Peter a fez companhia. Stuart foi chamado e chegou o quanto antes, examinou Helena. Parecia bem.
— Tenente Brown, a senhora está esgotada e passou por eventos importantes recentemente. - Ele informou, friamente. - Minha dificuldade está em traçar o claro limite entre Burnout e TPT. - Ele disse, direto. — Impossível, Capitão. - Peter interveio. - Ela estava bem ontem. — Ontem? Eu apaguei vinte e quatro horas? - Helena perguntou, impressionada. — Aí é que estamos. - Stuart pontuava. - Você já tinha passado mal assim antes, quando seu marido morreu e você, por pouco, não foi a terceira vítima daquele caminhão. O que a fez saber que ia desmaiar? - O médico investigava. — Senti um desequilíbrio, minha visão turvou de uma vez, como se eu estivesse, não sei, flutuando no ar. - Ela respondeu. — Você precisa tirar algum tempo para si. - Stuart recomendou. - Encontre algum apoio, talvez o comandante. Ao que me parece, são amigos chegados. - O médico se virou para Peter. - Certifique-se de que ela não fique estagnada ou sob pressão, faça exercícios físicos, durma, alimente-se, enfim, tenha rotina. Não falo como chefe dela, mas como seu amigo, o mais perto que a tenente tem de uma família. - O médico tomou algumas medidas e anotou a ficha dela. — Nada a ver. Stuart está doidinho! - Ela fez uma careta, de menina birrenta, quando o médico saiu. Peter riu. — Encontramos um motivo para eu ter uma casa na base. - Ele sugeria. - Passe uns dias lá. Prometo que sou um ótimo colega de casa. Lavo, passo, cozinho, sirvo para uma diversidade de atividades. - Ele brincou, flertando com ela. — Isso daria muita fofoca, Peter. Já temos uma história juntos, desde a academia. Melhor não dar munição para quem está louco de vontade de atirar. - Ela respondeu. - Vou dar meu jeito de não causar problemas para você. Me desculpe por ser tão inconveniente. — Volto mais tarde para saber como você está. - Peter beijou a mão dela. - Fique firme, Helena. Virei em algumas horas. — Obrigada, Peter. - Ela lhe sorriu, apertando a mão dele, que segurava a sua. As horas passavam lentamente, se arrastavam no relógio. "Hey, Amigo do Deserto Carlos. Sou eu, Helena Brown, a Migra que ajudou algum tempo atrás. Como tem passado?" Ela enviou a mensagem para o telefone que Dario registrou na ficha de recompensa. Não houve resposta. Dario sentiu o celular vibrar no bolso, estava no meio de uma troca de tiros com a Polícia da fronteira. Uma carga foi interceptada. Muito dinheiro envolvido naquilo para que pudessem deixar tudo de lado. As pessoas não eram um problema, mas as cargas eram um dos grandes. Eletrônicos, drogas, armas, munição, bebidas, mesmo roupas e itens de marcas de luxo estavam nos contêineres. Um dos seus homens correu, chamando a atenção. Aquela era uma das raras localidades que tinha seguro, para minimizar perdas. O sistema de incêndio foi aberto manualmente. Gasolina chovia dentro do galpão. Dario, sentindo o cheiro, correu para fora. "Melhor baleado do que carbonizado." O criminoso concluiu, ouvindo a explosão que iniciou o incêndio. Ele subiu na primeira moto que viu, enfiando a cabeça no capacete e ligando o veículo, entrava na rodovia, à toda velocidade, no sentido oposto da cidade. A gasolina lhe queimava a pele sob o sol do Deserto. Estava em território estadunidense. Não era para ter fiscalização naquele dia. O inferno se levantava pelo retrovisor do potente veículo. Ele sempre foi um tipo rebelde. Gostava daquela emoção da fuga. Dario tinha uma presença marcante e imponente, de quase um metro e noventa de altura, físico robusto que evidenciava anos de trabalho pesado e vida no deserto. A pele, bronzeada pelo sol