03. O Rei Dragão

POV: Elara

Acordei assustada, com a pele fria e embebida em suor. Olhei para os lados e vi que não estava numa cela escura e fétida, e não havia cordas ou grilhões me atando às paredes.

Na verdade, eu estava num belo quarto. O lugar era quase tão lindo como meu antigo quarto no palácio. Eu estava deitada numa cama enorme, onde cinco pessoas poderiam dormir tranquilamente, com roupa de cama vermelha e fios de ouro nos travesseiros.

Como se houvesse escutado meu arquejo assustado ao despertar, a porta se abriu e um homem surgiu.

Não. Ele definitivamente não era um homem.

Era muito alto, tinha pouco mais de dois metros facilmente. Sua pele era bem escura, como um céu noturno sem estrelas, e os olhos cor de laranja brilhavam como a mais quente das chamas. Ele era muito forte e musculoso, e as orelhas pontudas, parcialmente escondidas pelos cabelos trançados para trás, lembravam muito as de um elfo.

“Princesa.” A sua voz era profunda e grave. Poderia facilmente se tornar intimidadora, se assim quisesse.

Senti um calor estranho no peito imediatamente.

“Rainha”, corrigi, intimidada, mas sem querer parecer vulnerável.

Ele ergueu o queixo e revirou os olhos.

“É claro. Perdão.”

O jeito dele falar, os olhos…

De repente, entendi. Levantei-me de um pulo e procurei algo que pudesse ser usado como arma. Achei um livro bem pesado na cabeceira da cama e o ergui acima da cabeça, pronto para lançá-lo.

“Não se aproxime!”

Ele sequer se mexeu.

“O que está fazendo?”

“Você… você é aquele…”

“Aquele o quê?”

“AQUELE DRAGÃO! Você me sequestrou!”

O homem dragão ergueu uma sobrancelha.

“Isso é sério?”

“Muito sério!” Balancei ainda mais o livro. “E eu vou jogar isso aqui na sua cabeça se ousar chegar mais perto.”

Segundos de silêncio.

Então, para minha total surpresa, ele GARGALHOU. Pequenas chamas saíam de sua garganta enquanto, com vontade, o homem se contorcia de tanto rir.

“Posso saber qual é a graça aqui?”

Aos poucos, ele foi parando de rir. Depois de limpar a garganta, seu olhar cor de fogo se fixou em mim:

“Bem, vamos lá. Vossa Majestade afirma ter sido sequestrada, não é? O que é irônico, porque na verdade, eu a salvei. E de uma morte terrível, devo acrescentar.”

Ele apontou um dedo para minha arma improvisada:

“E já quem sabe o que sou e minha verdadeira forma, deveria saber que isso é tão inútil quanto jogar pedras em um gigante. Pensei francamente que a grande rainha de Soralis seria um pouco mais esperta.”

Senti meu rosto queimar. Meu primeiro impulso foi lançar o livro na cabeça dele, só para mostrar que não tinha medo. Mas, infelizmente, ele estava certo. 

E isso só piorava minha frustração.  

— Não me trate como uma tola. — Baixei o livro, mas não deixei de encará-lo com fúria. — Se realmente me salvou, então porque estou neste quarto, vigiada como uma prisioneira?

Ele suspirou pesadamente, como se eu estivesse fazendo perguntas idiotas.  

— Olhe ao seu redor. Acha que essas são as acomodações de alguém que esteja condenado? Francamente. Realmente, estou decepcionado.

— O que quer dizer com isso?  

— Vossa Majestade agora está bem longe daquele que a queria morta. No entanto, também está bem longe de qualquer civilização humana. 

Minha mente girava. Minha respiração ficou entrecortada.  

— Se não sou prisioneira, e se não estou perto de outros humanos… Onde estou?

— Está segura. Quando Vossa Majestade irá agradecer por isso?

— Não fuja da minha pergunta. — Olhei ao redor do quarto luxuoso, finalmente me dando conta do que tudo aquilo significava. O dourado e o vermelho. As chamas crepitando em um braseiro ao canto. O calor no ar, quase sufocante. — Onde estamos? E quem é você?!

O dragão me analisou por um momento, antes de soltar uma resposta que me fez gelar.  

— No Reino dos Dragões.  

Senti minhas pernas fraquejarem. 

Dei um passo para trás, batendo contra a beirada da cama. Meu coração martelava no peito, e por um instante a sala pareceu girar ao meu redor.  

— Não. Não. Isso não pode…  

Eu deveria estar morta.  

Ou pior.  

Cedric poderia ser cruel, mas os dragões… eles odeiam humanos. Eles nos consideram insetos.  

