BARRY O'CONELL O celular que vibra em cima da mesa de madeira rodeada de papéis rouba minha atenção por um instante. Penso em ignorar e continuar minha atenção no trabalho, mas acabo cedendo, felizmente, vejo que se trata de uma notificação de Angelina, e ao abrir meu sorriso pequeno se torna grande. É uma foto dela em seu quarto usando um macacão jeans em meio alguns jornais no chão que usa para proteger o piso da tinta que escorre da parede, ela está pintando de alguma cor como bege. O sorriso no rosto dela e os olhos fechados com os ombros encolhidos me trazem paz por notar que ela está feliz. Depois de tudo que aconteceu, eu soube que, mesmo que tenhamos decidido ficar juntos, ela precisava de espaço, e estou dando isso a ela. Achei que seria bem mais torturante do que está sendo realmente.[...]Trocar café por álcool é um hábito um pouco chato que ando criando durante a semana, e a este ponto depois de alguns vários copos, minha cabeça dói. Atendo o celular rapidamente quando
ANGELINA Limpo as mãos sujas de tinta em um pano enquanto pulo por cima das latas de tinta espalhadas pelo chão. Capturo o celular sobre a cômoda que toca com minha música favorita indicando que estou recebendo uma chamada, e logo vejo na tela que é Nadia a ligar.— Oi...- sorrio animada colocando o telefone entre meu ombro e ouvido. — Angel, achei que nunca mais falaria comigo, nem com nenhum de nós. Eu estava muito preocupada, desde que você se foi daquela forma, não tivemos mais notícias suas, não mandava e nem respondia nossas mensagens, nenhuma ligação ou sequer uma carta.— Desculpe, eu não queria que pensassem que só porque deixei Alessandro, vocês não importassem mais. Eu só precisava de tempo, sair daí daquela forma foi muito forte, eu precisava ficar distante de todos e me recuperar, fazer isso sozinha. E não ter contato com vocês ajudou com que desse certo. - admito. — Se eu falasse com você acabaria sabendo do Alessandro, do que a Lana e o Alexander falam de mim, a raiva
ANGELINA O'NEILLUM MÊS DEPOIS...Meia noite e já posso ver através da janela pelas cortinas abertas que ele me espera do lado de fora, piscando os faróis que quase me cegam ao bater no vidro. Sorrio animada, correndo para o lado de fora. O vento gelado bate em meu rosto e sopra meus cabelos enquanto continuo a correr por toda velocidade na direção do carro, passando pelo jardim iluminado pela lua cheia pálida. — New maserati? Este é o carro da vez? - pergunto fechando a porta ao meu lado quando me sento no banco. — Sabe que adoro os clássicos mas às vezes os mais modernos também me ganham. - Ele pisca para mim. Eu tenho uma lista com os meus carros favoritos da coleção de Barry: Thunderbird V8 1955, Mustang classic preto, Jaguar F-type, RAM 2500 e a Silverado.— Tinha que ser preto? Eu gosto da versão vermelha deste carro.— Vermelho é uma ótima cor mas não para carros, quer dizer, não os meus... - Seu olhar pousa em meus lábios pintados de vermelho pelo batom. Eu sei o quanto B
ALESSANDRO PETROV — Então vai ser assim? Vai morrer aos poucos, definhando a cada dia que passa. Já se passaram cinco meses! - Mesmo de costas para meu pai, consigo ver sua indignação, consigo sentir ela pairar no ar e penetrar em minha pele. Eu não queria ser uma vergonha e nem uma decepção, mas estás coisas, essa situação, vai muito além da minha vontade.Cinco meses....eu jamais diria que só se passaram cinco meses, talvez cinco anos. Este inferno que tenho vivido parece estar se arrastando há tantos anos, são dias tão longos e vazios. Dias sem risos, sem abraços, sem os beijos e o cheiro de Angelina...Dias imaginando outro tendo tudo que me falta, tudo que um dia eu tive a força e mesmo assim não valorizei. — Eu já estou morto pai. - Digo olhando para a janela. Eu morri no dia que ela me deixou, e já cansei de dizer isso a todos. — Precisa continuar sua vida. Precisa voltar aos negócios, e de verdade, não apenas vir até aqui, encher a cara e passar os olhos nos pap
BARRY O'CONELL Bato no sofá para que ele suba, a bola de pelos cinzenta obedecendo ao gesto solta um miado e esfrega a cabeça em meu braço. — Angelina não virá essa semana, ela tem muito trabalho. - Sorrio o pegando no colo para fazer carinho. — O que significa que terá mais espaço para você e eu na cama. - suspiro. — Eu tenho gostado muito de estar com ela, sabe que é o que eu queria há muito tempo. E por mais que eu goste de segurança e estabilidade, que eu quisesse uma esposa e uma mãe para os meus filhos, admito que estar ficando livremente com ela é algo que me agrada, sentir que eu não estou a prendendo a mim como outro fez, sentir que tudo é por obrigação ou por pena. - suspiro. Ele me encara por segundos, me fazendo rir. — Você não é um bom ouvinte, tem muito julgamento em seu olhar. - Ergo as sobrancelhas. — É...vai ser difícil achar um substituto para Camila. Se lembra dela? Eu falei muito dela pra você. Ela sim era boa em me ouvir e aconselhar...e tinha ótimas piadas..
