Betina

                Fiquei parada, em choque, vendo a moto se afastar e sem ouvir qualquer palavra que Adam continuava falando sem parar e nem perceber que eu havia perdido meu foco. Benicio conseguia ser mais bonito ainda a luz do dia, mais marcante e mais destacado de todos ao redor. O que ele estava fazendo ali? Seria por minha causa?

                - ... você aceita? – voltei a ouvir Adam e olhei para ele parado ali, com seu sorriso aberto e sua mão na minha. Sua mão na minha. Meu Deus, será que Benicio tinha visto isso? – Betina? – Adam insistiu.

                - Desculpa, o quê? – perguntei.

                - Cinema. – ele se aproximou de mim – Eu e você, como daquela vez.

                - Preciso ir. – soltei a mão dele delicadamente e comecei a andar para a rua.

                Adam e eu saímos algumas vezes, uma dessas no cinema, onde nos beijamos tanto que eu nem me lembrava do nome do filme. Ele era um sonho para mim, tinha gostado dele por alguns meses antes dele demonstrar algum interesse também. Era um garoto legal.

                Mas agora, depois da noite anterior, era apenas um garoto. Benicio era um homem e eu desejei conhecer mais dele, ir mais além do que tínhamos ido. Só pensei que a noite anterior não tivesse o mesmo significado do que para mim, depois daquela despedida fria.

                Apertei os passos sem saber o que fazer. E se ele tivesse ido até lá apenas para buscar a irmã de ressaca? Ela poderia mesmo ter pedido para ele ir, já que estava um caco, e tudo podia ser apenas uma fantasia da minha cabeça desejosa de ter ele mais uma vez comigo. Mas se fosse isso, porque ele me lançou um olhar tão estranho e desviou tão rapidamente como se não quisesse que eu soubesse que ele estava me olhando?

                Quando dei por mim estava na rua da casa de Luisa. Eu não podia simplesmente apertar a campainha e perguntar por ele. Seria uma loucura. Não queria explicar para ela que eu conhecia seu irmão, principalmente porque ela não dera nenhum indicio de que lembrava de ter me visto em sua festa.

                Comecei a caminhar para a minha casa tentando colocar na minha cabeça que eu precisava parar de fantasiar sobre uma coisa tão pequena. Nos beijamos, e daí? As pessoas faziam isso o tempo todo, e quase nunca significava alguma coisa. Ele era um cara mais velho, e o que isso dizia para mim? Que devia estar acostumado a fazer muito mais coisas do que ontem e ir embora logo em seguida.

                Quando dei por mim, estava chegando na mesma praça do acontecido. Parei e ergui os olhos em direção ao banco onde tudo havia começado e ali estava ele, sentado de cabeça baixa com os cotovelos apoiados nos joelhos e a moto ao fundo, brilhando ao sol.

                Meu coração disparou e continuei apenas observando. Por que Benicio estava justamente ali? Será que ele pensava sobre nós dois? Respirei fundo e comecei a andar em sua direção tentando imaginar o que eu poderia dizer.

                Minhas pernas estavam tremendo quando parei na sua frente e, lentamente seu olhar foi subindo até encontrar o meu. Pensei em sorrir, mas não consegui, estava muito nervosa.

                - Oi. – finalmente ele disse enquanto se levantava do banco, deixando uma distância considerável entre nós dois.

                - Oi. – respondi rapidamente – Eu vi...

                - Fui buscar minha irmã. – ele me cortou - Ela estava de ressaca. – cruzou os braços, e tive a sensação de que armava um escudo contra mim.

                - Olha, eu queria...

                - Não precisa dizer nada, Betina. – ele esticou uma mão para mim – Eu entendo que você é muito jovem e...

                - O quê? - o interrompi.

                - Só queria que você tivesse me contado. – ele voltou a cruzar os braços e desviou o olhar, quase virando seu corpo de lado para mim.

                - Contado o que? – perguntei. Sua reação fria e irritada estava me confundindo.

                - Sobre seu namoradinho. – ele ironizou no diminutivo.

