Peter era um companheiro cuidadoso e dedicado. Helena se estabilizava, rapidamente, com a presença dele. Bruce não conseguia distinguir qual a interação deles que fazia aquele milagre se manifestar: o chefe, o amigo ou o amante. Ela era dona de complexidades difíceis de entender e observar, nitidamente. Ele aprendia a cuidar dela, tirava suas dúvidas com Bruce e o corpo técnico. Aprendia a diagnosticar a crise que precisava de assistência médica e a que era questão de aguardar. Na tarde do terceiro dia, Helena fechou os olhos e recostou no banco do passageiro, acomodando-se, aninhada. O movimento lhe dava enjôo. Não havia reagido a uma crise de abstinência, como esperado. Bruce definia que ela já havia passado aquilo e o corpo não se sensibilizava mais, havia se adaptado, como o veneno que se torna menos letal por seu consumo constante. Ele a via de relance, o deserto ao fundo. Ela era deslumbrante. Peter estava feliz de levá-la para casa. Planejava construir a vida perfeita com
O banho, perfumado e nada tranquilo, de Helena era dado por Peter, que lhe lavou os cabelos e cuidou de seu corpo como a mais valiosa jóia do planeta. Ouviu o estômago dela reclamar. — Algo que apeteça você, bebê? - Ele perguntou, provocante. — Não sei bem, Pete. - Ela suspirou, relaxada. - Algo leve, certamente, eu sinto que preciso de um cigarro e descanso. — Já considerou parar de fumar? - Ele perguntou. — Parei durante a gravidez. - Ela disse, retraindo-se. - Depois, não tive mais motivos. — Eu me preocupo com sua saúde, meu amor. - . - Ele disse, tranquilo. - Quero que pare. — Não é isso, Pete. - Ela se afastou dele. - É só que.... - Interrompeu-se. - Podemos deixar esse assunto de lado? — Como quiser, meu bem? - Peter a percebia esquiva. - Hambúrguer? O melhor do Texas feito pelo mais gostoso do Texas. - Ele gracejou, fazendo-a rir, meiga. — Aceito, Chef. - Ela respondeu. Jantaram juntos. Ele a serviu e cuidou da bagunça. Eles se acomodaram no sofá. Para ele, est
Peter chegou no rancho. Helena descansava na varanda, aninhada ao sofá. Fumava. Ele não gostava cheiro. — Fumando, querida? Está ansiosa? - Ele perguntou, abanando a fumaça conforme se aproximava. — Oh! Me desculpe. - Ela apagou o cigarro na sola do tênis e se levantou. Descartando a bituca, lavando as mãos e escovando os dentes. Ela retornou, refrescada, mas Peter ainda sentia o cheiro do tabaco. — Deveria parar. Isso pode te deixar doente. - Ele a repreendia, ternamente. - O perfume é bom, mas não encobre o cheiro do cinzeiro, meu amor. — Já pedi desculpas, Pete. Não vai acontecer novamente. Perdão. - Ela se irritava. — Não me respondeu. Está ansiosa? - Ele se repetia. — Estou, sim. Amanhã você volta para o escritório e não encontrei seus uniformes para preparar. - Ela levou a mão à boca, roía as unhas, estava agitada. — Porque não estão aqui, princesa. Deixei na lavanderia, perto do escritório. Gosto do trabalho deles. - Ele respondeu, serenamente. - São os melhores. - El
— Sempre achei que aquela cobertura era dela. - Um dos amigos de Renard comentou.— Coisas da vida. - Peter disse. - Olha aqui. - Ele exibia um extrato bancário. Mimo é mimo, meu queridão. Ficou cara a brincadeira, mas foram duas semanas fodendo à vontade. - Ele apontou para si. - Está viciada no pai. Daqui, vou lá para a cobertura para treinar a novinha. - Ele se congratulava.— Você é o bichão mesmo! - Um dos caras se divertia. - Passa esse feitiço pra gente.— Vai sonhando. - Peter gargalhou. - É meu dom. Eu tenho o jeito. - Ria-se, orgulhoso de si. Bruce pensava no estado de Helena. Já não havia comparecido ao oftalmologista. - Preciso que vocês me façam um favor. Vamos lá pro Hell. - Peter anunciava. - Tenho um plano. Hell era um clube de baixo meretrício local, conhecido pela imigração por empregar menores e ilegais. Era difícil pegar aqueles caras e Bruce começava a desconfiar do motivo. Naquela mesa, havia dois capitães e um major. Tático, informações e operações de campo, re
