As roupas que Bruno preparou para mim não estavam no quarto.Este hotel era parceiro de mais de duzentas marcas, e o primeiro andar era repleto de lojas de luxo. Quando o mordomo me levou até lá, no entanto, não havia uma única pessoa.— Hoje, pode passear à vontade. O Presidente Bruno já arranjou para que o local fosse reservado só para você. As roupas que gostar podem ser levadas diretamente para o encontro com o Presidente Bruno.A maneira como o mordomo falava, com suas mãos cobertas por luvas brancas e os dedos levemente curvados, dava vontade de dar-lhe um soco...Escolhi um vestido longo de desfile em um tom de roxo encantado.O corpete justo, de estilo palaciano, tinha um decote tomara-que-caia com uma fenda que chegava até o umbigo. Um véu de tecido leve fluía da cintura, e as flores bordadas na saia revelavam uma beleza sedutora a cada passo.Romântico, mas com um toque de sensualidade.Arrumei-me, achando-me a pessoa mais bonita do mundo. Mas, no instante em que vi Bruno, pa
Bruno ficou atônito por um momento, e a chama de desejo em seus olhos lentamente se apagou. Ele fez um gesto com a mão, e os garçons ao nosso redor se retiraram, deixando apenas nós dois no luxuoso salão.Só depois de eu assinar o contrato foi que Bruno me permitiu levantar. Ele me virou de frente para ele, seus olhos negros fixos nos meus. Mesmo sem dizer uma palavra, senti que, naquele instante, nossas almas estavam entrelaçadas, como se houvesse uma conexão invisível e profunda entre nós.Nossas almas estavam entrelaçadas de tal forma que não era possível distinguir onde uma começava e a outra terminava. Como se todos esses anos juntos, independentemente de amor ou desamor, tivessem criado laços inquebráveis.Uma sensação inexplicável de felicidade me invadiu de maneira avassaladora, e comecei a me sentir tonta. Sua mão grande pousou no topo da minha cabeça e deslizou pelos fios de cabelo até alcançar as pontas, que caíam sobre minhas costas.— Sra. Henriques, você deixou o cab
Bruno me acalmava suavemente, dando leves tapinhas em minhas costas. — O que foi? Ficou emocionada? Eu funguei e respondi: — Um pouco. — Você achou que voltei mais cedo só para preparar essas coisas para você? Então subestimou demais o que sou capaz de fazer. Acha que não resolveria isso por celular? — Bruno me deu um beijo no rosto. — Já percebeu que a internet ficou silenciosa de repente? Não tem mais ninguém te xingando. Eu não tinha prestado atenção se estavam me xingando ou não, mas demorei um pouco para conseguir recuperar a minha voz: — O que você quer dizer com isso? Olhei para ele, confusa. Lembrei do olhar estranho do secretário quando mencionou algo sobre o que estava acontecendo online. Naquele momento, arrependi-me profundamente de não ter conferido nada, nem mesmo no carro, quando estava vindo para cá. Eu só tinha ficado sem internet por três dias. Apenas três dias... O que de tão grave poderia ter acontecido? Quando Bruno, com um olhar satisfeito, me co
Com as mãos trêmulas, peguei meu celular e encontrei a foto de Gisele deitada na nossa cama, ao lado dele. Joguei o celular sobre a mesa, bem na frente de Bruno. — Ou será que você acha que tem o direito de fazer isso porque a deixou dormir no nosso quarto, na nossa cama de casamento? Minha explosão repentina de raiva parecia confundir Bruno. Ele me encarou em silêncio, com um olhar profundo e distante. Ficou assim por tanto tempo que minha respiração agitada começou a se acalmar. Só então, ele perguntou, com frieza: — Por que, com um mal-entendido desse tamanho, você nunca veio me procurar para esclarecer? Quem machucou Gisele foi um colega dela, não eu. Minha irmã foi... Você acha que eu teria ânimo para fazer amor com você naquele momento? Por que acha que eu a transferi de escola, mesmo sabendo que ela estava abalada? Naquele instante, eu não sabia se deveria chorar ou rir. Havia um traço de amargura nos olhos de Bruno também. — Quem realmente a ama jamais seria capaz d
