004

Um dia no trabalho e o relatório da ação indicava falha na ação. Em seu escritório recebia o comandante, com o braço que repousava, fora da tipóia, sobre a mesa.

— Como está, Helena? - Renard perguntou, fechando a porta atrás de si.

— Ah, Peter! Cara! Tive muita sorte. - Ela suspirou. - Fomos emboscados. Ou errei feio nos cálculos do planejamento ou vazou informação. De qualquer forma, a sindicância vai encontrar o problema e me cortar ou achar o boca aberta. Fiz o que pude para livrar a equipe. No time, só eu não tenho família. Sabe como é difícil dar notícia de "Morto em Ação" para quem sobrevive.

— Helena, mesmo assim, deveria ser mais cautelosa com esses imprevistos. - Peter a repreendia, suave e amistosamente.

— Vou tentar na próxima, Peter. - Ela respondeu, massageando os olhos sob as pálpebras.

— Complicadas essas queimaduras nos olhos. Coçam um inferno. - Ele puxava conversa.

— Começou aqui. No deserto, esse cara que me resgatou, tinha um colírio que foi excelente. - Ela respondeu.

— O tal Carlos? - Ele investigava.

— É. Meu "Amigo do Deserto". Cara estranho, teve toda oportunidade do mundo de tirar uma "migra" de campo e me deu abrigo, cuidado digno, respeito. - Ela pensava sobre aquilo, os olhos ardiam. - Você está mais perto. Pode pegar o colírio na minha bolsa? - Ela pediu. Peter abriu a pequena bolsa: identificação, arma carregada, batom, cigarros, isqueiro e colírio, enfim, tudo o que uma dama precisava na vida. Ele se aproximou dela, que tateava o ar, encontrando a mão dele. - Obrigada.

— Deixa que ajudo você. - O comandante se pôs diante dela, que inclinou a cabeça, deixando exposta a linha do pescoço. Por mais que o uniforme fosse formal e sisudo, ela tinha um algo, em si, que lhe chamava a atenção. Se Hebert Brown ainda fosse vivo, certamente, ele ainda seria um admirador secreto. O comandante lhe abriu o olho e pingou o colírio, ardia como pimenta, ela pressionou os olhos, para absorver aquilo. - Lamento, querida, sei que não deve ser fácil. Aguente só mais um. Relaxe para eu poder fazer isso. - Ela aliviava a expressão, voltando a pressionar outra vez, massageou os olhos, como o Amigo do Deserto havia feito. Aquilo aliviou muito a queimação, ela se manteve de olhos fechados, os lábios, levemente entreabertos. Tentadora. Peter se afastou enquanto sua força de vontade era capaz de vencer a provocação que Helena representava. - Helena, tenho percebido suas ações. Está ficando cada vez mais ousada e arriscando demais sua vida, mesmo com riscos calculados quanto ao time. - Ele guardou o colírio na bolsa. - Já falei que esse negócio de fumar ainda vai te matar.

— E que diferença faz, Peter? - Ela se mantinha, até que a medicação fizesse efeito. - Nessa altura, enterrar um cadáver saudável está fora de cogitação.

— Supondo que a gente tenha um cadáver, Helena. - Ele suspirou e se sentou. - Por que tem que ser tão determinada?

— Porque jurei, bebê. - Ela sorriu, tinha a boca bem desenhada, sob o batom de cor de vinho, acetinado, que lhe dava um bonito destaque.

— Fumar acaba com o fôlego, de qualquer maneira. - Ele disse, paternal.

— Mas dei conta de correr e manter marcha por umas boas milhas. - Ela ainda sorria.

— Helena, me preocupo com você. Depois do Hebert, você ficou ainda mais atrevida. Tem certeza de que já não é tempo de sair um pouco da sua bolha? - Peter expressou.

— Pete, você fala de um jeito como se eu ainda estivesse de luto. Aquele acidente foi uma fatalidade. - Ela perdia o brilho do sorriso. - Para mim, a vida continuou, independente de tudo.

— Você o amava? - Ele ousava.

— Inferno! Sim! - Ela respondeu, suave, em uma interjeição típica daquela região. - Mas eu o matei, não dá pra exigir muito. Matei os dois caras mais importantes da minha vida aquela noite. - Ela se punia.

— Não se culpe tanto. Quem ia adivinhar que aquele caminhão ia perder o controle? - Peter a consolava.

— De qualquer forma, não sou a única reclusa nesta sala. Desde que se separou da Karen, está vivendo tanto de cama em cama que ainda me faz perguntar porquê tem uma casa na base. - Ela era ácida. A morte do marido e do filho ainda pesavam para ela. Tinha menos de dois anos da perda.

— Gosto de variedade. - Ele retrucou, amistoso. - Eventualmente, conquisto a mulher dos meus sonhos.

— Hum. E ela está sabendo disso? - Ela voltava a sorrir, divertindo-se em zombá-lo.

— Já falei algumas vezes, mas não há meio de ela acreditar em mim. - Ele respondeu. - Se não se sentir bem, vá para casa. É uma ordem.

— Estou bem, Major. Fique tranquilo, comandante. Ficar em casa, sozinha e sem fazer nada, passando mal ou ficar aqui, passando mal, na companhia de gente que apostou na minha morte? Decisão difícil. - Ela gracejou, irônica. - Fico com minhas cobras aqui.

— Vou pedir para seu sargento vir para seu escritório. - Ele anunciou.

— Deixa o cara quieto, Pete. Todo mundo ainda está frustrado com a falha. - Ela abriu os olhos azuis, acinzentados, da cor de uma geleira e o olhou. A figura diante dela estava turva, a cabeça leve. - Pete, acho que vou desmaiar. - Ela disse, firme, antes de desmoronar, se chocando contra o chão.

Peter correu até ela. A mulher respirava superficialmente, ofegante. O pulso acelerado.

— Chamem ajuda aqui. - Ele gritou enquanto passava com ela nos braços, a camisa branca maculada de sangue, que lhe minava do nariz.

Helena acordou no hospital, a mão de Peter sobre a sua. "Estou imaginado coisas. O Sol me cozeu o cérebro." Ela pensou, esforçando-se para se sentar. Peter acordou, sobressaltado, com o movimento.

— Helena, por Deus! Você acordou. - Ele saltou da poltrona e a abraçou, aliviado.

— Pete, está me machucando. - Ela disse, sufocando com o abraço daquele homem imenso.

— Me desculpe. Fiquei apavorado quando Stuart, sem nenhuma cerimônia, subiu na sua maca e começou uma manobra cardíaca. - Ele suspirou. - Achei que...

— Hey, garotão! Pare! Sou eu! Hellish Joker Brown! Se nem o deserto me matou, não vai ser um mal estar, num escritório que vai dar conta. - Ela brincou. - Ainda que o trabalho no gabinete seja chato o suficiente para isso. - Ela o fez rir, ainda que brevemente.

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