Lívia
Estou me segurando pois estou em pé. O homem que provavelmente está roubando a carroça está se divertindo com o que está fazendo. Não consigo vê-lo com clareza pois os raios do sol estão muito fortes.
Olho para trás e percebo que tem alguns homens correndo atrás de nós, imagino que seja à mando das irmãs, para o meu resgate, mas, eles estão à pé, então não irão nos alcançar.
- Senhor?! - Chamo-o mas ele parece não me ouvir. - Senhor?!
Aff. Ele precisa deixar que eu me sente, se eu continuar desse jeito eu irei me desequilibrar e cair.
- PEGUEM O LADRÃO! - Consigo ouvir um dos homens que está nos perseguindo, e todas as pessoas que estão na estrada começam a nos olhar e gritar alguma coisa.
Eu começo e me sentir amedrontada. Isso não estava nos planos, e se der tudo errado?
Conforme vamos avançando, tudo vai se distanciando. O homem entra com a carroça em uma rua deserta que leva à floresta e então para quando estamos próximos das árvores. Ele ainda não percebeu a minha presença, ou finge não me notar. Ele desce da carroça com pressa, segurando um saco nas mãos. Eu rapidamente desço também.
Ele começa a andar rumo às árvores, sigo-o. Agora consigo olhar melhor para a aparência dele, pelo menos pelas costas, ele possui os ombros largos, cabelos compridos e presos, usa vestes de guerreiro.
- Senhor? - Chamo-o, mas ou ele é surdo ou está me achando com cara de tonta. - Senhor ladrão!? - Quem sabe ele não gosta de ser chamado pelo que é?
- Vá embora, menina. - Diz sem parar e sem olhar para trás.
- Ah! Eu sabia que você sabia que eu estava com você! - Digo indignada. - O senhor não é um homem muito honrado, pois teve a coragem de roubar uma carroça sagrada! É a carroça das irmãs! Elas são mulheres santas! Se bem que o senhor é um ladrão, então, provavelmente o senhor não liga para a sua honra. - Paro de falar e respiro um pouco. - Será que o senhor pode andar mais devagar?
Ele para abruptamente e se vira para mim com rapidez, segurando os meus braços com força, tão rápido eu vejo seus olhos cores de mel me olharem com impaciência.
- Pare de falar! Pare de me seguir! Pare de me olhar! - Diz me sacudindo, soltando faíscas pelos olhos.
Fico imóvel por alguns segundos, além de medo eu estou deslumbrada, pois eu nunca havia visto em toda a minha vida um homem tão... Lindo.
Eu nunca vi homens bonitos... Os homens do mosteiro não possuem vaidade alguma, e, a maioria são velhos.
Ele me solta e volta para o seu caminho.
- S-senhor, por favor me ouça! - Volto a segui-lo. - Eu preciso muito de sua ajuda, preciso que me leve pra casa. - Digo mas ele continua em silêncio, andando com pressa. - Eu nunca estive fora do mosteiro antes, digo, estive quando eu tinha oito anos, mas eu era uma criança e não me lembro de nada.
- Vá embora, garota. - Diz sem parar e sem olhar para trás.
Continuo seguindo-o, sinto que ele é uma boa estratégia para eu chegar até Luzem. Ele parece inteligente e ágil.
- Eu não conheço nada, não sei qual caminho eu devo seguir... Por favor, leve-me até Luzem em segurança, percebo pelas suas vestes e pela espada em sua cintura, que o senhor é um guerreiro... Um guerreiro ladrão, mas ainda assim é um guerreiro... E como nós já nos conhecemos, então não precisarei correr o risco de ter que pedir ajuda a algum desconhecido que pode ser algum psicopata assassino e resolva me atacar.
- Pare de falar! Se você não parar de falar, logo irão nos encontrar.
- Se o senhor parar e me ouvir, então eu poderei lhe dizer baixinho, mas o senhor prefere ficar andando e me ignorando então me responda, que escolha eu tenho?
Ele para novamente. Sinto algo se remexer dentro de mim, que se intensifica quando ele se vira para trás.
- Me responda, garota, você só sabe resmungar e ficar falando e falando e falando? - Ele parece muito preocupado, pois enquanto fala fica fazendo gestos com as mãos e sua expressão está ruim.
- Preciso de sua ajuda, por favor, senhor...
- Se vai ficar falando comigo, pelo menos pare de me chamar de senhor.
- S-sim, c-claro senhor, quero dizer, do que gostaria que eu lhe chamasse?
- Vicent. - Diz e em seguida me puxa para si tapando a minha boca e me arrastando para trás de uma árvore.
Logo ouço vozes.
Mas, o que realmente está me perturbando, é estar praticamente abraçada à um homem.
