Anny Celik Ao sair da confeitaria, senti o ar frio da noite envolver meu corpo. A caminhada até meu apartamento era curta, mas o suficiente para me ajudar a organizar os pensamentos. Não consegui evitar que James invadisse minha mente novamente. Quem ele pensa que é para ser tão... presente? Sacudi a cabeça, tentando afastar a ideia. Eu precisava de paz, e meu lar era meu refúgio. Cheguei ao prédio, passei pelo porteiro com um sorriso educado e subi até o meu andar. Coloquei a senha na porta, e o clique suave indicou que estava aberta. Empurrei-a com uma mão enquanto colocava chave na bolsa, mas congelei assim que entrei. Minha sala estava repleta de buquês de rosas vermelhas. Havia flores em todos os cantos, sobre a mesa de centro, o aparador, o sofá. O perfume era intenso, quase opressor, e minha mente girava com perguntas. Fechei a porta atrás de mim, meus olhos percorrendo o ambiente, buscando alguma pista de quem havia feito isso. Um envelope branco repousava no meio de um
Miguel Ylmaz Eu nunca tive medo do fogo. Talvez por ser algo que sempre carreguei comigo, um calor constante, uma fagulha de raiva e determinação que me mantinha em pé. Mas hoje, ao encarar o telefone em minha mão, as palavras de Kemal ecoando como um trovão, percebi que o fogo que me consumia era muito mais destrutivo do que qualquer incêndio físico. — Dessa vez foi apenas um incêndio sem danos, mas se não quer que sua irmã e todas as pessoas que ama acabem sendo queimadas vivas como sua mãe, espero que aceite meu acordo. Ele sabia onde atingir. Meu peito apertava com a lembrança de minha mãe. Desliguei o telefone, incapaz de continuar ouvindo sua voz. Meus pensamentos estavam caóticos. Por mais que eu odiasse admitir, Kemal tinha razão: minha família era meu ponto fraco. Leyla, minha irmã... e agora até ela, a enigmática Anny Celik. A ideia de algo acontecendo com qualquer uma delas era insuportável. Caminhei até o bar no canto do escritório, da minha mansão, servi um copo
Miguel Ylmaz Eu nunca fui de me apegar. Não quando o apego significava fraqueza. Mas naquela noite, enquanto Anny estava sentada no meu sofá, segurando aquela rosa, entre tantas que eu mandei, algo mudou. Não era só a lembrança do incêndio ou a ameaça de Kemal que me perturbava. Era ela. Sua presença me inquietava de uma forma que eu não queria admitir. — Você deveria dormir aqui esta noite — eu disse, rompendo o silêncio que pairava entre nós. Ela levantou o olhar, surpresa e talvez um pouco desconfiada. — Miguel, não é necessário. Eu estou bem. — Bem? — Rebati, inclinando-me para frente. — Você veio até aqui no meio da noite porque estava preocupada comigo. E agora quer voltar para casa sozinha, sabendo que tem um incendiário à solta? Não seja teimosa, Anny. Ela respirou fundo, claramente tentando encontrar uma desculpa para sair, mas eu não ia deixá-la escapar. — Então, que tal isso? — continuei antes que ela pudesse argumentar. — Eu mesmo te levo para o seu apartament
Anny Celik Miguel insistiu para que eu subisse ao quarto de visitas, e, embora eu quisesse resistir, o cansaço emocional da noite passada pesava mais. Não valia a pena discutir com ele naquele momento. Aceitei, mas com a promessa silenciosa de manter minha distância emocional. Assim que entrei no quarto, minha respiração quase falhou.O ambiente era luxuoso, mas não foi isso que me deixou perplexa. Sobre a cama impecavelmente arrumada, havia roupas de grife, lingeries finas, e tudo que uma mulher poderia precisar. No closet, ainda mais peças esperavam por mim.Miguel estava encostado na porta, me observando com aquele olhar intenso que sempre parecia desnudar minha alma.— Devo perguntar? — perguntei, sem esconder o tom desafiador na voz.Ele sorriu, aquele sorriso que só ele sabia dar.— Estava pensando em te trazer nem que fosse à força amanhã, bombom, para morar aqui comigo. Por isso pode ficar à vontade. Tudo o que está no closet e tudo o que vê diante de você nesta mansão é seu
