Maryland, dias atuais
Ousei uma olhada por baixo dos cílios.
Por favor, não.
O tic tac do relógio na parede esquerda anunciava que se passavam das 9hrs da manhã. O silêncio na sala do Conselho de Menores de Maryland era tão profundo que eu podia ouvir o ar saindo e entrando em seus pulmões. Meu estômago doía reclamando da carência de um café da manhã descente, já que todas as minhas forças remanescentes haviam sido subjugadas, se esgotando profundamente nos últimos dias em forma de lamentos constantes. Minha vida imediatamente se tornara um pesadelo de uma hora para a outra.
O som desigual das teclas sendo apertadas flutuava ecoante até mim, vindo do único balcão que separava a sala pouco arejada ao meio, onde uma única mulher de óculos redondos fulminava concentrada a tela de um computador. A pequena caixa onde todo meu futuro seria decidido assim que rolassem todos os algoritmos.
Os ventiladores pendurados no teto se mostravam incapazes de arejar a sala tão apertada com as paredes um dia brancas cheias de manchas, parecendo-se com páginas tortas manchadas de gordura. O aroma de incenso cítrico temperava o ar com notas almiscadas de tensão. E elas emanavam de mim, para mim e por mim. Uma garota sozinha, cheia de medos e incertezas, cujo futuro incerto se encontrava depositado nas mãos de estranhos. Cujas possibilidades da nova vida que se apresentava a amedrontava até a medula. Flâmulas nauseantes que trabalhavam a favor do destino.
O condado de Montgomery intoxicava o ambiente com seu ar primaveril. Carregado de lembranças que eu daria tudo para esquecer.
Mas jamais conseguiria.
A alta comissionadora do Departamento de Crianças, Família e Aprendizados de Maryland me enviou um olhar de culpa, que só conseguiu fazer-me encolher ainda mais.
Oh não, por favor... tudo menos isso... tudo, menos isso..
Não que eu tivesse muitas opções nesse caso. Minha família não tinha parentes em Maryland, e tudo que eu podia fazer era esperar e tentar controlar o choro.
Ok, eu sou uma fodida garota durona!
Um esgar ao meu lado irrompeu no silêncio da sala, seguido de um leve farfalhar de seda deslizando sobre a pele. Girei a cabeça. Minha coordenadora, temporária _talvez agora mais que nunca _, se levantou. Seus cabelos claros se moveram quando seus saltos começaram a bater no chão lustroso e acinzentado. Ela se dirigiu ao balcão, pegando um punhado de folhas que a mulher dós óculos redondos lhe passara.
Eu poderia ter me esforçado para ouvir as poucas palavras que elas trocaram em tom baixo, mas minha hesitação me dizia que tudo aquilo era apenas o começo de um hediondo pesadelo.
Com o coração aos pulos, batendo com força contra as costelas já doloridas, observei-a despedir-se e girar sobre os calcanhares, seguindo em minha direção. Quando chegou perto de mim, um sorriso doce se formou em seu rosto suave:
_Conroe.
Oh, não, Conroe não! _pensei com meus botões enquanto piscava diante da possibilidade.
Só havia uma casa em Conroe para a qual eu poderia ir. Magnolia Lake. A casa de vovó Stela e vovô Brutus, dois velhos ranzinzas e burocratas _que me odiavam. O que eu fiz de tão mal para merecer isto?
Levantei-me com esforço quando minha coordenadora se virou para a saída, sentindo meu corpo pesar mais que o normal. Joguei a mochila nas costas e me esforcei para seguir suas passadas ritmadas e barulhentas. O sol de verão da manhã amarelada de quarta feira me acertou quando saí do conselho, e tive que apertar os olhos por causa da claridade.
Ultimamente, o mundo não me parecia mais o mesmo. Tudo que eu conhecera um dia agora me parecia... errado.
Parei quando ela também parou perto do meio fio, a frente de um Fiat velho com as portas descascadas, bem onde um dia a insígnia do Conselho de Menores de Maryland fora adesivado uma vez.
