Bruno me acalmava suavemente, dando leves tapinhas em minhas costas. — O que foi? Ficou emocionada? Eu funguei e respondi: — Um pouco. — Você achou que voltei mais cedo só para preparar essas coisas para você? Então subestimou demais o que sou capaz de fazer. Acha que não resolveria isso por celular? — Bruno me deu um beijo no rosto. — Já percebeu que a internet ficou silenciosa de repente? Não tem mais ninguém te xingando. Eu não tinha prestado atenção se estavam me xingando ou não, mas demorei um pouco para conseguir recuperar a minha voz: — O que você quer dizer com isso? Olhei para ele, confusa. Lembrei do olhar estranho do secretário quando mencionou algo sobre o que estava acontecendo online. Naquele momento, arrependi-me profundamente de não ter conferido nada, nem mesmo no carro, quando estava vindo para cá. Eu só tinha ficado sem internet por três dias. Apenas três dias... O que de tão grave poderia ter acontecido? Quando Bruno, com um olhar satisfeito, me co
Com as mãos trêmulas, peguei meu celular e encontrei a foto de Gisele deitada na nossa cama, ao lado dele. Joguei o celular sobre a mesa, bem na frente de Bruno. — Ou será que você acha que tem o direito de fazer isso porque a deixou dormir no nosso quarto, na nossa cama de casamento? Minha explosão repentina de raiva parecia confundir Bruno. Ele me encarou em silêncio, com um olhar profundo e distante. Ficou assim por tanto tempo que minha respiração agitada começou a se acalmar. Só então, ele perguntou, com frieza: — Por que, com um mal-entendido desse tamanho, você nunca veio me procurar para esclarecer? Quem machucou Gisele foi um colega dela, não eu. Minha irmã foi... Você acha que eu teria ânimo para fazer amor com você naquele momento? Por que acha que eu a transferi de escola, mesmo sabendo que ela estava abalada? Naquele instante, eu não sabia se deveria chorar ou rir. Havia um traço de amargura nos olhos de Bruno também. — Quem realmente a ama jamais seria capaz d
A camisa branca de Bruno foi tingida de vermelho pelo sangue quase que instantaneamente.Gisele, ora chorando com remorso, ora me lançando olhares cheios de ódio, deixava escapar uma risada horripilante de sua garganta. Os garçons, atraídos pelo barulho, vieram correndo, pedindo desculpas humildemente. Se não fosse por mim mandá-los embora antes, esse acidente não teria acontecido.Bruno parecia alheio à dor. A aura fria que emanava dele contrastava com suas feições marcantes, completamente desprovidas de qualquer emoção. Seus olhos negros se fixavam em mim, e a luz que brilhava neles parecia se apagar no exato momento em que ele abriu a boca.— A dívida entre vocês, posso pagá-la com meu sangue?Ele havia se ferido na lateral do corpo, não em uma área vital, mas o sangue escorria, fluindo sem parar. Outros o incentivavam a sair rápido, mas ele permanecia imóvel, com os olhos cravados em mim, como se esperasse minha resposta.Cambaleei e caí pesadamente na cadeira. Por trás do meu c
Eu e o hospital parecemos ter uma estranha ligação. Nos últimos seis meses, toda vez que meu coração ficava frio como gelo, os bancos do hospital sempre me faziam companhia.No silêncio da madrugada, o som desordenado de passos quebrou a tranquilidade do hospital.O que aconteceu com Bruno e Gisele finalmente chegou aos ouvidos da família Henriques.Karina, à frente de um grupo de seguranças vestidos de preto, veio em minha direção com passos rápidos.Se fosse antes, eu não teria dúvidas de que ela me daria um grande abraço e, preocupada, perguntaria se eu estava machucada.Mas, depois do que aconteceu da última vez, a relação entre mim e Gisele nunca mais poderia ser consertada. Afinal, Karina era a mãe biológica de Gisele, não a minha.Como esperado, a calma e elegância desapareceram, substituídas por ansiedade e uma testa franzida. Ela logo parou à minha frente e, com uma postura autoritária, perguntou:— Onde eles estão?Levantei os olhos levemente e olhei na direção da sala de cir