escaldante, era marcada por cicatrizes que contavam histórias de batalhas passadas. O rosto, angular, com maçãs altas e um maxilar definido, davam palco a olhos de um castanho profundo, intensos e sempre atentos, que analisavam cada detalhe ao seu redor. O cabelo, curto e ligeiramente desarrumado, castanho escuro, com fios grisalhos começando a aparecer nas têmporas, indicavam o peso das decisões e do tempo. Um leve sorriso irônico frequentemente pairava em seus lábios, mas os traços firmes revelavam a dureza de sua vida. Antes de tudo, era um homem moldado por perdas e erros, o que o tornou estrategista, pragmático e cauteloso. A vida como contrabandista lhe deu uma capacidade inigualável de calcular riscos e tomar decisões rápidas, mas também alimentou um lado desconfiado e reservado. A profundidade de sua personalidade abrigava uma camada mais sensível que ele escondia do mundo, marcada por arrependimentos e um desejo reprimido de reconciliação com o passado. Sua traição, que lhe custou a mulher que mais amou na vida, resultou na separação de Helena. Era um ponto que ele, às vezes, conseguia ignorar, mas que o assombrava em algumas ocasiões. Embora às vezes parecesse frio e cínico, seu senso de lealdade havia se tornado forte e ele o reservava para aqueles que conquistavam sua confiança. Tinha um código de honra peculiar, mesmo vivendo à margem da lei. Persuasivo, sabia usar palavras para manipular ou ganhar aliados, mas seus sentimentos por sua Helena perdida o distraiam, mais recentemente, desde o encontro com a Helena do Deserto, aquilo o fragilizava, mortificando-o e o impulsionando para ações, como aquela, da qual fugia, em alta velocidade, pela rodovia. Precisava combater aqueles sentimentos, sentir a vida fluir nas veias com a adrenalina, matar aquilo que despertava seu lado vulnerável que há muito estava adormecido. Ele correu um pouco mais de uma hora, sobre uma moto, com um imenso motor de mil cilindradas, até que encontrasse abrigo seguro. Tinha a pele queimada pelo sol e pela gasolina do galpão perdido. Ele foi a uma farmácia, comprou o que precisava para se sentir melhor e, na loja de departamentos, algumas peças de roupas. Foi para um motel, a beira da rodovia, descansar e cuidar daquele mal estar. Começava a se acalmar da tarde intensa. Não era hora de pensar nas perdas. Surpreendentemente, ele recebeu a mensagem de Helena, sorria por instinto, satisfeito com aquilo. "Estou bem, Helena. Melhor, falando com você, gatinha. Como vai? Já pronta para outra aventura pelo Deserto?" Dario provocou. Ela o fazia suspirar, sozinho. "Seria uma boa. Uma amiga, fora de toda essa loucura. Uma vida mais normal." Ele sonhava. "Não ainda, mas quem sabe possa me ensinar algo. Estou bem. Hey! Escuta! O que tinha naquele colírio do abrigo?" Ela perguntou. "Água boricada e lágrima artificial. Nada absurdo, qualquer farmácia vende. Basta misturar em iguais proporções. Ainda com os olhos queimados? Já deveria ter se recuperado." Ele respondeu.Helena e Dario passaram a tarde conversando sobre a vida no Deserto. Ele dizia ser Geólogo. Estudava áreas como aquela, desérticas, o que fazia sentido para ele. Ela era formada em filosofia, algo inusitado para uma militar. Riam daquilo. Quando Peter chegou, Helena parecia bem melhor, mais alegre também. — Vejo que o Capitão estava certo. - Peter parou na porta. Em seu uniforme, para o escritório, era um homem irremediavelmente bonito, aparência impecável que refletia sua posição de autoridade, algo, de pouco mais de um metro e oitenta de altura, postura ereta e disciplinada, resultado de anos no serviço militar. Os cabelos, castanho-claros, sempre bem penteados, já começavam a mostrar sinais de grisalho nas laterais, adicionando um ar de maturidade elegante. Seus olhos azuis, penetrantes, carregam uma mistura de autoridade, luxúria e mistério, com a expressão, geralmente, séria. Havia aquele charme nele, que Helena achava encantador. Peter sempre foi cuidadoso com sua imagem púb