Miguel Ylmaz Fui para o meu escritório, peguei uma pasta com alguns documentos e logo depois fiquei na sala, esperando que a Anny descesse. Quando a vi descendo as escadas, ela estava linda, vestida com uma saia justa que delineava perfeitamente suas curvas, e uma blusa social entreaberta, revelando uma pequena parte de sua pele macia. Estava sensual e provocante, eu a desejei com todas minhas foças, mas, acima de tudo, parecia estar se esforçando para me ignorar. Ela ajustava a bolsa no ombro, pronta para sair. Algo dentro de mim se agitou. Não era apenas desejo, era a necessidade de ter ela para mim naquele instante, de fazê-la esquecer qualquer outra coisa que não fosse nós dois. — Já vai sair? — perguntei, minha voz rouca. Ela virou o rosto na minha direção, mas não respondeu. Apenas balançou a cabeça afirmativamente, sem ao menos me olhar nos olhos. Isso foi o suficiente para me fazer atravessar a sala em poucos passos. Quando cheguei perto, segurei sua cintura com
Anny Celik A luz da manhã invadia a sala, revelando o caos ao nosso redor. Minhas roupas estavam espalhadas pelo chão, um lembrete gritante da intensidade do que havia acontecido. Suspirei, tentando recompor meus pensamentos, mas era impossível ignorar a presença dele ao meu lado, seus olhos me observando como se eu fosse a única coisa que importava naquele momento. — Eu preciso trabalhar, Miguel. — Minha voz saiu suave, mas firme. Ele me olhou com aquela mistura de autoridade e desejo que sempre me fazia estremecer. Mesmo assim, ele se afastou um pouco, permitindo que eu me levantasse. Enquanto pegava minhas roupas e as vestia apressadamente, senti seu olhar me acompanhando. — Não acha que poderia tirar o dia de folga? — ele provocou, cruzando os braços enquanto me observava. — Nem pense nisso — respondi, olhando por cima do ombro. — Tenho pessoas esperando por mim. Ele riu baixo, aquele som grave que sempre fazia meu coração acelerar, mas se levantou e começou a se vesti
Miguel YlmazSaí do hospital ainda com o gosto dos lábios de Anny nos meus. Ela era meu ponto fraco e minha maior força, mas também o motivo pelo qual eu não poderia relaxar. Não quando o mundo ao meu redor parecia conspirar para me derrubar. Entrei no carro e, com um aceno rápido para meu motorista, seguimos para a empresa. O caminho foi silencioso, minha mente presa em pensamentos. A presença de James, aquele médico desgraçado, ainda martelava na minha cabeça. Mas isso era o de menos. O verdadeiro problema estava no passado que eu tentava enterrar, mas que insistia em voltar à superfície. Ao chegar à empresa, mal tive tempo de entrar na minha sala quando um dos meus seguranças apareceu com um pacote. — Isso chegou agora, senhor. Peguei o envelope, notando imediatamente que não era um simples recado. Meu nome estava escrito em letras grandes e firmes, mas era o perfume que o acompanhava que fez meu estômago revirar. Diana. Abri o pacote com cuidado, revelando algumas fotos
Miguel Ylmaz Eu sabia que Diana falaria. Ela sempre falava, quando pressionada do jeito certo. O problema nunca era conseguir a informação dela, mas sim separar a verdade das mentiras. E, naquele momento, minha paciência era tão fina quanto a linha entre o medo e o desespero que brilhava nos olhos dela. — Fala, Diana. — Pressionei a arma contra sua testa, sem tremer. — Se eu tiver que perguntar de novo, vai doer. Ela respirou fundo, fechando os olhos por um segundo. Quando os abriu, algo em sua expressão havia mudado. Resignação. — Kemal está movendo tudo de novo, Miguel. — Sua voz estava baixa, quase um sussurro. — Ele acredita que você tem o arquivo completo do caso Canavar, aquele que conecta ele ao tráfico internacional. — Continue. — Minha voz era dura, mas interiormente eu já começava a conectar as peças. — Ele quer destruir você. Não só profissionalmente, mas pessoalmente também. Ele quer... ele quer Anny. Meu coração parou por um segundo, mas meu rosto permaneceu