O trânsito já estava em pleno funcionamento, e me perguntei qual seria a próxima vez que eu veria aquilo novamente.
_É isso, Perséphone. _ela sorriu pondo a mão em meu ombro _Esse carro irá levá-la até o aeroporto. Suas malas já estão nele, e de lá, você seguirá voo para a casa de seus avós.
Reprimi um gemido, mas ela acabou percebendo.
_Tudo bem. Você vai gostar de Conroe. Não se sinta mal... sua vida não acaba por aqui.
Não consegui lhe devolver a piscadela quando ela abriu a porta de trás. Ao invés disso, cambaleei para dentro, sabendo que minha vida nunca mais seria a mesma. E por minha própria culpa. Imagens retorcidas do acontecimento que havia posto um fim em minha vida como eu a conhecia ameaçaram invadir minha mente, e meus olhos começaram a lacrimejar. Balancei a cabeça, tentando expulsar a culpa que me seguiria pelo resto da vida.
Eu costumava cantar quando minha frustração atingia o ponto máximo. Papai adorava me ouvir cantar, assim como todas as outras pessoas que me ouviam.
Elas diziam que era como uma terapia. Todos os receios pareciam se esvair de mim como ondas calmas se evaporando com a chegada do calor. Mas agora, eu sentia minha garganta áspera, completamente incapaz de expelir uma única nota sequer. De repente, eu sabia.
Jamais cantaria de novo.
Me afundei no assento. A ideia de estar dentro de um carro ainda era muito desconfortável para mim depois de tudo que havia acontecido. O acidente ainda estava muito recente, e as sensações do momento também.
Quando suspirei novamente, o carro já estava saindo da vaga. Mechi no bolso da frente de minha mochila, e retirei meu iPhod de lá. Mas assim que coloquei os fones, dei uma olhada na lista salva que eu tinha no aparelho. Músicas do tempo em que eu era feliz. Do tempo em que eu e papai saíamos para comer pizza nos fins de semana em um barzinho perto de casa, quando jogávamos beisebol juntos no quintal de casa, e quando minha madrasta nos fazia biscoitos de avelã. Mas aquilo estava acabado para sempre.
Sentindo meu peito se comprimir, abri a janela, e arremessei o aparelho branco e cheio de adesivos das Meninas Superpoderosas para fora.
Quando fechei a janela novamente, o motorista me observava pelo espelho retrovisor. Depois de um dar de ombros, seu olhar me disse algo como Sinto Muito. Baixei os olhos antes que ele verbalizasse seus pensamentos. Eu já estava farta de ouvir aquilo. Não precisava ouvir mais uma vez.
Ajeitando-me melhor no assento, puxei o capuz para frente do rosto, deitando a cabeça no encosto do banco. Não havia nada que pudesse retirar minha apreensão. Antes que me desse conta, eu já não estava mais pensando em nada.
Acordei com o solavanco do carro ao frear, batendo a cabeça nos vidros da minha janela fechada. Ai! _Ai! _oficializei a reclamação, olhando ao redor e percebendo que já estávamos no aeroporto. Quando já estava completamente lúcida, dei com o motorista do outro lado do carro, mantendo a porta aberta para mim e me olhando com um olhar que claramente dizia Vai sair logo dessa droga ou não?
Saí do carro ainda tonta, e segui o motorista que levava minhas malas até o chek-in. Esperei pela especificação e segui com ele até a área de embarque.
_Aqui está sua passagem. _ele disse com pressa, me entregando um bilhete branco e apontando para o avião na pista _Este é seu voo. Quando chegar a Conroe, outro automóvel se responsabilizará a levá-la até a casa de seus avós.
Apenas assenti, o observando partir. Não sei por quanto tempo fiquei parada daquela forma, mas quando me movi, girei sobre os calcanhares a contra gosto, rumando para a porta de entrada do avião, que já dava seus avisos finais. Depois de entregar o bilhete ao guarda na porta, me sentei no primeiro banco vago que vi, longe o suficiente de outras pessoas. Se eu tivesse um acesso de soluços, não queria ter plateia para ver isso. Me ajeitei no assento, tentando me acostumar à ideia de não ter mais o controle sobre minha vida.
