Maia arregalou os olhos, incrédula.— Bruno, o que você disse?— Não costumo repetir o que falo, você ouviu muito bem. — Bruno suspirou, mas suas palavras eram firmes.Maia levou quase três minutos para processar aquele fato, mas ainda assim não conseguia aceitar.— Bruno, você está dizendo que me usou e depois me chutou de lado? — Ela começou a rir, um riso meio descontrolado. — Bruno, estou sangrando, sangrando por sua causa, e você não acredita que é para o seu bem? A Ana não ouve nada, você não entende de mulheres, se quer conquistá-la, não pode usar meios normais, tem que ser mais duro! Você não entende? Tem que confiar em mim! Diga, desde quando eu já te enganei? Sempre fui a que mais te obedeceu, e mesmo que dê tudo errado com a Ana, você já não disse que, se no fim das contas perder o interesse nela, você vai se casar comigo? Eu não me importo se você me ama ou não, só quero um lar com você!Maia de repente rastejou de joelhos na cama e agarrou a manga de Bruno.— Bruno, você e
O que Bruno estava tentando alcançar era algo que, no final, já estava perdido. No começo, ele apenas sentiu que a temperatura desta cidade parecia ser mais fria do que em Cidade J, mas agora ele entendia. Esse ar úmido, que parecia se infiltrar nos pulmões e fazia seu corpo inteiro estremecer, se chamava solidão. Este inverno, sem Ana, parecia ainda mais gélido.Enquanto isso, eu sentia o oposto. Meu corpo parecia em chamas, quase queimando.Após sair do hospital, voltei novamente à delegacia, mas a resposta foi a mesma de antes: Luz não havia contratado um advogado, se recusava a falar com qualquer um.Antes de encontrar Maia, eu acreditava naquilo, mas agora, de jeito nenhum!— É você que não quer me deixar vê-la, ou é ela que não quer me ver? Fale a verdade!Mal terminei de dizer essas palavras e já me acusaram de obstrução de justiça, prendendo-me ali mesmo.Quando dois policiais enormes se lançaram sobre mim, não resisti. Achei que talvez isso fosse parte do castigo que Bruno
— Achei que a primeira coisa que você me perguntaria seria sobre o estado da sua amiga. — Bruno se virou lentamente, caminhando em minha direção, passo a passo. — Desde quando o Rui se tornou mais importante do que a sua amiga?A sombra de Bruno parecia pesar, como se tivesse substância. Por um instante, até respirar ficou difícil. Quando ele se aproximou, senti meu corpo estremecer. Eu estava presa no estreito espaço entre a parede e o peito dele, sem forças nem mesmo para resistir. — Você é desprezível! Olhou o meu celular! — Gritei. Ele arqueou as sobrancelhas, indiferente. — Sua amiga... E Rui... Só posso salvar um. Quem você escolhe? Enquanto Bruno fazia essa pergunta, seu coração também batia acelerado. Ele conseguia aceitar as brigas entre ele e Ana, conseguia aceitar que o relacionamento dos dois já não era como antes, mas o que ele não podia suportar era a ideia de Ana ter se apaixonado por outra pessoa nesse meio tempo. Ele havia superestimado a natureza humana
Bruno refletiu por um momento e então sorriu calmamente.— Então tente ver se ainda consegue entrar em contato com ele.Ele se virou para ir embora, mas depois de dar dois passos, parou novamente e olhou para trás, encarando-me com uma expressão quase compassiva.— Pode sair.Dessa vez, Bruno realmente foi embora. Sua silhueta escura quase se fundia com a escuridão da noite. Corri apressada, e agarrei a parte de trás de sua camisa, balançando-a com força.— Bruno, o que você fez com ele?!Em termos de força, eu nunca fui párea para Bruno. Por mais que eu usasse toda a minha energia, não consegui movê-lo nem um centímetro.Ele segurou meu pulso e olhou para mim com frieza.— Continue hesitando e não diga que eu não avisei... Você talvez nunca mais o veja! — Ele abriu um por um os meus dedos, que ainda estavam agarrados à manga de sua camisa, e enquanto ajeitava suas roupas, olhou diretamente nos meus olhos. — Quando você voltar para me implorar novamente, não serei tão compreensivo co
