Abdul Zafar até então não tentou seduzir, paquerar, azarar, nada que se distanciasse e uma bela e rara amizade.
Providenciou tudo para o nosso embarque para Rabat. Eu ao lado daquele homem bonito, decidido e misterioso. Seus olhos estavam sempre captando tudo em torno de si. Abdul Zafar é o tipo de homem que toda mulher deseja ao seu lado. Sempre muito gentil, mas quase sempre com a aparência e um rosto sisudo: Eu o vejo como coiote selvagem sempre com os olhos que enxergam tudo a sua volta e destaca a sua presa antes de ela perceber. Abdul Zafar tem olhos de coiote selvagem e destemido. É assim que eu o vejo.
Ele embarcou com o figurino meio árabe, terno preto, gravata com o tecido caro e desenhos assimétricos e na cabeça o turbante ou kiffiyeh de tecido xadrez vermelho e branco. Não gosto muito de vê-lo pensativo e girando o grande anel no dedo repetidas vezes. Às vezes eu puxo conversa para interromper o seu habito de girar o anel sem cessar de um lado para outro, indo e voltando.
-O que foi? Esta com medo? Arrependida, talvez? Avaliz está desconfortável com a nossa viagem? Abdul Zafar fala tocando a mão de Avaliz.
-Não... Está tudo bem. É que é tudo novo... É isso. É uma nova experiência. Avaliz responde olhando para aqueles olhos de coiote selvagem e logo se perdeu novamente em seus pensamentos. “O meu coração disparou.” Por um segundo imaginei a pata enorme de um coiote por cima de mão. Por uns poucos segundos me senti a sua presa. Será que coiotes hipnotizam suas presas com os seus olhos? É melhor eu Avaliz parar com isso. Não dá! Olho para o rosto dele, para os seus olhos e vejo nele um coiote selvagem e destemido.
-Quer alguma coisa? Algo para beber? Vou pedir para a aeromoça. Abdul fala para Avaliz que sorri e responde.
-O que você pedir para você eu acompanho.
-Está bem. Vou lhe apresentar um lanche árabe, leve, saboroso acompanhado de chá de hortelã. Você vai gostar.
-Sim. Adoro a culinária árabe.
-Você vai gostar de meu irmão Hafiz. Ele está ansioso para conhecê-la. Todos de minha família esta a esperar Avaliz. Abdul fala e desvia seus olhos de coiote dos olhos de Avaliz.
E assim a longa viagem terminou. No aeroporto de Rabat Abdul procurava alguém entre a multidão com os seus olhos de coiote logo encontrou e fez sinal com a mão. Vieram homens com vestes longas e o kiffieh ou turbante na cabeça e carregaram rápido nossas bagagens para um belo carro. Abdul os aguardavam abrir a porta do carro para ele. Fui impedida por ele de abrir a porta do carro e entrar.
-Espere, meus serviçais vão abrir para nós. Sempre que estiver com eles deixa-os cumprir as suas obrigações. Ao contrario sentirão ofendidos. Abdul explicou e depois se comunicou com os homens em árabe. Os mesmos abriram as portas do carro para nós e se curvaram enquanto estávamos a nos acomodar.
-Sim, está bem. Mas vou deixa-los abrir a porta somente porque ficarão ofendidos. Não é o meu costume. Avaliz fala um pouco constrangida.
-É muito bem vinda aqui brasileira Avaliz. Mas para o seu próprio bem não ande nas ruas com as suas ‘mini’ roupas como no Brasil. Não precisa se cobrir toda. Use algo que não ofenda o nosso decoro e nem o seu.
-O que são ‘mini roupas’ para você? Avaliz questiona.
-Mini shorts, mini blusas, mini saias, mini vestidos... E usará para cuidar de meu irmão um ‘jaleco’ branco. Afinal será a enfermeira dele. Abdul responde e logo se comunica em árabe com os homens sentados na frente do carro. O que estava ao volante respondeu também em árabe.
-Claro. Eu sou a enfermeira...
