Vicent
Eu realmente não havia percebido que a carroça estava ocupada, também, como eu iria imaginar que havia alguém escondido na parte de trás?
E ainda mais uma jovem moça ingênua, com o cabelo preso na nuca, pele branca e pálida, a imagem perfeita de uma inocente.
Ter uma jovem moça me seguindo durante uma fuga, literalmente não estava nos meus planos.
Principalmente se ela for uma tagarela.
– Você está carregando ouro e joias nesse saco, não estou certa? Quando você o balança eu posso ouvir o som das peças se encostando umas nas outras. – Se essa moça não parar de tagarelar, seremos capturados antes do anoitecer. – Você já pensou em não ser um ladrão? Sei lá, poderia ser um bravo cavaleiro real, imagina só?! Você seria admirado e seria inspiração...
– O que ouve com a primeira regra? – Pergunto sem me virar para trás.
– Podemos parar e descansar? Não estou acostumada a andar tanto, meus pés doem e também estou sentindo fome, lembre-se que você será recompensado, então, deve me tratar como uma princesa.
Certo. Se eu vou levá-la até o seu destino, preciso mesmo entrar em um acordo com ela.
Paro e me viro para trás.
E novamente ela se assusta.
– Por acaso não prefere que eu lhe leve em meus ombros? Princesa. – Questiono observando seu rosto corar ao encarar meus olhos.
Eu preciso de mais ouro, por esse motivo aceitei levá-la. Se bem que, eu não deixaria uma moça tão ingênua à solta e sozinha por aí. Ela realmente deu muita sorte de ser eu quem ela resolveu perseguir para ajudá-la.
– Eu não sou uma princesa, acredite, não sou. – Como ela consegue ser assim tão inocente?
Acho isso uma perca de tempo.
– É a minha princesa, à menos que deseja ser a minha rainha, a escolha é sua... Qual é o seu nome?
– Meu nome é Lívia, não quero ser uma princesa, apenas tratada como uma, entendeu?
– É algum fetiche seu?
– Como?
– Você ficaria excitada se eu te tratasse feito uma princesa?
– Mas, que ultraje! Peço que me respeite senhor Vicent! Eu morei a vida toda em um mosteiro! Não sou dada a essas insanidades! – Eu me arrependo muito do que eu acabei de dizer.
Ela parece muito indignada com a minha brincadeira.
Realmente, não levo jeito com jovens moças ingênuas.
– Então não deveria ter fugido de lá. – Digo e me volto a caminhar.
Não conheço esse país, a vida toda eu morei mais ao Norte, em Eferishua, por esse motivo eu também não sei ao certo como chegar em Luzem, mas, isso é fácil de resolver.
Quando chegamos onde eu deixei o meu cavalo, deixo o saco no chão e Lívia fica me olhando aliviada enquanto eu desamarro a corda, de certo que Lívia está cansada, é visível em seus olhos azuis cinzentos parecidos com um céu nublado.
– Pobre animal. – Resmunga. – Terá de levar à nós dois, imagino que deve ser difícil para ele, porque...
– Por sorte você nem fará diferença, acredito que não pese mais que trinta quilos.
– Luzem está muito longe?
Caminho até ela mas ela recua.
– Vou te colocar no cavalo, minha princesa. – Sorrio me divertindo quando ela finge não se abalar.
Ergo-a e a coloco no cavalo.
– Obrigada. – Diz com o pequeno nariz empinado.
– Ainda não sei onde fica Luzem. – Digo entregando o saco para que ela segure enquanto eu subo.
Ela fica olhando indecisa.
– Não quero ser sua cúmplice.
– Você já é a minha cúmplice. – Reviro os olhos. – Segure para mim, você está ocupando muito espaço, prefere que eu te deixe aqui e siga apenas com o saco?
Lívia pega o saco com pouca vontade.
Ignoro sua expressão de mimada e subo no cavalo, abraçando-a pôr trás e sentindo um profundo desejo de apertá-la mais contra mim. Foi assim quando eu tapei a boca dela atrás da árvore.
Preciso muito de uma meretriz, pra satisfazer os meus desejos naturais.
Me sinto sujo só de imaginar tocar essa moça, Lívia, mas que praga de perfume doce.
O que aconteceu que ela está calada?
Provavelmente deve ter se zangado com a minha brincadeira minutos atrás.
Dane-se. De qualquer forma, o silêncio é melhor.
(...)
Depois de termos cavalgados por uma hora seguida, chegamos em um vilarejo adorável. As pessoas parecem ter bastante de posses. Eu poderia roubar algo aqui.
