— Era para ser mais fácil — Henrique deixou-se desabafar.
Estavam almoçando em seus aposentos, algo incomum em suas rotinas. Henrique, porém, andava evitando as salas comuns; primeiro porque seu emocional não estava estável e ele preferia manter suas naves no ar, segundo porque sabia que Lívia andara aceitando sua sugestão e tinha sido vista andando pela nave e conversando com os encarregados e funcionários.
Já tinham dias de seu confronto, mas Henrique prometera-lhe tempo. Ele achava que não teria muito, mas lhe daria o benefício de algum. Enquanto isso, estava o mais retroativo possível — quanto menos ela visse o Imperador em ação, mais veria o homem. Ou não?
Marco comia uma mistura cor de laranja comum dos humanóides de Amerpã, mas que nunca tinha descido muito bem no paladar de Henrique. Ele estava muito satisfeito em poder
Tempo.Henrique tinha aprendido varias formas de medi-lo nos últimos anos, mas continuava a pensar em como media na Terra.Cinco anos tinham se passado desde que a inocência e a felicidade tinham sido arrancadas com brutalidade da sua vida e, agora, ele via que Lívia tivera seu próprio pequeno pesadelo.Não demorou muito para encontrá-la, era a verdade. Ele estava na primeira equipe que desembarcou na sua antiga vila. Apesar do susto dos moradores, não demoraram a dizer que Lívia tinha sido selecionada.Esse foi seu primeiro choque.Lívia não tinha chance alguma de ser selecionada quando eles se separaram. Era desengonçada, não sabia mirar a arma direito e ficava chateada com toda competição que participava.Uma segunda equipe tinha ido direto à central de ataque de Esmeralda para desmontá-la e prender todos que compactuaram com aqu
— Fiz o que era necessário — ela se defendeu.— Eu também — Henrique se justificou.Lívia abaixou o olhar e pareceu envergonhada por um momento. As mãos soltaram-se dos braços da cadeira e se entrelaçaram em seu colo, mostrando que ela estava disposta a lhe dar o benefício da dúvida.— Eu fiquei sozinha — contou. — Queria ajudar nossos pais. Ninguém acreditou em mim sobre você ter sido levado por uma nave, rodo mundo achava que eu era maluca… Eu só tinha uma opção — Respirou fundo. — Precisava ser escolhida, precisava ir para Globo do Mar. Eu queria… Queria encontrar você.Henrique conhecia Lívia por uma eternidade e não eram cinco anos de afastamentos e mudanças que o impediam de ler suas nuances como quem lê as palavras em um livro. Por mais que ela tentasse se esco
Henrique desligou a opacidade da sua mesa e uma tela de interatividade igual ao do painel de visualização da tela se abriu. Haviam alguns arquivos que ele precisava dar uma olhada, assim como decidir qual planeta seria o próximo a receber a frota. Ou se, talvez, fosse melhor dividir a frota em alguns grupos para resolverem mais problemas de uma vez, tudo com a supervisão dele de algum ponto.Poderia ficar um pouco mais na Terra se enviasse um grupo ou dois para planetas que estivessem com problemas menos acentuados. Assim conseguiria tempo.Mandou um recado com a sugestão para Marco e Durquato. Saberia em breve se seria plausível.Por enquanto, resolveu abrir um relatório da equipe de cientistas que estava em campo, estudando os terráqueos e a radioatividade. Uma amostra de planta tinha ganhado espaço em seu escritório, além de alguns presentes que ganhara de antigos colegas. O espa&cce
Aguardou com o coração saltando no peito em batidas frenéticas. Não sentia sua pele desde que ela tentara lhe atentar contra a vida logo após lhe beijar — e não achava que essa era uma experiência relevante. Antes disso, foram cinco anos de afastamento.Será que sua pele ainda tinha a mesma maciez? Será que seu cabelo tinha o mesmo cheiro?Lívia abaixou o olhar para a mão de Henrique e refletiu por um breve momento, antes de estender a mão em sua direção, parecendo insegura, mas disposta a tentar confiar. Apertaram a mão um do outro, o anseio claro de conseguirem se resolver se exteriorizando através daquele toque, daquele gesto.Henrique começou a passar o polegar nas costas da mão da mulher, um carinho doce e saudoso, satisfeito que pudesse fazer ao menos isso.— Eu lhe contei sobre meu pai — disse. — Quand
— Isso é…Ela não completou a fala, mas seus pensamentos eram claros pela expressão de confusão que exibia em seu rosto e sobrou a Henrique apenas sorrir e concordar, compreendendo o dilema.— Informação demais? — Perguntou. Em resposta, Lívia suspirou. — Eu concordo. — Oferece a mão a ela, se levantando da mesa. Ela aceita e ele a guia para ficar de frente para o painel. Liga, deixando que vejam a imagem da Terra por cima. Estavam por sobre a costa. Lívia segura a respiração. — Foi difícil pra mim, também. Não conseguia entender. Eu tinha as provas nas minhas mãos e mesmo assim foi complicado.Lívia estava apertando a mão de Henrique com força, fosse por reflexo ou pelo deslumbre da imagem da Terra que admirava, Henrique não se importava e só queria curtir aquele momento.&m
Cinco anos fora de casa e Henrique ainda não tinha se acostumado com as espécies não-humanóides.Sua nave principal e a principal equipe era composta por humanóides, a maioria era de descendentes distantes de Hastraleonis e outros planetas da liga interplanetária. Eram de todos os tipos, de aparências como os terráqueos, em bege e tons de marrom, até laranjas, verdes, roxos, avermelhados, azuis…Nas outras naves da frota, não-humanóides eram mais comuns. Haviam vários com exoesqueleto, altos e esguios, peludos tipo ursos e várias outras espécies que ele não conseguia listar. Os mais comuns depois dos humanóides eram os gelatinosos e Henrique tivera vários ciclos de pesadelo depois que conheceu o primeiro deles.Até hoje, ele não sabia muito bem como se comportar na frente de um.Era a primeira vez que ele pisava na sal
A confraternização na sala de controle estava começando a ficar entediante e a maioria dos convidados já tinha se retirado quando Henrique achou educado se retirar para descansar.— Quer sair daqui? — Perguntou para Lívia, em seu ouvido.Ela tinha um sorriso simpático no rosto enquanto conversava com a filha mais nova de Durquato. Seu sorriso tremeu e Henrique observou-a se arrepiar com sua pergunta inocente. Agora, ao vê-la reagir, não tinha sobrado muita inocência para contar a história, não.— Adoraria — respondeu, de volta.Começaram, então, a se despedir dos participantes restantes e conseguiram sair pela porta lateral em um período tão curto que Henrique achou que era um recorde imperial.Lívia suspirou com alívio quando a porta da sala de controle se fechou atrás dela. Ainda estavam rodeados de g
Henrique não queria ter tempo de pensar e, embora sua mente estivesse em um turbilhão com a confraternização, com tudo o que tinha ouvido aquela noite e com a própria Lívia se apresentando como imperatriz, seu coração estava quase escapando de seu peito quando ele empurrou tudo aquilo para longe e só conseguiu ver os lábios avermelhados de Lívia à sua frente.Curvou-se sua boca na dela de forma gentil, ainda em dúvidas se era isso que ela queria. Sentiu quando ela murmurou em concordância ao seu gesto e suas mãos tocaram-lhe cada uma em um ombro, deslizando até se unirem em um abraço atrás de seu pescoço. O arrepio de seu abraço com a aproximação inevitável do corpo da mulher fez com que ele despertasse do transe que havia se posto ao sentir sua boca na dela. Suas mãos saíram da inércia e procurara