Início / Fantasia / Céus de Fumaça / 4_ Maça Envenenada
4_ Maça Envenenada

  -Que m*****a porcaria é esta? _ Tossi confusa, tropeçando para fora do elevador quando ela me puxou pela camiseta.

_Bem Vinda à Maça Envenenada.

_Que droga de nome é este? Um maldito de um bar! _gaguejei enquanto meus olhos lacrimejavam, mal acostumados pela fumaça do cigarro que chegava num fluxo denso até mim.

_Vou procurar pelo Mitchel. Não se perca e nem arranje encrenca. Trate de se divertir um pouco, ok? Procuro você para voltarmos.

Neguei com a cabeça:

_Não, quero ir para casa AGORA! _mas Helena já não estava mais ali para me ouvir. Como um camaleão ela já havia se misturado a multidão e se camuflado a ponto de eu não saber mais qual rumo ela havia tomado.

Havia um enorme balcão de bebidas e um barman cheio de tatuagens na parede aos fundos do bar. Uma enorme mesa de sinuca tomava o centro dele, e várias mesas dePebolim e Caça Níqueis estavam espalhadas por todo o canto. Um rock barulhento vazava das caixas vindas de algum lugar, e o cheiro de bebida alcoólica ia ficando cada vez mais forte.

Tudo bem. Eu só precisava achar um lugar para dormir até a idiota da minha prima resolver ir para casa.

Um toque em meu ombro fez eu me virar. Um cara enorme e com os braços todos tatuado, vestido de preto e com os cabelos arrepiados sorriu para mim:

_E ai, gatinha? Que tal um pouco de diversão, hein? Puxei meu ombro, fazendo uma careta:

_Sai fora!

Cambaleei para o outro lado do bar, sem não ter ideia de para onde estava indo. Dei uma olhada nas pessoas ao meu redor. Roupas de couro, botas flamejantes de cano longo e salto, bicos de ferro, e muitos cintos, luvas e coisas parecidos. Era óbvio para qualquer um que olhasse que eu não era dali.

Droga, Helena...

Como aquela demente esperava que eu me divertisse? Mesmo que a morte de meu pai estivesse ainda muito recente, ela sabia desde pequena em como eu odiava festas, porque não era nenhum pé de valsa.

Talvez eu nem mesmo tivesse talento para nada neste mundo, não que não estivesse ligado a causar o mal às pessoas que eu amava. Não que eu amasse Stela, mas...

O barulho das bolas de bilhar estourou em meus tímpanos, misturados com o som alto estourando, vindo de uma das máquinas Caça Níqueis. Haviam pessoas bebendo, conversando e dançando ao meu redor, o cheiro de bebida e cigarro misturado com algo mais se desprendendo de cada uma delas. Eu nunca havia me sentido mais deslocada em toda a minha vida.

Imagens do Patinho Feio no ninho dos pintinhos me surgiram vívidas na cabeça.

Meus olhos varreram as paredes, a procura de um banheiro. Droga. Estávamos no subterrâneo... e aquilo nem tinha banheiro?

Procurei por um banco vago no balcão, que não estava tão cheio. Eu certamente não poderia dormir ali, mas pelo menos poderia ficar quieta no meu canto até que a depravada da prima que eu tinha desgrudasse da boca do tal de Mitchel e resolvesse ir embora. Não que eu achasse isso muito provável em um espaço tão curto de tempo.

Me sentei de costas pra balcão e cruzei os braços, com a cara enferruscada.

Eu podia estar em casa dormindo... e...

_O que vai beber moça? _ uma voz atrás de mim escorregou por meus ombros até chegar a meus ouvidos.

_Hum? _meu excelente senso de comunicação provou estar intacto mesmo com o sono

_Uh, beber? Ah, eu não vou beber, não... obrigada.

Quando viu meu rosto, sua testa se enrugou, e me senti ainda mais desconfortável no assento. Era o barman cheio de tatuagens e uma toalha pequena e desbotada jogado por cima de um dos ombros a mostra por causa da regata fina. Seus olhos prateados se estreitaram, como se ele estivesse em meio a uma dezena de pensamentos.