                - Ele não é meu namorado! – exclamei, perplexa.

                - Ficante, peguete... seja lá como vocês chamam hoje em dia. – me deu as costas e começou a andar até a moto.

                - Nós? – questionei andando atrás dele.

                - Adolescentes. – ele respondeu bruscamente, sem parar de andar ou olhar para mim.

                Larguei o caderno e a bolsa no chão, um tanto irritada pelo jeito que ele estava falando, sem me dar a chance nem de formar uma frase. Me tratando como uma criança, era isso que ele estava fazendo. Ontem ele tinha se comportado de uma forma completamente diferente.

                - Por que está agindo assim? – falei irritada – Mal me conhece e está me julgando sem saber sobre absolutamente nada.

                - Não estou. – ele se virou bruscamente, quase chocando seu corpo no meu.

                Estávamos próximos de novo e nenhum de nós tentou se afastar. Eu conseguia sentir o calor do corpo dele e minha pele se arrepiou com as lembranças das sensações da noite anterior.

                Sem pensar muito, o puxei pela jaqueta e colei minha boca na sua. Por um instante pensei que me afastaria, mas em seguida suas mãos me envolveram em um abraço apertado e cheio de desejo.

                Porém, tão rápido quanto começou, acabou. Com uma mão no meu ombro e outra na minha cintura, ele afastou suavemente meu corpo do dele. Seus olhos miravam o chão e de uma vez só, me deu as costas sem diminuir a velocidade, hesitar ou olhar para trás.

                Fiquei parada, completamente desolada, enquanto ele subia na moto e acelerava para longe de mim. Ainda esperei por dois minutos que ele voltasse, sem me mexer um centímetro, mas ele não ia voltar e, conscientemente, eu sabia disso.

                Lentamente peguei as minhas coisas no chão e recomecei a andar para casa, com um sentimento estranho agitando meu estômago.

                Quando entrei, minha mãe estava sentada no sofá com suas coisas de trabalho espalhadas na mesa de centro e falando sem parar no celular. Ela apenas acenou para mim com um sorriso, sem perceber que eu estava arrasada.

                Fui até meu quarto e me joguei na cama. O que tinha significado aquele beijo? Ele se sentia atraído por mim como eu me sentia por ele? E por que ir embora daquele jeito, sem tentar esclarecer as coisas? Ele nem tinha me deixado falar sobre Adam e eu, explicar que não éramos exatamente um casal.

                Ainda por cima me acusava de ser apenas uma adolescente sem juízo?

                Meu celular apitou e o peguei rapidamente, para depois perceber que não poderia ser Benicio, nós não tínhamos trocado números. Era apenas Adam me perguntando o que tinha acontecido para eu ter saído tão apressada sem responder para ele sobre o cinema.

                Pensei por um instante. Benicio tinha sido bem desagradável, tirando a parte do beijo, e tinha deixado bem claro que me achava uma adolescente descabeçada. Isso sem contar a parte dele ter me dado as costas sem hesitação e ido embora sem qualquer indicio de que iria voltar.

                Eu precisava parar de fantasiar sobre nós e deixar que a noite anterior fosse apenas uma memória boa. Uma noite em que deixei que meu corpo tomasse conta em vez do meu cérebro.

                Aceitei o convite para ir no cinema à noite. Eu iria aproveitar minha adolescência, decidi, embora com dezoito anos eu imaginava que estava mais para adulta.

                Empurrei essas ideias para longe da minha cabeça e decidi me concentrar em coisas mais importantes, como as provas que eu iria ter nos próximos dias. Mesmo assim passei o dia todo tendo que manter um foco absurdo para conseguir colocar os estudos em ordem. Em alguns momentos Benicio se forçava para dentro da minha cabeça e eu o empurrava para fora com toda a força de vontade que conseguia encontrar.

                - Betina? – minha mãe abriu a porta do quarto – Tudo bem?

                - Sim. – tentei sorrir – Só estou estudando.

                - Preciso sair. – ela olhou no relógio – Acho que não volto hoje. Preciso encontrar um cliente em outra cidade. – mamãe era uma advogada muito requisitada.

