Helena deu seu jeito de entrar no transporte intermunicipal, rumo oeste. Havia um motel, investigado um sem número de vezes naquela rota, em um lugar ermo, fora das rodovias principais. Cruzar a fronteira a identificaria e ela sentia aquela angústia de voltar ao deserto. Não raciocinava. Não teve dificuldades para chegar, ainda que fosse incapaz de fechar os olhos, secos e dolorosos. A dor, pelo corpo, a torturava. Tinha a garganta seca e aquela angústia de chegar ao deserto. As rotas oficiais estavam fora de cogitação. Estava confusa e aquela única noite de descanso genuíno, sob os cuidados do "Amigo do Deserto", fora algo vital para ela. No motel, pagou a dinheiro, sem perguntas. Não era um lugar luxuoso, mas estava fora dos radares oficiais. Ela tomou um longo banho, comprou um maço de cigarros e uma garrafa de tequila e ligou seu celular. As mensagens caiam, enlouquecidas, ela as deixou entrar, sem, contudo, desbloquear o aparelho. Tanto Dario quanto Peter recebiam a notificaçã
Peter esperou ela se acalmar. Afastou o rosto dela do peito, ambos os olhos estavam tomados pelo sangue, era difícil de encarar a mulher. — Me diz o que consegue ver, bebê. - Ele pediu. — Nada, Pete. - Ela enxugou o nariz com o braço, estava muito sensível. - São borrões de cores e manchas. Eu... - Ela voltava a se emocionar. - Pete, eu não sei o que fazer. Cega, estéril, sozinha. - Ela voltava a chorar. - Não quero virar uma veterana apodrecendo num asilo, esperando a morte me buscar. Eu prefiro morrer. - Ela se agarrou a camiseta do homem. — Aceita um pouco de ajuda deste palhaço aqui, Helena. - Ele suplicou. - Vou ligar para o Greg. — Não! Ele vai me enfiar numa clínica psiquiátrica, não quero viver assim. - Ela se agitava, a cor sumia dela. — Calma, Helena. Respira. Você vai desmaiar assim. - Ele aconselhou. - Respira comigo, gatinha. - Ele cadenciava a respiração. Helena o obedecia, sem pensar. - Isso! Assim. Continua. Se eu o fizer prometer que não vai arrastar você par
— Alguns pequenos coágulos. - Disse o médico a Helena. - Vamos resolver imediatamente. Vai levar alguns dias para que volte a enxergar algo. - Ele informou, fazendo uma série de recomendações que Helena tentava memorizar. Em pouco tempo, a agulha no canto de cada olho e algo que parecia que iria sugar seu olho para fora do rosto. Estava completamente cega, na mais absoluta escuridão. - Mantenha os olhos fechados, Senhora Brown. - A mão do médico lhe afagava o rosto, fechando as pálpebras. - Será mais confortável. Se for possível, mantenha o mais absoluto repouso. — Obrigada, Doutor. - Helena agradeceu. — Nos vemos amanhã, para o acompanhamento. - O médico indicou. Em minutos, voltavam para casa. Bacon informou o Major e o Capitão. Recebia instruções. — Tenente, entendo seu orgulho como mulher e como superior. Fui designada para auxiliar a Senhora. Gostaria de algo? Um banho? Uma refeição? Que eu busque algo mais tarde? - A soldado ofertava. — Cigarros, Bacon. - Helena retrucou.
