Ruan parou em um bar antes de ir para casa após a delegacia. Pediu uma bebida e olhou para o celular enquanto aguardava. Um casal do lado de fora chamou sua atenção; estavam tirando fotos e sorrindo. Ele olhou novamente para o celular e procurou por fotos dele e sua família, mas não encontrou nada na galeria. Coçou a cabeça e bebeu de um gole só a bebida trazida pelo garçom.Mais uma vez, mexeu no celular e não havia fotos de Clara, nem da filha Carol. Torceu a cara, franziu a testa e pediu outra bebida, sem entender por que o casal do lado de fora o irritava tanto. Será que sentia falta de Clara? Não... não poderia ser. Ela não tinha nada de especial, e por que sentiria falta se nunca pensava nela? Por onde ela estaria? E com quem? Já era o segundo dia desde que ela fugira com a filha. Carol estava em casa após ele a buscar, mas e Clara?Como ela teve coragem para fugir...? Então se lembrou de Ana.Ruan pediu mais uma bebida, e depois outra, até que já era noite quando decidiu ligar
Ruan acordou de ressaca como sempre. Fez um café e chamou Carol para levá-la à escola.— Mas, papai, você já fez meu café da manhã?— Fiz café. Talvez tenha leite na geladeira. Vamos, acorde logo, temos que sair.Carol levantou e se apressou a sair mesmo sem tomar seu leite.— Mamãe não me deixaria sem meu leite. Eu vou ficar com fome.— Tome, pegue esse dinheiro e coma algo na escola.Aproveitou para parar em um bar próximo à sua casa, pediu um café com leite e um salgado, e observou as notícias do dia. Nenhuma mencionava o tiroteio.— Vamos, Carol, coma logo esse salgado, pare de reclamar e vamos para a escola.— Vou te deixar na escola e espero que sua mãe não apareça para te pegar. Saiba que eu estarei vigiando.Ana tentava pensar em um plano para poder pegar Carol e levá-la a Clara. Pensou em ir à escola, mas sem a permissão do pai não conseguiria tirar Carol de lá. O Sr. Leonara passara a manhã toda ocupado ao telefone, tentando evitar que vazassem notícias sobre seu irmão e a
Mais um dia sem notícias de Clara. Ruan já estava enlouquecendo. Eram 7h da manhã e ele ainda não havia ido para casa. Já se passaram três dias que ele não sabia o paradeiro de Clara. Sem notícias, resolveu que iria até a casa do deputado e que só sairia de lá com informações. Pediu mais uma bebida quando seu celular tocou com um recado de seu pai, que era o comandante do batalhão, informando que ele seria afastado do trabalho por má conduta e faltas injustificadas. Após uma longa discussão, desligou o celular ainda mais irritado com a situação. Meio cambaleando, seguiu até o carro e dirigiu-se para a casa do deputado. Ao chegar, parou em frente ao portão e se dirigiu à portaria, já alterando o tom de voz. — Alô, aqui é o policial Ruan e preciso falar com Ana. Abra o portão, preciso entrar. — Só um minuto, senhor. Preciso chamá-la, não tenho permissão para permitir a entrada. — Vamos, ande logo! Não ouviu quem sou? Sou policial, não me conhece? Eu que defendo essa cidade, eu qu
Ana estava tentando arranjar uma desculpa enquanto Ruan a pressionava por uma resposta de Clara. Quando seu telefone tocou, era da mansão:— Oi Margarida, estou aqui fora na portaria.— Ana, você precisa vir aqui. O Sr. Leonara não está bem. Chame a ambulância e corra para cá, por favor.Ana ficou pálida e, sem pensar, se despediu de Ruan, sem se preocupar com o escândalo dele.— Ruan, preciso ir. Tenho uma emergência e sou a responsável. Respeite meu trabalho, te ligo mais tarde. Nós nos conhecemos há anos. Preciso ir. Eu te ligo.Ana foi se afastando e se despediu, correndo em direção à mansão. Ruan tentou argumentar algo, mas viu que seria inútil, pois rapidamente Ana sumiu portão adentro. Ele respirou fundo, passou a mão na cabeça, andou de um lado para o outro e entrou no carro.— Ela não está acreditando, né! Vai ver o que vou fazer.Ligou o carro e partiu.Ao chegar na mansão, Ana encontrou o Sr. Leonara sentado em seu escritório com muita falta de ar. Enquanto aguardava pelo s