-Chegando a nossa casa eu a apresentarei a todos. Incluindo o doutor Faisal Hanza, você vai precisar de suas instruções. E amanhã fará exames clinico e assinaremos o contrato de trabalho. Afinal eu estou lhe contratando.
Avaliz percebeu nesse instante que para o homem com olhos de coiote amizade não se mistura com trabalho. “Eu Avaliz me assustei um pouco.”
Avaliz estava em silencio enquanto Abdul girava o seu grande anel azul para a esquerda e para a direita repetidas vezes. “Isso é irritante.” Pensa Avaliz.
O carro parou na frente de uma enorme casa muito parecida com aquelas de filmes em que após entrar no terreno se percorre um bocado de estrada entre arvores e flores para chegar até o grande “palacete”. Enquanto os homens abriam as portas do carro e descia todas as malas o silêncio foi quebrado.
-Desculpe Abdul.Eu vou fazer exames médicos para...
-Sim. Hafiz está muito debilitado e não pode contrair nem se quer um resfriado. Eu é que peço desculpas. Eu sei que é uma jovem muito saudável. Mas não podemos correr o risco. Abdul explica.
-Entendo. Avaliz responde.
Os homens abriram uma grande porta e lá estava seu pai o velho árabe Hassan Zafar, suas esposas e as irmãs de Abdul. Havia também uma grande quantidade de travessas com salgados árabes, frutas e copos de chás numa mesa baixa, porém, enorme.
Todos abraçavam Abdul que correspondia.
“Nossa, esqueceram-se de mim.” Avaliz pensou e Abdul apontou para ela e logo todos passaram a cumprimenta-la. As mulheres cochichavam olhando para as suas roupas. O que não a incomodou. “Afinal não estou aqui para um desfile”. Pensou.
-Onde está Hafiz? Avaliz perguntou.
-Ele está no seu quarto. Quarto que será o local onde você passará parte de seu tempo. O quarto da frente foi preparado para você deixar seus pertences, roupas, sapatos, enfim para se banhar e trocar de roupas. Mas você como enfermeira dormirá no quarto de Hafiz. Abdul responde passando o braço nos ombros de Avaliz e completa:
-Venha sente-se aqui vamos degustar essas maravilhas e logo eu vou levar você até Hafiz.
Todos sentaram se no chão e todos pegavam a comida com a mão. Falavam árabe e Abdul traduzia.
-Vamos... Eu quero conhecer o meu paciente. Avaliz pede para Abdul se levantando.
-Claro. Abdul se levanta e os dois caminham rumo a uma escada depois de percorrer um extenso corredor com portas de um lado e outro. Abdul para e fala:
-É aqui o quarto de Hafiz. E esse aqui em frente é onde estão os seus pertences. Abdul dá duas batidas de leve e abre a porta.
-Hafiz! Meu irmão olha quem eu trouxe!
-Abdul! Meu irmão! Abdul abraça o irmão que está sentado na cama, coberto até a cintura. Se não fosse os cabelos e a barba por fazer e a pele pálida por causa da insuficiência cardíaca diria que ali estava um homem jovem e muito bonito.
-Essa jovem muito bonita aqui é Avaliz. Ela veio para cuidar de você.
-É mesmo muito bonita. Hafiz fala estendendo a mão para Avaliz que comovida com o estado de saúde e a aparência de Hafiz caminha até ele e lhe dá beijos na face.
-Muito prazer Hafiz. Sou Avaliz. Hafiz fitou a nos olhos enquanto Abdul com os seus olhos de coiote selvagem os observava.
-Avaliz é nome de anjo. Como vê eu preciso e muito de cuidados. Hafiz um homem muito frágil diferente de Abdul, alto, viril com muita saúde e de olhos espertos quase implora por cuidados e parece carente.
O quarto de Hafiz com as cortinas fechadas, com cheiro forte de medicamentos também precisa de um ‘toque’ de vida que logo Avaliz como uma fada ou anjo começou a transformá-lo.