                - Tudo bem. – tranquilizei-a – Vou ficar bem.

                - Obrigada, querida. – ela me jogou um beijo e voltou a fechar a porta.

                Estava acostumada a ficar sozinha em casa desde os quinze anos, quando minha mãe decidiu que eu já estava grande o suficiente para me cuidar enquanto ela voltava a mergulhar de cabeça na sua profissão.

                Logo antes disso meu pai tinha adoecido e morrido de um tipo de câncer muito fatal. Acredito que sua decisão tenha sido decorrente da ideia de que ficar em casa pensando nele o tempo todo, como eu fiquei por quase um ano e meio antes de me sentir melhor, era completamente angustiante.

                Às sete horas da noite, Adam buzinou na frente de casa. Ele tinha acabado de pegar sua habilitação e era a primeira vez que eu andaria de carro em sua companhia, algo de que parecia muito orgulhoso. Abri a porta de casa e o encontrei do lado de fora do carro, sorrindo, muito bem arrumado e perfumado, tentando soar como um adulto.

                - Oi! – me cumprimentou, animado, enquanto abria a porta para mim.

                - Oi. – respondi me acomodando no banco do passageiro – Vamos ver como você está se saindo atrás desse volante.

                Escutei sua risada enquanto ele dava a volta. Essa risada era capaz de me animar e deixar borboletas no meu estômago até dois dias atrás, mas agora não surtia o mesmo efeito. Eu precisava sair do encanto que tinha ficado com Benicio.

                Conversamos pelo caminho sobre coisas bobas e simples, e em nenhum momento Adam falou sobre nós ou tentou me tocar, e fiquei grata por isso. Queria ir devagar, apenas sair e me distrair com um cara legal numa noite normal.

                Quando nos acomodamos no fundo do cinema e as luzes se apagaram, senti um frio na barriga como da outra vez, e isso me deixou animada. Eu não estava tão indiferente assim.

                A mão dele tocou a minha, a princípio com receio, mas como não o repeli, a pegou com vontade poucos minutos depois. Em seguida escutei o movimento do seu corpo se virando em minha direção, e meu coração acelerou quando ele ergueu o braço da poltrona que nos separava.

                Virei meu corpo em sua direção, e Adam se sentiu confiante para se aproximar. Senti a respiração dele na minha pele antes de sua mão tocar meu rosto, puxando-o de encontro ao seu. Deixei que me beijasse e, não vou mentir, era bom. Ele era suave, e sua boca se encaixava na minha perfeitamente.

                Mas não havia o mesmo calor e emoções a flor da pele como com Benicio. Afastei esses pensamentos no mesmo instante em que surgiram. Não era justo comparar os dois. Adam era muito mais jovem, inexperiente e inseguro.

                Me concentrei em beijá-lo e aproveitar o momento como na última vez que estivemos juntos, o que não era nem um pouco difícil.

                - Vamos sair daqui? – Adam sussurrou para mim lá para a metade do filme.

                - Vamos. – concordei, eu nem sabia do que o filme estava falando mesmo e minhas costas estavam doendo pela má posição na poltrona. Se íamos fazer isso, poderia ser com um pouco mais de conforto.

                Fomos até o carro e por alguns instantes apenas circulamos em silêncio, o que era meio estranho porque Adam sempre tinha algo a falar. Notei que suas mãos apertavam o volante com certo nervosismo e me questionei o que se passava em sua cabeça naquele momento.

                Ele estacionou numa rua vazia e um tanto escura e voltou seu corpo para o meu:

                - Venha cá, Betina. – me pediu, e eu deslizei até mais perto dele. – Você é tão linda. – seus lábios tocaram meu pescoço com suavidade, lançando pequenos arrepios pelo meu braço.

                Nos beijamos novamente. No começo Adam foi delicado como sempre, mas depois ele foi se tornando mais urgente. Suas mãos tremiam quando tocavam as minhas costas e quando chegaram na minha nuca, percebi que estavam molhadas de suor.

