Capítulo 4

Vicent

Eu realmente não havia percebido que a carroça estava ocupada, também, como eu iria imaginar que havia alguém escondido na parte de trás? 

E ainda mais uma jovem moça ingênua, com o cabelo preso na nuca, pele branca e pálida, a imagem perfeita de uma inocente. 

Ter uma jovem moça me seguindo durante uma fuga, literalmente não estava nos meus planos.

Principalmente se ela for uma tagarela.

– Você está carregando ouro e joias nesse saco, não estou certa? Quando você o balança eu posso ouvir o som das peças se encostando umas nas outras. – Se essa moça não parar de tagarelar, seremos capturados antes do anoitecer. – Você já pensou em não ser um ladrão? Sei lá, poderia ser um bravo cavaleiro real, imagina só?! Você seria admirado e seria inspiração...

– O que ouve com a primeira regra? – Pergunto sem me virar para trás.

– Podemos parar e descansar? Não estou acostumada a andar tanto, meus pés doem e também estou sentindo fome, lembre-se que você será recompensado, então, deve me tratar como uma princesa.

Certo. Se eu vou levá-la até o seu destino, preciso mesmo entrar em um acordo com ela.

Paro e me viro para trás. 

E novamente ela se assusta. 

– Por acaso não prefere que eu lhe leve em meus ombros? Princesa. – Questiono observando seu rosto corar ao encarar meus olhos. 

Eu preciso de mais ouro, por esse motivo aceitei levá-la. Se bem que, eu não deixaria uma moça tão ingênua à solta e sozinha por aí. Ela realmente deu muita sorte de ser eu quem ela resolveu perseguir para ajudá-la. 

– Eu não sou uma princesa, acredite, não sou. – Como ela consegue ser assim tão inocente? 

Acho isso uma perca de tempo. 

– É a minha princesa, à menos que deseja ser a minha rainha, a escolha é sua... Qual é o seu nome?

– Meu nome é Lívia, não quero ser uma princesa, apenas tratada como uma, entendeu? 

– É algum fetiche seu? 

– Como? 

– Você ficaria excitada se eu te tratasse feito uma princesa? 

– Mas, que ultraje! Peço que me respeite senhor Vicent! Eu morei a vida toda em um mosteiro! Não sou dada a essas insanidades! – Eu me arrependo muito do que eu acabei de dizer. 

Ela parece muito indignada com a minha brincadeira. 

Realmente, não levo jeito com jovens moças ingênuas. 

– Então não deveria ter fugido de lá. – Digo e me volto a caminhar. 

Não conheço esse país, a vida toda eu morei mais ao Norte, em Eferishua, por esse motivo eu também não sei ao certo como chegar em Luzem, mas, isso é fácil de resolver. 

Quando chegamos onde eu deixei o meu cavalo, deixo o saco no chão e Lívia fica me olhando aliviada enquanto eu desamarro a corda, de certo que Lívia está cansada, é visível em seus olhos azuis cinzentos parecidos com um céu nublado. 

– Pobre animal. – Resmunga. – Terá de levar à nós dois, imagino que deve ser difícil para ele, porque... 

– Por sorte você nem fará diferença, acredito que não pese mais que trinta quilos. 

– Luzem está muito longe?  

Caminho até ela mas ela recua. 

– Vou te colocar no cavalo, minha princesa. – Sorrio me divertindo quando ela finge não se abalar. 

Ergo-a e a coloco no cavalo. 

– Obrigada. – Diz com o pequeno nariz empinado. 

– Ainda não sei onde fica Luzem. – Digo entregando o saco para que ela segure enquanto eu subo.

Ela fica olhando indecisa.

– Não quero ser sua cúmplice.

– Você já é a minha cúmplice. – Reviro os olhos. – Segure para mim, você está ocupando muito espaço, prefere que eu te deixe aqui e siga apenas com o saco?

Lívia pega o saco com pouca vontade.

Ignoro sua expressão de mimada e subo no cavalo, abraçando-a pôr trás e sentindo um profundo desejo de apertá-la mais contra mim. Foi assim quando eu tapei a boca dela atrás da árvore.

Preciso muito de uma meretriz, pra satisfazer os meus desejos naturais.

Me sinto sujo só de imaginar tocar essa moça, Lívia, mas que praga de perfume doce.

O que aconteceu que ela está calada?

Provavelmente deve ter se zangado com a minha brincadeira minutos atrás.

Dane-se. De qualquer forma, o silêncio é melhor.

(...)

Depois de termos cavalgados por uma hora seguida, chegamos em um vilarejo adorável. As pessoas parecem ter bastante de posses. Eu poderia roubar algo aqui.

– Está com fome? – Pergunto pra tirá-la desse silêncio que deve ser torturante para ela.

– Sim, estou com dores nas costas também, estou cansada demais... Será que Luzem está muito longe?

– Vamos passar a noite aqui.

– Mas ainda está cedo! Eu aguento, podemos continuar!

– Não, iremos passar a noite aqui, estou cansado. – Digo parando o cavalo em frente à um estabelecimento quase vazio.

Aqui é perfeito para uma noite tranquila e sem nenhuma surpresa desagradável. 

– Nossa, não posso me demorar muito para chegar até Luzem, se os guardas chegarem antes de mim então estarei perdida. – Lívia reclama enquanto eu desmonto. 

– Sinto muito lhe informar, alteza, mas a senhorita já está perdida. – Digo lhe estendendo os braços para ajudá-la a descer. 

Percebo que está pensativa, e não de um jeito bom. 

– Nada está saindo como eu planejei. – Resmunga com ombros caídos. 

– Eu atrapalhei os seus planos, foi isso? 

– Não é isso, é que eu não sabia muito bem o que fazer depois de estar fora do mosteiro... Eu só queria ir pra casa... Intacta. 

– É isso que vai acontecer, vou te levar pra casa, intacta. – Sorrio para lhe demonstrar segurança. 

Não suporto ver uma coisa tão frágil se sentindo amedrontada. Estranhamente eu sinto vontade de protegê-la. De mim mesmo. 

– Promete, senhor Vicent? – Céus. 

Porque ela está me estendendo o mindinho? 

Isso é coisa de criança. 

Arg.

– Prometo, alteza. – Estendo-lhe o meu mindinho e dessa forma eu faço a coisa mais tola que eu já devo ter feito em toda a minha existência. 

Ela me sorri tímida. 

Observo que algumas pessoas saíram de dentro do estabelecimento e estão nos sondando disfarçadamente. 

Na certa como estão falando sobre a possibilidade de sermos um casal em fuga. E estão quase certos, pelo menos na parte da fuga. 

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