-Eu vou deixa-los. Estou meio cansado. Amanhã reuniremos com o doutor Faisal e apresentaremos a ele Avaliz. Abdul fala, beija a testa de Hafiz, para, pensa, levanta os olhos de coiote, caminha até Avaliz e a beija também na testa.
Ela ficou parada e pensou: “Me senti como uma presa indefesa e fácil e eu o vi como um coiote vindo em minha direção. Gelei.”
-Então Hafiz, vamos abrir um pouco as cortinas. E eu vou levar você até o banheiro, pois observo que precisa fazer cabelo, barba e eu não aceito ‘não’ como resposta. Avaliz fala com ternura e rápido busca uma cadeira de rodas e ajuda Hafiz a se sentar nela.
No banheiro Avaliz enche a enorme banheira de agua e óleos perfumados enquanto corta os cabelos e faz a barba de Hafiz. Ela pega um espelho e posiciona na frente dele.
-Nossa! Eu estava mesmo precisando. Mas... É... Você vai me dar banho? Hafiz questiona olhando para Avaliz.
-Sim. E como enfermeira não tem nada aí que eu não conheço. Fique despreocupado. Vamos tirar essa bata...
-Essa roupa se chama ‘thoub’. E é uma peça única... Não tenho nada por baixo. Hafiz fala enquanto Avaliz retira a bata branca dele.
-Vem a agua está ótima. Ela o ajuda a entrar na banheira e com carinho lava seus cabelos, suas costas. Ela trata Hafiz como uma criança. Depois seca o com uma enorme toalha bordada, o veste com o ‘thoub’ ou grande bata branca e o leva todo de cabelo penteado para a cama. Avaliz cobre Hafiz até a cintura e ele só a observa, só olha o rosto de Avaliz.
-Você está bem? Eu já vou dar uma conhecida nos seus medicamentos. Avaliz fala enquanto o acomoda nos travesseiros.
-Estou... Estou muito bem. Hafiz responde ainda olhando para Avaliz que olha para ele e pensa: “Nossa! ele é um homem muito bonito. Preciso conseguir um tempo para pesquisar no celular ou computador um meio de inscrevê-lo em todos os programas de transplante de coração. Preciso savá-lo!
-Não está com frio? Olhei nos seus medicamentos e vi que agora você toma esse aqui. Avaliz coloca o copo com agua como se cuidasse de um bebê.
-Esta bem. Vou pedir comida na cozinha. Você pega o telefone para eu fazer isso. Hafiz fala e completa: - O meu cardápio é sem ‘isso’ e sem ‘aquilo’, é só verduras e frutas. E o seu?
-eu o acompanho. Adoro verduras e frutas. Avaliz responde olhando uma pequena cama encostada na parede. “Deve ser a minha cama. Não muito confortável”.
-Olha, a cama ao lado não é macia porque as vezes é que um serviçal ou outro dorme aqui para me fazer companhia. Você pode dormir aqui do meu lado... Hafiz fala e abaixa a cabeça triste.
-Não... Está ótima! Não se preocupe. Avaliz fala e é interrompida.
-Avaliz pode dormir aqui do meu lado. Eu não vou fazer nada. Não tenho forças e nem vontade de fazer algo... Com mulher nenhuma... Às vezes eu acho que Alláh esta por aplicar-me um castigo por eu ter dormido algumas vezes com varias e belas mulheres numa só noite... E na mesma cama.
-Olhe aqui... Olhe para mim! Avaliz pega no rosto de Hafiz e completa: - Ninguém esta lhe castigando. E Deus ou Alláh vai nos ajudar a encontrar um coração bom para você. Não aceito você ficar triste assim. Avaliz fala com os lábios bem próximos dos lábios de Hafiz, olhando dentro dos olhos dele e continua: - Peça o nosso jantar, eu vou aqui no quarto da frente me trocar e após o jantar eu vou dormir aí sim, com você. Hafiz arregala os olhos e Avaliz completa: - Vou dormir junto de você como a sua enfermeira e amiga. Certo? Ela o beija na testa e caminha rumo à porta.