Olhei ao meu redor, unindo as sobrancelhas no centro da testa. Aquela seria uma longa viagem.
*
*
*
Um forte solavanco desigual me tirou de meus pesadelos, onde eu revivia os momentos da pior noite da minha vida. Minhas costas e meu pescoço estavam doloridos por causa da posição em que eu me encontrava, e meus dedos das mãos estavam dormentes.
Abri os olhos. Havia um veludo negro a poucos centímetros de meus olhos. Franzi o cenho. Era o ombro de alguém. Quando levantei os olhos, dei com o olhar de uma senhora, me fitando com curiosidade. Corada, me mexi no assento, me ajeitando imediatamente. Gemi de dor ao tentar fazer meus músculos trabalharem novamente. Aquilo era muito desconfortável.
Havia uma senhora ao meu lado. Mesmo que seu rosto nem de longe me parecesse ser velho, havia algo de obsoleto em seus olhos de um verde profundo, que denotavam mais experiência que aparentavam. Seus cabelos completamente brancos chegavam até a mandíbula, e contornavam seu rosto magro e desprovido de rugas.
_Essa é sua primeira vez, querida? _sua voz agradável chegou até mim.
Por seus gestos, percebi que ela estava se referindo a viagem. A encarei, chacoalhando a cabeça em concordância.
Mesmo que eu tivesse certeza de nunca tê-la visto antes, havia algo em suas feições que me cheirava a familiaridade. Suas roupas escuras eram leves, e lhe davam um ar mais jovial. As unhas grandes e bem feitas eram pontudas, mas bonitas... atrativas. Duas pérolas estavam penduradas em suas orelhas, e um bonito e pesado colar de cristais verdes estava rodeando seu pescoço longo. Mas o que realmente me atraiu a atenção foi um anel em seu dedo indicador da mão direita. Era preto e simples, e em comparação as suas outras joias, era a peça mais sem graça de sua coleção de cristais, mas me chamou a atenção mesmo assim. Talvez por que fosse o único anel que ela usava... ou por eu achar que reconhecia a peça de algum lugar.
Ela riu um riso suave, e o som era reconfortante.
_Ora, isto é normal. Estou acostumada a esse tipo de viagem, você nem acreditaria se eu contasse como. O primeiro voo sempre vai ser desagradável. Mas depois, a sensação é ótima. Acredite em mim, vai querer repetir isso até se fartar. Melhora nas próximas vezes.
Assenti, ainda sem ter certeza do que dizer.
_Há quanto tempo estamos voando?
_Muito tempo... _ela deu de ombros _Não se preocupe, querida, estamos quase chegando.
_An... não a vi antes. _comentei, sentindo minhas cordas vocais voltando a ativa novamente.
_Oh, sim _ela concordou, dando outro sorriso leve _Me mudei para cá quando o avião já havia alçado voo. O clima é horrível lá atrás. E eu não tinha ninguém para bater um bom papo enquanto voava... _ele me cutucou e deu uma piscadela _Mas você estava tão concentrada em seu sono, que não quis atrapalhar...
Assenti, me ajeitando no assento. Havia algo sobre aquela mulher que estava me deixando maluca. Talvez por que ela estivesse sendo amável comigo. Coisa que era muito incomum.
_Você não fala muito não é?
Pisquei. Ela me olhava com curiosidade mais uma vez, e eu soube que ela estava realmente interessada, por mais que eu não soubesse o que dizer. Sibilei sem jeito, me contorcendo mais uma vez.
_É que... _balbuciei _Aconteceu uma... coisa bem ruim. Tudo tem mudado desde então...
_Que pena _ela concordou, e seus olhos profundos pareceram ler meus pensamentos, me fazendo parecer mais fina e transparente que de costume _Deve ter sido algo realmente horrível para abalar dessa forma o coração de uma jovem tão bonita...
