Naquela época, ele ainda era apenas um jovem policial.Marquei um encontro com ele em uma cafeteria ao lado da universidade. Através das janelas limpas, vi ele se aproximando passo a passo. Em alguns anos, o jovem de olhar ardente e cheio de paixão ganhou uma expressão mais endurecida e resoluta.Quando a porta foi empurrada e o sino tocou alto, várias pessoas voltaram seus olhares para ele. Mas ele só tinha olhos para mim.Levantei-me e sorri para ele.— Vou precisar da sua ajuda mais uma vez.— Não é incômodo.Com a ajuda dele, consegui ver o mendigo sem maiores dificuldades.Ele se chamava Moisés Godoy e estava sentado, quieto, encarando as algemas em seus pulsos. Nem mesmo reagiu quando me apresentei.Disse a ele:— Ana. Sou a garota que você tentou incriminar.Ao ouvir minha voz, ele finalmente reagiu, levantando o olhar para mim. Aqueles olhos mostravam claramente que era a primeira vez que me via.— Pode ir embora. — Ele disse, abaixando a cabeça novamente.Eu tinha me esforça
Liguei para Juan, e o celular tocou algumas vezes antes que ele atendesse. Sua voz estava abafada e rouca, como se tivesse passado a noite em claro e acabado de adormecer.Percebi que talvez interrompesse seu descanso, então agradeci e tentei desligar, mas ele me orientou a reconsiderar minha direção.— Descobri que Moisés tinha uma esposa e uma filha, mas há três meses elas o deixaram por causa de sua pobreza. Mesmo vagando pelas ruas, ele sempre perambula pelos caminhos onde elas poderiam aparecer, o que prova que ele ainda se preocupa com elas. Talvez você possa explorar essa relação para encontrar um ponto de ruptura.Ele foi bastante sutil em suas palavras, mas pude sentir que ele estava sendo muito cuidadoso para preservar meu orgulho.Não havia almoço grátis. O cuidado de Juan comigo me deixava inquieta, mesmo com a presença de Rui.Depois do que aconteceu com Bruno, passei a ser cautelosa com as pessoas.— Adv. Juan, podia me dizer por que está me ajudando tanto assim?Bruno t
Não pude deixar de observar a mãe dela. Se fosse minha filha sendo maltratada, eu certamente teria corrido para defendê-la. Mas a mãe dela ficou parada na entrada da escola, enxugando silenciosamente as lágrimas, sem intervir. Eu só podia dizer que respeitaria a escolha dela...No entanto, ao ver o quão amarga era a vida que levavam, comecei a questionar se eu ainda deveria suspeitar delas. Seria que minha abordagem estava errada?Enquanto estava distraída, tentando organizar meus pensamentos, uma viatura policial parou de repente na minha frente. As portas se abriram, e vários policiais desceram rapidamente. Um deles algemou meu pulso e me puxou para dentro do carro.Fui levada direto para o centro de detenção onde estive ontem, e colocada na cela ao lado de Moisés.Assim que ele me viu, começou a gritar, animado:— Ela entrou! Ela entrou! Posso sair agora? Polícia, me deixem sair!Um dos policiais bateu com o cassetete na porta da cela dele e gritou:— Cale a boca! Se comporte!Fiq
Moisés desabou e me gritou furiosamente:— Eu devia ter te matado! Não, eu devia matar todos vocês! Vou matar todos vocês!Infelizmente, ele provavelmente não teria a chance de cumprir suas ameaças. Moisés confessou todos os seus crimes, o que significava que o julgamento seria mais rápido do que o normal. E com o apoio da família Henriques, a data do tribunal foi marcada para daqui a uma semana. Se não fosse por isso, eu não estaria tão apressada.— Se você não mudar seu depoimento agora, ninguém poderá te salvar! — Aumentei o tom de voz para abafar os insultos dele, gritando de volta.De repente, a porta se abriu de fora para dentro, deixando alguns feixes de luz escaparem até os meus pés. O pó no ar parecia encenar uma fuga desesperada, trazendo uma sensação de calma misturada com loucura.Ergui os olhos e vi Bruno, todo vestido de preto, parado na entrada, bloqueando a única fonte de luz. Por um momento, o silêncio tomou conta da cela, interrompido apenas pelos gritos de Moisés. Er
Balancei a cabeça, vendo nos olhos dele uma mulher de olhar vazio e mente perturbada. Esforcei-me para controlar a expressão, sabendo que, se não o fizesse, a próxima coisa que ele diria seria que eu estava horrível.— Esperei quatro anos para você começar a trabalhar no meu escritório, e você ainda falta ao serviço! O seu primeiro mês de salário já foi descontado, trabalhar foi uma perda de tempo!O olhar de desprezo dele me fazia querer fugir.Afastei-me, criando distância entre nós, e limpei a mão onde ele havia tocado, com um gesto de repulsa.— Rui, você é insuportável!— Sim. — Ele soltou uma leve risada, o tom frio. — Espere até sair daqui para continuar me odiando.Sentei-me, abraçando os joelhos, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. Diante da situação em que me encontrava, a ideia de sair daqui parecia impossível.Bruno tinha em mãos as “provas” de que eu havia contratado alguém para matar Gisele. Não havia ninguém para me ajudar.Olhei para Rui com os olhos vermelhos.