CAMILA VASILIEV Olho pela pequena janela vendo as nuvens ao longe pelo céu azul. Aqui de cima tudo parece tão fácil, tão lindo... Como eu não queria mais descer. — Aperte o sinto, senhorita. Já vamos pousar. - A aeromoça chama minha atenção. Sorrio assentindo de imediato. Aqui estou eu, onde nunca pensei que estaria... Irlanda! Com toda a tensão na Rússia, os roubos de cargas e a separação do meu chefe, esquecemos que acima de tudo isso está a Salazar... Que tem relações comerciais com a Mafia O'neill. As importações de bebidas não podem parar mas, com os roubos precisamos traçar uma nova estratégia de logistica. Se Angelina ainda estivesse na Rússia, eles resolveriam isso rapidamente mas como não há nenhum representante deles lá, tivemos que vir. E também... é a melhor forma de dizer a ela sobre o divórcio que ela terá que assinar assom que chegar, eu iria dizer por telefone quando liguei para o Barry a procura do contato dela, mas com está nova obrigação, a
ANGELINA O'NEILL Meu reflexo no espelho me condena, é visível que não dormi direito. Mais um dia, ao acordar, retiro a aliança de casamento e coloco na caixinha vermelha. É um hábito que adquiri o qual eu não consigo abrir mão, sempre que durmo sozinha, durmo com minha aliança de casamento, não só a minha como a de Alessandro que é larga demais para meus dedos.Passo a mão por meu corpo, arrumando o vestido e calço sandálias de tiras pretas, deixando meu cabelo solto. Respiro fundo ainda encarando meu reflexo. — Esteja pronta, Angel....porque hoje você pode ouvir a pior das notícias. - digo a mim mesma.[...]— Ela chegou...- Me levanto do lugar na mesa reservada para três no restaurante. Barry escolheu o melhor e mais caro de dublin, ele gosta de surpreender...e eu gosto muito da comida daqui, espero que Camila também gosta.Confesso que a presença dela me deixa um pouco nervosa, não só porque nosso último encontro foi um pouco mal compreendido, eu não queria pedir para ela se a
BARRY O'CONELL— Desculpem....eu tenho que ir. - Olha hesitante de nós para o celular em sua mão pedindo desculpas com o olhar. — Se importa de levar ela, Barry?— De forma alguma, não se preocupe Angelina. Se precisar de algo, me ligue. - Me levanto depois de fazer um gesto para que o garçom traga a conta, e ele faz que sim a cabeça. — Obrigada. -Exibe um sorriso fraco de agradecimento. — Até mais, Camila. - Se aproxima de Camila que se levanta da cadeira para dar dois beijos em seu rosto. — Até mais, Angel... Obrigada pela estadia. - As duas se abraçam por um instante antes de Angel acenar para nós e sair de vista as pressas, quase correndo, o que me faz franzir o cenho em dúvida e preocupação. Assim que o garçom volta com a conta, retiro o dinheiro da carteira e coloco na pasta da comanda, entregando a ele com uma alta gorjeta.— Obrigado, Senhor. Volte sempre. Sorrio sem mostrar os dentes e retiro a chave do carro do bolso, a segurando entre nos dedos enquanto conduzo Camila a