Enquanto se arrumava, Ana refletia sobre a reviravolta dramática que sua vida havia tomado nos últimos dias. Finalmente, ela conseguiu ajudar Clara a escapar da vida sofrida e abusiva que levava ao lado de Ruan. A mansão foi invadida por traficantes, e Clara fugiu com Jorge ambos desconhecidos um ao outro... Só de lembrar dessa parte, Ana sentia um frio no estômago. Ela balançou a cabeça e pôs a mão na testa, murmurando para si mesma: "Que loucura! Clara foi embora mesmo."Por alguns instantes, Ana permitiu-se relembrar tudo o que viveram até aquele ponto. Ruan, que antes era um galanteador de sorriso fácil, transformou-se em um marido inútil, violento e bêbado. "Será que fiz a coisa certa ao ajudar Clara a sair de casa?", ponderou Ana. Mas, então, a imagem de Clara, com hematomas pelo corpo e lágrimas contidas para não parecer fraca, veio à sua mente. Sim, ela tinha feito o que precisava ser feito. Clara, apesar das dificuldades, poderia estar bem agora. Ana esperava sinceramente que
Com o rosto corado ao lembrar de Jorge, Ana pensou em Clara e sorriu. "Clara está bem, conseguiu fugir logo com Jorge. Aquele homem maravilhoso, eu também fugiria fácil com ele. Como ela deve estar? Preciso voltar logo para tentar falar com ela. Fred deve dar um jeito."Perdida em pensamentos fervorosos sobre Jorge, Ana se deu conta de que já havia chegado ao seu destino, a frente da casa de Ruan. Respirou fundo e bateu palmas, mas não parecia haver ninguém em casa. Tentou abrir o portão, mas estava trancado com um cadeado, o que achou estranho. Seu celular tocou, era um número desconhecido. Decidiu atender. – Alô?– Ana! Sou eu, Clara. Estou com esse celular agora, pode falar.– Oh, Clara! Que maravilha, eu precisava muito falar com você. Estou aqui na sua casa.Ana, eufórica, tentava explicar que estava tentando resolver as coisas para Clara.– Jorge saiu com um amigo e me deixou este celular. Mas cuidado, não salve meu nome nesse número. Ruan está de olho em você. Você disse que
Olhou para a casa. Na mesa, ainda estavam os pães que Jorge havia comprado, junto com os farelos do lanche que ela preparara para ele levar. Esses últimos quatro dias tinham sido intensos. Não conhecia Jorge bem, mas ele passava segurança. Era carinhoso. Lembrou-se de seu rosto preocupado no caminho, de seu sorriso enquanto escolhiam os móveis, dele limpando a casa com ela, sem saber segurar a vassoura direito, cedendo o colchão e sua blusa, dormindo na poltrona. Já havia tantas lembranças boas com ele, mais do que em anos com Ruan.Jorge havia deixado dinheiro para ela comprar algumas coisas que ainda precisavam. Decidiu ir até o mercado, quem sabe procurar um emprego para começar a se virar. Sabia que Jorge era algo passageiro; logo ele seguiria sua vida, assim como já estava resolvendo seus problemas junto de Tito nessa manhã.Fechou a casa. Em frente, havia um canteiro que saía para a avenida. Observou algumas folhas caírem no chão; a árvore estava ficando sem folhas, mas logo, na
Apesar de não querer pedir ajuda a Jorge, Clara sabia que ele não hesitaria em ajudá-la. Precisava ligar para ele para informar sobre seu irmão. Ana disse que ele estava em cirurgia e também não tinha mais informações.Conforme o telefone chamava, Clara dava passos largos na sala, de um lado para o outro.— Alô? Romeu?— Catarina? O que houve? Tá tudo bem?— Você irá demorar para voltar? — Clara, apreensiva, não sabia como dar a notícia a ele.— Catarina, o que você precisa? Me fale que eu volto à noite e te levo.— Na verdade, é com seu irmão! Falei com Ana, ela me disse que seu irmão está no hospital... — Antes de terminar, Romeu deu um grito do outro lado da linha.— Meu irmão, o que? Está onde?— Ana me falou que ele teve um AVC logo no início dessa manhã e está em cirurgia. Não tenho mais notícias.Jorge estava com a voz preocupada. — Vou ligar para lá e buscar informações. Obrigada por me ligar.Não demorou muito para Jorge retornar a ligação.— Catarina! Vou para a casa do meu