Era fim de tarde, o céu estava laranja enquanto o frio gelado começava a entrar pela janela. Catarina foi até a janela e observou os carros passando na rua, perdida em pensamentos. Sabia que Jorge não tinha nenhum vínculo com ela, mas, de alguma forma, sentia alívio ao saber que ele voltaria. Antes mesmo de fechar a janela, ouviu o som de um carro encostando e, logo em seguida, vozes e risadas ecoando pela entrada, seguidas pelo som das portas batendo. Jorge chegou acompanhado de Tito. Apesar das preocupações, ambos pareciam animados naquele fim de tarde. -Olá, Catarina, como está? Como foi seu dia? Alguma notícia do meu irmão?” perguntou Jorge, enquanto tirava os sapatos e a blusa com naturalidade. Tito, que vinha logo atrás, fez o mesmo, também retirando seus sapatos e a blusa. Catarina ficou surpresa com a atitude deles. Nunca havia conseguido que Ruan, seu marido, respeitasse seu pedido de tirar os sapatos antes de entrar em casa, e ali estavam Jorge e Tito, fazendo isso sem
Era evidente a preocupação no olhar de Clara. Jorge, atento, lançou diversos olhares pelo retrovisor, observando a tensão que marcava seu rosto. Dias antes, eles haviam percorrido aquele mesmo caminho, com Clara tomada pelo choro incontrolável. Agora, porém, estavam a caminho de recuperar aquilo que mais a angustiava pela distância: sua filha, Carol.Enquanto o carro avançava, Clara não conseguia afastar os pensamentos que a atormentavam. Ela sabia que Ruan não era astuto, sua mente limitada e a violência que sempre demonstrou eram as únicas armas que possuía. Clara havia suportado tanto, permitindo os abusos por não ter para onde ir ou o que fazer. Foram inúmeras as vezes em que implorou para que ele mudasse, que parasse de beber, mas parecia que, a cada dia, ele só piorava. -Eu sei que o que fiz foi um ato de desespero, disse Clara, sua voz carregada de tristeza. -Pedi tantas vezes para ele melhorar, mas parecia que nada ia mudar. Foram anos e anos. Ana me ofereceu ajuda, e mesmo
Enquanto o carro deslizava suavemente pela estrada, Clara mal percebeu o tempo passar. O movimento rítmico do veículo a embalava, e seus pensamentos pareciam se dissipar no horizonte. Foi apenas quando Jorge a chamou que ela voltou à realidade.— Vou fazer uma parada aqui — avisou ele, os olhos se encontrando com os dela pelo retrovisor. — Vou ligar para o Fred e ver se há alguma novidade sobre meu irmão. Também quero saber se tem alguém do lado de fora, talvez não seja seguro passar por lá agora.Clara assentiu, ainda um pouco atordoada pela súbita imersão no presente.— Sim, vou ligar para a Carol e ver se está tudo certo. — Ela fez uma pausa, observando a estrada deserta pela janela. — Chegaremos em quanto tempo?— Uns dez minutos. Já estamos perto da cidade — respondeu Jorge, enquanto manobrava o carro para uma parada na beira da estrada. Ele precisava ajustar os últimos detalhes da busca por Carol, e Clara sentiu o peso da situação se intensificar no silêncio que se seguiu.Clara
Vamos dar uma volta pela cidade e ver como está o movimento, disse Jorge, enquanto dirigia calmamente pelas ruas. Ele mantinha os olhos atentos em cada esquina, observando o ambiente com cautela. Ao se aproximarem do centro, notavam-se grupos de jovens conversando em um clima descontraído, a cidade parecia tranquila.-Se você avistar o Ruan em algum lugar, nos avise, disse ele, voltando-se para Clara com uma expressão firme. Vamos passar em frente à sua casa também, só para ver como está.Clara assentiu silenciosamente, o coração acelerado. Era estranho estar tão perto de um lugar que ela preferia esquecer, mas a presença de Jorge e Tito lhe dava uma sensação de segurança.Quando chegaram à rua de sua antiga casa, Jorge diminuiu a velocidade. O ambiente estava quieto. A casa de Ruan estava escura, e o carro dele não estava estacionado na frente, um bom sinal de que ele provavelmente não estava por perto.-Parece vazio, comentou Jorge, os olhos atentos a qualquer movimento.-Vou dar um