Por um instante, pensei em inúmeras formas de consolar a mim mesma.Aprender com a Maia talvez não fosse uma má ideia. Fechar os olhos, ignorar quantas mulheres estivessem ao redor de Bruno e simplesmente deixá-lo à vontade, como se eu fosse apenas uma esposa ornamental... Não parecia tão difícil.Por causa da minha teimosia, da minha obstinação, da minha imaturidade, já havia perdido minha mãe. Não podia me dar ao luxo de ser egoísta novamente.Eu não podia perder Luz, não podia perder Rui, não podia permitir que algo acontecesse com eles.Ao pensar na nova casa que arrumei com tanto carinho nos últimos dias, um soluço escapou involuntariamente da minha garganta. Quando levantei a cabeça, o céu, que antes estava claro, já começava a ser atingido pelas primeiras gotas de chuva.A mãe de Luz desceu as escadas e, ao me ver, estava prestes a falar, mas nossos olhares se cruzaram, e ela percebeu as lágrimas enchendo meus olhos.O susto foi visível em sua expressão, e seus passos se tornara
Desde o momento em que entrei no carro, Bruno sequer olhou diretamente para mim. Mesmo agora, seus olhos permaneciam fechados.Eu não conseguia enxergar quais sentimentos ele escondia por trás daquela máscara inexpressiva.“Que teatro ridículo!” pensei, com uma vontade súbita de rir. Eu sabia muito bem o que ele queria. Não havia necessidade de fazermos esse jogo de cena.— Quero que você me ajude. Luz e Rui, quero que eles fiquem bem.Bruno abriu os olhos bruscamente, seu olhar afiado como duas lâminas penetrantes, indo direto aos meus.Sentia uma dor involuntária em meus olhos. As lágrimas começaram a se acumular, como se meu corpo estivesse tentando aliviar a dor.Mencionar Rui fez Bruno se enfurecer.— Eu já te disse ontem, você está pedindo demais.Eu o encarei sem hesitar.— Porque o que você quer, por coincidência, eu tenho.Bruno soltou um leve e frio riso pelo nariz. Com uma das mãos, ele apoiou a cabeça e me olhou de lado. Era um perfil bonito, mas seu olhar, cheio de despr
Minhas mãos, trêmulas e sem saber o que fazer, agarraram o assento de couro debaixo de mim. Então, Bruno sabia de tudo...— Não vou descer. — Balancei a cabeça, recusando. — Não faz sentido, não vou voltar aqui nunca mais.Meu olhar se perdeu pela janela do carro, lançando um último e desesperado vislumbre para fora. Os últimos dias, que pareciam um sonho, receberam um final apressado e doloroso.Eu queria guardar uma lembrança, ter algo no coração, apenas isso.Quando voltei a atenção para dentro do carro, Bruno já não estava mais lá. A porta foi violentamente fechada por ele.De repente, como se tivesse o poder de se teletransportar, ele apareceu ao meu lado. Em um instante, abriu a porta com força, revelando seu rosto sombrio e cheio de raiva.Ele se abaixou bruscamente e agarrou meu pulso com força, sem dar espaço para qualquer resistência.Fui puxada para fora do carro de forma abrupta. Antes que eu pudesse sequer firmar os pés no chão, ele já havia dado alguns passos, e a força
Este aquário era muito mais grosso do que os comuns. Bruno pegou uma cadeira e a arremessou contra ele com tanta força que suas mãos ficaram dormentes, mas, além das douradas assustadas nadando dentro, o aquário não sofreu nenhum dano. Determinado a destruí-lo, ele continuou a atacar com fúria. Uma vez, duas vezes... Até que finalmente, uma abertura se formou no vidro, e a água jorrou violentamente, encharcando as barras da calça dele. Sem pensar duas vezes, usei minha roupa para pegar os peixes que saltavam pelo chão e corri para o banheiro. Peguei uma bacia e a enchi com água. Salvar aqueles peixes era como salvar a mim mesma. Só quando os vi nadando na bacia, consegui soltar um suspiro de alívio. Mas, no segundo seguinte, uma mão grande surgiu ao lado da bacia, despejando toda a água e os meus peixes dentro do vaso sanitário! Bruno ainda teve a audácia de apertar a descarga...Fiquei boquiaberta, o choque e a raiva crescendo dentro de mim. Nem consegui salvar aqu