Capítulo 10

༺ Rodrigo Garcez ༻

Zara permanece quieta ao meu lado enquanto dirijo, não disse nenhuma palavra desde que entrou no carro. Sei que não está confortável, mas preciso quebrar o clima tenso que fica entre nós quando estou perto dela. Ela sempre age de maneira estranha e desconcertada.

— Aconteceu algo? Você não disse nenhuma palavra desde que entramos no carro! — perguntei.

— Só estou meio cansada! E também com muita fome, espero que você não me leve nesses restaurantes que só servem uma porção minúscula de comida, pois estou faminta. — não deixei de sorrir quando ela me confessou aquilo.

Garotas na idade dela geralmente estão sempre querendo manter a boa forma, então a questionei levantando uma de minhas sobrancelhas a observando.

— Você é surpreendente! Geralmente, mulheres da sua idade sempre se preocupam em manter a boa forma e um corpo perfeito, e acabam não se alimentando de forma adequada. Por isso penso que às vezes ficam doentes.

— Bem, suponho que não seja o meu caso! Nunca precisei fazer dieta ou qualquer coisa parecida. Se eu parar de comer, fico magra. — Zara, então, riu observando-me, enquanto eu gargalhava acompanhando-a.

Não pude deixar de notar que ela é uma garota inocente e divertida, que não está sempre falando de roupa, dinheiro ou de como quer viajar pelo mundo.

— Você não é tão magra, Zara! Fico surpreso que você coma o que quer, sem se culpar.

— Aprendi que devemos aproveitar cada instante como se fosse único! Sabe, Rodrigo, desde que a minha mãe morreu, vivo cada dia com mais intensidade. Perdi muito tempo nas mãos de uma pessoa terrível que, apesar de ser da mesma família que eu, sempre foi má comigo. — quando ela me confessa isso, fico bem surpreso!

Ela já enfrentou muitas dificuldades na vida, mas ainda assim mantém o bom humor e não se tornou uma pessoa ruim.

— Nossa, você dizendo-me essas coisas só aumenta minha admiração por você, pois geralmente as pessoas se tornam amargas e estúpidas. Você não usa sua dor para machucar ninguém, simplesmente continua seguindo adiante com sua vida.

— Você tem toda a razão, Rodrigo! Nem sempre foi fácil para mim, mas acredito que ninguém tem nada a ver com os meus problemas, e se ficar ruim tento dar risada e levantar novamente do tombo. — concordei com suas palavras e continuei dirigindo.

Em poucos minutos, finalmente, chegamos a um restaurante que serve comida mais simples. Zara parecia satisfeita com a escolha do lugar, bem sossegado e longe de todos. Eu nunca gostei muito de ambientes barulhentos, então olhei para ela e disse:

— Espero que você não fique triste, porque eu não suporto lugares movimentados e detesto ambientes cheios!

— Não se preocupe, eu também não gosto de ser o centro das atenções! Fico incomodada quando vejo várias pessoas olhando para mim enquanto estou comendo.

Tendo em vista que estávamos ambos satisfeitos com a minha opção, decidi me acomodar e pedir ao garçom o cardápio. Acabamos pedindo o prato da casa. Zara então pegou o seu celular para observar as horas e eu perguntei curioso, pois percebi que ela digitou algo no celular. Cheguei a me questionar mentalmente se não era algum pretendente com quem conversava, pois se fosse isso, precisaria ser mais rápido que o meu oponente.

— Hum! Pela sua expressão, parece que a mensagem no seu celular te deixou contente, certo? Você mal consegue disfarçar isso com um sorriso.

— Ah, não! É só a minha amiga brincando, Pietra é terrível! Sempre me dá conselhos pessoais. — do nada, lembrei do meu amigo Patrick e respondi rindo, relembrando aquele dia em que estivemos em uma reunião com empresários australianos.

— Imagino, viu? Especialmente se for do tipo do meu sócio Patrick. Ele quase me fez perder uma proposta vantajosa com uma de suas brincadeiras. Ainda bem que se segurou na reunião, pois fiquei bem apreensivo depois que ele me confessou isso, quando voltávamos para Manhattan.

— Sério? Mas o que ele lhe disse? E claro, se você quiser contar também, não quero dar uma de intrometida. — não consegui reprimir uma risada ao me lembrar do meu amigo se expressando sobre o homem de sobrancelhas grossas e respondi ainda rindo.

— Você acredita que ele estava incomodado, porque o homem não tinha feito as sobrancelhas? Patrick sabe ser inconveniente às vezes. Ele se segurou para não dar risada do homem. Agradeci por isso, afinal, imagina o fiasco que seria aquela reunião?

