Todo o sangue em meu corpo congelou ao som da repreensão de Bruno. Por alguns segundos, minha mente fugiu da realidade. Dessa vez, parecia impossível me explicar.Ele caminhou em minha direção com passos largos, os olhos negros e frios cravados em mim, sem mais esconder o desprezo. Seu olhar, afiado como uma lâmina, perfurava minha alma. A cada passo que ele dava, minha respiração se tornava mais difícil... Que tipo de olhar era aquele? Ele acreditava que eu era a culpada por tudo isso? Ou ele pensava que eu estava acusando injustamente a sua adorada Gisele?Havia uma tempestade de emoções em seus olhos, mas nenhuma delas parecia ser por mim.De repente, ele agarrou a gola de minha roupa, e meu corpo foi forçado a se levantar. Meus pés traçaram um semicírculo desajeitado no chão, e quando percebi, já estava recuando até bater nas costas contra o parapeito da janela do quarto.Uma dor se espalhou vagamente pelo meu ventre...Uma camada de suor frio brotou em minha testa, e eu só con
Chamei uma enfermeira para Maia e, um tanto confusa, saí do hospital. O tempo estava agradável, mas meu coração parecia coberto por uma névoa, enevoado, a ponto de eu não conseguir distinguir se estava na realidade ou em um sonho.O celular tocou, era Pietro. — Pai... No momento em que atendi, mal consegui emitir um som antes de ser interrompida pelos gritos dele: — Ana Oliveira! A voz forte dele nem parecia de alguém doente. — Mandei você fazer Bruno te odiar, não mandei você machucar Maia! Muito menos machucar o filho dele! ... Muito bem, Gisele fez uma jogada excelente. As consequências de Maia não poder mais ter filhos... Parecia que eu era a mais beneficiada, então a reação de todos era imediata: só podia ter sido eu. Mas eu era uma advogada... Seria que eles subestimaram minha moralidade ou, aos olhos dos capitalistas, a lei podia ser pisoteada sem mais? Nem sequer senti forças para me defender. Seria que era necessário me tornar como eles para poder dialo
Mordi o lábio com força, tentando entender o quanto a dor física poderia superar a dor no meu coração. O que eu não conseguia compreender era como Bruno sempre assumia o papel de vítima, me culpando por tudo. E então, o que dizer das injustiças que eu estava sofrendo agora? O mundo podia ser bastante estranho às vezes. O que você via nem sempre era a verdade, e, por mais que eu tentasse me explicar, parecia inútil. As pessoas simplesmente julgavam quem parecia mais vulnerável e, no final, essa pessoa seria vista como a mais fraca, mesmo que o homem à minha frente tivesse dinheiro, poder e um corpo perfeito.Bruno, como se percebesse meu desespero, pressionou meu lábio com o polegar, libertando-o lentamente dos meus dentes. Respirei fundo, e com a ajuda dele, me levantei, afastando bruscamente sua mão com um tapa. — Já que você ouviu tudo claramente, me poupe do esforço de procurar alguma mulher para você. Se você ainda quer que seu pai viva um pouco mais, faça sua parte e não o i
Fiquei atônita por um momento. Antes que pudesse sequer olhar o luxo da sala privada, minha visão foi completamente tomada pelo homem à minha frente. Eu e Bruno estávamos colados um ao outro, nossos rostos tão próximos que eu conseguia ver claramente a barba por fazer surgindo logo acima de seus lábios, um tom ligeiramente azulado sob a luz estranha. O cheiro de cigarro que emanava dele era forte, nada mais lembrava o perfume que eu costumava gostar. Estendi a mão para empurrá-lo, mas ele rapidamente segurou meus pulsos, puxando-me para mais perto, enquanto sua boca invadia a minha com ainda mais força...Minhas pálpebras ficaram úmidas sem que eu percebesse, e ao piscar, uma sensação fria percorreu meu corpo. Meu coração também pareceu esfriar aos poucos, até que ele me roubou o último fio de ar dos pulmões e, só então, ergueu a cabeça lentamente.Seus olhos estavam vermelhos enquanto me encarava fixamente. — Você quer que eu faça isso com outra pessoa também? — Ele apertou minhas