Ótimo!Quando Gisele me entregou os documentos, eu mal pude conter a ansiedade e estendi a mão para pegá-los rapidamente. No entanto, após uma leitura superficial, percebi logo que não poderia assinar aquele acordo de divórcio.Gisele voltou a se sentar na cadeira e, ao notar que eu não fazia nenhum movimento, soltou um comentário surpreso.— Ana, acabei de lembrar que não trouxe uma caneta para você, e agora? — Ela arregalou os olhos, pressionando as mãos contra as bochechas em uma expressão de surpresa. — Irmão, quer que eu peça para alguém trazer uma caneta?Bruno balançou a cabeça.— Ana, você não estava sempre querendo o divórcio? Pode morder o dedo e assinar com sangue, afinal, não é incomum você fazer coisas autodestrutivas.Seu olhar era frio e impiedoso, como uma lâmina afiada cintilando com o reflexo do gelo, parecendo querer perfurar um buraco em meu corpo.Um calafrio percorreu meu coração, e o simples ato de respirar se tornou difícil ao ouvir aquelas palavras.O ambiente
As pupilas de Bruno estavam escuras, e seu corpo tremia. Seu olhar atravessou a multidão agitada, percorrendo todo o espaço da sala até encontrar o meu. Vi sua mão ao lado do corpo lentamente se fechar, como se tivesse ouvido algo inacreditável, e ele me olhou de forma atônita, como se nunca tivesse me conhecido. Sorri para ele, lágrimas cristalinas escorrendo pelos cantos dos meus olhos, e o chamei: — Bruno, eu te odeio! Eu fui empurrada de um lado para o outro, meu corpo já não tinha mais sensibilidade, e tudo o que passava pela minha mente eram as pequenas lembranças de mim e Bruno. No passado, eu gostava tanto de fazer manha para ele. Quando estávamos juntos, eu me esfregava nele como um gatinho, insistindo para chamá-lo de marido. Eu ficava corada, pedindo que ele me beijasse, que me amasse. Eu o amava, e estava disposta a dar tudo de mim para ele. Minhas lágrimas caíram, e Bruno, no fim, não pôde se conter e veio em minha direção a passos largos. Ele deu um chut
Eu o encarava com uma expressão vazia, aguardando que ele completasse a assinatura. Gisele puxou a manga de camisa dele, mas ele não reagiu nem um pouco. O sorriso no rosto dela foi forçado. — Irmão, se você não quiser mais se divorciar de Ana, eu sou a primeira a concordar. Enquanto falava, seu sorriso se ampliou, e ela até deu um salto de alegria. Bruno, no entanto, permaneceu imóvel. Todos na sala prenderam a respiração, esperando que ele assinasse, mas de repente, ele rasgou o acordo em pedaços. Quando falou, sua voz tremia: — Você quer ir para a prisão? Se você se divorciar de mim agora, ninguém vai se importar com você. Eu te pergunto: você quer ir para a prisão? Bruno elevou o tom e soltou uma risada amarga. Respirei fundo. — Não preciso que você se preocupe comigo. Assine logo e suma daqui com ela. Gisele deu de ombros. — Ana, por que você não escuta? Está sendo mais teimosa do que eu. Irmão, se você quiser, eu nem ligo mais, vamos levá-la embora, não fa