— Escolhas interessantes. - Ele a elogiou, sorria, gentil. Era um homem bonito, mas seu olhar, frio, fazia a coluna de Maria esfriar. Aquele homem era um predador de olhos de safira. - Querida, poderia me trazer um espresso, por favor? - Ele pediu. Helena parecia se esforçar para agradá-lo. Ele a olhava, com cobiça e luxúria. Helena o serviu.Ela tirou a mesa. Maria a ajudou com a tarefa. Tudo voltava a mais perfeita ordem, uma casa de revista de arquitetura, nem parecia que alguém vivia ali. Peter gostava daquela perfeita ordem.— Quer uma carona até a base, Bacon? - Peter ofereceu, pegando sua valise e o paletó. — Aceito, Major Renard. - Ela respondeu, de pronto.Peter se aproximou de Helena, a agarrou pela cintura, curvando-se em um beijo apaixonado, daqueles de filmes românticos, de causar inveja, que Maria olhava, impressionada. Eram, juntos, o sonho americano. Lindos. Ele a libertou, brevemente. — Vou passar na lavanderia para deixar o uniforme e, em casa, para pegar algumas c
Peter chegou em casa tarde, já de madrugada. Helena estava no sofá, no escuro, na tela da TV a mensagem perguntando sobre a continuidade da leitura. Parecia estar dormindo. Sobre a mesa de centro, a garrafa de tequila e a de whisky, vazias. Uma lâmina afiada solta, o pó branco, frascos de comprimidos e o canudo de uma caneta. Peter se desesperou. O pulso fraco, o cheiro forte de álcool, a marca branca nas narinas. O coração batia, preguiçosamente, quase não respirava, fria. Sobre a mesa, um enorme arranjo de flores, com um balão vermelho, chocolates e um cartão: "Melhoras. Com carinho. Amigo do Deserto." Ele, possuído de ciúmes, desbloqueou o telefone dela, havia uma ligação daquele contato. Precisava afastar aquele cara. Ele enfiou o telefone dela no bolso, a pegou no colo, sob o corpo, fezes. Ela havia sujado tudo, provavelmente, apagada, naquele coma alcoólico. Sem se importar, a levou para o carro dela e a levou ao Geral. Não se deu ao trabalho de chamar por Stuart. Ela foi leva
Helena despertou. A visão turva, mas conseguia discernir pessoas e objetos. A cabeça latejava. Ela se percebia, presa ao leito, mãos e pés algemados, um carrinho médico, desfibrilador. "Dessa vez, acho que exagerei." Ela se conscientizava. — Tenente Brown. Sou a sua enfermeira, Cabo Tate. Como se sente? - A voz mansa, já de idade, perguntava. — Acho que bem, Tate. - Helena respondeu. - Eu não estou bem, não é? — Nem um pouco, senhora. Foi socorrida no Geral, chegou aqui em choque e nós a trouxemos de volta. O Capitão pediu pela contenção, para o caso de convulsionar. Está com sede? - A mulher perguntou. Helena confirmou. — Posso me sentar, senhora? - A mulher de olhos de diamantes azuis pedia. Tate a sentou e lhe deu água, sentia tontura e náuseas. - Estou enjoada. — Fique tranquila, é normal nesta fase da abstinência. - Ela fazia anotações em um tablet. — Acho que há um equívoco aqui. Por que eu estaria abstêmia? - Helena ponderava. — Tenente, há relatos de abuso de álc
Peter foi para o rancho, preparar a chegada de Helena. Limpou o lugar, acomodou as roupas deles e seus objetos pessoais. Trancou no porão todos os eletrônicos. O celular dela estava com a tela bloqueada, Helena tinha a mente complexa, era difícil de decifrar, mas, da forma como se açoitava, Peter tentava o aniversário de morte de Hebert. A tela se desbloqueava, magicamente. Ali, ele tinha acesso a tudo. "Gostou do presente, gatinha?" De cara, a mensagem do "Amigo do Deserto" a chamava. Peter não respondeu, alterou o contato, mudando o último número para outro. Seria suficiente, se ela encontrasse aquele contato maldito. Ele apagou as mensagens e bloqueou o número original. Com tudo em ordem, ele voltou para a cidade, trazia uma mochila com as roupas deles. Peter retornou ao hospital. Helena dormia, segundo a enfermeira, outra vez, despertou por alguns minutos, mas acabou desistindo e apagou depois de comer algumas colheres de alguma coisa. Acordou muito confusa e desorientada. Ten