— Nossa, a sobrancelha desse homem estava tão feia assim? Para que ele ficasse tão incomodado? Sei que alguns não gostam de se cuidar. Agora pensei na minha amiga e ele juntos. Meu Deus, é bom nem imaginar isso. — Zara gargalhou e eu respondi rindo também, enquanto tomávamos água.

— Patrick é terrível! Se eu te contasse o resto das coisas que ele falou no helicóptero, é melhor até deixar quieto. Há certos assuntos que não devem ser mencionados, especialmente porque foi uma conversa muito inadequada por parte dele.

— Concordo plenamente! Uma vez, minha amiga também me colocou em uma situação constrangedora, arranjando um encontro amoroso com um colega da faculdade. Tenho vergonha de lembrar disso até hoje... — começo a perceber que Zara não é o tipo de mulher com muitos pretendentes, ou talvez ela não tenha experiência com homens e, movido pela curiosidade, perguntei:

— Hum... Ela estava tentando arranjar um encontro para você? Devido ao seu jeito atraente, você deve ter vários pretendentes, certo, Zara? Pois, você é uma mulher muito bela.

Quando disse essas palavras, percebi que Zara rapidamente ficou ruborizada, me fitou e até pegou um copo de água para beber, na tentativa de esconder sua vergonha. Apenas tive vontade de rir do seu comportamento. Sempre que pergunto algo relacionado a relacionamentos, ela fica desconcertada, sem jeito, ela responde, tentando se recompor.

— Na verdade, eu não sou o tipo de mulher que tem muitos pretendentes, Rodrigo! Jamais tive um encontro amoroso com um homem, ou seja, nunca tive um namorado. É até constrangedor admitir isso. Porque tenho 23 anos.

— Você não tem que se envergonhar disso! Na verdade, acho isso muito bonito em uma moça, se comportar como uma mulher decente. A maioria das mulheres que encontro se perdem cedo na vida, não que eu seja um cara preconceituoso, mas não gosto desse tipo de mulher, sabe? — ela me olhou com aqueles lindos olhos verdes e perguntou curiosa.

— Entendi! Mas diga-me, qual é o tipo de mulher que corresponde ao seu estilo?

— No seu estilo, é claro! Também não sou de enrolar quando estou interessado em algo. — ela me observou perplexa e acabou se engasgando com água.

Então, levantei e bati nas suas costas para ajudá-la. Ela apenas me olha sem saber o que dizer enquanto dou um sorriso presunçoso a ela.

Tiramos a atenção da nossa conversa quando as nossas refeições chegaram. A carne de cordeiro temperada estava deliciosa e, sobretudo, o aroma era excelente. Ela montou o seu prato tentando esquecer o que eu acabei de dizer, mas hoje não vai conseguir fugir de mim.

Passados alguns minutos, tento uma nova abordagem, acariciando sua mão. Ela me observa serenamente. Percebo que Zara não está acostumada com esses toques, principalmente com a aproximação de um homem, então comentei.

— Desde que você se tornou funcionária da empresa, Zara! Você tem despertado bastante o meu interesse. Principalmente no dia em que você jogou café em mim, de alguma forma esse seu jeito desastrado conseguiu me deixar fascinado pelo seu carisma e beleza, estou muito interessado em sua pessoa.

— Eu não sei o que te dizer! Isso é muito novo para mim, eu… eu… — podia notar o quanto ela estava nervosa com aquela minha revelação, porém o que eu não estava esperando era ouvir novamente a voz irritante daquela mulher, só pode ser castigo mesmo.

— Rodrigo Garcez, não imaginava que o encontraria aqui. Seu amigo já havia dito que você prefere lugares mais tranquilos e veja só, nos reencontramos de novo? Não consigo acreditar que está acompanhado por essa… coisa.

— Ah! Mas isso ninguém merece. Encontrar uma cobra no meio do jantar, garota, agora você ficará me perseguindo? Pelo amor de Deus, dê um tempo, já não basta você e a sua mãe terem feito um inferno na minha vida quando eu morava naquela casa, agora sofrerei perseguição sua também depois de sair? — não queria acreditar que aquela garota insuportável era a prima chata de Zara.

Coitada, não faço ideia do que ela passou nas mãos dessa mulher chata. No entanto, a prima responde em provocação.

— Se liga, garota! Você nem faz falta naquela casa. Se fizesse, seu pai fazia questão de te trazer de volta. — cada vez que conhecia o comportamento de Márcia, mais enojado eu ficava com ela.