E eu estava bem no meio deles.  

— E eu sou Draven Draconis III, o último dragão da linhagem Draconis. Rei deste império. Acalme-se. O medo não vai ajudá-la aqui.  

— E o que exatamente vai me ajudar? — Meu tom saiu ácido. — Ser uma boa prisioneira e esperar vocês decidirem quando vão me matar?  

Draven soltou um rosnado baixo, sua mandíbula se contraindo.  

— Não seja dramática. Não escutou o que eu acabei de dizer? Vossa Majestade não é uma prisioneira.

— Então por que estou aqui?! E meu nome é Elara!

Ele hesitou por um instante.  

Então, com um suspiro impaciente, Draven veio até mim.

— Já que você insiste tanto em respostas, venha.  

Ele me pegou pelo braço antes que eu pudesse protestar.  

— Ei!  

— Você quer entender seu papel nisso tudo? — Sua voz era fria. — Então venha. E descubra com seus próprios olhos.  

. . .

Eu tentei resistir.  

Juro que tentei.  

Mas Draven era um dragão, e eu não era nada comparada a ele em força. Ele me arrastou pelos corredores do castelo com passos largos, e eu mal conseguia acompanhá-lo sem tropeçar.  

Meu medo aumentava a cada passo. O castelo inteiro parecia feito de fogo e pedra. Tapeçarias rubras com símbolos dourados cobriam as paredes, e o teto abobadado tinha um brilho avermelhado, como se magma corresse por dentro da pedra.  

Mas o pior eram as pessoas que passavam por nós.  

Os dragões.  

Eles olhavam para mim como se eu fosse uma praga que deveria ser exterminada. Alguns sussurravam entre si. Outros me analisavam como predadores observando uma presa. Pela janela, via até mesmo alguns em sua forma natural, voando para cá e para lá.

Meu coração batia tão forte que doía.  

Finalmente, Draven empurrou duas portas gigantescas, e entramos em uma sala ampla, com um longo trono de pedra no fundo e uma mesa de conselho no centro. Vários homens-dragões estavam sentados ali. Nobres, pelo que parecia.  

Quando ele me soltou, cambaleei para trás, tentando recuperar o fôlego.  

— Draven. — Um dos dragões ergueu-se, franzindo a testa. — O que significa isso?  

Draven endireitou os ombros.  

— Significa que a profecia começou. — Seus olhos âmbar brilharam. — E eu trouxe a mulher destinada a selar nosso futuro.  

A sala mergulhou em um silêncio tenso. 

— Profecia? Que profecia? — perguntei, mas fui solenemente ignorada.

Mas então, uma risada suave e venenosa quebrou o silêncio.  

— Isso só pode ser um engano.  

Eu me virei na direção da voz.  

Uma mulher ruiva de beleza estonteante se levantou da mesa. Seus cabelos caíam em ondas vibrantes, e seus olhos eram de um dourado intenso. Sua postura era elegante, mas seu sorriso tinha algo afiado, perigoso.  

Ela me avaliou de cima a baixo, como se estivesse vendo algo patético.

— Como assim, “engano”, Lady Lysara? — o rei perguntou.

— Uma humana? — Lysara inclinou a cabeça, seu tom carregado de desdém. — Diga-me, Draven, você realmente acredita que essa… coisa frágil e patética seja nossa salvadora?  

Meu peito subiu e desceu, minha raiva se misturando ao medo. Draven surpreendentemente me defendeu:

— Cuidado com suas palavras. 

— Cuidado com as MINHAS palavras? — E por que eu deveria ter cuidado? Seu reino está em ruínas, e você aposta tudo em uma criatura que nem sequer pertence ao nosso mundo? Você confia mesmo que essa humana insignificante trará nossa salvação?  

Ela parou diante de mim, seus olhos faiscando de malícia.  

— Parece que a verdadeira Soberana, a sua pobre mãezinha, está morta há muito tempo. E, pelo que sei, seu pai também. Mas talvez seja melhor assim. Pelo menos eles não precisarão assistir a humilhação da própria linhagem.  

Minha mente congelou.  

Meu coração explodiu em fúria.  

Antes que eu percebesse, minha mão se ergueu.  

O tapa estalou pelo salão, ecoando como um trovão.  

Lysara virou o rosto com o impacto, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.  

Quando ela se virou de volta para mim, seus olhos brilhavam em um tom feroz. Por um segundo, pensei que ela fosse me matar ali mesmo.  

Mas então, um sorriso frio curvou seus lábios. E foi isso que me fez sentir um calafrio real de medo.

Estalando os dedos para alguns dos séquitos que observavam tudo chocados, Lysara ordenou:

“Matem-na.”

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