— Então, que é o chyia? — perguntou Troy enquanto limpava meu rosto com um pano úmido.
— Chyia? — falei confusa.
— Pequeno — traduziu, indicando para o garoto deitado na cama. — Presumo que tenha sido esse o motivo dessa pequena destruição? — indicou para o quarto que se mostrava com todas as mobílias praticamente quebradas. Era como se um pequeno furacão passou em nosso quarto.
— É — murmurei. Não queria contar como o garoto veio parar aqui. — O que me faz lembrar, preciso cuidar dele — me levantei com dificuldade.
— Você precisa se cuidar primeiro, Ella — advertiu, me puxando de volta para a cadeira. — Você está um trapo.
— Olha quem fala — retruquei com humor, analisando-o.
— Isso? Consequência da caça, normal — justificou.
Quando fiquei na Itália, conversávamos pelo menos duas vezes por semana. Eram conversas de horas. Ele, fascinado pela comida italiana, me perguntava sempre os restaurantes que fui ou recomentava um vinhedo para eu visitar nos finais de semana. Nossas conversas eram sempre agradáveis, mesmo naquela época em que eu era afastada e desanimada com a vida, meu pai sempre soube me fazer sentir em casa.Skyla me acompanhou de volta. Chegando em casa tudo estava apagado, como se não houvesse ninguém em casa. Peguei a chave escondida debaixo da pedra falsa no canteiro da frente e abri a porta. O cheiro da casa invadiu o meu rosto em cheio.O silencio era quase doloroso demais ali dentro, como se tudo estivesse morto, adormecido em casa.Observei uma fresta de luz surgindo do escritório da minha mãe no fundo da casa, perto da entrada do quintal. Fui em direção com esperança no peito, talvez fosse
Ainda com um pouco de dificuldade para conversar em élfico, consegui ter uma com o Etyel bem básica. Ele se sentia melhor e era completamente grato por eu tê-lo salvado. Ele era um garoto elfo de treze anos de idade, seu vilarejo foi invadido pelos os Invocados da Noite, provavelmente eram as criaturas das trevas que eu vi serem feitos.Levaram todos os garotos de lá, inclusive ele. Não sabia como chegou até aqui no castelo, ele ficou do outro lado da pequena floresta que há na ilha, junto com os outros rapazes do seu vilarejo. Nem todos sobreviveram ou voltaram das prisões além da floresta.Por mais que estivesse ferido e machucado e fosse ainda tão jovem, Etyel não demonstrava grande medo sobre sua situação. Se eu o entendi corretamente, era normal as crianças terem esses destinos incertos a muitas gerações. Ouvir aquilo me entristeceu, como esse mundo pode
— Para onde estamos indo? — perguntei receosa.— Apenas quero lhe mostrar algo maravilhoso — respondeu com mistério na voz. Por fim, chegamos no parapeito no fim do corredor, mais ao lado dava para uma escada que descia mais ainda. O local ficou mais claro, mas não tanto. — Olhe para baixo — ordenou. E assim eu o fiz.Não enxerguei nada, além da escuridão e um abismo sem fim. Ao pensar em perguntar o que era tudo isso, o que eu deveria estar enxergando. Começo a ouvir algo se rastejar para cima, fui sendo atraída para baixo, até que da escuridão algo surgiu.Subindo pelas paredes, uma Criatura das Trevas saltou, como uma assombração. Magra e branca, uma mistura de fantasma com esqueleto, seus olhos saltados e grandes ocupava quase todo o rosto. Em seus longos braços esqueléticos, garras mecânicas em lâmina tomavam o lug
— Troy, sei que você está magoado. Eu ainda amo você — falei, sabendo que a próxima frase seria uma faca no coração de todas as pessoas que já ouviram isso. — Você ainda é meu melhor amigo.— E ele? Ainda é o seu namorado? — atacou com raivas as palavras e nojo.— Troy — gemi seu nome com desconforto. Não queria fazer aquilo.Ele por sua vez ficou em silencio, até que abriu um leve sorriso. Troy foi para mais perto d’agua e se agachou.— Sabe, eu tenho alguns dons de fae — contou, enquanto arregaçava as mangas da blusa. — Anos atrás, descobri que tenho a linhagem das faes da água. Consigo fazer a maioria das magias desse elemento — falou, passando os dedos de leve pela água parada. — Venha, quero lhe mostrar algo.Me aproximei dele e fiquei de joelhos. Troy mexia c
