Depois de uma conversa esclarecedora com Joshua, uma sensação de cansaço tomou conta de mim. Tudo o que eu mais queria naquele momento era voltar para casa. E é estranho como aquele apartamento, que antes parecia só um lugar temporário, ao lado do de Cassidy, havia se tornado minha casa. Sempre que precisava descansar, meu pensamento ia direto para lá. Era lá que eu me sentia em paz, onde podia deixar o mundo lá fora e me refugiar no silêncio do quartinho da minha filha. O tempo parecia passar mais devagar ali, como se o simples fato de estar naquele espaço me preenchesse de um jeito que eu não conseguia explicar. Então ao decidir o nome da minha filha, o pensamento foi direto: Eu preciso contar para Cassidy. Queria compartilhar aquele momento tão íntimo com ela, fazer parte disso de alguma forma. Mas o tempo parecia não colaborar, e eu passei a semana inteira tentando equilibrar o trabalho, os projetos e ainda encontrar um novo designer que atendesse todas as exigências. Mas, como
— O que achou desse modelo? — Perguntei ao mostrar a quarta imagem no tablet enquanto caminhávamos devagar. — Quase lá, Cassidy. Só falta aquele detalhe que o cliente pediu. — Ele me lembrou, a voz firme, mas sempre gentil. — E então, estará perfeito. — Tudo bem, eu te envio os arquivos hoje à noite. — Garanti, guardando o aparelho na bolsa. — Cass, você gostaria de trabalhar comigo? Caso os clientes gostem dos seus desenhos, você aceitaria fazer? — A pergunta foi simples, mas me pegou de surpresa. — Kai... — Franzi a testa — Eu não sei, eu sou melhor em criar roupas, mas... eu posso aceitar, não quero te deixar na mão. — Ei, isso nunca aconteceria, se não quiser, tudo bem. — Ele tocou meu rosto — O que vai fazer hoje à noite? — Bom, se tudo der certo, vou chegar em casa e descansar bastante. — Ri, tentando manter a leveza na conversa. — Por quê? — Oh, certo, não pensei nisso... — Murmurou mais para si mesmo. — Eu achei que a gente poderia... — Kai? — Chamei, confusa,
— Eu acho que não entendi, ou ouvi errado. — murmurei atônita, tentando processar o que acabei de ouvir. — Entendeu sim e ouviu muito bem. Eu quero você, Cassidy, quero que a gente fique junto. — A voz de Kai soava firme, mas havia uma ternura escondida ali. — Kai, eu acho isso tão... repentino? Antes, você não queria nenhum envolvimento emocional comigo. O que mudou? — perguntei, a cabeça fervilhando com lembranças de nossas conversas anteriores. — Tudo, Cassidy. Tudo mudou. Você está esperando uma filha minha, e a cada dia que passa o peso desse sentimento confuso que sentimos cresce ainda mais. Eu ainda não sei exatamente o que é, mas acho que podemos descobrir juntos. — Ele desviou o olhar, hesitante. — Eu... tentei sair com outras mulheres, mas nenhuma delas causou em mim o que você causou. Meu coração deu um salto, mas o medo ainda pairava. — Eu... não sei se fico feliz ou assustada. — confessei com uma risada nervosa. — Então, o que você acha? — perguntou, buscando
Deixei Cassidy no quarto e fui atrás de Michael. O encontrei sentado no sofá, o rosto sério e o olhar acusador. Ele me encarava de um jeito que parecia atravessar minha alma, quase me rasgando em pedaços. — Eu tinha dezessete anos quando ficamos amigos. — Ele começou, com um tom frio. — Você já era mais velho e virou uma espécie de irmão mais velho para mim. Eu era tímido, e você, com aquele jeito despojado, me ensinou tudo sobre mulheres. Como conquistar, como levar pra cama, como receber tudo delas, mas também, como me livrar delas depois — falou irônico. — Você me levou para festas, me mostrou um mundo que eu nunca tinha participado. — Ele balançou a cabeça, rindo em deboche. — Mas sabe o que eu vi, Kai? Você cercado de mulheres, trepava com quem escolhesse, às vezes mais de uma ao mesmo tempo. Você não ligava para o que diziam. Lembro que me disse que a vida era muito curta para viver com uma só. Ele respirou fundo, me encarando de um jeito que parecia buscar uma resposta que
