Lívia
Entro no estabelecimento sob olhares curiosos de estranhos.
– Por favor, alteza. – Vicent diz enquanto me espera passar pela porta.
Vicent parece querer me torturar com essa estupidez em me chamar de alteza, mau sabe ele que realmente sou.
Eu apenas quis dizer para ele ser mais agradável comigo, pois ele é muito rude, mas ele insiste em ser irônico em me chamar de alteza. Arg.
– Pare de bobagens. – Sorrio sem graça, pois uma mulher ouviu ele me chamar de alteza.
Não quero chamar a atenção de ninguém. Não posso deixar ninguém saber que eu realmente sou a princesa.
Eu não queria passar a noite aqui, eu deveria já estar chegando em Luzem, os guardas provavelmente já estão lá e logo meu pai vai pôr toda a cavaleria atrás de mim. Mas o que está feito já está feito. Quis o destino que eu me encontrasse com o senhor Vicent, o destino ou a minha estupidez, seja como for já estou aqui. E não posso mesmo arriscar ir sozinha, preciso do senhor Vicent, que tem se mostrado um homem bom, apesar de ser um completo libertino.
– Dois quartos para passarmos a noite, e um lugar para o nosso cavalo descansar, por gentileza. – Digo assim que chego até o balcão. – E também queremos o jantar, e claro, nosso cavalo também precisa se alimentar então...
– Minha esposa se confundiu, queremos apenas um quarto. – Vicent diz jogando suas mãos por cima de meus ombros.
Congelo.
Mas que atrevido!
Como ele ousa?
– Como quiserem. – O senhor baixinho e barrigudo, provavelmente dono desde lugar, diz me olhando dos pés à cabeça.
Desvio o olhar sem saber o que fazer. Não posso fazer nada que chame a atenção para nós.
– Por favor, não nos incomodem por nada! Somos recém casados e não queremos ser perturbados... O senhor será muito bem recompensado pela sua descrição. – Vicent sussurra e mostra um punhado de ouro para o senhor, este por sua vez estalou os olhos muito interessado.
Permaneço em total silêncio, até que chegamos ao quarto, que por sinal achei muito pequeno, quase igual ao do mosteiro, possui apenas uma cama velha de casal, uma cadeira e um pequeno móvel para guardarmos a roupa, essa que eu não trouxe.
Me lembro do meu quarto no Palácio, é enorme... Com uma decoração digna de uma pequena imperatriz.
Ahhhh... Como anseio por esses pequenos grandes prazeres.
– Vou lhes deixar à sós, divirtam-se. – O velho senhor diz se retirando do quarto.
Passo as mãos pelo meu rosto, sinto que estou bem quente. Deve ser essa vergonha que Vicent me fez passar.
– Senhor Vicent, espero que esteja satisfeito, pois agora todos irão nos tomar por um casal, coisa que o senhor sabe muito bem que não somos. – Sento-me na beirada da velha cama e cruzo os braços, sem olhar nos olhos dele.
Tem alguma coisa ali que eu não consigo encarar.
– Não poderíamos ficar em dois quartos, Lívia, seria mais difícil de escaparmos os dois, caso aconteça algum imprevisto.
– Que tipo de imprevisto? Acha que sabem quem eu sou? Acha que meu pai pode entrar por aquela porta à qualquer momento? Acha que...
– Estou dizendo por mim! Por você eu não acho que irão procurar por muito tempo, você é apenas uma jovem moça que estava abandonada no mosteiro pelo próprio pai... Já eu roubei ouro! O ouro faz as pessoas moverem montanhas... Entende? Então acho que pode existir uma possibilidade de nós rastrearem até aqui. – Vincet pega algo por dentro de sua roupa.
Se eu não me engano é um cachimbo.
– Meu pai não me abandonou no mosteiro. – Defendo-me.
Se ele soubesse que eu sou a princesa de Kahabe, não ficaria se vangloriando por ser um ladrão.
– Pense como quiser. – Eu não acredito que ele vai acender o cachimbo.
– Por favor, não ouse acender essa coisa perto de mim. – Peço me afastando o mais longe possível.
– O quê? Isso? – Diz analisando o cachimbo.