Bruce tentava falar com Helena, em vão. O telefone caía na caixa postal e ela era sua paciente que mais demandava atenção. Estava a beira de um colapso, abandonar a Tenente não era uma opção. Não ela, que o defendeu feroz de uma acusação de assédio sexual anos antes. Ele foi indiciado por uma recruta que ele rejeitou, na época, namorava outro oficial, mas ali, expor sua preferência era o fim de sua carreira. Helena foi quem fez manobras e manobras para protegê-lo. Quando ele e Philip se separaram, ela protegeu o segredo deles, chantageando Rosenbauer. Ele devia a ela tanto quanto sentia pena daquela alma quebrada. — Chega! - Bruce se afirmou. Levantou-se e foi até o departamento de pessoal. - Senhora, preciso localizar o Major Renard, Peter e a Tenente Brown, Helena Jones. Quais os endereços? — Credenciais. - A mulher lhe estendeu a mão, recebendo sua insígnia. - Aguarde um pouco. - Ela digitou algo, imprimiu uma ficha e lhe entregou. - Algo mais, senhor? — Não, obrigado. - Ele
Helena desistiu de si. Passou o dia deitada, sem forças para se mover. Aguentava a fome e a sede. A dor no corpo anestesiava-a. Ela se punia, sem entender a causa daquilo ou conseguir encontrar suas falhas. Nada fazia sentido. A mente voltava a se confundir. "Eu sempre o amei assim? Isso é amor? Dói tanto..." Ela se questionava. Forçava-se a dormir para sedar a mente. Do escritório, Stuart e Bruce partiram. Gregory parecia tomado de ódio, assumiu a condução do veículo e dirigia a toda velocidade. Em questão de vinte minutos, chegaram ao rancho de Renard. — Por que este endereço não está registrado? - Bruce questionou. — Deve ser algum tipo de cativeiro. Como vou saber? Peter sempre foi um canalha. - Gregory respondeu, ríspido. - Só não achei que Helena não passaria de mais uma das presas daquele predador. Como fui idiota! Achei que a amava e mudaria, se fosse por ela. — Não é o que parece, capitão. - Bruce constatava. Desceram do carro, a casa parecia trancada. Gregory se desespe
Com a detenção do Major Renard, o Tenente Rosenbauer assumia a liderança das investigações internas. Tudo estava contra Helena naquele momento. Ele apresentou a ordem judicial, respondia por ela. — Tenente, podemos começar? - O secretário da sessão perguntou para Bruce. — Não, senhor. Quero alguém do sindicato para acompanhar a questão. - Bruce atrasava a investigação, sem qualquer pudor. - Helena faz jus a ser acompanhada por um advogado também. Sem esses representantes, solicito o reagendamento desta sessão. - O homem, instruído em tantos processos e acusações com si, engessava o andamento da sindicância. Helena estava segura, por enquanto. Contrariado, Rosenbauer aceitou o pedido para que o processo não se perdesse. Sem ela na fila, ele era o próximo a ser promovido a capitão no departamento, sua classificação permitia aquilo. Bruce voltou ao hospital, assumia o turno e os cuidados com Helena, que não reagia. Pelo relatório, sequer reagiu quando as sondas foram instalad
— Bacon? - Bruce confirmou as batidas à porta. — Sim, senhor. - Ela respondeu. — Entre, por favor. - Ele se mantinha naquela enxurrada de papéis. — Senhor, posso ajudar a organizar isso? - Ela se ofereceu. Trazia uma pasta à mão. — Aceito a ajuda. O que tem aí? - Ele perguntou. — Documentos civis da Tenente. É um tanto triste. É como se fosse uma prova de que ela existiu. - Maria suspirou. - Uma vida cabe em uma pasta, Tenente. - Ela entregou os documentos para ele. — Desculpe. Não entendi o quis dizer. - Ele recebeu a pasta, parando para ouvir a Cabo. — Na cobertura, não há nada, sabe? Fotos, diplomas, condecorações, medalhas, nada dessas coisas que qualquer um ostentaria. Toda a vida e a existência dela está nesta pasta: diplomas, certidões, as duas únicas fotos dos homens do passado dela, passaporte, documentos pessoais. Tudo aí. Um catálogo da prova da existência de alguém que claramente não quer existir. Por que batalham tanto por ela? - Maria se incomodava com essa