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02. Aprisionada e condenada

POV: Elara

O silêncio era esmagador.  

A escuridão da cela que me envolvia só não era pior do que o cheiro de umidade e ferrugem que impregnava o ar. Minha pele estava coberta de poeira e suor, e meus pulsos latejavam com os hematomas causados pelas correntes que me prendiam.  

Mas nada doía mais do que a traição.  

Cedric.  

Eu o amava. Eu sempre o amei. Desde crianças, quando corríamos pelos campos, quando ele prometia que me protegeria para sempre. Quando ele dizia que eu era a única pessoa no mundo que ele queria ao seu lado…

Meu corpo estava exausto, mas minha mente não me deixava descansar. Porque assim que meus olhos se fechavam, o pesadelo começava.  

O fogo.  

Os rugidos dos dragões.  

A sombra colossal pairando sobre mim.  

E a marca em minha testa, queimando como se fosse parte das chamas.  

. . .

Acordei com um solavanco quando um jato de água gelada foi atirado contra meu rosto.  

Ofegante, tremendo, tentei abrir os olhos e enxergar através da névoa de confusão e frio. 

— Está na hora de acordar, minha rainha.  

Meu coração se apertou.  

Cedric.  

Mas não o Cedric que eu conhecia, ou ao menos, achei que conhecia.

Ele estava parado diante de mim, usando suas vestes reais, impecável e intocável, como se eu não fosse nada além de um inseto sob seus pés. Seus olhos azuis, aqueles que um dia brilharam de amor por mim, agora estavam frios, vazios.  

— Cedric… — Minha voz saiu rouca, quebrada, e não pude evitar ter um acesso de tosse.

Ele inclinou a cabeça levemente, como se estivesse analisando uma peça defeituosa.  

— Vossa Majestade agora é apenas uma traidora.  

As palavras cortaram mais do que qualquer lâmina poderia.  

Balancei a cabeça, sentindo o desespero me sufocar.  

— Por quê? — Minha voz tremia. — Por quê, Cedric? Como pôde fazer isso comigo? Nós nos amamos… Você me prometeu…  

Ele soltou um riso seco, descrente.  

— Amor? Você ainda acredita nisso?  

Dei um passo vacilante à frente, puxando as correntes que me prendiam.  

— Sim! — Minha voz falhou e tossi novamente. — Cedric, eu te amo! Eu sempre te amei! Tudo o que sempre quis foi estar ao seu lado!  

Algo brilhou em seus olhos por um breve instante. Algo que se parecia com hesitação. Mas então, tão rápido quanto veio, desapareceu.  

Ele cruzou os braços.  

— O amor não governa reinos, Elara. Poder governa.  

Meu peito se apertou.  

— Isso não é você. Isso… Isso não é o Cedric que eu conheço.  

Ele riu de novo, mas dessa vez foi um som amargo.  

— O Cedric que você conhecia foi uma ilusão, criada para que você se apaixonasse por mim sem hesitação.  

As palavras me atingiram como um soco no estômago.  

— Você… você está mentindo.  

Ele me olhou de cima, impassível.  

— Foi meu pai quem me instruiu. Desde o momento em que soube que me casaria com você, ele me ensinou que eu deveria ganhar sua confiança, seu amor. E então, quando o momento certo chegasse, tomaria o que era meu por direito.  

Minha respiração ficou entrecortada.  

— O quê…?  

Cedric inclinou a cabeça.  

— Você nunca percebeu? Meu pai sempre quis este reino. Ele sabia que não poderia conquistá-lo pela força, então fez isso da forma mais sutil possível: através do casamento. Claro que depois de sua infeliz partida, precisei honrar a morte do velho. Acho que fiz um bom trabalho, não?

O chão pareceu desaparecer sob mim.  

— Você… Você nunca me amou?  

O silêncio que se seguiu foi pior do que qualquer resposta.  

Minha visão ficou embaçada pelas lágrimas. Eu balancei a cabeça, recusando-me a acreditar.  

— Mentira — sussurrei. — Isso é mentira. Você segurou minha mão quando eu perdi meu pai. Você me abraçou quando minha mãe se foi. Você… Você me olhava como se eu fosse o mundo para você.  

Por um momento, apenas um momento, vi algo em seu olhar. Algo que parecia… dor.  

Mas então, ele desviou o olhar e deu um passo para trás.  

— Você é engraçada. Ontem me acusou de ter matado seu pai, e agora apela para as minhas demonstrações de sentimentalismo. Ora, querida, você precisa decidir. Eu sou seu heroi? Ou seu vilão?

A porta se abriu atrás dele, e dois guardas entraram.  

— Majestade, está na hora.  

Minha garganta fechou.  

— O quê?  

Cedric suspirou, como se estivesse entediado.  

— Sua execução.  

A palavra pareceu fazer meu coração parar.  

Eu sabia que isso poderia acontecer. Eu sabia que ele queria me tirar do caminho.  

Mas parte de mim, a parte estúpida e ingênua, acreditava que ele não seria capaz de me matar.  

Mas eu estava errada.  

— Adeus, Elara.  

E então, ele se virou e saiu.  

Os guardas me puxaram, e eu não tive forças para resistir.  

. . .

A praça central estava lotada.  

O povo estava dividido. Alguns gritavam para que eu fosse queimada. Outros choravam, pedindo piedade.  

Mas ninguém fez nada.  

Ninguém me salvou.  

Meus pés estavam amarrados ao poste no centro da pilha de palha. As correntes nos meus pulsos haviam sido removidas, mas a liberdade não significava nada quando o fogo estava prestes a consumir tudo.  

Cedric estava lá.  

Sentado no trono que deveria ser meu.  

Assistindo. Impassível.

E quando o executor acendeu a tocha e a ergueu em minha direção, eu fechei os olhos.  

E então…  

Um rugido ensurdecedor cortou o céu. O chão tremeu. As chamas da tocha foram apagadas por um vento violento.  

E quando abri os olhos, vi a sombra colossal que cobria a praça inteira.  

Um dragão.  

As pessoas gritaram, ensandecida, e começaram a correr por suas vidas. O fogo começou a consumir não a mim, mas os edifícios ao redor. As chamas se espalharam, e os guardas correram para se proteger.  

E então, a voz ecoou em minha mente.  

“Você… Eu te encontrei.

Meus olhos se arregalaram. Eu o conhecia. De alguma forma, eu o conhecia.  

Aquele era o dragão dos meus pesadelos… e ali, brilhando em sua colossal testa, a mesma marca que atambém surgia em meus sonhos…a

Vi quando Cedric, pálido e enfurecido, encarou a enorme carcaça dracônica como se contemplasse o próprio fim do mundo. Então ele se levantou e sacou a espada, pronto para lutar, ou pelo menos

chamar os guardas de volta.

O dragão mergulhou, agarrou-me em suas garras e me levou para o céu. 

Eu estava livre de meu algoz… e literalmente nas garras de outro.

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