Ágata era a coisa mais linda da minha vida. Eu não conseguia mais me lembrar de como eu era antes dela, de quando eu nunca me imaginava sendo pai. Aparentemente, eu não sabia nada da vida antes disso tudo acontecer.
Me alegrava no trabalho com as fotos que Betina me enviava todos os dias, e sentia saudade como se estivéssemos separados há dias, e não apenas por algumas horas. Uma tarde, eu estava cuidando de uma prateleira, distraído, quando percebi que alguém havia se aproximado. Me virei pensando que era um cliente precisando de alguma informação e dei de cara com a minha mãe, segurando a bolsa com as duas mãos e com uma expressão muito ansiosa noCinco meses após o acidente, Benicio ainda continuava a pessoa mais doce do mundo. Ele trabalhava de um lado da mesa da cozinha e eu do outro, fazíamos todas as refeições juntos e dormíamos abraçados todas as noites. Era uma rotina calma e eu estava completamente feliz dentro daquele nosso novo mundo e, aparentemente, a mãe e a irmã dele também estavam felizes com o que vinha acontecendo. Benicio ligava todos os dias, nós as visitávamos e elas vinham nos ver com frequência também. Quando fizemos amor pela primeira vez, um mês depois de ele acordar do coma, foi romântico e apaixonado. Ficamos abraçados por muito tempo depois e Benici
Quase um quarteirão depois eu estava completamente incrédulo com o que tinha acontecido. Eu sempre imaginava como seria reencontrar Benicio, mas aquilo nunca tinha passado pela minha cabeça. Ele mal olhou em nossa direção, quase como se não nos conhecesse. Sinceramente, eu tinha esperado por alguns gritos, talvez até uma nova briga física onde eu acabaria muito mais machucado do que ele. Ou talvez ter que pedir para Betina ir embora com Ágata para que eu pudesse discutir com ele sem assustar nossa filha. - Certo. – Betina finalmente rompeu o silêncio que tinha caído sobre nós dois – Isso foi muito estranho.&nbs
Betina No dia do meu aniversário de vinte e dois anos, eu estava na cozinha fazendo um bolo – ou tentando, porque era a primeira vez que eu ousava fazer qualquer coisa do tipo -, e Ágata estava brincando na sala, num ângulo que eu conseguia monitorar seus movimentos. Iríamos ter uma pequena festinha com os pais de Adam a noite, algo bem simples, já que nossa renda ia toda na criação de Ágata e na faculdade de Adam, que logo entraria na reta final. Eu ficava realmente feliz por Adam ter retomado a relação com sua família. Não só porque eu sabia o quanto era difícil não ter os p
O céu estava cheio de nuvens, um vento frio cortava a noite e tudo o que eu pensava era como era um péssimo dia para uma festa do pijama de aniversário. Por que é que eu estava encolhida dentro de um moletom e andando até a casa de uma garota que era completamente indiferente comigo? Será que realmente eu estava desesperada para me juntar à galera? A ideia me fez bufar e apertar o passo. Já que eu estava mais perto de chegar do que da minha casa, não fazia sentido voltar. Virei a esquina e vi o sobrado iluminado contra o céu escuro. Jamais imaginaria que era uma casa tão grande, mesmo sabendo que Luisa era uma garota rica.
O vento frio foi me ajudando a colocar a cabeça no lugar. Aquela garota tinha me enlouquecido em instantes, só depois de me afastar fui sentindo meus pensamentos coerentes o suficiente para me questionar. O que eu tinha feito? Meu tempo de ficar pelos cantos escuros com alguém já havia passado há anos. Como se eu tivesse feito isso milhares de vezes, ri comigo mesmo. Claro que houveram essas ocasiões, mas muito pontuais, todas há pelo menos nove ou dez anos, quando era um adolescente cheio de hormônios descontrolados. Como eu gostaria de ter dado mais um beijo naqueles lábios, mas não confiei em mim mesmo para fazer e não queria arranjar problemas para ela. Talvez
Fiquei parada, em choque, vendo a moto se afastar e sem ouvir qualquer palavra que Adam continuava falando sem parar e nem perceber que eu havia perdido meu foco. Benicio conseguia ser mais bonito ainda a luz do dia, mais marcante e mais destacado de todos ao redor. O que ele estava fazendo ali? Seria por minha causa? - ... você aceita? – voltei a ouvir Adam e olhei para ele parado ali, com seu sorriso aberto e sua mão na minha. Sua mão na minha. Meu Deus, será que Benicio tinha visto isso? – Betina? – Adam insistiu. - Desculpa, o quê? – perguntei. - Cinema. – ele se aproximou de mim
Júlio acendeu um cigarro ao meu lado e olhei de cara feia para ele. - Que foi? Antigamente você não reclamava. – ele deu de ombros. - Não fumo mais. – reclamei apoiando os pés na mesa de centro da sala dele. - Você era mais legal antigamente. – ele ergueu as sobrancelhas para mim. - Desculpa. – toquei a mão dele – Estou um pouco mal humorado só. - Você sabe como eu cos
Entrei em casa lentamente, sem acreditar que Benicio tinha estado ali. Ele viu Adam ir embora, eu tinha certeza. Que péssimo timming o nosso, pelo amor de Deus. Ele realmente sorriu com tristeza para mim? Eu podia jurar que sim. O que era isso que eu estava sentindo agora? Sentei no sofá. A noite passada tinha sido boa, sim. Adam tinha conseguido superar o nervoso inicial e nos encaixamos bem nesse aspecto. Eu tinha me entregado ao momento, mas acordar com os braços dele ao meu redor tinha sido um pouco estranho. E a estranheza tinha aumentando quando ele acordou e sorriu, me puxando para mais perto e beijou minha testa. Precisei inventar que minha mãe ia chegar logo para que ele saísse da cama e se vestisse, sempre com um sorriso satisfeito no rosto.