Meu pai provavelmente teria um ataque se me visse assim.
- Acalme-se! - Vicent diz baixinho em meu ouvido, me causando arrepios por todo o corpo. - Eles não irão nos encontrar aqui. - Conclui e eu tento afastar meu rosto.
Isso é constrangedor.
Alguns minutos se passaram e finalmente me vi livre dos braços de Vicent.
- E então? Aceita me levar em segurança até Luzem? - Pergunto quando ele volta a caminhar pela floresta.
- Não tenho tempo para isso, pretendo te deixar na primeira oportunidade, volte para o mosteiro, é lá o lugar de mocinhas como você. - Do quê esse homem está falando?
- Eu nunca mais voltarei para aquele lugar! Não que eu seja uma pagã, mas, eu não tenho vocação religiosa! Meu pai me deixou lá a vida toda para proteger a minha reputação, ele prometeu me casar aos vinte anos e quando finalmente faço vinte anos o que ele me diz? Que devo esperar mais um ano, por isso eu fugi, eu não aguentaria mais um ano naquele mosteiro, AI! - Me assusto com um mosquito gigante que grudou em meu cabelo.
Vicent para os passos, joga o saco para o lado arrancando a espada da cintura com uma rapidez incrível e a levanta contra mim.
- Onde? - Pergunta procurando por um possível inimigo.
- Aqui! No meu cabelo! Tira! Tira! Tira! - Peço dando pequenos pulinhos de medo.
Vicent guarda a espada novamente.
- Pobre donzela. - Revira os olhos e então estica as mãos até o meu cabelo e tira o mosquito gigante.
Ele fica olhando para o meu rosto, sério e com curiosidade.
- Obrigada. - Sorrio sem graça. - Por favor, Vicent, leve-me até Luzem.
- Quanto em ouro você vai me pagar? - Pergunta com olhos zombeteiros.
- Sou bastante rica, posso lhe dar bastante ouro... Vai depender de como o senhor vai me tratar. - Empino o nariz. - O senhor está sendo muito rude comigo, desde que nos conhecemos.
- Se estiver mentindo pra mim, eu...
- Não estou. - Interrompo.
- Se é assim, então eu te levo até Luzem, com algumas regras.
- Regras? Eu acho que sou eu quem deveria...
- A primeira regra é não fale, a segunda regra é não fale e a terceira regra é não fale. - Diz pegando o saco de volta e retomando o caminho.
Fico em silêncio. Sou tão irritante assim?
VicentEu realmente não havia percebido que a carroça estava ocupada, também, como eu iria imaginar que havia alguém escondido na parte de trás?E ainda mais uma jovem moça ingênua, com o cabelo preso na nuca, pele branca e pálida, a imagem perfeita de uma inocente.Ter uma jovem moça me seguindo durante uma fuga, literalmente não estava nos meus planos.Principalmente se ela for uma tagarela.– Você está carregando ouro e joias nesse saco, não estou certa? Quando você o balança eu posso ouvir o som das peças se encostando umas nas outras. – Se essa moça não parar de tagarelar, seremos capturados antes do anoitecer. – Você já pensou em não ser um ladrão? Sei lá, poderia ser um bravo cavaleiro real, imagina só?! Você seria admirado e seria inspiração...– O que ouve com a primeira regra? – Pergunto sem me virar para trás.– Podemos parar e descansar? Não
LíviaEntro no estabelecimento sob olhares curiosos de estranhos.– Por favor, alteza. – Vicent diz enquanto me espera passar pela porta.Vicent parece querer me torturar com essa estupidez em me chamar de alteza, mau sabe ele que realmente sou.Eu apenas quis dizer para ele ser mais agradável comigo, pois ele é muito rude, mas ele insiste em ser irônico em me chamar de alteza. Arg.– Pare de bobagens. – Sorrio sem graça, pois uma mulher ouviu ele me chamar de alteza.Não quero chamar a atenção de ninguém. Não posso deixar ninguém saber que eu realmente sou a princesa.Eu não queria passar a noite aqui, eu deveria já estar chegando em Luzem, os guardas provavelmente já estão lá e logo meu pai vai pôr toda a cavaleria atrás de mim. Mas o que está feito já está feito. Quis o destino que eu me encontrasse com o senhor Vicent, o destino ou a minha estupidez,