Corei. Nunca, ninguém havia dito algo como isso antes. Suspirei, sorrindo de repente para ela.
Era o primeiro sorriso que eu dava em dias.
_Talvez você se sentisse melhor se simplesmente tentasse encarar o lado bom da vida ao invés de se lembrar sempre disso, minha filha. _ela disse, e algo se desfez dentro de mim.
Concordei, mesmo que meus pensamentos respondessem o comentário por mim. O lado bom que eu tinha da vida se foi...
Mais uma sacudida me fez olhar para os lados, e em seguida, a voz masculina num alto falante anunciou que o avião iria pousar, e era hora de por o cinto.
_Essa costuma ser a parte mais chata... _a senhora ao meu lado disse.
Um frio se instalou em minha barriga quando o avião começou a descer, e meus dedos se apertaram com força no encosto do assento. Alguma coisa começou a se comprimir dolorosamente dentro de mim.
_Tudo bem com você? _ela perguntou.
Assenti ofegante. Droga, ela já havia me visto babar. Não precisava me ver vomitar também...
Quando o avião pousou, eu já estava sem ar, e as dobras de meus dedos estavam brancas, doloridas por conta da força que eu havia empregado.
_É... aqui estamos, _ela gargalhou me dando um tapinha no ombro _Foi ou não foi legal? Meneei a cabeça. Eu com certeza não iria querer repetir aquilo tão cedo de novo.
Quando peguei minhas malas, apertei a alça da mochila sobre o ombro ao caminhar pelo estacionamento do aeroporto do Conroe. Pessoas aos montes de movimentavam para todos os lados como um enxame de abelhas desorganizado. Não havia como não se sentir perdida no meio delas. Meus olhos desesperados varreram a área, e meu coração acelerou.Suspirei de alívio quando avistei um homem, muito jovem e trajado num terno preto e branco parado a frente de um sedan branco, com uma placa a frente do peito intitulada PERSÉPHONE MORGAN.Eu odiava aquele nome. Precisava mesmo escracha-lo tão grande assim?Corri para ele, que abriu um sorriso quando me viu._Como vai, Srta. Perséphone? _ele me estendeu a mão quando me aproximei, com o sotaque carregado._Mal.Ele sorriu, um riso compreensivo, e tomou minhas ma
Com uma tossida catarrenta e mais nojenta que até a própria sopa, ela se arqueou para frente, socando o próprio peito com pressa, sem conseguir puxar o ar. Vovô Brutus imediatamente se levantou, tentando em vão socorrê-la. Quando me dei conta, ela se jogou para trás, caindo com cadeira e tudo e virando a mesa com os pés. Pulei para trás, saindo da cadeira, por pouco, não tomando um banho de sopa quente.O barulho de vidro e porcelana se quebrando invadiu o ambiente, cortando o som da voz da jornalista da TV.O osso saltou de sua garganta, e ela puxou o ar em abundância, quando já estava ficando roxa.Levei as mãos à boca, me condenando mentalmente. Mais uma tragédia. Por minha culpa novamente. Quando é que eu ia parar de machucar as pessoas?Dei com o olhar maci&cce
-Que maldita porcaria é esta? _ Tossi confusa, tropeçando para fora do elevador quando ela me puxou pela camiseta._Bem Vinda à Maça Envenenada._Que droga de nome é este? Um maldito de um bar! _gaguejei enquanto meus olhos lacrimejavam, mal acostumados pela fumaça do cigarro que chegava num fluxo denso até mim._Vou procurar pelo Mitchel. Não se perca e nem arranje encrenca. Trate de se divertir um pouco, ok? Procuro você para voltarmos.Neguei com a cabeça:_Não, quero ir para casa AGORA! _mas Helena já não estava mais ali para me ouvir. Como um camaleão ela já havia se misturado a multidão e se camuflado a ponto de eu não saber mais qual rumo ela havia tomado.Havia um enorme balcão de bebidas e um barman cheio
