foi perspicaz… — murmurou, beijando meus dedos. — Mas está vendo coisas onde não tem.  

— Não minta para mim.  

Ele ergueu o olhar.

— Tudo o que faço é pelo nosso reino, Elara. Não podemos mais nos dar ao luxo de viver com medo. Precisamos expandir nossas terras, garantir que nossa linhagem seja forte e respeitada.  

— Expandir nossas terras… — sussurrei, sentindo o estômago revirar. — Você está planejando guerra.  

— "Guerra" é uma palavra tão dura… — Ele inclinou a cabeça, passando os dedos pelo meu rosto. — Prefiro “conquistas”.

Recuei, sentindo um frio gelado tomar meu corpo.  

— Meu pai nunca quis isso. Ele sempre manteve a paz!  

O sorriso de Cedric diminuiu um pouco.  

— Seu pai era um homem bom. E veja onde essa bondade o levou.  

Um nó apertou minha garganta.  

Lembrei de como meu pai parecia fraco nas semanas após eu completar a maioridade. Como lamentou estar indisposto com o meu casamento estando tão perto… e como havia piorado tanto depois que eu finalmente havia sido desposada…

— Você o matou.  

Cedric piscou, parecendo verdadeiramente surpreso por um momento. Depois, riu.  

— Não seja ridícula. Seu pai estava doente. Todos viram.  

Eu queria acreditar. Mas algo dentro de mim gritava que não era coincidência.  

— Não importa. — Minha voz falhou. — Eu não vou apoiar isso. Eu não serei a rainha de um tirano!  

O sorriso sumiu do rosto de Cedric. Pela primeira vez, sua expressão se tornou fria.  

— Cuidado com suas palavras.  

— Você está me pedindo para compactuar com assassinatos! Invasões! Está falando de atacarmos reinos que jamais nos incomodaram. Nunca, ouviu bem? Nunca permitirei.

— Eu não estou pedindo. Estou ordenando.  

A fúria explodiu dentro de mim.  

— Eu sou a rainha! Este também é o meu reino, e eu não permitirei—  

O som da bofetada ecoou pela sala antes que eu sequer percebesse o que havia acontecido.  

Meu rosto virou com o impacto. A dor ardia, latejante.  

Ofeguei, levando a mão à bochecha, encarando Cedric com puro choque.  

Ele me olhava sem arrependimento. Apenas respiração pesada e olhos frios.  

O ódio subiu pelo meu peito como fogo. Antes que pudesse pensar, minha mão se ergueu e estalou contra seu rosto com toda minha força.  

Cedric cambaleou para trás, mas se recuperou rápido. Seu olhar se encheu de fúria.  

— Sua desgraçada!  

Ele avançou contra mim, e antes que pudesse reagir, seus dedos agarraram meu braço com brutalidade.  

Empurrei-o com força, mas ele me segurou pelos ombros e me arrastou contra a mesa. Minhas costas bateram no mármore gelado, e uma dor aguda percorreu meu corpo.  

— Você é minha esposa! Você me deve lealdade!  

Gritei, tentando me soltar, e finalmente consegui empurrá-lo com toda a minha força. Cedric tropeçou para trás e, antes que pudesse se equilibrar, seu rosto bateu contra a borda da mesa.  

Ele ficou imóvel por um segundo, então ergueu a cabeça. Um corte fino se abriu em sua sobrancelha, e uma linha de sangue escorreu por sua pele.  

Ele me encarou com puro ódio.  

— Guardas!  

Meu coração congelou.  

Os passos pesados ecoaram no corredor.  

— Cedric… — Minha voz era apenas um sussurro.  

Ele se levantou, ajeitando a postura. O olhar que me lançou foi frio, cruel.  

— Elara, Rainha do reino de Solaris stá acusada de alta traição. Levem-na.  

A porta se escancarou.  

Mãos fortes me agarr

aram pelos braços. Eu lutei, gritei, mas era inútil.  

Cedric apenas me observou, o sangue ainda escorrendo pelo rosto, enquanto eu era arrastada da sala.  

Eu não era mais a rainha.  

Eu era uma prisioneira.

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