Céus de Fumaça
Céus de Fumaça
Por: Christyenne A.C.
PROLOGO

Tudo o que vemos ou parecemos,

Não passa de um sonho dentro de um sonho.

Edgar Allan Poe (Sonho Dentro de Um Sonho)

                                                            Catedral Embaixadora. Quinze anos atrás. 

A madeira rangia ao som áspero do vento acertando as vigas da casa. 

Os eucaliptos secos se enroscavam na madeira, produzindo rangidos ocos. A Catedral dos Embaixadores se encontrava totalmente às escuras naquela hora da madrugada, apenas uma sala permanecia iluminada.

Halleman descansou as mãos no encosto da cadeira, fechando os olhos com força. Há muito que o mundo dos bruxos havia se tornado um lugar perigoso demais para qualquer criatura viver. Com sua esposa desertada dos deveres do Pacto _viver na sombra dos humanos _, ele não sabia o que fazer para manter a descrição que por anos, havia garantido a sobrevivência da raça. Lady tinha planos tão obseletos e completamente macabros, que ele nem mesmo reconhecia mais a esposa _ex agora, graças a sua vontade maníaca de erradicar a raça humana da face da terra e desejos absurdos por soberania.

Prostrou-se diante da janela alta de madeira.

Uma névoa fina de outono se arrastava por entre as árvores, levantando-se do chão como fantasmas flamejantes.

Espreitou por entre a mata. Nada. Nenhum sinal de vida, mas ainda esperava más notícias. O mundo dos bruxos estava em guerra, e não havia nada que pudesse para-la agora. Mesmo sendo o supremo Líder do Pacto, ainda temia por sua nação como uma criança com medo. A última vez em que bruxos haviam tentado viver abertamente entre os humanos, havia resultado na caça as bruxas em Salém. A história jamais poderia se repetir. Não sem antes encontrarem o elo perdido, que teria o poder supremo da magia para protegê-los de toda e qualquer ameaça.

Lady estava atrás do elo também. Não havia como se enganar. E assim que o encontrasse, o futuro da humanidade estaria perdido.

Suspirou, chacoalhando a cabeça, uma enorme frustração fazendo seu peito inchar e seus olhos arderem.

_Não vou deixar isso acontecer...

Apesar de saber que sua determinação era enorme, sabia que isso não bastaria. As portas da sala mal iluminada se abriram, e ele conteve outro acesso de nervosismo. Sabia que o que iria ouvir agora não era bom. Sabia que alguma forma, suas esperanças estariam retraídas por um bom tempo se ouvisse o que achava que ouviria.

_Senhor? _ a voz de Jared ecoou fúnebre até ele.

Halleman não ousou se virar. O vento acertava a Catedral com força, ricochetando a copa das árvores e fazendo as vigas da construção ranger.

_Que notícias traz,Jared?

_Não se abale, meu mestre. Mas ele foi morto, Senhor.

_Quem foi morto?

_O Licam. _Jared respondeu ainda tomando ar, ofegando como se tivesse feito uma corrida para chegar até ali. Com um esgar, o coração de Halleman se apertou, mas ele não podia demonstrar fraqueza. Não agora. _Ele foi à caçada nos Alpes, como o Senhor havia ordenado, mas chegou lá ao mesmo tempo em que os Pactantes Negros. Eles estão no mesmo rastro que nós.

Não houve chance para ele...

Halleman balançou a cabeça com pesar. O que mais poderia fazer? Tomas Licam era sem dúvidas seu amigo mais velho. Batendo o manto que lhe descia pelos ombros e chegava aos pés, ele se virou para contemplar o semblante desesperado de Jared. Era ainda muito jovem, mas um dos bruxos no qual ele mais tinha confiança.

Seus ombros largos desciam e subiam numa velocidade alarmante. A capa negra estava surrada, e os cabelos dourados estavam molhados de suor.

_Sinto por ele como um pai sente pelo filho _Halleman o confortou, tentando conter sua mágoa. A esposa que tanto amara havia se transformado em um mostro _E como está a mulher de Tomas? E seus dois filhos? Como eles estão suportando isso?

_Sabe como é uma casa de luto, senhor.

Halleman caiu em seu assento, contemplando a face jovem de seu aliado. Cerrando o punho, ele começou a sentir a chegada de uma frustração e cansaço sem tamanho.

_Já chega de mortes. _ele bradou de repente, _Somos os Embaixadores, os que decidiram ficar com a causa certa. Nossa magia é maior que a deles. Vamos montar nossa elite para sair à procura do elo antes que eles encontrem-no! Se eles têm seu próprio exército, nós também devemos ter o nosso...

Jared arregalou seus enormes olhos prateados para ele.

_Mas como isso será feito, meu mestre?

Respirou fundo. Estava prestes a dar uma ordem suprema. A ordem que talvez os ajudasse como um ponto positivo na guerra, mesmo que estivesse sendo egoísta ao arriscar vidas daquela forma.

Encarou o aliado com determinação.

_De agora em diante, todo aquele que nascer bruxo, será levantado como um Apanhador de Encantados. Eles serão treinados e serão responsáveis a sair à procura do elo perdido e exterminar os Pactantes Negros, que por opção própria, desertaram desse grupo. A magia será usada a nosso favor, e não mais apenas para proteção.

_Sim, meu mestre.

Jared assentiu. Ajoelhou-se, ergueu o punho ao coração como um servo obedecendo às ordens do mestre _um costume muito antigo _, e se levantou, rumando para a saída. Mas antes que pudesse chegar à porta, a dúvida lhe ocorreu, o puxando para trás novamente:

_Meu Mestre?

_Sim, Jared?

_E quanto a sua filha? Ela ainda é muito pequena.

Halleman bufou, pensando na ex-esposa. Estava errado. Seu mundo não se tornara apenas perigoso, mas mortal. Meneou a cabeça.

_Quero ela fora de tudo isso. Ela nunca vai saber o que ela é.

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