À medida que o elevador subia, uma sensação inquietante se apoderava de mim. Era como se essa cena já tivesse acontecido antes, uma estranha familiaridade tomava conta de mim. Sempre que vinha a um hospital, algo ruim acontecia.O corredor do lado de fora do quarto não exalava o habitual cheiro forte de desinfetante, mas um leve perfume de flores. Um tratamento assim eu só havia visto no quarto do Pietro. Claro, o Bruno tinha escolhido o melhor hospital para o pai.— Ai! Gastei tanto dinheiro para contratar alguém com uma técnica tão ruim para me dar uma injeção? — Minhas reflexões foram interrompidas por uma voz irritada que vinha do quarto.— Não, senhorita, você não pode se mexer enquanto toma a injeção. Assim, vai acabar dando errado. — A enfermeira respondeu, tentando explicar.— Saia daqui! Não preciso de você! Mande outra pessoa! Olha só o hematoma que você fez!— Desculpe, desculpe, não foi minha intenção.— Chame o diretor do hospital agora!...Fixei o olhar na porta do qua
— Então me atinge! Continue! Tudo o que você fizer comigo, vou devolver em dobro para a Luz! — Maia gritou, esticando o pescoço e cerrando os dentes. — Ana, foram vocês que começaram isso! Tudo o que está acontecendo agora é o castigo de vocês!Eu não conseguia entender muito bem o que ela queria dizer com "começaram", mas estava claro que ela só via as coisas da maneira que lhe convinha, ignorando tudo o que não encaixava na sua narrativa.— Maia, não pense que só porque você está com o Bruno agora, isso te dá o direito de distorcer a verdade. O que você tem agora é apenas o que ele te deu por caridade. Se você realmente acha que com a sua própria força vai conseguir colocar minha amiga na cadeia, você é muito ingênua.— Eu estou com o Bruno?O olhar de Maia se perdeu no vazio. Ela se segurou na beira da cama e, cambaleando, se levantou, parecendo que qualquer vento a derrubaria. Ela me olhou devagar, fixando os olhos nos meus. O ódio que brotava de seu olhar de repente se intensific
A figura alta e esguia de Bruno bloqueava as luzes do corredor, deixando-o um pouco mais sombrio, assim como aumentava o ódio em meu coração. Sim. Se não fosse Bruno dando força para Maia, como ela teria a habilidade de não só descobrir onde eles estavam, mas também criar um plano tão elaborado? Não importava quem fosse o mentor por trás de tudo isso, no fim das contas, que diferença fazia? De certa forma, Bruno e Maia não eram quase uma única entidade?Olhei para o homem à minha frente, e sorri para ele com serenidade. Os dias ocupados fizeram minhas roupas ficarem tão amassadas que, por mais que eu as esticasse, não adiantaria. Ele, no entanto, estava impecável em seu terno preto, sem um único vinco, com a cabeça erguida em um gesto altivo, nem mesmo se dignando a olhar para mim.Já que ele fingia não me ver, eu também não precisava insistir em me humilhar. Não olhei mais para ele e segui em frente, passando por seu lado, sentindo uma dor profunda atravessar meu corpo ao nos es
Maia arregalou os olhos, incrédula.— Bruno, o que você disse?— Não costumo repetir o que falo, você ouviu muito bem. — Bruno suspirou, mas suas palavras eram firmes.Maia levou quase três minutos para processar aquele fato, mas ainda assim não conseguia aceitar.— Bruno, você está dizendo que me usou e depois me chutou de lado? — Ela começou a rir, um riso meio descontrolado. — Bruno, estou sangrando, sangrando por sua causa, e você não acredita que é para o seu bem? A Ana não ouve nada, você não entende de mulheres, se quer conquistá-la, não pode usar meios normais, tem que ser mais duro! Você não entende? Tem que confiar em mim! Diga, desde quando eu já te enganei? Sempre fui a que mais te obedeceu, e mesmo que dê tudo errado com a Ana, você já não disse que, se no fim das contas perder o interesse nela, você vai se casar comigo? Eu não me importo se você me ama ou não, só quero um lar com você!Maia de repente rastejou de joelhos na cama e agarrou a manga de Bruno.— Bruno, você e
