Capítulo 5

Lívia

Entro no estabelecimento sob olhares curiosos de estranhos. 

– Por favor, alteza. – Vicent diz enquanto me espera passar pela porta. 

Vicent parece querer me torturar com essa estupidez em me chamar de alteza, mau sabe ele que realmente sou.

Eu apenas quis dizer para ele ser mais agradável comigo, pois ele é muito rude, mas ele insiste em ser irônico em me chamar de alteza. Arg.

– Pare de bobagens. – Sorrio sem graça, pois uma mulher ouviu ele me chamar de alteza.

Não quero chamar a atenção de ninguém. Não posso deixar ninguém saber que eu realmente sou a princesa.

Eu não queria passar a noite aqui, eu deveria já estar chegando em Luzem, os guardas provavelmente já estão lá e logo meu pai vai pôr toda a cavaleria atrás de mim. Mas o que está feito já está feito. Quis o destino que eu me encontrasse com o senhor Vicent, o destino ou a minha estupidez, seja como for já estou aqui. E não posso mesmo arriscar ir sozinha, preciso do senhor Vicent, que tem se mostrado um homem bom, apesar de ser um completo libertino.

– Dois quartos para passarmos a noite, e um lugar para o nosso cavalo descansar, por gentileza. – Digo assim que chego até o balcão. – E também queremos o jantar, e claro, nosso cavalo também precisa se alimentar então... 

– Minha esposa se confundiu, queremos apenas um quarto. – Vicent diz jogando suas mãos por cima de meus ombros.

Congelo.

Mas que atrevido!

Como ele ousa?

– Como quiserem. – O senhor baixinho e barrigudo, provavelmente dono desde lugar, diz me olhando dos pés à cabeça.

Desvio o olhar sem saber o que fazer. Não posso fazer nada que chame a atenção para nós. 

– Por favor, não nos incomodem por nada! Somos recém casados e não queremos ser perturbados... O senhor será muito bem recompensado pela sua descrição. – Vicent sussurra e mostra um punhado de ouro para o senhor, este por sua vez estalou os olhos muito interessado. 

Permaneço em total silêncio, até que chegamos ao quarto, que por sinal achei muito pequeno, quase igual ao do mosteiro, possui apenas uma cama velha de casal, uma cadeira e um pequeno móvel para guardarmos a roupa, essa que eu não trouxe.

Me lembro do meu quarto no Palácio, é enorme... Com uma decoração digna de uma pequena imperatriz.

Ahhhh... Como anseio por esses pequenos grandes prazeres.

– Vou lhes deixar à sós, divirtam-se. – O velho senhor diz se retirando do quarto.

Passo as mãos pelo meu rosto, sinto que estou bem quente. Deve ser essa vergonha que Vicent me fez passar.

– Senhor Vicent, espero que esteja satisfeito, pois agora todos irão nos tomar por um casal, coisa que o senhor sabe muito bem que não somos. – Sento-me na beirada da velha cama e cruzo os braços, sem olhar nos olhos dele.

Tem alguma coisa ali que eu não consigo encarar.

– Não poderíamos ficar em dois quartos, Lívia, seria mais difícil de escaparmos os dois, caso aconteça algum imprevisto.

– Que tipo de imprevisto? Acha que sabem quem eu sou? Acha que meu pai pode entrar por aquela porta à qualquer momento? Acha que...

– Estou dizendo por mim! Por você eu não acho que irão procurar por muito tempo, você é apenas uma jovem moça que estava abandonada no mosteiro pelo próprio pai... Já eu roubei ouro! O ouro faz as pessoas moverem montanhas... Entende? Então acho que pode existir uma possibilidade de nós rastrearem até aqui. – Vincet pega algo por dentro de sua roupa.

Se eu não me engano é um cachimbo.

– Meu pai não me abandonou no mosteiro. – Defendo-me.

Se ele soubesse que eu sou a princesa de Kahabe, não ficaria se vangloriando por ser um ladrão.

– Pense como quiser. – Eu não acredito que ele vai acender o cachimbo.

– Por favor, não ouse acender essa coisa perto de mim. – Peço me afastando o mais longe possível.

– O quê? Isso? – Diz analisando o cachimbo.

Apenas faço sinal positivo com a cabeça.

– Doce Lívia, você por acaso já experimentou um desses? – Ele esta acendendo!

– Pode por favor ir com esse negócio lá para fora? Eu já não trouxe roupa pra poder tomar um banho e trocar de vestes, imagina se esse cheiro impregnar em mim! Meu pai vai m****r executar você! Na verdade ele já vai fazer isso se souber que eu estou em um quarto com você, já foi por esse motivo que ele me trancafiou dentro de um mosteiro, imagina só se ele souber que estou à sós com um homen tão...

– Lívia... – Como ele veio parar em minha frente tão rápido? Ele levanta o meu queixo para que eu o encare.

– S-sim? – Quase perco a noção de espaço estando tão próximo de seu rosto.

Eu já li alguns romances... Sei muito bem que estar assim tão próxima de um homem não é algo comum. 

– Pare de ser mandona, tudo bem?  – Devolve o cachimbo para dentro das vestes enquanto fico olhando para seus olhos, tentando enchergar por dentro deles. 

– Obrigada. – Sorrio. – O senhor é um cavalheiro. 

Ele ignora completamente o meu comentário. E vai se sentar na cadeira próxima à janela. 

Ótimo. 

Gosto muito de ser ignorada, principalmente pelo senhor Vicent. 

Que homem estranho. 

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