Apenas faço sinal positivo com a cabeça.
– Doce Lívia, você por acaso já experimentou um desses? – Ele esta acendendo!
– Pode por favor ir com esse negócio lá para fora? Eu já não trouxe roupa pra poder tomar um banho e trocar de vestes, imagina se esse cheiro impregnar em mim! Meu pai vai m****r executar você! Na verdade ele já vai fazer isso se souber que eu estou em um quarto com você, já foi por esse motivo que ele me trancafiou dentro de um mosteiro, imagina só se ele souber que estou à sós com um homen tão...
– Lívia... – Como ele veio parar em minha frente tão rápido? Ele levanta o meu queixo para que eu o encare.
– S-sim? – Quase perco a noção de espaço estando tão próximo de seu rosto.
Eu já li alguns romances... Sei muito bem que estar assim tão próxima de um homem não é algo comum.
– Pare de ser mandona, tudo bem? – Devolve o cachimbo para dentro das vestes enquanto fico olhando para seus olhos, tentando enchergar por dentro deles.
– Obrigada. – Sorrio. – O senhor é um cavalheiro.
Ele ignora completamente o meu comentário. E vai se sentar na cadeira próxima à janela.
Ótimo.
Gosto muito de ser ignorada, principalmente pelo senhor Vicent.
Que homem estranho.
Lívia Já que estamos aqui eu poderia aproveitar e descansar, já que estamos aqui e não lá fora indo pra casa.– Descanse. – Ele pode ouvir pensamentos, é isso?Espero que não.– Eu não conseguiria me deitar com um desconhecido tão próximo de mim.– Pare de dizer asneiras, já somos próximos, e se eu fosse lhe fazer alguma coisa eu já teria feito, tranquilize-se, você não me atrai em nada. – Se levanta da cadeira e começa a observar para fora da cortina da janela, sondando.– Está preocupado com algo senhor Vicent? – Pergunto tentando ignorar o fato de que o primeiro homem lindo que eu encontro em toda a minha vida não se sente atraído por mim.Ótimo. Eu nunca iria querer nada com um ladrão. Um criminoso. Um libertino.– Não interessa à você, doce Lívia, apenas descanse e deixe todo o mais para mim, pode ser? – Como ele ou
Vicent– Estamos à procura de um criminoso alto e branco de aproximadamente trinta anos, ele roubou o santo mosteiro e sequestrou uma das irmãs, se alguém aqui o está escondendo, será julgado como cúmplice de roubo e sequestro. – O guarda superior diz em tom sério e acusador.– Aqui não tem ninguém com essa característica, somos todos homens de bem e não iríamos apoiar tamanho crime. – Digo fingindo indignação.– Sim, aqui não há nenhum ladrão. – Lúcio afirma.Os guardas entram ainda mais e começam a vasculhar por tudo.Eu nunca fui tão perseguido dessa forma, talvez Kahabe seja mais intolerante com ladrões. Deve ser por isso que o reino é próspero.– Iremos pernoitar em sua vila, nos acolham em nome do rei Garth, amanhã iremos retomar as buscas pelo criminoso, a irmã que ele sequestrou está correndo enorme perigo, el
Sessenta e nove dias depois...TrentoAproximadamente vinte e seis anos se passaram. Longos e infindáveis vinte e seis anos.– Querido!? – Me sobressalto com a voz calma de Diane. – Está perdido em pensamentos novamente?Eu sobrevivi. Posso dizer com todas as letras que a vida não é fácil. Poderia ter sido mais fácil, mas dificilmente é.– Sim. – Sussurro sem muita atenção.Estou há vinte e seis anos procurando, procurando e procurando. Não perco as esperanças, preciso encontrar o meu filho. Algo me diz que ele está próximo. Não posso desistir de encontrar ele.– Suas filhas estão lhe aguardando para o passeio que prometestes à elas. – Diane beija as minhas mãos e então se retira, deixando-me com meus pensamentos em minha poltrona do gabinete.Ela é uma boa esposa, uma b