– Está com fome? – Pergunto pra tirá-la desse silêncio que deve ser torturante para ela.
– Sim, estou com dores nas costas também, estou cansada demais... Será que Luzem está muito longe?
– Vamos passar a noite aqui.
– Mas ainda está cedo! Eu aguento, podemos continuar!
– Não, iremos passar a noite aqui, estou cansado. – Digo parando o cavalo em frente à um estabelecimento quase vazio.
Aqui é perfeito para uma noite tranquila e sem nenhuma surpresa desagradável.
– Nossa, não posso me demorar muito para chegar até Luzem, se os guardas chegarem antes de mim então estarei perdida. – Lívia reclama enquanto eu desmonto.
– Sinto muito lhe informar, alteza, mas a senhorita já está perdida. – Digo lhe estendendo os braços para ajudá-la a descer.
Percebo que está pensativa, e não de um jeito bom.
– Nada está saindo como eu planejei. – Resmunga com ombros caídos.
– Eu atrapalhei os seus planos, foi isso?
– Não é isso, é que eu não sabia muito bem o que fazer depois de estar fora do mosteiro... Eu só queria ir pra casa... Intacta.
– É isso que vai acontecer, vou te levar pra casa, intacta. – Sorrio para lhe demonstrar segurança.
Não suporto ver uma coisa tão frágil se sentindo amedrontada. Estranhamente eu sinto vontade de protegê-la. De mim mesmo.
– Promete, senhor Vicent? – Céus.
Porque ela está me estendendo o mindinho?
Isso é coisa de criança.
Arg.
– Prometo, alteza. – Estendo-lhe o meu mindinho e dessa forma eu faço a coisa mais tola que eu já devo ter feito em toda a minha existência.
Ela me sorri tímida.
Observo que algumas pessoas saíram de dentro do estabelecimento e estão nos sondando disfarçadamente.
Na certa como estão falando sobre a possibilidade de sermos um casal em fuga. E estão quase certos, pelo menos na parte da fuga.
LíviaEntro no estabelecimento sob olhares curiosos de estranhos.– Por favor, alteza. – Vicent diz enquanto me espera passar pela porta.Vicent parece querer me torturar com essa estupidez em me chamar de alteza, mau sabe ele que realmente sou.Eu apenas quis dizer para ele ser mais agradável comigo, pois ele é muito rude, mas ele insiste em ser irônico em me chamar de alteza. Arg.– Pare de bobagens. – Sorrio sem graça, pois uma mulher ouviu ele me chamar de alteza.Não quero chamar a atenção de ninguém. Não posso deixar ninguém saber que eu realmente sou a princesa.Eu não queria passar a noite aqui, eu deveria já estar chegando em Luzem, os guardas provavelmente já estão lá e logo meu pai vai pôr toda a cavaleria atrás de mim. Mas o que está feito já está feito. Quis o destino que eu me encontrasse com o senhor Vicent, o destino ou a minha estupidez,
Lívia Já que estamos aqui eu poderia aproveitar e descansar, já que estamos aqui e não lá fora indo pra casa.– Descanse. – Ele pode ouvir pensamentos, é isso?Espero que não.– Eu não conseguiria me deitar com um desconhecido tão próximo de mim.– Pare de dizer asneiras, já somos próximos, e se eu fosse lhe fazer alguma coisa eu já teria feito, tranquilize-se, você não me atrai em nada. – Se levanta da cadeira e começa a observar para fora da cortina da janela, sondando.– Está preocupado com algo senhor Vicent? – Pergunto tentando ignorar o fato de que o primeiro homem lindo que eu encontro em toda a minha vida não se sente atraído por mim.Ótimo. Eu nunca iria querer nada com um ladrão. Um criminoso. Um libertino.– Não interessa à você, doce Lívia, apenas descanse e deixe todo o mais para mim, pode ser? – Como ele ou
Vicent– Estamos à procura de um criminoso alto e branco de aproximadamente trinta anos, ele roubou o santo mosteiro e sequestrou uma das irmãs, se alguém aqui o está escondendo, será julgado como cúmplice de roubo e sequestro. – O guarda superior diz em tom sério e acusador.– Aqui não tem ninguém com essa característica, somos todos homens de bem e não iríamos apoiar tamanho crime. – Digo fingindo indignação.– Sim, aqui não há nenhum ladrão. – Lúcio afirma.Os guardas entram ainda mais e começam a vasculhar por tudo.Eu nunca fui tão perseguido dessa forma, talvez Kahabe seja mais intolerante com ladrões. Deve ser por isso que o reino é próspero.– Iremos pernoitar em sua vila, nos acolham em nome do rei Garth, amanhã iremos retomar as buscas pelo criminoso, a irmã que ele sequestrou está correndo enorme perigo, el