A camisa branca de Bruno foi tingida de vermelho pelo sangue quase que instantaneamente.Gisele, ora chorando com remorso, ora me lançando olhares cheios de ódio, deixava escapar uma risada horripilante de sua garganta. Os garçons, atraídos pelo barulho, vieram correndo, pedindo desculpas humildemente. Se não fosse por mim mandá-los embora antes, esse acidente não teria acontecido.Bruno parecia alheio à dor. A aura fria que emanava dele contrastava com suas feições marcantes, completamente desprovidas de qualquer emoção. Seus olhos negros se fixavam em mim, e a luz que brilhava neles parecia se apagar no exato momento em que ele abriu a boca.— A dívida entre vocês, posso pagá-la com meu sangue?Ele havia se ferido na lateral do corpo, não em uma área vital, mas o sangue escorria, fluindo sem parar. Outros o incentivavam a sair rápido, mas ele permanecia imóvel, com os olhos cravados em mim, como se esperasse minha resposta.Cambaleei e caí pesadamente na cadeira. Por trás do meu c
Eu e o hospital parecemos ter uma estranha ligação. Nos últimos seis meses, toda vez que meu coração ficava frio como gelo, os bancos do hospital sempre me faziam companhia.No silêncio da madrugada, o som desordenado de passos quebrou a tranquilidade do hospital.O que aconteceu com Bruno e Gisele finalmente chegou aos ouvidos da família Henriques.Karina, à frente de um grupo de seguranças vestidos de preto, veio em minha direção com passos rápidos.Se fosse antes, eu não teria dúvidas de que ela me daria um grande abraço e, preocupada, perguntaria se eu estava machucada.Mas, depois do que aconteceu da última vez, a relação entre mim e Gisele nunca mais poderia ser consertada. Afinal, Karina era a mãe biológica de Gisele, não a minha.Como esperado, a calma e elegância desapareceram, substituídas por ansiedade e uma testa franzida. Ela logo parou à minha frente e, com uma postura autoritária, perguntou:— Onde eles estão?Levantei os olhos levemente e olhei na direção da sala de cir
Karina desviou o olhar, sem me encarar enquanto falava. Disse: — Era filha de uma amiga, por que todo esse alvoroço? Depois de responder, soltou um suspiro e continuou. — Não vá se envolver com esse seu trabalho, se você ainda quer viver bem com a família Henriques, deve pedir demissão. Posso te apresentar a pessoas da alta sociedade, para você fazer amizades com jovens da sua idade. Olha como você está envolvendo a família Henriques nisso, Pietro tem passado várias noites sem dormir. O médico disse que a saúde dele piorou. Você quer o matar de preocupação? Agora que Gisele e seu irmão estão passando por isso. Ana, tenho sido boa com você, não é? Mas parece que você está aqui para cobrar dívidas! As mulheres da casa são o elo que une a família, mas você, olha o que fez!Ela falava com tristeza, deixando cair algumas lágrimas.Cerrei os dentes, realmente não queria brigar com ela na frente dos outros, mas se ela não se importava em jogar a culpa em mim, eu não ia aguentar calada!— Foi
O hospital era sombrio, com corredores silenciosos, e a luz amarelada ainda não havia sido trocada pela clareza do dia. Apenas sombras, tão tênues que pareciam prestes a se dissipar, me acompanhavam enquanto eu, trôpega, correu até o quarto privado no andar superior.Meu corpo, que havia esperado a noite inteira, começava a aquecer-se com o batimento acelerado do coração; meus pés frios recuperavam lentamente a sensação. Dentro do quarto, um homem estava tossindo, e eu lutava internamente: quando entrasse, deveria ou não levar um copo d’água para Bruno?Enquanto pensava, minhas pernas pareciam se desconectar do restante do corpo. Uma sensação intensa de formigamento subia dos pés, a ponto de eu não conseguir me mover. A tosse de Bruno persistia.Desesperada, ergui a barra do vestido, como se apenas ao olhar para os pés pudesse me certificar de que ainda estavam ali. Comecei a pisar lentamente sobre o espesso carpete, sem saber qual era a dor mais insuportável: a que atravessava me