006

Helena e Dario passaram a tarde conversando sobre a vida no Deserto. Ele dizia ser Geólogo. Estudava áreas como aquela, desérticas, o que fazia sentido para ele. Ela era formada em filosofia, algo inusitado para uma militar. Riam daquilo.

Quando Peter chegou, Helena parecia bem melhor, mais alegre também.

— Vejo que o Capitão estava certo. - Peter parou na porta. Em seu uniforme, para o escritório, era um homem irremediavelmente bonito, aparência impecável que refletia sua posição de autoridade, algo, de pouco mais de um metro e oitenta de altura, postura ereta e disciplinada, resultado de anos no serviço militar. Os cabelos, castanho-claros, sempre bem penteados, já começavam a mostrar sinais de grisalho nas laterais, adicionando um ar de maturidade elegante. Seus olhos azuis, penetrantes, carregam uma mistura de autoridade, luxúria e mistério, com a expressão, geralmente, séria. Havia aquele charme nele, que Helena achava encantador. Peter sempre foi cuidadoso com sua imagem pública: usava trajes perfeitamente ajustados e uniformes impecáveis. Era impossível não admirá-lo. - O descanso fez bem. Pedi ao Tenente Rosenbauer que assumisse sua equipe até segunda. Vou tentar levar você para um lugar tranquilo, onde possa se recuperar um pouco.

— Own, Pete. Você sempre foi o amigo perfeito. - Ela sorriu, suavemente, abrindo os braços para ele.

— O Capitão diz que dá para liberar você, desde que tenha acompanhamento. Tem um sofá meia-boca naquele seu cativeiro? - Ele brincou.

— Ah, deve ter um colchonete e uns papelões sobrando para você. - Ela entrava na brincadeira. Eram amigos de longa data, desde quando ela entrou na academia. Peter e Hebert eram unha e carne, até que Hebert se encantou pela novata que treinava. Era do administrativo, mas treinava com o pessoal de campo, pesado. Não era raro estar machucada naquela época. Era muito retraída e frágil, vinha de um histórico pessoal péssimo, divorciada, havia se casado logo depois da formatura, mas, por algum motivo, aquilo não durou. Com o divórcio dos pais, ela optou pela carreira militar como forma de compensar sua fragilidade. Stuart viveu em função dela nos primeiros meses. Hebert ou Peter sempre acabavam ali, com ela. O médico chegara a se encantar pela morena de olhos de gelo, resistente e bem disposta, apesar de estabanada, mas, com uma imensa diferente de idade, dois filhos, uma esposa bonita e amorosa, achava que não compensaria se arriscar por uma paixão breve. O Capitão os observava da porta, fazia suas visitas. Vendo-os, acabou se perdendo em memórias, por fim, se recompôs de sua divagação e decidiu entrar no quarto.

— Major. Tenente. - O Médico os cumprimentou. - Vou deixar a alta na recepção, Brown. Tenta por juízo na cabeça e descansar o corpo para não virar cadáver.

— Sim, senhor. - Ela respondeu, sorrindo fartamente para ele. Mesmo passados mais de dez anos, ela ainda irradiava o brilho jovial. Era fácil de se perder naquele caminho do sorriso dela.

Peter a levou para o carro, passou em sua casa e a guiou para o apartamento dela. Vivia em um bairro povoado, de vizinhança tranquila e bem servida. O apartamento era bem decorado, de estilo confortável, com muita luz e ar. "A cara dela. Iluminado e prático." Peter entrava ali pela segunda vez na vida. Na primeira, sequer havia mobília. Agora, com as cortinas nas portas duplas altas, que davam acesso a sacada daquela cobertura, com uma linda visão do parque e da cidade, os móveis distribuídos, tudo parecia diferente. Ele percebia, sobre a mesa de centro, duas garrafas de bebidas vazias e o cinzeiro cheio. Ela estava, basicamente, afogando os sentimentos. Definitivamente, esgotada.

— Poxa, meu amor. - Peter disse. - Sou tão péssimo assim como chefe? - Ele gracejou.

— Muito pior. - Ela gargalhou, chutando os sapatos de lado. - Vou preparar seu quarto, Pete. Fique à vontade. - Ela sumiu pelo corredor de piso de madeira, bem polido. Peter passeou pelo lugar. Era bastante impessoal. Nada de fotos pessoais, condecorações ou medalhas. Não ostentava troféus e nem nada. Tinha muitos espelhos, entre plantas falsas, de alta qualidade, mas nada naturais. Dava um bom aspecto. Cristais e bandejas se espalhavam pelos aparadores, ao lado de fruteiras vazias. Ele abriu as portas da varanda. Três grandes portas balcão, duplas, cuja brisa movimentava as cortinas claras e esvoaçantes. Na varanda, uma hidromassagem, um bonito conjunto de estofados, a espreguiçadeira e o guarda-sol. Ao lado da hidromassagem, mais algumas garrafas e uma taça manchada de vinho tinto. Ela estava abusando, era certo. Tinha uma semana que havia sido retornada à ativa e já estava naquele estágio. Peter começava a se preocupar com Helena. Parecia tão firme e alegre, mas a verdade, por trás do bonito espelho, era um lugar sombrio em que ela se anestesiava bebendo muito, provavelmente, até perder a consciência.

Helena retornou, algum tempo depois, confortavelmente vestida, em uma calça jeans, que desenhava seu corpo escultural e uma regata de seda, de alças finas. Os cabelos, ondulados e brilhantes, soltos, lhe davam o aspecto livre e jovial, cheio de energia. Ela ajeitava a bagunça, rapidamente.

— Pete! Vem comigo, vou mostrar seu cativeiro! - Ela brincou, abaixando-se para pegar as garrafas, o cinzeiro cheio e a taça. O decote revelava o busto magnífico, modelo da própria Vênus. Ele notava as marcas queimadas delineados no rosto. A mulher tinha um perfume frutal sobre a pele. "Morangos e champagne." Peter identificava o cheiro. Ele a acompanhou, pegando a mochila e o uniforme limpo, seguindo-a. As portas ficavam frente a frente, a do quarto dela estava encostada, pela fresta, ele percebia um lugar limpo e organizado, apesar das roupas jogadas sobre a cama. A suíte em que ela o acomodou era bem decorada, em nada perdia para um quarto de um requintado e moderno hotel. - Pronto! Devidamente enjaulado em algo bem perto de Guantanamo. - Ela brincava, leve. Peter notava certa tristeza no olhar dela, algo difícil de entender e, pior ainda, de decifrar. Estava escondendo algo.

— Obrigado, Helena. Vou me acomodar. - Ele soltou a mala sobre a banqueta, aos pés da cama.

— O que quer jantar? - Ela ofereceu, sorria. - Vou sair rapidinho para buscar os ingredientes.

— Hum. - Ele gracejou, tirando o terno e afrouxando a gravata, sedutor. "Isso aí explica não repetir cama." Ela sorriu com um toque malicioso no olhar, que logo foi repreendido. - Se me esperar, vamos juntos.

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