Meus olhos se abriram. Inspirei uma quantia modesta de oxigênio que poderia alimentar um país inteiro.
Analisei a distribuição irregular a minha volta. Aos poucos, o quarto começou a tomar forma diante de meus olhos. Eu estava em casa, ou pelo menos, até o ponto em que eu poderia dizer que aquilo era um lar, com torradas no café da manhã e piqueniques no fim de semana.
Me sentei na cama, levando a mão a nuca. O quarto estava vazio, a não ser pela minha presença. Por mais que ele estivesse da mesma forma que eu me lembrava, havia algo de estranho no ar. Parecia estranho não ser acordada por Helena.
Eu estava em casa, acordando _sozinha, _para mais um dia de aula. Completamente normal.
Então por que aquilo me parecia errado?
Minha mão ardeu, e rapidamente a trouxe de
Endireitei minha coluna, incapaz de ordenar meus pensamentos com clareza. Eu havia mesmo falado com uma aranha? Ou estivera dormindo por alguns segundos acidentalmente no meio da aula? Minha marca de nascença ainda latejava, piorando ainda mais minha dor de cabeça.Eu precisava de uma aspirina.Ou qualquer coisa boa o suficiente para espantar esquisitice. Rolei o lápis quebrado entre os dedos enquanto tentava concentrar minha mente. Meu pensamento estava enevoado demais para que pudesse raciocinar com clareza. Quando acordei para a razão novamente, Draco dava a turma orientação para O Trabalho em dupla. Franzi o cenho. Droga, eu nem mesmo havia ouvido sobre o que era para poder dar conta sozinha.Arqueei as sobrancelhas, subitamente me lembrando de Grei quando ele autorizou que as duplas se mexessem.Mas antes que eu pudesse dar um
_Se você continuar encolhida desse jeito até chegarmos, eu vou te dar um chute no traseiro _Helena ameaçava com seu indicador enquanto o carro de Mitchel, um Ford Evos preto, avançava os sinais vermelhos da Avenida principal do Rio em direção ao Ginásio da escola, cujo nome eu me esforçava, mas nunca conseguia me lembrar.Em alguns poucos minutos, ainda em casa, Helena me dera a notícia de que seu namorado viria nos buscar para a grande festa de Halowheen do ano. É desnecessário dizer que eu queria ficar trancada no quarto a sair com aquela coisa que Helena chamava de fantasia, que ela havia comprado para mim sem meu pleno consentimento. Quando lhe disse aquilo, ela soltou um “não é verdade. Você concordou.”. Mas quando a interroguei sobre esse suposto acordo, e quando ele decor
Ele estava em um canto das escadas do ginasio, seu cabelo cinza tão desgrenhado quanto eu me lembrava. Usava a mesma roupa da noite em que o vi pela primeira vez no Maça Envenenada, a única diferença, era uma capa preta que contornava seu corpo esbelto até o chão, e um par de botas que eu não me lembrava de já te-lo visto usando.Seu traje todo preto parecia colidir bruscamente com o cabelo cinza, os olhos prata e a pele branca. Ele mais parecia um deus sombrio do que um aluno comum. Mesmo em uma fantasia, era o que eu achava, ele parecia estar em roupas comuns. Aquilo combinava com ele. Era estranho. Era certo.Steyce tirou seus olhos de mim quando percebeu que eu o olhava de volta, se virando e sumindo na multidão.“A odeio de um modo devastador” _ suas palavras ecoaram cruas em minha mente.Eu n&
Quase não tive sucesso em achar uma cadeira na primeira fila. Eu estava estranhamente cansada e com certeza sem vontade alguma de assistir aquela peça.Mas de uma forma meio sombria, eu tinha medo que Helena cumprisse sua ameaça e fizesse comigo o que ela tinha dito que faria caso eu saísse dali sozinha. Por que algo me dizia que ela tinha como fazer isso. Que ela podia ser perigosa, mesmo que isso não fizesse o mínimo sentido para mim. Eu estava sentada ao lado de um grupo de meninas, do tipo que ficam falando coisas absurdas como “meu batom está muito forte”, “a ponta do meu sapato é muito fina”, ou “será que eu consigo um vampiro gato para me morder hoje?”.Quando a peça começou, as luzes do ginásio inteiro se apagaram. Cruzei as pernas dist
_Perséphone? _sua voz grave chegou até mim, ecoando no corredor. Mas ela estava estranha... escamosa, como se tivesse algo em sua garganta o impedindo de falar corretamente _Perséphone, é você?Recuei inconsciente, enquanto ele se aproximava com seus passos vagarosos, mesmo que ele me parecesse subitamente alto._O-o que você está fazendo aqui? _minha voz saiu num fino sopro, vazando de minha boca como um chio de um pneu furado.O observei dar de ombros, enquanto ele diminuía a distância entre nós._Achei que talvez você precisasse de ajuda... _ele disse, _você sabe. Eu vi você saindo sozinha da quadra. Vim ver se está tudo bem...Ele chegou mai perto, e eu já podia ver seu rosto. Era o rosto de Craig, porém havia algo de macabro nele. Algo que me fez querer gritar. A do
Pingos vermelhos estavam caindo no queixo dele, se misturando com a água neutra da chuva, criando algo semelhante a molho de tomate._Você está sangrando _foi a única coisa que ele disse, mirando minha testa com as sobrancelhas arqueadas.Seus olhos subiam e desciam por mim, horror se pronunciando sobre eles. Mas não era sobre o sangue. Era sobre como estavamos grudados naquele momento. E sobre o como isso parecia ser bom quando não deveria. Ruborizada, levei os dedos a minha testa. Minha cicatriz havia se aberto, liberando uma enorme quantidade de líquido quente por entre meus dedos. Ah, não. _pensei comigo, a vertigem chegando juntamente com o cheiro de sangue, _Agora não...As mãos de Steyce foram para meus quadris em algum momento em que sua razão o deixou, e uma sens
Cai de costas ao mesmo tempo em que mirava as portas estateladas do armário de Helena, esperando ver tudo, menos aquilo.Uma vassoura muito semelhante a de Mona havia dançado a minha frente, parando de repente e caindo no chão. Um grito agudo atravessou o quarto. Tapei a boca horrorizada ao perceber que era o meu. Chutei meus pés para todos os lados, na ânsia de me levantar. Corri para a porta do quarto e me vi correndo escadas a baixo. Mas não parei quando cheguei lá em baixo. Antes que pudesse impedir, desembestei para o quarto de vovó Stela, para informar que havia uma vassoura se movendo lá em cima, e se ela estava a par desse fato.Ranzinza ou não, ela precisava saber.Cai porta adentro quando fui bater, esperando que a ela estivesse trancada. Tonta, me sentei. Para a minha surpresa, o quarto estava muito mais que silencioso. Ele estava vazio. Uma
A noite em que acordei do acidente no hospital, tive a impressão de morrer e voltar de novo, regressando com um buraco oco dentro do peito quando lembrei que a culpa havia sido minha, por tudo.Mas dessa vez não.Ao invés de me sentir vazia, eu me sentia pesada, desuniforme. As coisas dentro de mim doíam, e uma dor lancinante descia da minha testa até a clavícula, e também em algum lugar da minha boca. Minhas pernas também doíam como se eu tivesse corrido dez quilômetros antes de desmaiar, e meus ossos pareciam ter sido removidos do corpo.Não consegui abrir os olhos quão logo acordei, com a vaga consciência de que estava deitada sobre algo macio.Havia vozes altas ressoando por algum lugar perto de mim, e peguei o que parecia ser um pedaço de uma discussão._Eu n&ati