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Cápsula da Morte
Cápsula da Morte
Por: Fábio Siqueira
O convite da salvação

Capítulo I

O convite da salvação

Após levantar-se da poltrona, já toda suada, devido a várias

horas em que ficara sentando com o olhar perdido, mas fixo

no canto da sala onde havia uma rodelinha de sujeira feita

pelo eletricista do prédio que arrumou a tomada, a qual há

muito tempo não funcionava, após horas naquela posição,

levanta-se, tenta calçar os sapatos, caminha até a cozinha ar-

rastando seus sapatos mal-calçados, pega o saco de arroz vazio

sobre a mesa, calça-o na cabeça, aperta firme no pescoço, solta,

tira-o novamente e diz, suspirando.

— Vai servir...

Olha para o botijão de gás, caminha até ele, abaixa-se e se-

gue com a mão esquerda a mangueira que leva para trás do

fogão. Usando os dedos, afrouxa a porca que segura a abraça-

deira, então, com pouca força, puxa a mangueira para si, que se

solta, segurando na ponta, leva a direita ao segurador do boti-

jão e o arrasta até o centro da cozinha.

Estava decidido... Estava finalmente pronto, não havia mais

razão para desistir de seu objetivo, mas antes precisava fazer

uma coisa muito importante. Larga tudo, levanta-se e vai à geladeira, não antes de pegar o copo na pia, então a abre, leva

a mão para dentro onde tira uma caixinha de leite ainda cheia,

mas já aberta. Então enche seu copo e dá uma golada, em se-

guida, outra, até dar uma suspirada, satisfeito, então diz, com-

pletando o copo novamente:

— Para o que vou fazer agora, isso não é bom, mas como

posso deixar de sentir a sensação e o gosto maravilhoso do lei-

te gelado descendo pela minha goela até chegar ao estômago

suavemente? Impossível!

Então bebe mais algumas goladas, em seguida põe o copo

vazio sobre a mesa, guarda novamente a caixinha, e assim bate

a porta da geladeira.

— Agora sim, tô pronto! — diz, limpando o bigodinho

deixado pelo leite e caminha novamente para o centro da

cozinha.

Pegando o saco de arroz, calça-o novamente na cabeça,

aperta no pescoço, então enfia por debaixo rente ao queixo a

ponta da mangueira do gás. Aperta bem com a mão direita,

não deixando vão algum, assim com a esquerda mexe na tor-

neirinha, liberando o gás, que rapidamente passa pela man-

gueira e sai no saco de arroz onde sua cabeça estava.

Então estava ali, pronto para dar fim a sua vida, o ar se con-

taminara e seus pulmões puxavam o veneno para dentro de si.

Seu olhar estava fixo, mas seu sentido já o deixava, pois uma es-

curidão dominava seu pensamento quando ouviu um barulho

na porta e uma voz grave que gritou pelo lado de fora.

— Correspondência!

Rapidamente seu sentido volta, então, solta o saco e o tira

da cabeça, tossindo, em meio ao desespero, caindo ao chão, se

recuperando, pensa:

Porteiro maldito! Vai ser ruim no inferno, pedi para não ser in-

comodado, mas não... Ele consegue me desobedecer. É, não se pode

nem cumprimentar esse tipo de gente que já acha que é seu amigo

de anos e fazem o que querem da sua vida, como se a casa fosse dele,

decide quem entra, nem interfonam, simplesmente liberam. Affff.

Pensando assim, quando um pouco mais recuperado, le-

vanta-se e vai para a porta. Abre, mas não havia ninguém, sente

algo embaixo de seu pé, então o levanta, olhando para baixo.

Seus olhos contemplam algo que jamais pensara que pudes-

se acontecer, um envelope azul, formato retangular, em papel

grosso, escrito em grandes letras de forma “convite aos alunos

do terceiro b. compareça. imperdível”.

Após ler isso, abaixa, pega o envelope, levanta, sorri com o

papel diante dos seus olhos, vira, caminha, até a sala, senta em

sua poltrona predileta, olhando para todos os cantos do papel,

mas não o abre, só se lembra de que foi muito boa sua adoles-

cência, dos amigos que conviveu que há muito não os viam.

Imaginava em que haviam se tornado.

Depois de pensar alguns minutos, Franzino, segurando

o envelope firmemente, vira-o e rompe o lacre azul feito a

vela, com um emblema grafado a letra FF. Abre a aba de uma das partes, vira para si, vê o papel dentro, então o puxa para 

fora e lê.

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