Sessenta e nove dias depois...TrentoAproximadamente vinte e seis anos se passaram. Longos e infindáveis vinte e seis anos.– Querido!? – Me sobressalto com a voz calma de Diane. – Está perdido em pensamentos novamente?Eu sobrevivi. Posso dizer com todas as letras que a vida não é fácil. Poderia ter sido mais fácil, mas dificilmente é.– Sim. – Sussurro sem muita atenção.Estou há vinte e seis anos procurando, procurando e procurando. Não perco as esperanças, preciso encontrar o meu filho. Algo me diz que ele está próximo. Não posso desistir de encontrar ele.– Suas filhas estão lhe aguardando para o passeio que prometestes à elas. – Diane beija as minhas mãos e então se retira, deixando-me com meus pensamentos em minha poltrona do gabinete.Ela é uma boa esposa, uma b
Aproximadamente vinte dias depois...VicentConfesso que eu nunca estive em um calabouço tão bem guardado, essa é nova pra mim, geralmente eles me jogam em uma masmorra qualquer de fuga fácil. Kahabe é mesmo um país diferente, com leis mais severas. Espero não ser decapitado. Estou sentado em um canto escuro, o mais retirado possível dos ferros que me cercam, e se eu quiser ficar em pé não terei espaço o suficiente para que eu fique de corpo bem esticado, aqui é muito baixo. Não tomo banho desde há muito tempo, estou fedendo, essa situa&ccedi
Vicent– Eu não quero atrapalhar os seus planos, posso lhe falar depois que você já tiver feito o que seja que tiver que fazer aqui nesse buraco. – Digo assim que saio de dentro da cela.O rei só só fica me olhando. É, eu estou horrível.– Vicent, demonstre mais modos ao se dirigir ao grandioso rei de Marlenout! – Tobias diz entredentes.– Rei de Marlenout? Pensei que estivéssemos em Kahabe... Eu estou a tanto tempo nesse lugar asqueroso que perdi a noção de tudo, perdão, majestade. – Me reverencio sentindo-me confuso.– Pare com isso. – O rei me diz com um olhar estranho.Ele parece estar sentindo algum tipo de dor.Este ligar aqui em baixo faz isso com as pessoas.– Está se sentindo bem, majestade? – Tobias pergunta visivelmente preocupado.– Eu garanto que quando o senhor ver o tesouro, t
Trento– Rei, digo, majestade, ao longo da minha caminhada eu encontrei um magnífico tesouro! Digno da sua grandiosidade, lhe trará muita glória e honra, poderá expandir muito mais a sua soberania por todos os outros reinos do mundo. – Interessante. – Se vossa majestade perdoar os meus crimes que eu confesso, roubei, lembrando que eu não sequestrei a jovem irmã, ela fugiu por livre e espontânea vontade, mas, se vossa majestade perdoar os meus crimes, eu lhe asseguro que será muito bem recompensado com o maior tesouro já visto pela humanidade. – Muito interessante a forma como ele tenta me enrolar para que o eu o tire daqui.Ele é inteligente.– Tire-no daí, ande! Estou com muita pressa! Tire-no dessa cela imunda! – Afinal, não sei o que esse homem está esperando.– Isso, majestade, o senhor está fazendo a coisa certa. – Meu coração está dilacerado.
LíviaMeu pai custou acreditar que eu não fui sequestrada. E quando eu finalmente consegui convencê-lo, ele quase morreu de um ataque cardíaco que deu nele.Desde que os soldados nos encontrou, à mim e ao Vicent, estou me sentindo culpada.Por minha causa ele foi pego, por mim causa ele morreu...Meu coração sangra muito pela morte de Vicent. Meu pai é muito cruel.Me lembro claramente, da conversa que eu tive com ele, em prantos:"– Eu o enforquei! Você nunca mais verá aquele criminoso em sua vida, pois ele colocou em risco a sua reputação! Sabe o que poderia ter lhe acontecido?– Mas pai! Ele não fez nada comigo! Ele era um homem gentil e cavalheiro! O mau modo dele foi consequência de uma vida miserável! Você não pode estar falando sério! Você não o matou!– Está chorando por quê minha filha? E depois desses lamentos todos você vem me dizer que e