007

Sem toda a farda, Peter era um tipo bastante atraente. Helena, uma garota, viva e meiga, fora do Deserto, caminhava agarrada ao braço de Peter. Ela já não morava perto da base tinha muito tempo. Peter gostava da nova vizinhança dela, cheia de senhorinhas curiosas e pequenas famílias. Era um bem viver.

— O que quer cozinhar? - Peter perguntou.

— Você quem sabe. Eu faço fotossíntese. - Ela brincou mas Peter sabia que havia alguma verdade naquilo. - Vou ali na farmácia, me espera.

— Analgésicos? - Ele perguntou.

— No! Preservativos para a noite toda. - Ela provocou. Escandalizando duas velhinhas que o encararam, coradas. Helena o constrangida, descaradamente. Peter perdia a compostura, envergonhando-se. Maneou cabeça em um aceno para as velhas que desviaram o olhar dele. Ela levou algum tempo para sair dali, com um pequeno pacote na mão. - Pronto! Preparado! - Ela gargalhou, divertia-se às custas do amigo.

— Você me mata, sabia? - Peter disse, sem jeito.

No mercado, ela pegou alguns ingredientes para uma pasta e três garrafas de vinho, alguma carne e uma quantidade consistente de doces. Não era a criatura mais saudável que Peter conhecia. - Só come comida balanceada na base?

— Exatamente! - Ela se divertia com pipocas coloridas na fila do caixa. - Só vou cozinhar porque você está de babá. Se não, fora de cogitação. - Ela levou a mão ao celular, para pagar, mas Peter foi mais rápido. Na tela dela: "Amigo do Deserto. 3 mensagens."

Peter se enciumava. Ele não aceitaria ser deixado para trás na guerra por aquele coração selvagem dela. Há anos esperava por uma oportunidade como aquela, via-a se afundar cada vez mais profundamente em uma espiral que o preocupava. Não era controladora, mas era aviltante, fazia o que bem entendia, ignorava protocolos e amava as atividades de campo. Ele preferia ordem e controle, o que o tornava um líder eficaz e que raramente aceitava ser desafiado. Sempre admirou Helena, não apenas por sua habilidade e força, mas também por sua determinação e resiliência, qualidades que Peter considerava raras. Sua paixão por ela começou de forma silenciosa, mas se intensificou com os anos. No fundo, era marcado pela inveja e pela frustração de nunca ter conquistado o amor dela. Ele nunca soube de alguém antes de Hebert, apesar de saber que já era divorciada de um alguém, sem nome que considerava um rival, porque já teve o coração de Helena, algo que Peter desejava para si. Mesmo sua amizade com Hebert Brown, o finado marido de Helena, o fazia guardar uma lealdade superficial, mas secretamente nutria ressentimento por Hebert também ter estado mais próximo de Helena do que ele. O acidente foi um evento devastador para ela, na mesma noite, um caminhão desgovernado levou o marido e o filho em seu ventre, nos estágios finais da gravidez. Ela dirigia. Peter tentou encontrar os pais deles, que só souberam do acidente muito tempo depois. A licença dela durou meses. Peter a ajudou a encontrar o apartamento, vender a casa, doar as coisas de Hebert e do filho não nascido. Ela passou dias entrando e saindo da emergência, à beira de comas alcoólicos. Ele esteve firme ao seu lado por todo esse tempo, quando retornou ao trabalho, ele já era major. Ela jamais se ressentiu daquilo, gostava dele como chefe, se sentia livre para agir, o exato oposto do resto das equipes. Havia um rumor de que eram envolvidos romanticamente, mas nada frutificou muito tempo, era algo que ia e voltava, de tempos em tempos.

— Querida, esse "Amigo do Deserto" é o mexicano que a trouxe de volta? - Peter era sutil para perguntar.

— Bem dizer, me salvou, Pete. - Ela se virou, encostando o quadril no sensor da fechadura, que se abriu. Brincava no ar, empurrando a porta com o corpo. - Sem esse cara, acho que não ia dar nem para zoar você outra vez. - Ela foi para o balcão da cozinha. - E se prepare para comer a pior comida italiana de todos os tempos. - Ela riu. Apesar da aparente naturalidade, ele sabia que estava desconfortável. Desde Hebert, ela havia perdido os laços com os pais e os sogros. Os contatos de rotina eram feitos pelo departamento de pessoal, mas nada além disso.

Helena se pôs a cozinhar. Abriu uma das garrafas de vinho, engolindo os comprimidos com a bebida.

— Está doida, Helena? - Peter se surpreendia. - O que é isso que está tomando com a bebida?

— Pete, não estressa. Anticoncepcional, vitaminas e remédio para o estômago. O meu melhor coquetel. - Ela seguia com a culinária. Aquilo não era como as gororobas da base. Por mais que fosse balanceado, nada tinha aquele aroma. Vegetais se transformavam em uma sopa de tomates assados, regada com vinho. A pasta recebia um tempero suave, a base de carne e molho de tomate. Torradas com azeite e ervas e um creme suave de sobremesa. Helena era brincalhona, mas levava a sério receber bem o amigo, o último que lhe restava. Aos poucos, ele a viu se isolar. Ela serviu a mesa e se por a preparar um pequeno frasco. "Colírio." Ele constatou. Ela deixava a mistura na geladeira. Trouxe o vinho e as taças, já era visível que estava corada com a garrafa consumida entre o preparo do jantar e ela.

— Você está alta. - Peter constatou.

— Não! Estou temperada! - Ela o serviu. A comida estava deliciosa. Peter raramente comia algo tão bom, a menos que pagasse muito caro.

— Vou mudar para cá. - Ele afirmou, farto, depois do jantar, recebendo a sobremesa das mãos dela e um café amargo.

— Por quantos dias? - Ela já estava alta.

— Enquanto tiver comida. - O vinho já o tornava espirituoso.

— Mas já vai? Achei que ia aturar minha ressaca! - Ela era expressiva relaxada. Uma face que o encantava.

— Você é linda. - Peter deixava a confissão escapar, livre de suas travas morais rígidas.

— Você está bêbado, comandante! - Ela se divertiu. Levantou-se para recolher a mesa. Peter a ajudou com a tarefa, apesar de firme, andava em passos lentos, já estava alterada.

Sem pensar, Peter a pressionou contra o balcão da pia, inalando o cheiro perfumado de sua pele. Helena sentiu o corpo dele contra suas costas. Era reconfortante. Ela fechou os olhos, suavemente. "Deus! Como isso é bom..." Ela pensou, aproveitando aquele carinho.

Sigue leyendo en Buenovela
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Escanea el código para leer en la APP