POV: Elara
O silêncio que se seguiu foi tão intenso que pude ouvir minha própria respiração acelerada. O salão parecia ter congelado no tempo, mas logo o som de passos ecoou pelas paredes de pedra.
Os séquitos de Lysara, impassíveis, começaram a vir na minha direção.
Minha pele arrepiou. Eu estava desarmada, em território inimigo, e algo me dizia que minha morte não seria nada rápida…
Mas antes que qualquer um deles pudesse me tocar, a voz fria do Rei Dragão ressoou no ambiente:
— Parem.
Foi apenas uma palavra, mas carregada de um poder tão inegável que os guerreiros hesitaram no mesmo instante.
Draven ainda não havia se movido de seu lugar, e nem precisava. Sua autoridade era total. Seus olhos âmbar estavam fixos em Lysara, estreitados em um olhar gélido.
— Vossa Majestade não deve ser tocada.
Houve um murmúrio de choque.
Até mesmo Lysara piscou, atordoada, antes de soltar uma risada baixa e descrente.
— Você só pode estar brincando.
— Não brinco com coisas sérias. — O rei dragão cruzou os braços sobre o peito, seus músculos rígidos como pedra. — Eu já disse: ela deve viver.
— Ela me atacou! — A dragonesa apontou para o próprio rosto, onde a marca avermelhada do tapa ainda era visível. — E você quer que ela simplesmente saia impune?
— Não. Eu nunca disse que ela sairia impune.
O coração dentro do meu peito deu um salto.
— Mas, antes de qualquer punição, é importante que todos entendam uma coisa. — Sua voz era como um trovão que antecedia a tempestade. — Essa mulher é a escolhida da profecia.
— Que profecia?! — Eu perguntei mais uma vez.
Olhei ao redor, esperando alguma explicação, mas ninguém pareceu disposto a me responder. Na verdade, os nobres presentes começaram a discutir entre si, murmúrios intensos preenchendo o salão. Alguns pareciam indignados, outros horrorizados.
— Isso é um absurdo! — um deles vociferou. — Como um humano pode estar na profecia?
— As escrituras eram claras…
— E se for um erro?
— Não há erro. — Draven interrompeu a confusão, sua voz firme. — O destino se desenrola diante de nossos olhos. Vossa Majestade está aqui, viva, e a profecia deve ser respeitada.
Meus lábios se abriram e fecharam várias vezes, mas antes que eu pudesse insistir na pergunta que queimava em minha mente, Draven simplesmente me ignorou e virou-se para os nobres, deixando-me de lado.
A frustração fervilhou dentro de mim.
Eu queria gritar, exigir respostas. Mas percebi, pelo olhar feroz de Lysara, que essa não era a hora certa. Ela já me odiava o suficiente.
— O que pretende fazer com ela então? — a duquesa perguntou, com uma doçura venenosa na voz. — Se não podemos matá-la… vai deixá-la andar livremente pelo castelo, como se fosse uma de nós?
O rei ergueu o queixo.
— Ela é nossa hóspede de honra.
Um burburinho indignado atravessou a sala.
— No entanto — ele continuou, seu olhar voltando-se para mim —, a humana atacou uma duquesa de nosso conselho. Isso não pode passar despercebido.
Minha garganta secou.
— E qual será a punição? — Lysara parecia prestes a saltar de felicidade.
Draven suspirou, como se estivesse cansado dessa discussão.
— Ela enfrentará sua punição ao pôr do sol.
Pela milésima vez naquele dia, senti meu coração se apertar dentro do peito. Pôr do sol? O que isso significava? O que eles fariam comigo?
De alguma forma, não sabia se era pior ser punida e mantida viva, ou ser morta de uma vez.
Senti o olhar de Lysara em mim, avaliando-me com um brilho perigoso nos olhos. Por um momento, pensei que ela fosse argumentar mais, mas então, para minha surpresa, a duquesa apenas sorriu.
— Nesse caso, estarei ansiosa para ver o que acontecerá.
. . .
Fui escoltada de volta ao quarto por ninguém menos que o próprio Draven. Caminhamos em silêncio pelos corredores ardentes do castelo, e eu tentei me acalmar o suficiente para processar tudo.
A profecia.
A punição.
Os olhares hostis sobre mim.
Quando chegamos ao quarto, o rei dragão abriu a porta e me lançou um olhar firme.
— Entre.
Cruzei os braços, firme.
— Vai me contar o que significa essa profecia ou pretende me ignorar de novo?
Draven fechou os olhos por um momento, respirando fundo.
— Você ainda não está pronta para entender.
— Que ótimo. — Cruzei os braços, sarcástica. — Eu mal acordo de um quase assassinato, sou trazida para o meio do covil dos meus inimigos, sou acusada de estar em alguma profecia estranha e, no fim, ninguém se dá ao trabalho de me explicar nada. Que dia maravilhoso.
