04. Punição

POV: Elara

O silêncio que se seguiu foi tão intenso que pude ouvir minha própria respiração acelerada. O salão parecia ter congelado no tempo, mas logo o som de passos ecoou pelas paredes de pedra. 

Os séquitos de Lysara, impassíveis, começaram a vir na minha direção.

Minha pele arrepiou. Eu estava desarmada, em território inimigo, e algo me dizia que minha morte não seria nada rápida…

Mas antes que qualquer um deles pudesse me tocar, a voz fria do Rei Dragão ressoou no ambiente:  

— Parem.

Foi apenas uma palavra, mas carregada de um poder tão inegável que os guerreiros hesitaram no mesmo instante. 

Draven ainda não havia se movido de seu lugar, e nem precisava. Sua autoridade era total. Seus olhos âmbar estavam fixos em Lysara, estreitados em um olhar gélido.  

— Vossa Majestade não deve ser tocada.  

Houve um murmúrio de choque. 

Até mesmo Lysara piscou, atordoada, antes de soltar uma risada baixa e descrente.  

— Você só pode estar brincando.  

— Não brinco com coisas sérias. — O rei dragão cruzou os braços sobre o peito, seus músculos rígidos como pedra. — Eu já disse: ela deve viver.  

— Ela me atacou! — A dragonesa apontou para o próprio rosto, onde a marca avermelhada do tapa ainda era visível. — E você quer que ela simplesmente saia impune?  

— Não. Eu nunca disse que ela sairia impune.  

O coração dentro do meu peito deu um salto.  

— Mas, antes de qualquer punição, é importante que todos entendam uma coisa. — Sua voz era como um trovão que antecedia a tempestade. — Essa mulher é a escolhida da profecia.  

— Que profecia?! — Eu perguntei mais uma vez.

Olhei ao redor, esperando alguma explicação, mas ninguém pareceu disposto a me responder. Na verdade, os nobres presentes começaram a discutir entre si, murmúrios intensos preenchendo o salão. Alguns pareciam indignados, outros horrorizados.  

— Isso é um absurdo! — um deles vociferou. — Como um humano pode estar na profecia?  

— As escrituras eram claras…  

— E se for um erro?  

— Não há erro. — Draven interrompeu a confusão, sua voz firme. — O destino se desenrola diante de nossos olhos. Vossa Majestade está aqui, viva, e a profecia deve ser respeitada.  

Meus lábios se abriram e fecharam várias vezes, mas antes que eu pudesse insistir na pergunta que queimava em minha mente, Draven simplesmente me ignorou e virou-se para os nobres, deixando-me de lado.  

A frustração fervilhou dentro de mim.  

Eu queria gritar, exigir respostas. Mas percebi, pelo olhar feroz de Lysara, que essa não era a hora certa. Ela já me odiava o suficiente.  

— O que pretende fazer com ela então? — a duquesa perguntou, com uma doçura venenosa na voz. — Se não podemos matá-la… vai deixá-la andar livremente pelo castelo, como se fosse uma de nós?  

O rei ergueu o queixo.  

— Ela é nossa hóspede de honra.  

Um burburinho indignado atravessou a sala.  

— No entanto — ele continuou, seu olhar voltando-se para mim —, a humana atacou uma duquesa de nosso conselho. Isso não pode passar despercebido.  

Minha garganta secou.  

— E qual será a punição? — Lysara parecia prestes a saltar de felicidade.

Draven suspirou, como se estivesse cansado dessa discussão.  

— Ela enfrentará sua punição ao pôr do sol.  

Pela milésima vez naquele dia, senti meu coração se apertar dentro do peito. Pôr do sol? O que isso significava? O que eles fariam comigo?

De alguma forma, não sabia se era pior ser punida e mantida viva, ou ser morta de uma vez.

Senti o olhar de Lysara em mim, avaliando-me com um brilho perigoso nos olhos. Por um momento, pensei que ela fosse argumentar mais, mas então, para minha surpresa, a duquesa apenas sorriu.  

— Nesse caso, estarei ansiosa para ver o que acontecerá.  

. . .  

Fui escoltada de volta ao quarto por ninguém menos que o próprio Draven. Caminhamos em silêncio pelos corredores ardentes do castelo, e eu tentei me acalmar o suficiente para processar tudo.  

A profecia.  

A punição.  

Os olhares hostis sobre mim.  

Quando chegamos ao quarto, o rei dragão abriu a porta e me lançou um olhar firme.  

— Entre.  

Cruzei os braços, firme.  

— Vai me contar o que significa essa profecia ou pretende me ignorar de novo?  

Draven fechou os olhos por um momento, respirando fundo.  

— Você ainda não está pronta para entender.  

— Que ótimo. — Cruzei os braços, sarcástica. — Eu mal acordo de um quase assassinato, sou trazida para o meio do covil dos meus inimigos, sou acusada de estar em alguma profecia estranha e, no fim, ninguém se dá ao trabalho de me explicar nada. Que dia maravilhoso.  

Ele abriu os olhos, sua expressão impassível.  

— Você quer mesmo saber?  

— Sim.  

— Então tenha paciência.  

A raiva cresceu dentro de mim.  

— Eu não sou uma de suas súditas, Draven. Você não pode me dar ordens.  

Ele deu um passo à frente, e, instintivamente, recuei.  

— Não posso? — Sua voz era baixa, mas carregada de algo intenso. Seu olhar âmbar encontrou o meu, e por um segundo, esqueci como se respirava.  

Meu corpo ficou tenso.  

O espaço entre nós era curto demais.  

Calor irradiava dele, e não apenas pelo fato de ser um dragão. Era como se toda a presença dele consumisse o ar ao meu redor.  

Meus olhos desceram, e percebi a linha forte de seu maxilar, a forma como os músculos se contraíam levemente em sua postura rígida. Sua pele quente contrastava com a frieza de sua expressão.  

Meu coração bateu forte.  

Eu queria afastá-lo.  

Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim não queria que ele se afastasse.  

Ele me analisou, seu olhar pousando em meus lábios por um instante, e então ele se afastou de repente, como se o momento nunca tivesse acontecido.  

Eu pisquei, tentando recuperar o fôlego.  

Draven abriu a porta, sua expressão voltando a ser fria e controlada.  

— Descanse. Vossa Majestade vai precisar de forças para o que virá.  

E então ele se foi, me deixando sozinha com pensamentos caóticos, temendo o maldito pôr do sol que viria, provavelmente, junto com um dos piores castigos já inventados pela humanidade…

Ou melhor, pelos dragões. 

É, eu estava realmente encrencada.

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