Karina desviou o olhar, sem me encarar enquanto falava. Disse: — Era filha de uma amiga, por que todo esse alvoroço? Depois de responder, soltou um suspiro e continuou. — Não vá se envolver com esse seu trabalho, se você ainda quer viver bem com a família Henriques, deve pedir demissão. Posso te apresentar a pessoas da alta sociedade, para você fazer amizades com jovens da sua idade. Olha como você está envolvendo a família Henriques nisso, Pietro tem passado várias noites sem dormir. O médico disse que a saúde dele piorou. Você quer o matar de preocupação? Agora que Gisele e seu irmão estão passando por isso. Ana, tenho sido boa com você, não é? Mas parece que você está aqui para cobrar dívidas! As mulheres da casa são o elo que une a família, mas você, olha o que fez!Ela falava com tristeza, deixando cair algumas lágrimas.Cerrei os dentes, realmente não queria brigar com ela na frente dos outros, mas se ela não se importava em jogar a culpa em mim, eu não ia aguentar calada!— Foi
O hospital era sombrio, com corredores silenciosos, e a luz amarelada ainda não havia sido trocada pela clareza do dia. Apenas sombras, tão tênues que pareciam prestes a se dissipar, me acompanhavam enquanto eu, trôpega, correu até o quarto privado no andar superior.Meu corpo, que havia esperado a noite inteira, começava a aquecer-se com o batimento acelerado do coração; meus pés frios recuperavam lentamente a sensação. Dentro do quarto, um homem estava tossindo, e eu lutava internamente: quando entrasse, deveria ou não levar um copo d’água para Bruno?Enquanto pensava, minhas pernas pareciam se desconectar do restante do corpo. Uma sensação intensa de formigamento subia dos pés, a ponto de eu não conseguir me mover. A tosse de Bruno persistia.Desesperada, ergui a barra do vestido, como se apenas ao olhar para os pés pudesse me certificar de que ainda estavam ali. Comecei a pisar lentamente sobre o espesso carpete, sem saber qual era a dor mais insuportável: a que atravessava me
Novo? Certo, Bruno ficou tão frio por tantos anos, e agora que se tornou uma chama ardente, cada momento ao seu lado seria uma experiência mágica. Como poderia não ser novo? Ri de mim mesma, lembrando-me de como tentava controlar meus sentimentos para não me afundar nisso, enquanto Bruno, como um explorador, armava armadilhas que considerava interessantes ou novas, tentando me puxar para dentro. Se eu caísse, tudo bem; eu via aquilo como um jogo adulto, aceitando a situação. Mas no final, tudo que obtive foi a revelação de que tudo era por Gisele. Ele estava brincando comigo por Gisele, apenas achando que eu era algo novo no processo. Aconteceu que Bruno era ainda mais habilidoso em esconder seus verdadeiros sentimentos. Acreditava que tinha armado um plano elaborado para irritar Gisele, buscando sua punição, mas percebi que Bruno tinha um esquema ainda mais sofisticado. Sua gentileza, seu carinho e suas declarações a meu respeito eram partes essenciais desse jogo. Tudo
Quanto mais nervosa, mais fácil cometia erro. Eu queria tanto fugir que, na pressa, esqueci de levantar a barra do vestido, e acabei caindo, envolta completamente no tecido, no chão. Maia ouviu o barulho e saiu correndo do quarto. — O que aconteceu? Você se machucou? — Ela perguntou, vindo me ajudar. — Cuidado! Se você se machucar, Bruno vai ficar preocupado. Baixei a cabeça e limpei as lágrimas com força; ao erguê-la de novo, sorri para ela e disse um "obrigada". Sabia que estava cheia de falhas naquele momento, mas minha personalidade competitiva me impediu de mostrar fraqueza diante da cúmplice que me humilhava. — Nada, já nos conhecemos, somos amigas, certo? Maia sorriu, empurrando-me na direção do quarto de Bruno. Não conseguia descrever o que sentia ao caminhar em direção a ele, passo a passo; meu coração parecia tremer. Eu não sabia quais palavras ainda mais dolorosas ele poderia me dizer. Era como ser levada a um verdadeiro tribunal de humilhação! Respirei fun