Ele abriu os olhos, sua expressão impassível.
— Você quer mesmo saber?
— Sim.
— Então tenha paciência.
A raiva cresceu dentro de mim.
— Eu não sou uma de suas súditas, Draven. Você não pode me dar ordens.
Ele deu um passo à frente, e, instintivamente, recuei.
— Não posso? — Sua voz era baixa, mas carregada de algo intenso. Seu olhar âmbar encontrou o meu, e por um segundo, esqueci como se respirava.
Meu corpo ficou tenso.
O espaço entre nós era curto demais.
Calor irradiava dele, e não apenas pelo fato de ser um dragão. Era como se toda a presença dele consumisse o ar ao meu redor.
Meus olhos desceram, e percebi a linha forte de seu maxilar, a forma como os músculos se contraíam levemente em sua postura rígida. Sua pele quente contrastava com a frieza de sua expressão.
Meu coração bateu forte.
Eu queria afastá-lo.
Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim não queria que ele se afastasse.
Ele me analisou, seu olhar pousando em meus lábios por um instante, e então ele se afastou de repente, como se o momento nunca tivesse acontecido.
Eu pisquei, tentando recuperar o fôlego.
Draven abriu a porta, sua expressão voltando a ser fria e controlada.
— Descanse. Vossa Majestade vai precisar de forças para o que virá.
E então ele se foi, me deixando sozinha com pensamentos caóticos, temendo o maldito pôr do sol que viria, provavelmente, junto com um dos piores castigos já inventados pela humanidade…
Ou melhor, pelos dragões.
É, eu estava realmente encrencada.
POV: Elara Olhei para meu reflexo no espelho de corpo inteiro. Eu estava linda.Meu vestido de noiva, branco com detalhes dourados, não era mais lindo apenas que o sorriso no meu rosto. O grande dia tinha chegado, afinal!— Sua Alteza! — chamou minha serva, entrando no quarto. — A cerimônia finalmente vai começar! Está na hora.. . .De braços dados com meu pai, cercada pelos convidados reais e também muitos de meu povo, caminhei até meu noivo. — Você está linda, meu amor. — Seus olhos azuis estavam radiantes. — Será uma honra ser seu marido e tomar conta deste reino.Tímida, sussurrei de volta enquanto nos voltávamos para o cerimonialista.— Estamos esperando desde crianças. Mal posso acreditar, Cedric!Com lágrimas de felicidade ameaçando cair, ele tomou minha mão e respondeu:— Sim, querida. Eu também mal consigo me conter de felicidade.O casamento terminou ao pôr do Sol. Éramos oficialmente marido e mulher.. . .— Não! — gritei em pânico, me lançando de joelhos no piso da enfe
POV: ElaraO silêncio era esmagador. A escuridão da cela que me envolvia só não era pior do que o cheiro de umidade e ferrugem que impregnava o ar. Minha pele estava coberta de poeira e suor, e meus pulsos latejavam com os hematomas causados pelas correntes que me prendiam. Mas nada doía mais do que a traição. Cedric. Eu o amava. Eu sempre o amei. Desde crianças, quando corríamos pelos campos, quando ele prometia que me protegeria para sempre. Quando ele dizia que eu era a única pessoa no mundo que ele queria ao seu lado…Meu corpo estava exausto, mas minha mente não me deixava descansar. Porque assim que meus olhos se fechavam, o pesadelo começava. O fogo. Os rugidos dos dragões. A sombra colossal pairando sobre mim. E a marca em minha testa, queimando como se fosse parte das chamas. . . .Acordei com um solavanco quando um jato de água gelada foi atirado contra meu rosto. Ofegante, tremendo, tentei abrir os olhos e enxergar através da névoa de confusão e frio. —
POV: ElaraAcordei assustada, com a pele fria e embebida em suor. Olhei para os lados e vi que não estava numa cela escura e fétida, e não havia cordas ou grilhões me atando às paredes.Na verdade, eu estava num belo quarto. O lugar era quase tão lindo como meu antigo quarto no palácio. Eu estava deitada numa cama enorme, onde cinco pessoas poderiam dormir tranquilamente, com roupa de cama vermelha e fios de ouro nos travesseiros.Como se houvesse escutado meu arquejo assustado ao despertar, a porta se abriu e um homem surgiu.Não. Ele definitivamente não era um homem.Era muito alto, tinha pouco mais de dois metros facilmente. Sua pele era bem escura, como um céu noturno sem estrelas, e os olhos cor de laranja brilhavam como a mais quente das chamas. Ele era muito forte e musculoso, e as orelhas pontudas, parcialmente escondidas pelos cabelos trançados para trás, lembravam muito as de um elfo.“Princesa.” A sua voz era profunda e grave. Poderia facilmente se tornar intimidadora, se a