— Onde está a Tenente, Soldado? - O Capitão exigia. — No banho, Senhor. - A jovem lhe rendia continência. Peter se orgulhava do comando de sua Helena, em horas havia disciplinado a novata mais rebelde da base. Ela tinha o jeito. Peter, sem uma única palavra, entrou pela casa. Ouvia o chuveiro ligado. — Querida? - Ele bateu à porta. Não houve resposta. Decidiu entrar. Com fones, Helena se banhava. O corpo atlético, já com algumas cicatrizes da vida, esguio e bem modelado era acariciado pela água, a música alta chiava para fora dos fones. Cabelos molhados, olhos fechados. Devagar, tateava o lugar. Encontrou a toalha. Ele estava ali, com ela nua, parado a poucos centímetros dela, excitado. — Maria? - Ela perguntou, tirando os fones. Percebia a respiração quente que vinha de um ponto mais alto. — Quem é Maria? - Peter perguntou, refreava, tenso, o instinto de agarrar aquela mulher e a devorar ali mesmo. — Oh! Pete. - Helena se enrolou na toalha. - Me desculpe, eu precisava dis
— Gosto de estar com você. A base só seria mais prático enquanto se recupera. - Ele a via, olhos fechados. - Me deixa ver seus olhos. - Ordenou, suave. O sangramento cedia, pequenas ramificações e a vermelhidão nos cantos era o que restava. - Vou pegar o colírio na sua geladeira. - Ele se levantava, nu. Ela via apenas o borrão, disforme, diante de si. Voltava, com água e o colírio. - Tome, um pouco de água para recuperar o fôlego. Vem cá. - Ele determinava, o cuidado, terno, tão necessário, era um conforto, que há muito não sentia. Ela se sentou na beira da cama, ele lhe abria os olhos, um após o outro, e pingava aquela mistura, o alívio imediato era algo que a fazia relaxar. — Caraca! Isso é bom! - Ela solfejou. - Carlos tinha razão. - Ela disse, aliviada, sem perceber como Peter reagia. — Carlos é o "Amigo do Deserto"? - Ele perguntou, disfarçando o ciúme na voz, máscula e grave, que falava suavemente com ela. — É sim. Não acho que seja esse nome, mas me salvou de virar comida
— Estou aqui, Tenente. - Bacon respondeu sob o olhar severo do Major, que fechava a camisa, alinhando-se. — Volto para almoçarmos juntos, querida. - Ele foi até Helena, selando seus lábios, suavemente. Ela estava perfumada, tinha o hálito de menta que ele gostava. "Morangos e champagne." Ele identificou. - Obrigado por seus serviços, soldado. Descansar. - Ele disse, recebendo a continência dela, firme, alinhada. Peter saiu, a valise e o blazer na mão. Helena se aproximava, mais lentamente. Maria preferia não perguntar. Helena lhe estendeu a mão. Tinham portes parecidos. — Bom dia, Maria. - Ela sentiu a mão da moça tocar a sua. - Como foi a noite? — Certamente, muito mais tranquila que a sua, Helena. - A jovem brincou. Sentia-se à vontade como aquela mulher. Por mais que fosse inadequado, Helena lhe parecia um manancial de resistência e resiliência. Alguém com quem se abrir. Helena sorriu, era linda, de aparência rica. Uma mulher fina, forte e bem sucedida. Tornava-se um exemplo p
— Chefe, soube que está licenciada. É por causa da investigação? - Jameson perguntou. — Não, Jameson. - Ela respondeu. - É porque me feri. Estou cega, também. A investigação é praxe quando algo da errado. Tranquiliza a equipe. O Rosenbauer deve estar moendo vocês. Aquele cara me odeia. — Também. Você meteu a arma na cabeça dele para apartar uma briga de namorados. Não é pra menos. - Jameson disse, com a fala fofa, mastigando. - Vocês são muito passionais aqui no Texas, cara. - Maria percebia que aquele conforto que ela sentia com Helena parecia ser uma constante. — Como? - Maria notava que as lendas sobre a Tenente Brown não eram bem lendas. — Ah, papo bravo. O Rosenbauer tinha esse namorado e tal e pagava de galã. Numa balada ele juntou o cara de soco e aconteceu de ser o protegido dela. Ela enfiou a arma na testa do Rosenbauer. Se perceber, tem uma cicatriz. Quando a Tenente engatilhou, o cara se sujou todo. Depois, ele tentou manchar ela, dizendo que tinham dormido juntos,
— Escolhas interessantes. - Ele a elogiou, sorria, gentil. Era um homem bonito, mas seu olhar, frio, fazia a coluna de Maria esfriar. Aquele homem era um predador de olhos de safira. - Querida, poderia me trazer um espresso, por favor? - Ele pediu. Helena parecia se esforçar para agradá-lo. Ele a olhava, com cobiça e luxúria. Helena o serviu.Ela tirou a mesa. Maria a ajudou com a tarefa. Tudo voltava a mais perfeita ordem, uma casa de revista de arquitetura, nem parecia que alguém vivia ali. Peter gostava daquela perfeita ordem.— Quer uma carona até a base, Bacon? - Peter ofereceu, pegando sua valise e o paletó. — Aceito, Major Renard. - Ela respondeu, de pronto.Peter se aproximou de Helena, a agarrou pela cintura, curvando-se em um beijo apaixonado, daqueles de filmes românticos, de causar inveja, que Maria olhava, impressionada. Eram, juntos, o sonho americano. Lindos. Ele a libertou, brevemente. — Vou passar na lavanderia para deixar o uniforme e, em casa, para pegar algumas c