                Adam afastou o rosto para me observar e vi uma leve coloração avermelhada em seu pescoço e rosto. Eu não devia estar muito diferente, meu corpo estava respondendo ao dele com uma intensidade inesperada.

                Calmamente ele tirou a blusa de frio pela cabeça e jogou no banco de trás, depois se aproximou de novo e colou seus lábios nos meus. Nesse ponto minha boca já estava um pouco dormente e minha cabeça completamente vazia de qualquer pensamento indesejado. Eu estava me deixando conduzir para aquele lugar cheio de sensações boas.

                - Betina... – ele sussurrou enquanto beijava meu pescoço novamente e apertei suas costas com delicadeza.

                Adam se afastou por um instante e antes que eu me desse conta, arrancou a camiseta rapidamente e jogou no banco de trás também. A visão do seu peito nu me trouxe como um flash o peito musculoso de Benicio e fiquei parada olhando para ele. A diferença no corpo era grande demais para não ser notada, mas no fundo não mudava nada o que estava acontecendo ali.

                - Estou nervoso. – ele sussurrou no meu ouvido, novamente se aproximando de mim.

                - Por quê? – perguntei tocando suas costas quentes e com uma leve camada de suor.

                - Eu... – ele hesitou por um instante – Eu ainda sou virgem.

                Minha cabeça deu um nó. Era para isso que estávamos caminhando nesse instante? Sexo no carro? Por isso ele estava tão nervoso e agitado? Era excitação?

                - Desculpa. – ele falou se afastando um pouco e me olhando – Eu não quis assustar você, mas estou um pouco... alterado – ele sorriu de um jeito malicioso e envergonhado.

                - Não acho que uma rua escura seja o melhor local para isso. – falei racionalmente. Poderíamos ser pegos a qualquer momento e não seria um modo legal de terminar a noite.

                - Não? – ele pareceu confuso.

                - Alguém pode nos ver ou até mesmo a polícia pode aparecer. – afastei o corpo um pouco do dele, apenas para não reiniciamos o que estávamos fazendo instantes antes.

                - Entendi. – ele sentou corretamente no banco do motorista e olhou através do vidro embaçado por alguns momentos, parecia verdadeiramente não ter cogitado o perigo de estarmos ali.

                Adam era muito bonito, eu não podia negar, mas agora eu via apenas um garoto de dezoito anos. Mas, eu não era exatamente isso, no final das contas? E não dava para negar que eu estava completamente envolvida naquele momento.

                - Vamos para minha casa. – falei com firmeza, sem pensar duas vezes, e ele me olhou surpreso. – Vamos. – insisti, e rapidamente ele deu a partida no carro.

                Eu conseguia ver a determinação em seus olhos, através do medo e da insegurança, e durante todo o caminho eu me sentia dividida sobre o que fazer. Negar que eu sentia vontade de transar com Adam seria mentira, mas negar que Benicio não parava de entrar nos meus pensamentos, também seria.

                Será que eu ainda era uma adolescente comandada por hormônios?

                Quando ele estacionou na frente da minha casa, todas as luzes estavam apagadas confirmando que minha mãe iria realmente passar a noite fora. O caminho estava completamente livre para nós dois.

                Desci do carro e Adam me seguiu rapidamente, sem dizer nenhuma palavra. Quando abri a porta, ele me puxou enquanto eu tentava trancá-la no escuro, me arrancando um suspiro enquanto beijava meu pescoço.

                Andamos aos tropeços através da sala, tentando encontrar o caminho do meu quarto. Sem pensar muito, tirei minha blusa de frio e deixei pelo caminho. Meu corpo estava reagindo, pedindo por mais do contato com sua pele.

                Dentro do quarto, liguei meu abajur enquanto Adam lutava contra sua calça jeans, depois tirei minha camiseta e seus olhos ficaram ansiosos me observando só de sutiã. Lentamente tirei minha calça e ele ficou parado, com a boca meio aberta.

                Gostei do efeito que eu era capaz de causar nele. Benicio me olharia assim também? Para com isso! – me repreendi.

                Empurrei- o contra a cama.

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