Como as coisas eram tão diferentes nesse lugar! O tempo perdeu o significado para mim, a noção dos dias se misturavam e sumiam no castelo do Thryee. Quanto tempo estou aqui? Três dias? Três semanas? Um mês, um ano? Não saberia mais dizer. Os dias são longos demais, parecidos demais, que parei de conta-los em um certo ponto.Tentei focar mil vezes no plano de fuga, que obteve progresso, o que é bom. Convenci Troy a me ajudar a pelo menos tentar sair daqui, entretanto, possuíamos outros afazeres agora para resolver, como por exemplo Etyel.O pequeno elfo ficara bom alguns dias após ter acordado e não saia mais de perto de mim, como um pequeno cachorrinho que me seguia para todos os lados. Contou que era pela minha segurança, que o que eu havia feito por ele era algo de bravura, ficaria para sempre em dívida comigo.Meu élfico melhorou, afinal com o tempo que tenho
Fiquei na biblioteca no restante do dia, com a Luriel e Etyel me fazendo companhia. Por mais que todos os livros fossem em sua maioria em élfico, eu finalmente havia encontrado o livro que eu e Pietro estudávamos na Terra. O Crescimento do Tempo. Não foi possível ler ele inteiro, o livro era composto por mais de mil páginas com vários assuntos.Por hoje, foquei em ler sobre as Nornas, as entidades sobre os três elementos da história: o passado, o presente e o futuro. Elas possuíam os poderes da vida, do azar e da sorte dos deuses e da humanidade. Eram guardiãs, deviam proteger os mistérios do passado e segredos antigos. Vi pouco sobre o assunto com o Pietro, nunca nos aprofundamos no conhecimento.Me perguntava o que eu realmente sou, quais poderes eu tenho de fato. Quantas pessoas deram seu sangue para me criarem. Comecei a ter uma pequena crise de ansiedade, sem saber o que sou e para que ser
Voltei a realidade com Luriel com o rosto próximo ao meu, me segurando pelos ombros. Etyel também ao seu lado, bem próximo me encarando.— Viti kakkie, vallures — murmurou Etyel abismado. Vida para fora, falou, mas eu não sabia o que significava o vallures.— Ei, Mikaella. Você está bem? — perguntou preocupada. Passando a mão na minha testa.— O que ele disse? — falei confusa, cerrando os olhos com o incomodo na cabeça. Como se eu tivesse batido em algo.— Eu não sei. Não falo élfico — me lembrou. — Ei, você está bem?— O que houve?— Você começou a ter um tipo de convulsão. Seus olhos ficaram completamente azuis com as bordas da suas íris pretas, sua pupila dilatou muito, fincando ainda mais pretas e então você chorou sangue &mdash
A garota levantou o rosto, olhou para ele com paixão. Ele se aproximou e a beijou, tomou seu rosto em suas mãos enquanto ela lhe agarrava o pescoço. Durante o beijo, tudo começou a perder o efeito, como se o tempo avançasse e trazia a sala abandonada novamente, enquanto os dois também sumiam.Fui em direção a porta que o rapaz surgiu e me encontrei em uma sala branca, cheia de espelhos.— Eu me lembro desse lugar — murmurei, olhando envolta.Estive aqui uma vez, no sonho em que eu vejo o acidente do Troy, eu entrei por um espelho para estar lá. Olhei para os meus diversos reflexos, a procura de algum que pudesse estar diferente. A única coisa que eles mostravam de diferente era um casal, o mesmo da sala que dançavam.— O que isso tudo significa? — perguntei para mim mesma, enquanto analisava as imagens passando nos espelhos.Os dois pareciam t&atild