Ana estava tentando arranjar uma desculpa enquanto Ruan a pressionava por uma resposta de Clara. Quando seu telefone tocou, era da mansão:— Oi Margarida, estou aqui fora na portaria.— Ana, você precisa vir aqui. O Sr. Leonara não está bem. Chame a ambulância e corra para cá, por favor.Ana ficou pálida e, sem pensar, se despediu de Ruan, sem se preocupar com o escândalo dele.— Ruan, preciso ir. Tenho uma emergência e sou a responsável. Respeite meu trabalho, te ligo mais tarde. Nós nos conhecemos há anos. Preciso ir. Eu te ligo.Ana foi se afastando e se despediu, correndo em direção à mansão. Ruan tentou argumentar algo, mas viu que seria inútil, pois rapidamente Ana sumiu portão adentro. Ele respirou fundo, passou a mão na cabeça, andou de um lado para o outro e entrou no carro.— Ela não está acreditando, né! Vai ver o que vou fazer.Ligou o carro e partiu.Ao chegar na mansão, Ana encontrou o Sr. Leonara sentado em seu escritório com muita falta de ar. Enquanto aguardava pelo s
Enquanto se arrumava, Ana refletia sobre a reviravolta dramática que sua vida havia tomado nos últimos dias. Finalmente, ela conseguiu ajudar Clara a escapar da vida sofrida e abusiva que levava ao lado de Ruan. A mansão foi invadida por traficantes, e Clara fugiu com Jorge ambos desconhecidos um ao outro... Só de lembrar dessa parte, Ana sentia um frio no estômago. Ela balançou a cabeça e pôs a mão na testa, murmurando para si mesma: "Que loucura! Clara foi embora mesmo."Por alguns instantes, Ana permitiu-se relembrar tudo o que viveram até aquele ponto. Ruan, que antes era um galanteador de sorriso fácil, transformou-se em um marido inútil, violento e bêbado. "Será que fiz a coisa certa ao ajudar Clara a sair de casa?", ponderou Ana. Mas, então, a imagem de Clara, com hematomas pelo corpo e lágrimas contidas para não parecer fraca, veio à sua mente. Sim, ela tinha feito o que precisava ser feito. Clara, apesar das dificuldades, poderia estar bem agora. Ana esperava sinceramente que
Com o rosto corado ao lembrar de Jorge, Ana pensou em Clara e sorriu. "Clara está bem, conseguiu fugir logo com Jorge. Aquele homem maravilhoso, eu também fugiria fácil com ele. Como ela deve estar? Preciso voltar logo para tentar falar com ela. Fred deve dar um jeito."Perdida em pensamentos fervorosos sobre Jorge, Ana se deu conta de que já havia chegado ao seu destino, a frente da casa de Ruan. Respirou fundo e bateu palmas, mas não parecia haver ninguém em casa. Tentou abrir o portão, mas estava trancado com um cadeado, o que achou estranho. Seu celular tocou, era um número desconhecido. Decidiu atender. – Alô?– Ana! Sou eu, Clara. Estou com esse celular agora, pode falar.– Oh, Clara! Que maravilha, eu precisava muito falar com você. Estou aqui na sua casa.Ana, eufórica, tentava explicar que estava tentando resolver as coisas para Clara.– Jorge saiu com um amigo e me deixou este celular. Mas cuidado, não salve meu nome nesse número. Ruan está de olho em você. Você disse que
Olhou para a casa. Na mesa, ainda estavam os pães que Jorge havia comprado, junto com os farelos do lanche que ela preparara para ele levar. Esses últimos quatro dias tinham sido intensos. Não conhecia Jorge bem, mas ele passava segurança. Era carinhoso. Lembrou-se de seu rosto preocupado no caminho, de seu sorriso enquanto escolhiam os móveis, dele limpando a casa com ela, sem saber segurar a vassoura direito, cedendo o colchão e sua blusa, dormindo na poltrona. Já havia tantas lembranças boas com ele, mais do que em anos com Ruan.Jorge havia deixado dinheiro para ela comprar algumas coisas que ainda precisavam. Decidiu ir até o mercado, quem sabe procurar um emprego para começar a se virar. Sabia que Jorge era algo passageiro; logo ele seguiria sua vida, assim como já estava resolvendo seus problemas junto de Tito nessa manhã.Fechou a casa. Em frente, havia um canteiro que saía para a avenida. Observou algumas folhas caírem no chão; a árvore estava ficando sem folhas, mas logo, na