Os pesadelos estavam acabando comigo, mesmo quando eu acordava na noite e percebia que estava no quarto novamente, com uma Helena dormindo lindamente do outro lado do quarto.Vidros se estraçalhando, o mundo girando, sangue por todos os lados, e principalmente aranhas...Depois de outra e mais outra seção horrorosa de pesadelos, que faziam meu corpo estremecer e meus poros expelirem toda a água de meu corpo, me deixando com apenas alguns poucos por centos, tive meu primeiro sono sem sonhos, completamente em paz. Mas quando mergulhei profundamente nele, finalmente feliz por dormir normalmente pela primeira vez em dias, um chacoalhão atrapalhou minhas divagações.Abri os olhos dopados, fechando-os novamente quando uma cachopa de cachos loiros caiu em meu rosto.Helena estava com o rosto a centímetros do meu, seus olhos azu
Sem mais, senti um toque em meu ombro._Olá.Me virei. Havia um homem de meia idade e óculos quadrados me observando curioso. Estava usando uma camisa social listrada e tinha uma barba rala. O nariz pontudo suavizava suas feições quadradas. Só então notei a maleta em sua mão direita._An... olá?_Você é a aluna nova? _ele perguntou abrindo um sorriso. Afirmei com um movimento mudo de cabeça e ele abriu ainda mais o sorriso _Ótimo. Eu estava mesmo me perguntando isso. Sou o professor Dracomir, Draco. E se você pode me dizer seu nome agora, se quiser._Perséphone _sibilei a contra gosto _Perséphone Morgan. Os cantos de sua boca se baixaram em aprovação._Nossa, mas que nome forte! _ele sorriu novamente _Vamos entrar. Vou apresentar você par
Caminhei por entre os corredores cheios com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa em direção ao refeitório.Eu não estava interessada em quem estava ao meu redor. Apenas frustrada com todas as circunstâncias que me obrigavam a estar ali. O mundo, de repente, ficava estranho demais para que pudesse ser compreendido.Uma enorme porta quase ao fim do corredor anunciava em cores opacas como as paredes: Refeitório.Quando entrei, o cheiro de frituras me dominou, e meu estômago se contorceu. Eu não sabia dizer se estava realmente com fome ou apenas nervosa. Apenas sabia dizer que aquele cheiro estava acabando comigo. O enorme balcão com os tanques de comida tomava conta de uma enorme parede aos fundos do refeitório, e mesas redondas se empilhavam de adolescentes por todos os cantos que eu olhasse.Folders fal
Uma pesada névoa cinzenta se arrastava por entre o caminho de árvores retorcidas de casa, agarrando densamente os troncos que se abraçavam no alto de suas copas, dando a estrada um aspecto sombrio de túnel cinzento.Assim que o Neon estacionou a garagem da casa desbotada e retangular, me arrastei para dentro, seguida de Helena, que estava tão acostumada a isto quanto eu.Assim que sai do hall de entrada, o meow lânguido de Mordida anunciou a casa toda que havíamos chegado. Stela estava sentada na poltrona em frente à lareira, assistindo o noticiário do meio dia na teve em preto e branco com uma xícara fumegante de chá nas mãos. Era só isso que ela sabia fazer?Brutus comia biscoitos ao seu lado, com os olhos vidrados na mesma tela.Nem um nem outro teve o trabalho de olhar quand
Quando entráramos na cidade, os pneus do Neon deslizaram pela Avenida, e talvez eu jamais tivesse conhecido alguém que gostasse de correr tanto quanto Helena. Avaliei minhas opções e sua cara enferruscada. Talvez fosse uma péssima hora para lhe lembrar de meu pavor de veículos depois do acidente.Apesar de achar a vista bonita desde a primeira e única vez que havia viajado para Conroe, havia algo de peculiar nessa cidade que me fazia querer passar por longe. O mais longe possível.Girei o rosto em outra direção enquanto descíamos pela rua de calçamento aglomerada, o vento que entrava pelas janelas abertas sacudindo meus cabelos ritmadamente.Quando acordei para a realidade novamente, o carro deslizava para uma vaga colorida em frente de uma enorme construção quadrangular.Placas