Lívia Já que estamos aqui eu poderia aproveitar e descansar, já que estamos aqui e não lá fora indo pra casa.– Descanse. – Ele pode ouvir pensamentos, é isso?Espero que não.– Eu não conseguiria me deitar com um desconhecido tão próximo de mim.– Pare de dizer asneiras, já somos próximos, e se eu fosse lhe fazer alguma coisa eu já teria feito, tranquilize-se, você não me atrai em nada. – Se levanta da cadeira e começa a observar para fora da cortina da janela, sondando.– Está preocupado com algo senhor Vicent? – Pergunto tentando ignorar o fato de que o primeiro homem lindo que eu encontro em toda a minha vida não se sente atraído por mim.Ótimo. Eu nunca iria querer nada com um ladrão. Um criminoso. Um libertino.– Não interessa à você, doce Lívia, apenas descanse e deixe todo o mais para mim, pode ser? – Como ele ou
Vicent– Estamos à procura de um criminoso alto e branco de aproximadamente trinta anos, ele roubou o santo mosteiro e sequestrou uma das irmãs, se alguém aqui o está escondendo, será julgado como cúmplice de roubo e sequestro. – O guarda superior diz em tom sério e acusador.– Aqui não tem ninguém com essa característica, somos todos homens de bem e não iríamos apoiar tamanho crime. – Digo fingindo indignação.– Sim, aqui não há nenhum ladrão. – Lúcio afirma.Os guardas entram ainda mais e começam a vasculhar por tudo.Eu nunca fui tão perseguido dessa forma, talvez Kahabe seja mais intolerante com ladrões. Deve ser por isso que o reino é próspero.– Iremos pernoitar em sua vila, nos acolham em nome do rei Garth, amanhã iremos retomar as buscas pelo criminoso, a irmã que ele sequestrou está correndo enorme perigo, el
Sessenta e nove dias depois...TrentoAproximadamente vinte e seis anos se passaram. Longos e infindáveis vinte e seis anos.– Querido!? – Me sobressalto com a voz calma de Diane. – Está perdido em pensamentos novamente?Eu sobrevivi. Posso dizer com todas as letras que a vida não é fácil. Poderia ter sido mais fácil, mas dificilmente é.– Sim. – Sussurro sem muita atenção.Estou há vinte e seis anos procurando, procurando e procurando. Não perco as esperanças, preciso encontrar o meu filho. Algo me diz que ele está próximo. Não posso desistir de encontrar ele.– Suas filhas estão lhe aguardando para o passeio que prometestes à elas. – Diane beija as minhas mãos e então se retira, deixando-me com meus pensamentos em minha poltrona do gabinete.Ela é uma boa esposa, uma b
Aproximadamente vinte dias depois...VicentConfesso que eu nunca estive em um calabouço tão bem guardado, essa é nova pra mim, geralmente eles me jogam em uma masmorra qualquer de fuga fácil. Kahabe é mesmo um país diferente, com leis mais severas. Espero não ser decapitado. Estou sentado em um canto escuro, o mais retirado possível dos ferros que me cercam, e se eu quiser ficar em pé não terei espaço o suficiente para que eu fique de corpo bem esticado, aqui é muito baixo. Não tomo banho desde há muito tempo, estou fedendo, essa situa&ccedi
Vicent– Eu não quero atrapalhar os seus planos, posso lhe falar depois que você já tiver feito o que seja que tiver que fazer aqui nesse buraco. – Digo assim que saio de dentro da cela.O rei só só fica me olhando. É, eu estou horrível.– Vicent, demonstre mais modos ao se dirigir ao grandioso rei de Marlenout! – Tobias diz entredentes.– Rei de Marlenout? Pensei que estivéssemos em Kahabe... Eu estou a tanto tempo nesse lugar asqueroso que perdi a noção de tudo, perdão, majestade. – Me reverencio sentindo-me confuso.– Pare com isso. – O rei me diz com um olhar estranho.Ele parece estar sentindo algum tipo de dor.Este ligar aqui em baixo faz isso com as pessoas.– Está se sentindo bem, majestade? – Tobias pergunta visivelmente preocupado.– Eu garanto que quando o senhor ver o tesouro, t
Trento– Rei, digo, majestade, ao longo da minha caminhada eu encontrei um magnífico tesouro! Digno da sua grandiosidade, lhe trará muita glória e honra, poderá expandir muito mais a sua soberania por todos os outros reinos do mundo. – Interessante. – Se vossa majestade perdoar os meus crimes que eu confesso, roubei, lembrando que eu não sequestrei a jovem irmã, ela fugiu por livre e espontânea vontade, mas, se vossa majestade perdoar os meus crimes, eu lhe asseguro que será muito bem recompensado com o maior tesouro já visto pela humanidade. – Muito interessante a forma como ele tenta me enrolar para que o eu o tire daqui.Ele é inteligente.– Tire-no daí, ande! Estou com muita pressa! Tire-no dessa cela imunda! – Afinal, não sei o que esse homem está esperando.– Isso, majestade, o senhor está fazendo a coisa certa. – Meu coração está dilacerado.