— Então você deve me agradecer, Márcia, por continuar na casa. Meu pai estava disposto a colocar você e a sua mãe para fora da casa que sempre me pertenceu por direito, mas fiquei com pena e decidi deixá-las lá. Sei que as duas são encostadas e vivem com dinheiro dele, informe à minha tia que a casa é minha e que ela nunca ocupará o lugar da minha mãe. Meu pai nunca a amará, tenho plena certeza. Agora sai da minha mesa, sua bastarda. Você é uma intrusa na minha família, a sua mãe é uma vagabunda, assim como você. Ainda teve a sorte que meu pai se casou com ela, e por pena aceitou você, a filha de um bêbado.

— Não fale comigo dessa forma! Quem você pensa que é? Se ponha no seu lugar, a minha mãe é muito bem-sucedida e eu tenho um nome para você ficar falando essas coisas de mim. Não acredite nela, Rodrigo, é tudo mentira. — Zara soltou uma risada e respondeu enquanto ainda a observava de cima a baixo.

— Você é patética! Por muito tempo deixei que vocês destruíssem o meu psicológico, mas a verdade é essa: aquela casa sempre foi minha. Então, Márcia, se você não quiser ir para o olho da rua com a sua mãe agora mesmo, sai daqui. Eu não sou obrigada a ficar aturando uma pessoa podre e tóxica. E sim, você é filha de um bêbado vagabundo que só sabia bater na sua mãe e beber. Madalene é uma ingrata, mesmo depois da minha mãe ter oferecido apoio e auxílio. Ela sempre me tratou como um verdadeiro lixo, enquanto a minha mãe a recebeu junto com ela de braços abertos para vocês não morrerem de fome. Porém, eu não sou do tipo que j**a as coisas na cara, contudo, dessa vez você está merecendo ouvir. Ou sai daqui por bem, ou largarei a mão nessa sua cara.

Ao perceber que todos os olhares estavam na nossa mesa, Márcia tenta conter a situação. Ela parece envergonhada com tudo que Zara acaba jogando na sua cara. Realmente, Zara deveria estar de saco cheio dessa garota. Eu também já não suportava Márcia mais atrás de mim.

— Tudo bem! Estou indo, mas não porque você está me pedindo para sair, e sim por ser uma pessoa civilizada. E você está sendo bem mal-educada falando todas essas coisas. E quanto a você, Rodrigo, não acredito que está se envolvendo com uma garota como essa.

— Com quem eu me envolvo ou deixo de me envolver não é da sua conta! Não vejo motivo para ter que explicar a minha vida para uma pessoa que mal conheço e que vi apenas duas vezes. — respondi com firmeza.

Não gostei do modo como ela falou, parecia estar me cobrando algo.

— Acredite em mim, Rodrigo! Ela não é boa para você. Especialmente para alguém como você, Zara é uma infeliz que não tem experiência com a vida. Não sei como você a conheceu, mas tenho certeza de que não foi da melhor maneira, certo?

— A única pessoa aqui que merece pena é você! Não terminou a faculdade e não tem inteligência para fazer nada, a não ser seguir os conselhos da sua mãe e procurar um homem com dinheiro para se casar. Isso é constrangedor, ao contrário de mim, que estou terminando o curso universitário com o suor do meu próprio rosto. — tive vontade de rir quando Zara afirmou isso, deixando a cara de Márcia no chão. Acredito que ela não estava esperando uma resposta como essa.

Acredito que ela não estivesse esperando uma resposta como essa.

— Faculdade, garota, você é burra! Que nunca estudou e quer dizer que eu não tenho estudos? Tenho certeza de que você deve estar pedindo um prato de comida para Rodrigo, certo?

— Na verdade, não, Márcia! Zara é minha assistente geral que resolve todas as responsabilidades da empresa, está em seu último ano de faculdade, não é isso, Zara? E também tem boa capacitação, principalmente na melhor faculdade da cidade, mesmo sendo bolsista. Ah, analisei o currículo dela, inclusive ela fala vários idiomas também. É informação demais para você, hein, Márcia? Acredito que já está na hora de você sair, só passa vergonha em cima de vergonha, sinceramente. Ou você vai embora ou peço para o segurança retirar você.

Ao constatar que ela não tem argumentos para discutir, resolve sair fuzilando a prima com os olhos. Enquanto Zara apenas revira os olhos, ajeita-se na cadeira e volta a comer, como se nada tivesse acontecido. Essa noite e suas surpresas: quem poderia imaginar que Márcia seria prima de Zara? São tão opostas e diferentes!

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