— Tem certeza? — Joshua perguntou, com a voz firme, mas o olhar carregado de preocupação. — Não quero saber o que o papai te pediu ou o que você acha que deve fazer. Quero saber se você, no fundo, tem certeza. Ivan ficou no apartamento dos filhos, e Joshua e Olívia trouxeram as crianças para o meu. Como eu havia imaginado, ele só esperou todos dormirem para vir falar comigo. Joshua sempre foi o irmão mais velho responsável, cauteloso e com os pés no chão. Talvez por isso eu me sentisse tão confortável para desabafar com ele. — Tenho certeza — garanti, tentando esconder qualquer dúvida. Joshua respirou fundo, inclinando-se levemente sobre a bancada. — Kai, a família toda vê a Cassidy como uma de nós. Ela conquistou a nossa confiança e o nosso carinho, e você sabe que a mamãe é louca por ela. Se você fizer algo que a magoe, vai carregar um peso enorme. — Sua voz era calma, mas suas palavras tinham o peso de um aviso. — Você acha que eu não consigo cuidar delas? — perguntei, es
Papai conversou muito comigo na noite passada. Ele me aconselhou, me apoiou e, com suas palavras, me deixou segura para decidir sobre minha própria vida. Meu pai e meu irmão são, sem dúvida, as melhores pessoas que eu poderia desejar ter ao meu lado. Acordei com o aroma chamativo de café da manhã. Não precisei nem sair do quarto para saber que era meu pai fazendo suas receitas na cozinha. — Eu sabia! — ri ao entrar na cozinha e vê-lo ocupado com as panelas. — Bom dia, queridas. Venham comer! — ele chamou, animado, com um sorriso que aquecia qualquer coração. — Obrigada, papai. O cheiro está maravilhoso, e tenho certeza de que o sabor também está. Ele não decepcionou. Comi rápido, saboreando cada pedacinho daquele café delicioso. Mike estava ao meu lado, ainda mais calado do que de costume. Conversamos um pouco, mas eu sabia que algo o incomodava. Meu namoro. E ainda me sinto eufórica só de pensar nesse termo, nunca, jamais pensei em Kai como um cara que gostaria de namor
Finalmente. Eu ralei muito todos esses anos, e agora, estou me formando. Minha família estava ali, e só a presença deles conseguiu acalmar um pouco do turbilhão na minha mente. O momento que eu tanto esperei havia chegado. Enquanto fazia meu discurso, já que fui escolhida para falar por ser a aluna com a maior nota da turma, meu olhar se encontrou com o dele. Kai. Ele estava sentado ao lado de Joshua, e aquele sorriso... Era maior e mais sincero do que eu jamais imaginei que ele pudesse dar. —... E à minha família: meu pai, meus irmãos, Joshua... Eu amo todos vocês. Obrigada por estarem comigo até aqui. Vocês são meu alicerce na vida. De hoje em diante, serei uma profissional exemplar e farei jus a tudo que aprendi aqui e na vida... Quero dizer em nome da turma que... – continuei, tentando transmitir cada palavra com o coração. Os aplausos vieram, fortes e cheios de emoção. Quando finalizei, voltei ao meu lugar entre os alunos, aguardando o encerramento da cerimônia. Quando
— Não entendo, Kai. Você e Peter se odeiam desde que se conheceram — comentei, tentando soar casual. — Por quê?Eu estava há dias tentando arrancar qualquer coisa dele, uma confissão, uma explicação ou, ao menos, alguma pista do que se passava em sua cabeça. Desde aquele breve encontro no restaurante, Kai parecia mais... cauteloso. — Não tenho nada contra aquele garoto. Só acho que ele é petulante demais — respondeu, com claro desgosto na voz. Eu estava organizando a bolsa que levaria à maternidade para quando chegasse o dia de Rubi nascer. Optei pelo parto normal, e Kai apoiou, então estamos aguardando nossa garotinha a qualquer momento. — Ele não é um garoto. Se disser isso perto de qualquer fã dele, vai se dar mal — ri. — Ele é tão gentil e carismático. — Argh, preciso ouvir você elogiando seu ex-namorado? Sério? — Desculpe, eu só estava curiosa sobre essa rivalidade de vocês — dei de ombros. — Não é uma rivalidade. Só optei por não ter nenhum contato. — Sei — ri,