DESEJO SEM LIMITES
DESEJO SEM LIMITES
Por: J. M. SANT
Talvez

ANASTÁCIA

– O que foi Anastácia? – pergunta Fernando.

Limpo com o dorso da mão uma lágrima que não consigo reter.

– Vou te deixar, Fernando.

– Não! Você não vai... você é uma coitada Anastácia,  eu sustento você e duvido que seu pai queira você de volta em casa. Então, pare de encher o saco.

– Está brava só por que não venho cedo pra casa?

Um soluço escapa de minha boca.

– Eu nem sabia que você se importava tanto com essas coisas, e eu estava com meus amigos.

– Você só se importa com você mesmo, nem atenção ao seu filho você dá. Grito.

– Já pago a comida e o teto que vocês vivem... Não tenho que dar mais nada.

– Você só consegue dar isso mesmo. Nem as datas importantes você lembra.

Merda! Não me lembrei das data.

– Há dois meses atrás você esqueceu o meu aniversário...

Não sei o que dizer. Tenta se justificar só para evitar a briga.

– Assim que conseguir um trabalho vou embora. Aviso.

– Você quem sabe, mas duvido que consiga fazer agora sem mim. – diz sem emoção já seguindo para o quarto.

Ainda bem que tive alguns meses para processar minha nova vida, e o título fracassada não fazia parte do plano. A insônia era uma amiga, mas o medo parecia ter diminuído.. enquanto eu fingia que vivia como uma adulta responsável. Aos vinte e nove anos, ainda não tinha conseguido minha tão sonhada independência financeira.

Atualmente morava com o pai do meu filho de seis anos, logo após a confirmação da gravidez fomos morar juntos, ficou mais fácil sustenta-lo e educa-lo. Eu vivia um relacionamento sem graça e sem amor, mas não faltava nada para o Gabriel e isso me deixava feliz. Mesmo com o abuso psicológico e o desinteresse multou, ainda preferia ficar nessa situação pelo nosso filho. Usava toda minha força de vontade e recurso para conseguir minha sonhada vaga como professora, já fazia um ano de formada e não conseguia cimentar na área, fazendo trabalhos como freelance até conseguir o emprego real. Quebrava um galho como professor reforço, mas eu gostava do certo, gostava de ter rotina e focar na criação de um sistema de educação consistente. Não que eu já tivesse feito isso antes, mas era nas aulas de planejamento que minha dedicação transbordava. Formada em Pedagogia e Desenvolvimento de pessoal, a única experiência de trabalho que eu tinha era com atendimento ao cliente. Minha veia de liderança era quase nula. De acordo com o professor Raí, eu deveria ter sido inabilitada de colar grau, já que não tinha ido bem em nem um dos trabalhos que ele havia passado. Que me pedissem para planejar um semestre, mas não para abrir uma empresa. Eu era boa em cumprir ordens, não em as dar. Com a ajuda do conselho docente e por aquela ter sido a única matéria de prova final em que eu ficaria, os professores decidiram me passar. Tendo a nota máxima no meu TCC, nada me impediria de conseguir o meu diploma, nem aquele professor chato metido a intelectual. Ainda não tive sorte de ser aceita em uma boa escola. Sozinha, tenho me virado como possível. Todos os dias eu tinha indicação de que ninguém faria por mim, por mais próximos e solícitos que fossem qualquer ajuda. A segurança de ter quem me desse segurança e sustento, que indicasse a direção não existia. Eu me sentia uma intrusa na minha falsa casa, as cobranças para pagar o custo básicos, humilhações e depreciação emocional constantes, estavam me matando. Eu não dormia há muito tempo e, depois daquele acontecimentos, ficaria cada vez pior. Sem esperança de conseguir um trabalho em minha área, fui fazer uma entrevista para vaga de secretaria. Eu sei, nada a ver, mas é um trabalho, não é? Sai correndo com medo de perder a hora, já tinha deixado meu filho na escola e com a esperança de ter um salário, corri para o ponto de ônibus. Só não sabia que essa seria a última vez que faria esse caminho, que tudo é todos que conhecia não veria mais.

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