O que Bruno estava tentando alcançar era algo que, no final, já estava perdido. No começo, ele apenas sentiu que a temperatura desta cidade parecia ser mais fria do que em Cidade J, mas agora ele entendia. Esse ar úmido, que parecia se infiltrar nos pulmões e fazia seu corpo inteiro estremecer, se chamava solidão. Este inverno, sem Ana, parecia ainda mais gélido.Enquanto isso, eu sentia o oposto. Meu corpo parecia em chamas, quase queimando.Após sair do hospital, voltei novamente à delegacia, mas a resposta foi a mesma de antes: Luz não havia contratado um advogado, se recusava a falar com qualquer um.Antes de encontrar Maia, eu acreditava naquilo, mas agora, de jeito nenhum!— É você que não quer me deixar vê-la, ou é ela que não quer me ver? Fale a verdade!Mal terminei de dizer essas palavras e já me acusaram de obstrução de justiça, prendendo-me ali mesmo.Quando dois policiais enormes se lançaram sobre mim, não resisti. Achei que talvez isso fosse parte do castigo que Bruno
— Achei que a primeira coisa que você me perguntaria seria sobre o estado da sua amiga. — Bruno se virou lentamente, caminhando em minha direção, passo a passo. — Desde quando o Rui se tornou mais importante do que a sua amiga?A sombra de Bruno parecia pesar, como se tivesse substância. Por um instante, até respirar ficou difícil. Quando ele se aproximou, senti meu corpo estremecer. Eu estava presa no estreito espaço entre a parede e o peito dele, sem forças nem mesmo para resistir. — Você é desprezível! Olhou o meu celular! — Gritei. Ele arqueou as sobrancelhas, indiferente. — Sua amiga... E Rui... Só posso salvar um. Quem você escolhe? Enquanto Bruno fazia essa pergunta, seu coração também batia acelerado. Ele conseguia aceitar as brigas entre ele e Ana, conseguia aceitar que o relacionamento dos dois já não era como antes, mas o que ele não podia suportar era a ideia de Ana ter se apaixonado por outra pessoa nesse meio tempo. Ele havia superestimado a natureza humana
Bruno refletiu por um momento e então sorriu calmamente.— Então tente ver se ainda consegue entrar em contato com ele.Ele se virou para ir embora, mas depois de dar dois passos, parou novamente e olhou para trás, encarando-me com uma expressão quase compassiva.— Pode sair.Dessa vez, Bruno realmente foi embora. Sua silhueta escura quase se fundia com a escuridão da noite. Corri apressada, e agarrei a parte de trás de sua camisa, balançando-a com força.— Bruno, o que você fez com ele?!Em termos de força, eu nunca fui párea para Bruno. Por mais que eu usasse toda a minha energia, não consegui movê-lo nem um centímetro.Ele segurou meu pulso e olhou para mim com frieza.— Continue hesitando e não diga que eu não avisei... Você talvez nunca mais o veja! — Ele abriu um por um os meus dedos, que ainda estavam agarrados à manga de sua camisa, e enquanto ajeitava suas roupas, olhou diretamente nos meus olhos. — Quando você voltar para me implorar novamente, não serei tão compreensivo co
No hospital, Bruno Henrique aprumou-se em toda a sua altura, destacando-se na multidão.— Não é da sua conta, pode ir embora.Mal tinha me aproximado quando ouvi ele dizer isso, e o saco que eu segurava foi tirado das minhas mãos. A meia-irmã de Bruno foi levada ao hospital no meio da noite, e minha única função, como cunhada, era apenas trazer algumas roupas, nada além do que uma empregada faria. Estávamos casados há quatro anos, e eu já estava acostumada à frieza dele, então fui falar com o médico para entender a situação. O médico disse que o ânus da paciente estava rompido, causado pelo ato de fazer amor com um parceiro.Naquele instante, senti como se tivesse caído em um poço de gelo, o frio invadindo-me dos pés à cabeça.Que eu soubesse, Gisele Silva não tinha namorado, e quem a levou ao hospital naquela ocasião foi meu marido.O médico ajustou os óculos no nariz e me olhou com certa pena.— Os jovens hoje em dia gostam de buscar novas emoções e procurar por estímulos.— O qu