Ela passou a mão pelo queixo.

_Você não é daqui, é?

_Não. _baixei a cabeça para o tampo do balcão, só para notar que ele usava um anel negro no dedo indicador da mão direita.

Ele ainda me olhava com interesse mal disfarçado, como se estivesse matutando seriamente sobre o que fazia comigo. Uma ruiva pegajosa vestindo um espartilho da mesma cor que o cabelo e o exagerado batom dos lábios se sentou ao meu lado no balcão.

_Um mistura de espanhola _ela pediu sem nem me dar valor, e agradeci em silêncio quando o barman retirou seus olhos de mim para atender ao pedido.

As unhas pontudas da ruiva tamborilavam com insistência no tampo do balcão enquanto eu me perguntava para onde corria agora. Mas não tive tempo de mexer nem um único músculo sequer. Em um segundo, eu era apenas uma sombra, no próximo, era o centro das atenções da ruiva, que arqueou a cabeça para olhar bem no meu resto. Infelizmente, bem a tempo de eu descobrir que ela usava um anel preto no dedo indicador esquerdo, e um pentagrama da mesma cor desenhado em algum lugar perto de seu pulso vermelho.

_Hei! _ela protestou arqueando as sobrancelhas _Você...

_Aqui está sua bebida, Mona! _o barman sibilou a interrompendo, enquanto batia o copo cheio de um líquido meio arroxeado no balcão em sua frente, como se estivesse em uma taverna. Com tanta força, que pude jurar que um pouco de líquido jorrou para cima, e pareceu parar a centímetros do seu rosto por vontade própria.

Mona o olhou confusa, e algo na expressão do barman sugeria censura. Um cale a boca não dito.

Me afundei em meu assento. Qual era o problema daquela gente? Eram todos realmente mais estranhos do que eu julgara a princípio ou eu estava apenas mais deslocada e não lúcida que de costume?

_Sid? _a garota chamada Mona pediu em um tom estranho, mais confusa ainda do que eu.

Sem mais, dentre todas as tatuagens do ombro do barman chamado Sid, pude distinguir um pentagrama parecido com o da ruiva. Parecia estar camuflado pelo resto de suas tatuagens ao fundo, mas quando eu olhei, o pentagrama pareceu saltar em minha direção,

tão visível quanto às pessoas naquele lugar. Que droga agora. Tenho que sair daqui. Helena pode voltar sozinha para casa, se quiser...

Me levantei rapidamente, torcendo para que conseguisse chegar mais rápido do que desejava até o elevador, de cabeça baixa para que ninguém visse minha expressão e calculando mentalmente meu plano. Iria esperar Helena na parte de fora, que fosse, por que eu não conhecia o caminho de volta.

Minhas pernas se moveram com determinação em direção as portas cinzentas do elevador, mas antes que eu pudesse chegar a elas, tropecei em alguém, e um líquido frio desceu por entre meus seios e meu peito.

_Hei! _a pessoa gritou.

_Inferno... _ralhei me jogando para trás, contemplando a cerveja que escorria por minha camiseta a tornava transparente.

Levantei os olhos, irritada. Havia um garoto me observando preocupado a minha frente, com a mão ainda levantada, os dedos brancos parados, como se ainda segurasse a garrafa de cerveja agora caída no chão.

Ele imediatamente foi atraido pela visão de meus seios a mostra por baixo da camisa agora transparente, e seu interesse por essa área em espcifico foi obvia. Mas quando seus olhos se ergueram para os meus, suas sobrancelhas se levantaram, e houve um vestígio de reconhecimento em seus olhos prateados, semelhante à cor de um cristal derretido. O nariz fino suavizava as feições de sua boca redonda e fina, e o rosto levemente quadrado. Mas o mais impressionante era o cabelo, tão claro que chegava a ter um tom branco acinzentado, descia liso até a altura de seu maxilar, mas estavam jogados para trás de uma forma extremamente sexy, arrepiados, desgrenhados, como se o garoto tivesse saltado das páginas de um Animê. Apenas uma enorme franja lisa contornava seu rosto pálido.