Sem toda a farda, Peter era um tipo bastante atraente. Helena, uma garota, viva e meiga, fora do Deserto, caminhava agarrada ao braço de Peter. Ela já não morava perto da base tinha muito tempo. Peter gostava da nova vizinhança dela, cheia de senhorinhas curiosas e pequenas famílias. Era um bem viver.— O que quer cozinhar? - Peter perguntou.— Você quem sabe. Eu faço fotossíntese. - Ela brincou mas Peter sabia que havia alguma verdade naquilo. - Vou ali na farmácia, me espera.— Analgésicos? - Ele perguntou. — No! Preservativos para a noite toda. - Ela provocou. Escandalizando duas velhinhas que o encararam, coradas. Helena o constrangida, descaradamente. Peter perdia a compostura, envergonhando-se. Maneou cabeça em um aceno para as velhas que desviaram o olhar dele. Ela levou algum tempo para sair dali, com um pequeno pacote na mão. - Pronto! Preparado! - Ela gargalhou, divertia-se às custas do amigo. — Você me mata, sabia? - Peter disse, sem jeito. No mercado, ela pegou alguns i
— Seu cheiro é tão gostoso, Helena. - Peter disse baixinho, segurando as mãos dela contra a pia. Com o queixo, afastou os cabelos dela e lhe mordiscou o pescoço. Sentia o corpo daquela mulher estremecer. — Pete. - Ela disse séria. - Se a gente continuar com isso, não vai ter volta. - Ela arqueou-se sob aquele domínio, com a mordida em seu ombro, mais firme. Sentia-o quente, pressionando seu corpo contra o dela, excitado.— Você não quer, minha doce Helena? - Ele rosnou, entre os dentes. - Podemos ser amigos ainda, no café da manhã. — Pete. - Ela gemeu, sentindo a ponta da língua daquele homem percorrer o desenho de sua orelha. Por cima da blusa, via os mamilos excitados dela, ela já estava tomada pela luxúria. Peter perdeu os sentidos com o contexto, girou Helena sob seu comando, a colocando de frente para si. Ele beijou sua boca, era doce, com os lábios mornos do vinho. Ele intensificou a exploração do manancial que lhe saciava a sede daquele beijo, tão necessário em sua vida. Hele
— O que são todas essas coisas? - Peter notava Gregory separar os frascos e cartelas em grupos. — Remédio para dormir, calmantes, indutores de sono, antialérgicos, remédio para digestão, cardíacos. - Ele identificava grupo. - Com álcool, apagam um elefante, individualmente. Em conjunto, são pior do que entorpecentes sintéticos. Faz sentido ela desmaiar com frequência. - Ele analisou.— Isso me preocupa, Greg. Como ter uma líder entorpecida? - Peter se percebia: poderia não ter havido vazamento de informações, mas falha de cálculo, na execução do planejamento dos riscos. Helena poderia estar dopada quando pôs a estratégia em ação. - Preciso voltar para o escritório, Capitão? - Peter se levantou, atordoado, retornando ao escritório. Em seu gabinete, solicitou os documentos de planejamento e os relatórios da operação. Revisava, fase por fase. Apesar de tudo, o plano era perfeito, não havia erro. Restava a segunda hipótese: a operação havia sido sabotada, fosse por erro na execução ou u
Helena deu seu jeito de entrar no transporte intermunicipal, rumo oeste. Havia um motel, investigado um sem número de vezes naquela rota, em um lugar ermo, fora das rodovias principais. Cruzar a fronteira a identificaria e ela sentia aquela angústia de voltar ao deserto. Não raciocinava. Não teve dificuldades para chegar, ainda que fosse incapaz de fechar os olhos, secos e dolorosos. A dor, pelo corpo, a torturava. Tinha a garganta seca e aquela angústia de chegar ao deserto. As rotas oficiais estavam fora de cogitação. Estava confusa e aquela única noite de descanso genuíno, sob os cuidados do "Amigo do Deserto", fora algo vital para ela. No motel, pagou a dinheiro, sem perguntas. Não era um lugar luxuoso, mas estava fora dos radares oficiais. Ela tomou um longo banho, comprou um maço de cigarros e uma garrafa de tequila e ligou seu celular. As mensagens caiam, enlouquecidas, ela as deixou entrar, sem, contudo, desbloquear o aparelho. Tanto Dario quanto Peter recebiam a notificaçã
Peter esperou ela se acalmar. Afastou o rosto dela do peito, ambos os olhos estavam tomados pelo sangue, era difícil de encarar a mulher. — Me diz o que consegue ver, bebê. - Ele pediu. — Nada, Pete. - Ela enxugou o nariz com o braço, estava muito sensível. - São borrões de cores e manchas. Eu... - Ela voltava a se emocionar. - Pete, eu não sei o que fazer. Cega, estéril, sozinha. - Ela voltava a chorar. - Não quero virar uma veterana apodrecendo num asilo, esperando a morte me buscar. Eu prefiro morrer. - Ela se agarrou a camiseta do homem. — Aceita um pouco de ajuda deste palhaço aqui, Helena. - Ele suplicou. - Vou ligar para o Greg. — Não! Ele vai me enfiar numa clínica psiquiátrica, não quero viver assim. - Ela se agitava, a cor sumia dela. — Calma, Helena. Respira. Você vai desmaiar assim. - Ele aconselhou. - Respira comigo, gatinha. - Ele cadenciava a respiração. Helena o obedecia, sem pensar. - Isso! Assim. Continua. Se eu o fizer prometer que não vai arrastar você par
— Alguns pequenos coágulos. - Disse o médico a Helena. - Vamos resolver imediatamente. Vai levar alguns dias para que volte a enxergar algo. - Ele informou, fazendo uma série de recomendações que Helena tentava memorizar. Em pouco tempo, a agulha no canto de cada olho e algo que parecia que iria sugar seu olho para fora do rosto. Estava completamente cega, na mais absoluta escuridão. - Mantenha os olhos fechados, Senhora Brown. - A mão do médico lhe afagava o rosto, fechando as pálpebras. - Será mais confortável. Se for possível, mantenha o mais absoluto repouso. — Obrigada, Doutor. - Helena agradeceu. — Nos vemos amanhã, para o acompanhamento. - O médico indicou. Em minutos, voltavam para casa. Bacon informou o Major e o Capitão. Recebia instruções. — Tenente, entendo seu orgulho como mulher e como superior. Fui designada para auxiliar a Senhora. Gostaria de algo? Um banho? Uma refeição? Que eu busque algo mais tarde? - A soldado ofertava. — Cigarros, Bacon. - Helena retrucou.
— Onde está a Tenente, Soldado? - O Capitão exigia. — No banho, Senhor. - A jovem lhe rendia continência. Peter se orgulhava do comando de sua Helena, em horas havia disciplinado a novata mais rebelde da base. Ela tinha o jeito. Peter, sem uma única palavra, entrou pela casa. Ouvia o chuveiro ligado. — Querida? - Ele bateu à porta. Não houve resposta. Decidiu entrar. Com fones, Helena se banhava. O corpo atlético, já com algumas cicatrizes da vida, esguio e bem modelado era acariciado pela água, a música alta chiava para fora dos fones. Cabelos molhados, olhos fechados. Devagar, tateava o lugar. Encontrou a toalha. Ele estava ali, com ela nua, parado a poucos centímetros dela, excitado. — Maria? - Ela perguntou, tirando os fones. Percebia a respiração quente que vinha de um ponto mais alto. — Quem é Maria? - Peter perguntou, refreava, tenso, o instinto de agarrar aquela mulher e a devorar ali mesmo. — Oh! Pete. - Helena se enrolou na toalha. - Me desculpe, eu precisava dis