Pensei por um momento. Entre mim e Bruno, não parecia haver um grande ódio. Mas sempre havia outras mulheres entre nós dois, algo impossível de suportar, algo intolerável. Esse tipo de Bruno não era para mim. Não importava o quanto eu o amasse, eu precisava desistir. Com um movimento brusco, joguei-me para trás, pegando Bruno de surpresa. Ele deu alguns passos para trás com o impacto. Eu precisava sair dali, deixando aquele lugar para ele e suas novas amantes. Eu tinha que ir embora! Mas Bruno não permitiu. Ele já estava sem paciência. — Ana, por causa do meu pai, já estou muito ansioso. Você não pode suportar só mais um pouco por mim? Quando meu pai falecer, ninguém mais vai interferir em nós. E daí que não temos filhos? Eu não faço questão de filhos. Sei que você passou por dificuldades, mas tudo isso é falso. Dei um sorriso amargo. — Bruno, o que existe entre nós já ultrapassa qualquer sensação de simples dificuldades. — Falei suavemente. — Eu também quero acabar logo
Rui abriu a mão diante de mim, devagar, fechando-a em um punho. Seu temperamento, incapaz de se conter, transparecia na respiração pesada que saía de suas narinas. — Vire de costas e espere aqui por mim, preciso resolver uma coisa e já volto! Eu o puxei pela mão. — Não vá! — O que você está fazendo? Ele... Eu o interrompi. — Eu sei, não é necessário. — Para não parecer tão miserável, forcei uma expressão de indiferença. — Foram aquelas mulheres que eu mesma escolhi para ele. As risadas das mulheres, afiadas como facas, se cravaram no meu coração. Quando voltei a falar, havia um tom de súplica na minha voz, tão sutil que nem eu mesma percebi. — Podia me levar embora? Rui respirou fundo, contendo a raiva que borbulhava dentro dele. Ele me segurou pela mão, revirando os olhos com um sorriso travesso. — Por que não? Para onde você quiser, eu te acompanho! Seu gesto causou uma reação imediata nos atores ao fundo, que começaram a pular como macacos, assobiando e zom
Sabia o que ele quis dizer, nada mais do que me informar que o garoto que uma vez disse gostar de mim também não era tão sincero quanto eu imaginava, assim como ele.Ele se aproximou de Rui com uma pressão imensa, e sussurrou para ele:— Só que você precisa entender bem quais mulheres você pode tocar e quais não pode!Ele bateu no ombro de Rui, como se estivesse limpando uma poeira inexistente, e se virou sem olhar para trás.Eu olhei para suas costas, e meus olhos ardiam. Rui entrou no carro, irritado, dizendo:— Não escuta as besteiras que ele fala! Meu pai pode até ter marcado encontros pra mim, mas eu nunca fui a nenhum!Com um pouco de dor de cabeça, massageei minhas têmporas, sentindo-me exausta.Se Bruno pudesse ser tão firme em me escolher como Rui, eu nem conseguia imaginar o quanto eu seria feliz agora.— Ana, quando você vai se divorciar de Bruno? Volte comigo pra casa, assim meu pai para de me pressionar pra casar!— O que você tá falando...Suspirei. Embora a família Sampa
Eu estava tão calma que até mesmo Bruno ficou surpreso. Talvez ele achasse que eu deveria estar satisfeita, ou que me sentiria amedrontada ao vê-lo. No entanto, eu apenas coloquei o celular de lado, tranquila, e fiz uma pergunta completamente irrelevante:— Meu apartamento, você também pode entrar e sair à vontade?Bruno ficou desconcertado com a minha mudança abrupta de assunto. Ele hesitou por um instante, apertou os punhos, lutando para controlar sua raiva.— Você é minha esposa, e sua casa é minha também. Nada mais normal.Seus lábios estavam firmemente cerrados, e seus olhos, tingidos de um tom furioso, estavam vermelhos de sangue, refletindo uma mistura de cólera e dor. Observei tudo em silêncio, e quanto mais via seu sofrimento, mais calma eu me tornava. Ele estava assim apenas por causa de Gisele, e isso não tinha nada a ver comigo.Eu realmente não sabia como dizer a mim mesma que meu marido veio me enfrentar por outra mulher, mas que, de alguma forma, isso não tinha nada a