A única disfunção eram seus cílios. Tão negros e espessos, que eu poderia jurar que estavam cobertos por uma grossa camada de delineador. Pisquei ao perceber que estava errada. Meu queixo caiu, meus lábios se separando involuntariamente numa careta bizarra. Isso é impossível! Não existem pessoas tão bonitas assim!

Ele cambaleou para trás, o misto de algo se retorcendo dentro de seus olhos prata, que balançaram minha mente de um lado para o outro. Um tipo estranho de cinto em forma de X de couro cruzava seu peito, onde um broche em forma da cabeça de um lobo com uma aljava na boca brilhava sob as luzes opacas do bar, por cima de sua blusa negra de gola alta aberta até o peito. Como um uniforme estranho...

Só então percebi que eu também estava recuando, mas minhas costas bateram em outra pessoa. Me virei aturdida, dando de cara com a ruiva chamada Mona, que me olhava feio com as mãos na cintura. Algo em seus olhos claros denotava perigo.

Cara, diga alguma coisa inteligente...

Maravilha. Eu parecia estar terminantemente encrencada e nem mesmo sabia porquê. Olhei da ruiva para o garoto a minha esquerda. Um furor parecia ter tomado conta de seus olhos profundos, e ele tinha os punhos cerrados. Apenas quando ele virou a cabeça na direção oposta, notei o enorme pentagrama negro tatuado na parte de trás de seu pescoço branco. Seus cabelos bagunçados se movendo junto com ele.

_Ei, deixem a garota me paz.

Virei-me a tempo de ver um trio de preto chegando, apenas por uma falha da produção: o vestido berinjela da vamp da minha prima. Ótimo, que merda era aquela agora? Uma gangue? Uma banda?Uma convenção gótica de manes?

Ela estava enroscada a um moreno claro com roupas parecidas com as do garoto a minha esquerda e mais os outros dois garotos atrás deles. O moreno tinha o pentagrama desenhado no maxilar, abaixo da mandíbula. Ele também tinha os olhos claros, mas menos profundos e menos bonitos. Aquele devia ser o Mitchel. E ele havia sido o dono da frase. Estava com uma garrafa de cerveja na mão livre.

_Deixe ela, oras...

Os olhos de Helena encontraram os meus, e havia receio neles, como se pedissem desculpas silenciosamente.

Me surpreendendo, ela se desvencilhou de Mitchel, me pegando pelo braço.

_Já está tarde gente. Vou levar Perséphone para casa. _ela disse me puxando as cegas para as portas do elevador a poucos passos de nós.

_Helena! _uma voz feminina ralhou, e eu podia ter certeza de que era Mona mais uma vez. _O que você está fazendo, hein?

_Deixe de ser boba. Temos horário para chegar a casa, sabia? _Helena a ignorou. Antes que eu me desse conta de qualquer outra coisa, estávamos dentro do elevador,

sozinhas e subindo. Tentei, em vão, secar a cerveja de minha camiseta. Droga. O que vovó Stela diria se me visse daquele jeito? Que eu era uma alcoólatra? Suspirei cansada enquanto Helena permanecia impassível a minha frente, com os braços cruzados e ainda bufando.

_Qual o problema dessa gente? _perguntei mais alto que o necessário _Quem eram? E o que eles têm comigo, afinal de contas? O que eu fiz agora?

Ela não respondeu, apenas fungou, balançando a cabeça.

_Você vai me respondeu ou não?

_Eu não devia ter trazido você... _ela deu ombros, mas eu a encarei com meu olhar mais inquisitivo, arqueando uma sobrancelha _Eles só não gostam de gente nova, tá legal? Ainda mais gente nova vestida desse jeito...

_E você espera mesmo que eu acredite nessa droga de desculpa? Ela se virou totalmente para mim, com a cara feia novamente:

_Espero, porque essa é a única verdade. Agora pare de encher meu saco por que você já estragou o suficiente de minha noite para que eu durma muito mal e quase me arrependa de ter saído de casa, ok?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo