005

Peter a fez companhia. Stuart foi chamado e chegou o quanto antes, examinou Helena. Parecia bem.

— Tenente Brown, a senhora está esgotada e passou por eventos importantes recentemente. - Ele informou, friamente. - Minha dificuldade está em traçar o claro limite entre Burnout e TPT. - Ele disse, direto.

— Impossível, Capitão. - Peter interveio. - Ela estava bem ontem.

— Ontem? Eu apaguei vinte e quatro horas? - Helena perguntou, impressionada.

— Aí é que estamos. - Stuart pontuava. - Você já tinha passado mal assim antes, quando seu marido morreu e você, por pouco, não foi a terceira vítima daquele caminhão. O que a fez saber que ia desmaiar? - O médico investigava.

— Senti um desequilíbrio, minha visão turvou de uma vez, como se eu estivesse, não sei, flutuando no ar. - Ela respondeu.

— Você precisa tirar algum tempo para si. - Stuart recomendou. - Encontre algum apoio, talvez o comandante. Ao que me parece, são amigos chegados. - O médico se virou para Peter. - Certifique-se de que ela não fique estagnada ou sob pressão, faça exercícios físicos, durma, alimente-se, enfim, tenha rotina. Não falo como chefe dela, mas como seu amigo, o mais perto que a tenente tem de uma família. - O médico tomou algumas medidas e anotou a ficha dela.

— Nada a ver. Stuart está doidinho! - Ela fez uma careta, de menina birrenta, quando o médico saiu. Peter riu.

— Encontramos um motivo para eu ter uma casa na base. - Ele sugeria. - Passe uns dias lá. Prometo que sou um ótimo colega de casa. Lavo, passo, cozinho, sirvo para uma diversidade de atividades. - Ele brincou, flertando com ela.

— Isso daria muita fofoca, Peter. Já temos uma história juntos, desde a academia. Melhor não dar munição para quem está louco de vontade de atirar. - Ela respondeu. - Vou dar meu jeito de não causar problemas para você. Me desculpe por ser tão inconveniente.

— Volto mais tarde para saber como você está. - Peter beijou a mão dela. - Fique firme, Helena. Virei em algumas horas.

— Obrigada, Peter. - Ela lhe sorriu, apertando a mão dele, que segurava a sua.

As horas passavam lentamente, se arrastavam no relógio.

"Hey, Amigo do Deserto Carlos. Sou eu, Helena Brown, a Migra que ajudou algum tempo atrás. Como tem passado?" Ela enviou a mensagem para o telefone que Dario registrou na ficha de recompensa. Não houve resposta.

Dario sentiu o celular vibrar no bolso, estava no meio de uma troca de tiros com a Polícia da fronteira. Uma carga foi interceptada. Muito dinheiro envolvido naquilo para que pudessem deixar tudo de lado. As pessoas não eram um problema, mas as cargas eram um dos grandes. Eletrônicos, drogas, armas, munição, bebidas, mesmo roupas e itens de marcas de luxo estavam nos contêineres.

Um dos seus homens correu, chamando a atenção. Aquela era uma das raras localidades que tinha seguro, para minimizar perdas. O sistema de incêndio foi aberto manualmente. Gasolina chovia dentro do galpão. Dario, sentindo o cheiro, correu para fora. "Melhor baleado do que carbonizado." O criminoso concluiu, ouvindo a explosão que iniciou o incêndio. Ele subiu na primeira moto que viu, enfiando a cabeça no capacete e ligando o veículo, entrava na rodovia, à toda velocidade, no sentido oposto da cidade. A gasolina lhe queimava a pele sob o sol do Deserto. Estava em território estadunidense. Não era para ter fiscalização naquele dia. O inferno se levantava pelo retrovisor do potente veículo.

Ele sempre foi um tipo rebelde. Gostava daquela emoção da fuga.

Dario tinha uma presença marcante e imponente, de quase um metro e noventa de altura, físico robusto que evidenciava anos de trabalho pesado e vida no deserto. A pele, bronzeada pelo sol escaldante, era marcada por cicatrizes que contavam histórias de batalhas passadas. O rosto, angular, com maçãs altas e um maxilar definido, davam palco a olhos de um castanho profundo, intensos e sempre atentos, que analisavam cada detalhe ao seu redor. O cabelo, curto e ligeiramente desarrumado, castanho escuro, com fios grisalhos começando a aparecer nas têmporas, indicavam o peso das decisões e do tempo. Um leve sorriso irônico frequentemente pairava em seus lábios, mas os traços firmes revelavam a dureza de sua vida.

Antes de tudo, era um homem moldado por perdas e erros, o que o tornou estrategista, pragmático e cauteloso. A vida como contrabandista lhe deu uma capacidade inigualável de calcular riscos e tomar decisões rápidas, mas também alimentou um lado desconfiado e reservado.

A profundidade de sua personalidade abrigava uma camada mais sensível que ele escondia do mundo, marcada por arrependimentos e um desejo reprimido de reconciliação com o passado. Sua traição, que lhe custou a mulher que mais amou na vida, resultou na separação de Helena. Era um ponto que ele, às vezes, conseguia ignorar, mas que o assombrava em algumas ocasiões. Embora às vezes parecesse frio e cínico, seu senso de lealdade havia se tornado forte e ele o reservava para aqueles que conquistavam sua confiança. Tinha um código de honra peculiar, mesmo vivendo à margem da lei. Persuasivo, sabia usar palavras para manipular ou ganhar aliados, mas seus sentimentos por sua Helena perdida o distraiam, mais recentemente, desde o encontro com a Helena do Deserto, aquilo o fragilizava, mortificando-o e o impulsionando para ações, como aquela, da qual fugia, em alta velocidade, pela rodovia. Precisava combater aqueles sentimentos, sentir a vida fluir nas veias com a adrenalina, matar aquilo que despertava seu lado vulnerável que há muito estava adormecido.

Ele correu um pouco mais de uma hora, sobre uma moto, com um imenso motor de mil cilindradas, até que encontrasse abrigo seguro. Tinha a pele queimada pelo sol e pela gasolina do galpão perdido. Ele foi a uma farmácia, comprou o que precisava para se sentir melhor e, na loja de departamentos, algumas peças de roupas. Foi para um motel, a beira da rodovia, descansar e cuidar daquele mal estar. Começava a se acalmar da tarde intensa. Não era hora de pensar nas perdas. Surpreendentemente, ele recebeu a mensagem de Helena, sorria por instinto, satisfeito com aquilo.

"Estou bem, Helena. Melhor, falando com você, gatinha. Como vai? Já pronta para outra aventura pelo Deserto?" Dario provocou. Ela o fazia suspirar, sozinho. "Seria uma boa. Uma amiga, fora de toda essa loucura. Uma vida mais normal." Ele sonhava.

"Não ainda, mas quem sabe possa me ensinar algo. Estou bem. Hey! Escuta! O que tinha naquele colírio do abrigo?" Ela perguntou.

"Água boricada e lágrima artificial. Nada absurdo, qualquer farmácia vende. Basta misturar em iguais proporções. Ainda com os olhos queimados? Já deveria ter se recuperado." Ele respondeu.

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