Aproximadamente vinte dias depois...VicentConfesso que eu nunca estive em um calabouço tão bem guardado, essa é nova pra mim, geralmente eles me jogam em uma masmorra qualquer de fuga fácil. Kahabe é mesmo um país diferente, com leis mais severas. Espero não ser decapitado. Estou sentado em um canto escuro, o mais retirado possível dos ferros que me cercam, e se eu quiser ficar em pé não terei espaço o suficiente para que eu fique de corpo bem esticado, aqui é muito baixo. Não tomo banho desde há muito tempo, estou fedendo, essa situa&ccedi
Vicent– Eu não quero atrapalhar os seus planos, posso lhe falar depois que você já tiver feito o que seja que tiver que fazer aqui nesse buraco. – Digo assim que saio de dentro da cela.O rei só só fica me olhando. É, eu estou horrível.– Vicent, demonstre mais modos ao se dirigir ao grandioso rei de Marlenout! – Tobias diz entredentes.– Rei de Marlenout? Pensei que estivéssemos em Kahabe... Eu estou a tanto tempo nesse lugar asqueroso que perdi a noção de tudo, perdão, majestade. – Me reverencio sentindo-me confuso.– Pare com isso. – O rei me diz com um olhar estranho.Ele parece estar sentindo algum tipo de dor.Este ligar aqui em baixo faz isso com as pessoas.– Está se sentindo bem, majestade? – Tobias pergunta visivelmente preocupado.– Eu garanto que quando o senhor ver o tesouro, t
Trento– Rei, digo, majestade, ao longo da minha caminhada eu encontrei um magnífico tesouro! Digno da sua grandiosidade, lhe trará muita glória e honra, poderá expandir muito mais a sua soberania por todos os outros reinos do mundo. – Interessante. – Se vossa majestade perdoar os meus crimes que eu confesso, roubei, lembrando que eu não sequestrei a jovem irmã, ela fugiu por livre e espontânea vontade, mas, se vossa majestade perdoar os meus crimes, eu lhe asseguro que será muito bem recompensado com o maior tesouro já visto pela humanidade. – Muito interessante a forma como ele tenta me enrolar para que o eu o tire daqui.Ele é inteligente.– Tire-no daí, ande! Estou com muita pressa! Tire-no dessa cela imunda! – Afinal, não sei o que esse homem está esperando.– Isso, majestade, o senhor está fazendo a coisa certa. – Meu coração está dilacerado.
LíviaMeu pai custou acreditar que eu não fui sequestrada. E quando eu finalmente consegui convencê-lo, ele quase morreu de um ataque cardíaco que deu nele.Desde que os soldados nos encontrou, à mim e ao Vicent, estou me sentindo culpada.Por minha causa ele foi pego, por mim causa ele morreu...Meu coração sangra muito pela morte de Vicent. Meu pai é muito cruel.Me lembro claramente, da conversa que eu tive com ele, em prantos:"– Eu o enforquei! Você nunca mais verá aquele criminoso em sua vida, pois ele colocou em risco a sua reputação! Sabe o que poderia ter lhe acontecido?– Mas pai! Ele não fez nada comigo! Ele era um homem gentil e cavalheiro! O mau modo dele foi consequência de uma vida miserável! Você não pode estar falando sério! Você não o matou!– Está chorando por quê minha filha? E depois desses lamentos todos você vem me dizer que e
TrentoConfesso que no fundo eu fiquei aliviado. O danado sabe se cuidar. Mas é de suma importância que eu o recupere. Ele precisa estar ao meu lado e ser o meu filho.Vim até o gabinete de Garth atrás de notícias.– Garth, alguma novidade sobre o meu filho?– Não, lamento Trento, mas garanto que será encontrado, ele não conseguirá escapar de meus homens.– Ele está confuso, ele não sabe que...– Ele é um homem perigoso, capaz de maldades extremas, sinto muito, mas você não deve simplesmente confiar nele... Ele nos roubou! Depois de você o tratar com tanta relevância!– Não se esqueça que ele esteve preso aqui por meses! Ele provavelmente quis revidar, sabemos o que a revolta pode levar o ser humano a fazer.– Entendo que ele é seu filho, mas, ele é um criminoso, roubou a sua coroa, isso é imperdoável! Roubou minhas taças raríssimas! Sin