Enquanto o carro de Ruan saía lentamente da garagem, ele lançou um olhar desconfiado na direção do veículo de Jorge, que manobrava próximo à sua casa. Jorge, sem hesitar, encarou Ruan de volta, seus olhares se cruzaram através dos vidros escuros. O silêncio tenso se manteve até que Ruan finalmente se afastou.Assim que ele virou a esquina, Clara levantou-se, ainda abalada, mas determinada. -Vou agora. Ele deve ter esperado ela dormir.- Vou abrir o portão pra vocês. Só me dêem um minuto, disse Jorge decidido que trocou um olhar com Tito, como se já soubessem exatamente o que fazer.-É isso aí, irmão. Tá na mão, vamos lá, Tito respondeu com um aceno decidido.Ambos saíram do carro sem perder tempo, movendo-se com uma precisão quase automática. Cada um segurava um pedaço de metal nas mãos. Com algumas sacudidas no portão, ele cedeu rapidamente. Jorge olhou para Clara, agora com um sorriso tranquilo no rosto, e fez um sinal para que ela viesse.Clara, ainda incrédula com a rapidez e a h
Com muita dificuldade, finalmente conseguiram deixar a cidade para trás e entrar na rodovia. O carro acelerava pela estrada escura, e os sons dos tiros gradualmente ficaram para trás, misturando-se ao ruído distante da cidade. A tensão dentro do carro ainda era palpável, mas a sensação de alívio começava a surgir lentamente enquanto a distância entre eles e Ruan aumentava. Tito, com o rosto sério e focado, mantinha o pé firme no acelerador, enquanto Jorge, ainda atento, olhava pelo retrovisor, certificando-se de que não estavam mais sendo seguidos.No banco de trás, Clara segurava Carol com força, tentando acalmar a filha, que ainda soluçava baixinho. Ana, sentada ao lado, olhava para elas com preocupação, tentando oferecer conforto com um leve toque no ombro de Clara.-Conseguimos sair, mas ele vai tentar nos achar, -Tito disse em voz baixa, sem tirar os olhos da estrada.-Precisamos de um lugar seguro vamos.para casa. -Jorge respondeu, ainda cauteloso, guardando a arma com cuidado
Quando o carro parou em frente à casa, um alívio coletivo tomou conta do grupo. Todos soltaram um suspiro alto, como se estivessem finalmente podendo respirar depois de tanto estresse. Assim que saíram do carro, o ar fresco da noite parecia aliviar um pouco mais a tensão. Clara, ainda sentindo o peso dos últimos eventos, tentou pegar Carol nos braços, que continuava a dormir profundamente, mas estava cansada e lutava contra a exaustão.Jorge, percebendo a dificuldade dela, se aproximou lentamente, com um gesto de compreensão. -Calma, Clara, disse ele, em tom suave. -Eu não farei mal a ela, só quero te ajudar a levá-la para dentro. Venha, confie em mim, deixe-me ajudar.Clara olhou para Jorge com hesitação. Embora soubesse que ele estava ali para protegê-las, a insegurança de entregar sua filha, mesmo que por um breve momento, a alguém que ainda estava aprendendo a conhecer a fez parar. No entanto, o cansaço a venceu. Com um suspiro, ela assentiu, permitindo que Jorge a ajudasse.Jorg
Na sala, as risadas continuavam, mas Jorge estava claramente desconfortável com as investidas de Ana. Ela tentava se aproximar, até jogando-se no colo dele em algumas ocasiões, mas ele sempre desviava, educado, sem querer criar um mal-estar. A situação começava a ficar insustentável para ele.Por fim, Jorge decidiu encerrar a noite, buscando uma saída. -Ana, acho que é melhor a gente descansar, disse ele, com um sorriso calmo, tentando suavizar o momento. -Você pode dormir no meu quarto, e eu fico aqui na sala com o Tito.Ana, visivelmente desapontada, cruzou os braços. -Dormir no seu quarto sem você? Que graça tem isso? Ela sorriu, tentando disfarçar a frustração.Tito, observando a cena, não conseguiu conter a risada alta que escapou. Depois dessa, parceiro, vou me deitar, disse ele, já se ajeitando no sofá. -Parece que a noite acabou mesmo pra mim.Jorge sorriu, aliviado pela leveza de Tito em cortar a tensão. -Boa ideia, Tito. Vamos todos descansar.Ana soltou um suspiro exagerad