Peter era um companheiro cuidadoso e dedicado. Helena se estabilizava, rapidamente, com a presença dele. Bruce não conseguia distinguir qual a interação deles que fazia aquele milagre se manifestar: o chefe, o amigo ou o amante. Ela era dona de complexidades difíceis de entender e observar, nitidamente. Ele aprendia a cuidar dela, tirava suas dúvidas com Bruce e o corpo técnico. Aprendia a diagnosticar a crise que precisava de assistência médica e a que era questão de aguardar. Na tarde do terceiro dia, Helena fechou os olhos e recostou no banco do passageiro, acomodando-se, aninhada. O movimento lhe dava enjôo. Não havia reagido a uma crise de abstinência, como esperado. Bruce definia que ela já havia passado aquilo e o corpo não se sensibilizava mais, havia se adaptado, como o veneno que se torna menos letal por seu consumo constante. Ele a via de relance, o deserto ao fundo. Ela era deslumbrante. Peter estava feliz de levá-la para casa. Planejava construir a vida perfeita com
O banho, perfumado e nada tranquilo, de Helena era dado por Peter, que lhe lavou os cabelos e cuidou de seu corpo como a mais valiosa jóia do planeta. Ouviu o estômago dela reclamar. — Algo que apeteça você, bebê? - Ele perguntou, provocante. — Não sei bem, Pete. - Ela suspirou, relaxada. - Algo leve, certamente, eu sinto que preciso de um cigarro e descanso. — Já considerou parar de fumar? - Ele perguntou. — Parei durante a gravidez. - Ela disse, retraindo-se. - Depois, não tive mais motivos. — Eu me preocupo com sua saúde, meu amor. - . - Ele disse, tranquilo. - Quero que pare. — Não é isso, Pete. - Ela se afastou dele. - É só que.... - Interrompeu-se. - Podemos deixar esse assunto de lado? — Como quiser, meu bem? - Peter a percebia esquiva. - Hambúrguer? O melhor do Texas feito pelo mais gostoso do Texas. - Ele gracejou, fazendo-a rir, meiga. — Aceito, Chef. - Ela respondeu. Jantaram juntos. Ele a serviu e cuidou da bagunça. Eles se acomodaram no sofá. Para ele, est
Peter chegou no rancho. Helena descansava na varanda, aninhada ao sofá. Fumava. Ele não gostava cheiro. — Fumando, querida? Está ansiosa? - Ele perguntou, abanando a fumaça conforme se aproximava. — Oh! Me desculpe. - Ela apagou o cigarro na sola do tênis e se levantou. Descartando a bituca, lavando as mãos e escovando os dentes. Ela retornou, refrescada, mas Peter ainda sentia o cheiro do tabaco. — Deveria parar. Isso pode te deixar doente. - Ele a repreendia, ternamente. - O perfume é bom, mas não encobre o cheiro do cinzeiro, meu amor. — Já pedi desculpas, Pete. Não vai acontecer novamente. Perdão. - Ela se irritava. — Não me respondeu. Está ansiosa? - Ele se repetia. — Estou, sim. Amanhã você volta para o escritório e não encontrei seus uniformes para preparar. - Ela levou a mão à boca, roía as unhas, estava agitada. — Porque não estão aqui, princesa. Deixei na lavanderia, perto do escritório. Gosto do trabalho deles. - Ele respondeu, serenamente. - São os melhores. - El
— Sempre achei que aquela cobertura era dela. - Um dos amigos de Renard comentou.— Coisas da vida. - Peter disse. - Olha aqui. - Ele exibia um extrato bancário. Mimo é mimo, meu queridão. Ficou cara a brincadeira, mas foram duas semanas fodendo à vontade. - Ele apontou para si. - Está viciada no pai. Daqui, vou lá para a cobertura para treinar a novinha. - Ele se congratulava.— Você é o bichão mesmo! - Um dos caras se divertia. - Passa esse feitiço pra gente.— Vai sonhando. - Peter gargalhou. - É meu dom. Eu tenho o jeito. - Ria-se, orgulhoso de si. Bruce pensava no estado de Helena. Já não havia comparecido ao oftalmologista. - Preciso que vocês me façam um favor. Vamos lá pro Hell. - Peter anunciava. - Tenho um plano. Hell era um clube de baixo meretrício local, conhecido pela imigração por empregar menores e ilegais. Era difícil pegar aqueles caras e Bruce começava a desconfiar do motivo. Naquela mesa, havia dois capitães e um major. Tático, informações e operações de campo, re