Meia hora depois Avaliz estava de volta com roupa de dormir e usando um roupão por cima para cobrir a minúscula roupa de dormir. Ajudou Hafiz a fazer a sua refeição e junto dele também tomou a sua sopa de legumes.
- Você é tão meiga, é jovem, é bonita... Por que veio cuidar de mim? Cuidar de um doente? Não tem namorado? Alguém? Hafiz faz perguntas.
-Não tenho ninguém. Estava ocupada demais com os estudos. Sou recém-formada. Morava com uma tia no Brasil. Vou telefonar para ela amanhã. Avaliz completa: - E como aceitei o seu convite, chega um pouco para lá e aqui será o meu lugar. Avaliz fala deitando ao lado de Hafiz e o cobrindo também.
Ela o beija no rosto, apaga o abajur e fala: - Boa noite! E se sentir alguma coisa, qualquer coisa é para me chamar.
-Boa noite! Eu estou bem. Você esta me fazendo bem. O silencio foi quebrado.
-Avaliz! Esta dormindo?
-O que foi? Esta sentindo alguma coisa? Dor? Avaliz pergunta se virando para o lado de Hafiz.
-Não estou sentindo mal. Estou com frio. Pode me abraçar? Hafiz pergunta. Avaliz o abraça e os dois adormecem. O sono profundo impediu que ambos notassem a presença de um coiote selvagem que os observou por minutos no quarto e depois saiu com expressão de fera zangada no rosto e falando baixo pelos corredores.
-Amanhã preciso lembrar Hafiz os fins que a traz aqui. Ela é o seu anjo de sangue e nada mais. Nada mais!
O sol de Rabat tem o brilho cor de ouro. A manhã tem cheiro de flores. Hafiz é despertado por Avaliz que mede a sua pressão.
-Bom dia! Acordou cedo.
-Bom dia! Já preparei o seu café da manhã e antes você vai tomar um banho revigorante, Porque senhor Hafiz vai escrever uma ordem para os serviçais em idioma árabe e eles vão me auxiliar a levá-lo para passear no jardim. Eu só preciso que me ajudem com a cadeira de rodas nas escadas.
-Tanto tempo que eu não saio desse quarto. Não sinto vontade. Hafiz fala enquanto Avaliz retira as suas roupas e o veste com um roupão de saída de banho.
- É uma ordem de sua enfermeira. Um pouco de sol e o ar puro fazem muito bem. Avaliz coloca Hafiz dentro da banheira e esta distraída lavando a espuma das costas de Hafiz e Abdul Zafar entra.
-Bom dia Hafiz. Bom dia Avaliz.
-Bom dia meu irmão Abdul.
-Bom dia Abdul. Avaliz continua a banhar Hafiz apesar da presença de Abdul a incomodar.
-Ora, irmão Hafiz esta com a aparência ótima! Novo corte de cabelo, barba... Bem, mas se veste, pois papai e o doutor Faisal nos aguarda. Doutor Faisal vai colher sangue de Avaliz para exames de rotina. O velho Hassan veio lhe fazer uma visita. E Avaliz o seu contrato esta no móvel ao lado de sua cama aqui no quarto de Hafiz. Assine e me devolva uma cópia, por favor. Abdul fala ajudando o irmão a se levantar da banheira.
Avaliz meio constrangida seca o corpo de Hafiz e o ajuda a vestir com o thoub ou para ela a grande bata branca.
Sairam do banheiro.Abdul empurrou a cadeira de rodas com o irmão e Avaliz logo atrás.
-Bom dia doutor Faisal. Essa é Avaliz. Hafiz fala enquanto o velho Hassan beija a testa de Hafiz.
-Bom dia! Vejo que Avaliz lhe fez muito bem. O medico fala estendendo a mão para Avaliz e os dois falam ao mesmo tempo: - Muito prazer!
O medico examinou Hafiz colheu o sangue de Avaliz e a pediu que se retirasse uns instantes do quarto. Ela se retirou cabisbaixa e pensou: Não gostei nada desse doutor Faisal e tenho certeza que ele não gostou da minha pessoa.
