Betina
No dia do meu aniversário de vinte e dois anos, eu estava na cozinha fazendo um bolo – ou tentando, porque era a primeira vez que eu ousava fazer qualquer coisa do tipo -, e Ágata estava brincando na sala, num ângulo que eu conseguia monitorar seus movimentos.
Iríamos ter uma pequena festinha com os pais de Adam a noite, algo bem simples, já que nossa renda ia toda na criação de Ágata e na faculdade de Adam, que logo entraria na reta final. Eu ficava realmente feliz por Adam ter retomado a relação com sua família. Não só porque eu sabia o quanto era difícil não ter os pO céu estava cheio de nuvens, um vento frio cortava a noite e tudo o que eu pensava era como era um péssimo dia para uma festa do pijama de aniversário. Por que é que eu estava encolhida dentro de um moletom e andando até a casa de uma garota que era completamente indiferente comigo? Será que realmente eu estava desesperada para me juntar à galera? A ideia me fez bufar e apertar o passo. Já que eu estava mais perto de chegar do que da minha casa, não fazia sentido voltar. Virei a esquina e vi o sobrado iluminado contra o céu escuro. Jamais imaginaria que era uma casa tão grande, mesmo sabendo que Luisa era uma garota rica.
O vento frio foi me ajudando a colocar a cabeça no lugar. Aquela garota tinha me enlouquecido em instantes, só depois de me afastar fui sentindo meus pensamentos coerentes o suficiente para me questionar. O que eu tinha feito? Meu tempo de ficar pelos cantos escuros com alguém já havia passado há anos. Como se eu tivesse feito isso milhares de vezes, ri comigo mesmo. Claro que houveram essas ocasiões, mas muito pontuais, todas há pelo menos nove ou dez anos, quando era um adolescente cheio de hormônios descontrolados. Como eu gostaria de ter dado mais um beijo naqueles lábios, mas não confiei em mim mesmo para fazer e não queria arranjar problemas para ela. Talvez
Fiquei parada, em choque, vendo a moto se afastar e sem ouvir qualquer palavra que Adam continuava falando sem parar e nem perceber que eu havia perdido meu foco. Benicio conseguia ser mais bonito ainda a luz do dia, mais marcante e mais destacado de todos ao redor. O que ele estava fazendo ali? Seria por minha causa? - ... você aceita? – voltei a ouvir Adam e olhei para ele parado ali, com seu sorriso aberto e sua mão na minha. Sua mão na minha. Meu Deus, será que Benicio tinha visto isso? – Betina? – Adam insistiu. - Desculpa, o quê? – perguntei. - Cinema. – ele se aproximou de mim
Júlio acendeu um cigarro ao meu lado e olhei de cara feia para ele. - Que foi? Antigamente você não reclamava. – ele deu de ombros. - Não fumo mais. – reclamei apoiando os pés na mesa de centro da sala dele. - Você era mais legal antigamente. – ele ergueu as sobrancelhas para mim. - Desculpa. – toquei a mão dele – Estou um pouco mal humorado só. - Você sabe como eu cos
Entrei em casa lentamente, sem acreditar que Benicio tinha estado ali. Ele viu Adam ir embora, eu tinha certeza. Que péssimo timming o nosso, pelo amor de Deus. Ele realmente sorriu com tristeza para mim? Eu podia jurar que sim. O que era isso que eu estava sentindo agora? Sentei no sofá. A noite passada tinha sido boa, sim. Adam tinha conseguido superar o nervoso inicial e nos encaixamos bem nesse aspecto. Eu tinha me entregado ao momento, mas acordar com os braços dele ao meu redor tinha sido um pouco estranho. E a estranheza tinha aumentando quando ele acordou e sorriu, me puxando para mais perto e beijou minha testa. Precisei inventar que minha mãe ia chegar logo para que ele saísse da cama e se vestisse, sempre com um sorriso satisfeito no rosto.
- Acho que precisamos conversar. – falei entrando na cozinha onde Júlio estava fazendo um café. O que tinha dado na minha cabeça? - Não precisa falar nada. – ele respondeu virando o corpo na minha direção – Foi um deslize, não é? Casual. – a voz dele era desprovida de raiva, que eu entenderia se ele estivesse sentindo. - Júlio, eu... – tentei encontrar palavras para o que eu tinha feito, mas não sabia como descrever. Por que eu tinha corrido ali? Para camuflar a chateação que eu estava sentindo? Isso era horrível. Eu tinha usado ele.&nbs
Meus braços ficaram subitamente frios longe do contado do corpo dele. Era estranho demais Benicio estar ali, era estranho demais eu ter me sentido completamente acolhida por ele, era estranho eu finalmente ter conseguido chorar em seus braços. Adam tinha cuidado de mim o tempo todo, e de toda parte burocrática que podia, tinha me dado todo o suporte, e eu não tinha conseguido me soltar com ele. - Adam, eu... – acho que eu devia uma explicação para ele. - Não importa. – ele me cortou – Não importa. 
Durante dois meses mergulhei numa história nova e praticamente não sai de casa, não comi direito e nem dormi, não atendi o telefone e não procurei ninguém. Dessa forma, eu não pensava em Betina. Mas era só eu sair dessa rotina que meus pensamentos me traiam. Quando eu pensava no abraço que lhe dei, sentia quase uma dor física por ter sido separado dela, e quando eu deitava na cama, a lembrança do seu corpo e de sua boca me deixavam quase febril. Depois de dez chamadas perdidas da minha mãe resolvi retornar, ou então a polícia iria acabar batendo na minha porta. Ela reclamou do meu sumiço e de novo tentei explicar meu processo criativo sem sucesso, depois insistiu que