— Meu tempo para a Terra está se esgotando, Liv — ele disse.
Henrique percebe as mudanças imediatas na postura de Lívia, o desconforto claro em seu gestual. Observa enquanto ela congela, parte por parte, primeiro seu olhar, que perde uma parte do brilho quando suas pálpebras se abrem um pouco mais em choque pela informação. Depois, as maçãs do rosto que se movem para esconder o sorriso leve que antes ela exibia. Sua mão para de se mover, a seguir, encerrando a leve carícia que ele recebia em seu pulso ao mesmo tempo em que toda sua coluna enrijece à informação.
— A ideia de ir embora e te deixar está… — Henrique estava com a voz falhada de dor e buscou a palavra certa para exemplificar como se sentia. — Me devorando por dentro. Eu… Eu sei que você não confia em mim ainda. Sei que fez suas concessões para&helli
— O que você acha? — Henrique perguntou para Lívia.Estavam em trajes de gala, sentados à mesa de seu escritório, enquanto Henrique lhe apresentava, finalmente, uma pena alternativa para Jefferson, um mês terráqueo após deixarem seu planeta natal. Lívia não aceitava que penas de morte existissem em um império pacífico e, apesar de Henrique não ser a favor da pena de morte, entendia que Jefferson vivo era um risco que não poderiam correr.O hemisfério norte da Terra era inabitado e não seria capaz de dar suporte à vida por mais algumas dezenas de rotações, mas havia uma faixa de Terra em que a radioatividade tinha caído o suficiente; uma região fria e inóspita, onde já era possível tirar alimento através de pesca de peixes de água salgada.Lívia estava encarando os dados que
Ainda estava se acostumando as interfaces daquela nave ostensiva e poderosa.Em seus tons de preto, prata e branco, lhe trazia familiaridade. A falta de cor era algo que se acostumara, dentre calabouços e espeluncas nos últimos anos.O que ele não conseguia se acostumar era com os ambientes amplos, com boa sonoridade e o fato de que todos pareciam respeitá-lo só com um aceno de cabeça.Ah, claro, e o poder.Não o poder que lhe vinha como comandante principal e o título de Imperador, mas o controle. Fechou as mãos esticadas para a frente, puxou-as um pouco para si e girou-as levemente para a direita. A nave respondeu imediatamente, seguindo os seus comandos.Estava em seu sangue.Ele não acreditou da primeira vez que ouviu, achava que não tinha acreditado até que finalmente a viu obedecê-lo, poucos ciclos atrás.Ainda o assombrava ter tanto
A porta do escritório abriu automaticamente, subindo a estrutura de metal que a separava do corredor. Marco entrou na frente e reverenciou o Imperador. Enquanto os guardas arrastavam a garota para dentro da sala com ela se debatendo, depositou uma pequena estrutura de metal sobre a mesa. Seu olhar curioso foi pego. — O que é isso? — Questionou, embora imaginasse a resposta correta.Ao ouvir sua voz, a garota pareceu se debater ainda mais. Estava vendada, para alívio do Imperador. Não sabia o quão infectada estaria com mentiras e histórias exageradas e sabia que sua nave e seu escritório não eram de muita ajuda.Os soldados que a carregavam também não eram.Os rapazes reverenciaram-no como podiam e forçaram a garota selvagem a ajoelhar ao chão para contê-la.Havia um olhar de admiração contida no Imperador. -z Arma
O manto de Imperador tinha sido deixado para trás em algum canto da nave porque aquele pedaço da Terra era sagrado em suas memórias e ele não voltaria ali em vestes caricaturescas. Não tinha, porém, muitas opções em seu guarda roupa, não quando a realeza do universo tinha uma regra de conduta rígida que se resumia à três cores: preto, da imponência, branco, da pureza e das boas intenções, e cinza ou prateado, da eterna busca pelo conhecimento.Naquela manhã, depois de tantas notícias boas e ruins, ele decidiu usar branco. Não que se sentisse puro naquele momento, mas pela criança que tinha sido naquele lugar, tão ignorante de seu passado ou futuro, tão inocente, achando que o universo se resumia à uma pequena vila destruída em um setor abastado de Esmeralda no planeta mortal Terra, na irrelevante Via Láctea.
Aquela já era a terceira reunião desde que haviam estacionado a frota nos arredores do planeta Terra e Henrique já estava de saco cheio de ser Imperador. Mal tivera tempo de conhecer todos os líderes e capitães das naves que lhe seguiam, mal tivera tempo de fazer a limpa nos que não pareciam fiéis a causa real dos Astraregi.Mesmo em sua nave principal, com todas as restrições e seguranças, quase não conseguia um momento a sós: o seu círculo de proteção era acirrado e sempre atento para descobrir potenciais traidores dentre os que se curvaram a ele após a queda do antigo imperador.Ele mesmo ainda não tinha conseguido entender muito bem, poucos cilos atrás era chamado de traidor pelo imperador em exercício. Assim que ele e o resto da resistência o haviam deposto e tomado seu lugar, os que seguiam seu tio eram os traidores.Tu
— O que é isso? — Henrique sentiu a raiva subir assim que entrou em seu escritório.A sorte era que aquele ambiente, a sala de controle e dois dos aposentos de descanso eram preparados para variações maiores de humor do Imperador ou, talvez, um acidente teria acontecido.Lívia estava sentada em uma cadeira de frente para sua mesa, de frente para a vista da Terra, de costas para a porta, onde Henrique estava. Suas mãos estavam retorcidas em uma liga de metal utilizada para conter criminosos. Não era, exatamente, compatível com humanóides, se em contato com a pele humana por muito tempo, podia causar danos permanentes e infecção da corrente sanguínea. Nunca tinha sido testada, porém, em terrestres. E Henrique não concordava com testes, muito menos em Lívia.— Esse material não é para humanóides e se vocês estã
Havia uma mística poderosa na hereditariedade imperial da família Astraregi. O poderio armamentício e a estrutura tecnológica da frota imperial eram todos oriundos dos restos do planeta Hastraleoni, de onde eram os únicos sobreviventes com sangue puro o suficiente para controlar. O sangue em seu pai e seu tio já eram diluídos o suficiente para que achassem que o império estava acabando.Henrique, tinha descoberto ter níveis mais elevados, comparáveis às primeiras gerações de imperadores. Havia um pequeno time de pesquisadores tentando identificar as semelhanças de Hastraleoni com a Terra e o DNA humanóide dos Astraregi com o DNA terráqueo. Se isso fosse comprovado, Terra seria classificada como planeta Matriz e seria prioridade total para recuperar seus recursos.Mas alguns terráqueos já tinham subido à bordo de naves menores e não
— Era para ser mais fácil — Henrique deixou-se desabafar.Estavam almoçando em seus aposentos, algo incomum em suas rotinas. Henrique, porém, andava evitando as salas comuns; primeiro porque seu emocional não estava estável e ele preferia manter suas naves no ar, segundo porque sabia que Lívia andara aceitando sua sugestão e tinha sido vista andando pela nave e conversando com os encarregados e funcionários.Já tinham dias de seu confronto, mas Henrique prometera-lhe tempo. Ele achava que não teria muito, mas lhe daria o benefício de algum. Enquanto isso, estava o mais retroativo possível — quanto menos ela visse o Imperador em ação, mais veria o homem. Ou não?Marco comia uma mistura cor de laranja comum dos humanóides de Amerpã, mas que nunca tinha descido muito bem no paladar de Henrique. Ele estava muito satisfeito em poder