Aproveitou foi até o seu quarto e falou com a tia no Brasil. Em seguida retornou para levar Hafiz para passear no Jardim. Ele apresentava preocupação no rosto.
-Vamos! Alegre-se! Descemos as escadas sem problemas e olhe as flores, o vento, sinta o perfume, escute os pássaros. Avaliz fala entregando para Hafiz uma pequena flor.
Ele dá um leve sorriso e fala: - A flor é delicada e meiga como você. Ele beija a flor e devolve para Avaliz que a coloca entre os seios. Nesse instante ela sentiu que era observada, levantou os olhos e lá no segundo andar, na sacada estava Abdul Zafar com o seu habito de girar o anel no dedo os observando com os seus olhos de coiote selvagem. Ela pensou: Daria tudo para desvendar o que passa na cabeça dele. Existe um mistério por trás de seus olhos. Será que coiotes são traiçoeiros? Abanou a mão para Abdul que simplesmente não corresponde e se afasta da sacada dando lhes as costas.
-Eu trouxe o meu celular para pesquisarmos juntos programas de inclusão e cadastros nas filas de espera para pessoas que aguardam transplante de coração. Vale tentar de tudo. Vou inscrever você em todos. Avaliz fala com brilho no olhar.
- Sim. Claro. Alláh é grande. Hafiz responde.
Ela empurra a cadeira de rodas de Hafiz para debaixo de uma arvore e senta-se num banco antigo ao seu lado. Enquanto ela acessa os sites Hafiz a observa com ternura nos olhos.
Hafiz Zafar está aparentemente melhor. Esta com a barba e cabelos cortados. Apesar de frágil e um pouco pálido seus olhos ainda têm vida e esperança que Avaliz trouxe. Ela e Hafiz estão sempre juntos, no quarto, no jardim, na sacada... -O que está fazendo? Hafiz pergunta olhando Avaliz se cobrindo na cama pequena. -Aqui é a minha cama. Aqui é a cama para a enfermeira. Avaliz responde e se cobre. -Não. Você sabe que é mais do que uma enfermeira. Hafiz questiona. -Tome o seu remédio que esta ao seu lado e se cobre. Hoje esta frio.Eu estou aqui. É tão perto. Avaliz explica. -Por favor! Hoje está frio.Venha! Por favor! Deite-se aqui. Eu estou implorando. Estou com frio. Hafiz continua. -É só você se cobrir e logo ficará aquecido. Vamos! Pare de se passar por criança mimada. Hafiz é um homem adulto. Qualquer coisa que você sentir é só me chamar. Avaliz fala com voz meiga e
O dia amanheceu agitado na grande casa dos Zafar. As esposas e filhas do senhor Hassan Zafar estavam agitadas, falavam e articulavam mãos e braços.Em língua árabe e falando rápido para Avaliz era somente um monte de mulheres estressadas e barulhentas. Após cuidar de Hafiz Zafar com todo carinho e acompanhá-lo no seu café da manhã a batida na porta seguida da entrada do velho Zafar, o medico doutor Faisal e Abdul Zafar girando o seu grande anel no dedo surpreendeu Avaliz e fez desaparecer o pouco brilho no pálido rosto de Hafiz. -Bom dia! Hafiz respondeu sem animo. -Senhorita Avaliz poderia nos dar licença por uns minutos. Doutor Faizal pede educado. -Sim. Avaliz beija o rosto de Hafiz e sente que ele abaixa a cabeça como se pairasse algo muito ruim no ar. Avaliz passa por aqueles homens que a olham com mistério nos olhos excetuando Abdul, os seus olhos de coiote também estavam sem o bril
O cheiro das manhãs em Rabat e o cheiro vindo da cozinha é inspirador e hoje o dia será bem agitado. Enquanto os cozinheiros cuidam dos salgados, doces e um belo bolo de aniversario para Hafiz as barulhentas e agitadas irmãs de Hafiz e de Abdul ajudam Avaliz na decoração da grande sala. Avaliz resolveu levar Hafiz até a sala para perguntar-lhe sobre o que ele preferia para a decoração se rosas vermelhas ou amarelas.