Apesar de não querer pedir ajuda a Jorge, Clara sabia que ele não hesitaria em ajudá-la. Precisava ligar para ele para informar sobre seu irmão. Ana disse que ele estava em cirurgia e também não tinha mais informações.Conforme o telefone chamava, Clara dava passos largos na sala, de um lado para o outro.— Alô? Romeu?— Catarina? O que houve? Tá tudo bem?— Você irá demorar para voltar? — Clara, apreensiva, não sabia como dar a notícia a ele.— Catarina, o que você precisa? Me fale que eu volto à noite e te levo.— Na verdade, é com seu irmão! Falei com Ana, ela me disse que seu irmão está no hospital... — Antes de terminar, Romeu deu um grito do outro lado da linha.— Meu irmão, o que? Está onde?— Ana me falou que ele teve um AVC logo no início dessa manhã e está em cirurgia. Não tenho mais notícias.Jorge estava com a voz preocupada. — Vou ligar para lá e buscar informações. Obrigada por me ligar.Não demorou muito para Jorge retornar a ligação.— Catarina! Vou para a casa do meu
Era fim de tarde, o céu estava laranja enquanto o frio gelado começava a entrar pela janela. Catarina foi até a janela e observou os carros passando na rua, perdida em pensamentos. Sabia que Jorge não tinha nenhum vínculo com ela, mas, de alguma forma, sentia alívio ao saber que ele voltaria. Antes mesmo de fechar a janela, ouviu o som de um carro encostando e, logo em seguida, vozes e risadas ecoando pela entrada, seguidas pelo som das portas batendo. Jorge chegou acompanhado de Tito. Apesar das preocupações, ambos pareciam animados naquele fim de tarde. -Olá, Catarina, como está? Como foi seu dia? Alguma notícia do meu irmão?” perguntou Jorge, enquanto tirava os sapatos e a blusa com naturalidade. Tito, que vinha logo atrás, fez o mesmo, também retirando seus sapatos e a blusa. Catarina ficou surpresa com a atitude deles. Nunca havia conseguido que Ruan, seu marido, respeitasse seu pedido de tirar os sapatos antes de entrar em casa, e ali estavam Jorge e Tito, fazendo isso sem
Era evidente a preocupação no olhar de Clara. Jorge, atento, lançou diversos olhares pelo retrovisor, observando a tensão que marcava seu rosto. Dias antes, eles haviam percorrido aquele mesmo caminho, com Clara tomada pelo choro incontrolável. Agora, porém, estavam a caminho de recuperar aquilo que mais a angustiava pela distância: sua filha, Carol.Enquanto o carro avançava, Clara não conseguia afastar os pensamentos que a atormentavam. Ela sabia que Ruan não era astuto, sua mente limitada e a violência que sempre demonstrou eram as únicas armas que possuía. Clara havia suportado tanto, permitindo os abusos por não ter para onde ir ou o que fazer. Foram inúmeras as vezes em que implorou para que ele mudasse, que parasse de beber, mas parecia que, a cada dia, ele só piorava. -Eu sei que o que fiz foi um ato de desespero, disse Clara, sua voz carregada de tristeza. -Pedi tantas vezes para ele melhorar, mas parecia que nada ia mudar. Foram anos e anos. Ana me ofereceu ajuda, e mesmo
Enquanto o carro deslizava suavemente pela estrada, Clara mal percebeu o tempo passar. O movimento rítmico do veículo a embalava, e seus pensamentos pareciam se dissipar no horizonte. Foi apenas quando Jorge a chamou que ela voltou à realidade.— Vou fazer uma parada aqui — avisou ele, os olhos se encontrando com os dela pelo retrovisor. — Vou ligar para o Fred e ver se há alguma novidade sobre meu irmão. Também quero saber se tem alguém do lado de fora, talvez não seja seguro passar por lá agora.Clara assentiu, ainda um pouco atordoada pela súbita imersão no presente.— Sim, vou ligar para a Carol e ver se está tudo certo. — Ela fez uma pausa, observando a estrada deserta pela janela. — Chegaremos em quanto tempo?— Uns dez minutos. Já estamos perto da cidade — respondeu Jorge, enquanto manobrava o carro para uma parada na beira da estrada. Ele precisava ajustar os últimos detalhes da busca por Carol, e Clara sentiu o peso da situação se intensificar no silêncio que se seguiu.Clara