O amanhecer em Rabat não deixou de brilhar e exalar perfume de vida e esperança, mas a noite para Avaliz havia sido difícil. Hafiz havia sentido-se mal a noite toda e ela havia se esforçado para agir somente como enfermeira mas o seu coração agia sem razão e técnica uma vez que nele Hafiz Zafar não representava apenas um paciente. Avaliz tentava evitar que tudo se misturasse, tentou ser somente uma profissional da saúde, mas infelizmente o seu coração não entendeu sobre pesos e medidas. Para maiores complicações ainda tinha os olhos selvagens de Abdul Zafar que vez ou outra a perseguia no grande palacete da família Zafar. Isso incomodava, Avaliz sentia ser espiada sempre, chegando a olhar para os lados, pois, era hábito do coiote vigiá-la com os seus olhos de fera misteriosa. Às vezes se pegava arrependida de ter aceitado a proposta de Abdul Zafar de sair de seu paí
Avaliz esta trocando os medicamentos de Hafiz e a pensar que esta cada vez mais difícil permanecer junto do coiote que a insulta a todo o momento, suportar o olhar de censura do velho árabe Hassan Zafar e enfrentar com otimismo a frágil saúde de Hafiz. “Por mais que isso vai me doer e eu sei que vou me culpar por todo o resto de minha vida, mas o melhor que eu faço é voltar para o Brasil.”. -Uma flor por seus pensamentos. Hafiz entra em sua cadeira de rodas conduzido por Abdul e seus olhos de coiote. -Obrigada! É uma bela flor. Avaliz pega a flor sem muito entusiasmo. -Esta tudo bem com você? Hafiz pergunta preocupado. -Sim... Esta. Avaliz responde sendo ‘devorada’ viva por Abdul que esta com os seus olhos de coiote a
O sol do amanhecer em Rabat naquela manhã parecia diferente. O sol atrevido e radiante entrava pelas janelas do grande palacete dos Zafar. Desde que cheguei a Rabat o amanhecer de Marrocos desperta o dia com o sol mais alaranjado e radiante do que nos outros lugares do mundo, o cheiro, o canto dos pássaros e até as plantas saúdam esse amanhecer especial que se repete a cada final das noites onde a lua e as estrelas brilham tanto que parece sorrirem para o mundo. Eu não sei, mas curiosamente a cada dia que se aproxima da cirurgia de transplante do coração de Hafiz as manhãs de Rabat estão cinza, o sol não está tão alaranjado e tão pouco radiante. Eu tento deixar a enfermeira técnica agir, mas a ‘Avaliz mulher’ não deixa e me pego olhando para ele como se fosse a ultima vez. Coincidência ou não, mas até o jardim perdeu o seu colorido. Até o balançar das flores pelo o vento me lembra um adeus. Sempre clamo a Deus por Hafiz. E vejo a sua família clamar a Alláh por ele, tenho visto Abdul Zafar na sacada orando com os braços para o alto e em linguagem árabe.Capítulo 9 MANHÃS CINZAS
O amanhecer em Rabat perdeu o brilho. O canto alegre dos pássaros no jardim após a partida de Hafiz fere os ouvidos revelando profunda tristeza. As noites frias em Rabat se tornaram mais frias e mais negras e sem pressa de chegar ao fim para dar lugar ao dia. “Evito sair do meu quarto. Tudo no grande palácio da família Zafar lembra Hafiz, o cheiro de seu sabonete e de sua colônia... Vejo o seu rosto e o seu meigo sorriso todos os milésimos de segundos do dia. E se não bastasse a sua essência me perturbar durante o dia acordo a noite falando com Hafiz. É tudo tão real... Ouvir a sua voz gritando por mim na sacada... Surreal. Mas sem pensar, na esperança de vê-lo novamente saí correndo apenas de camisola e minha alma respondia ao seu chamado”. -Hafiz?! Estou indo! Avaliz responde subindo as escadas que levam a grande sacada.