— Verdade ou desafio? — Perguntou Rafael. O garoto tinha a mesma altura que Thom, apesar de ser mais novo. Seus óculos de aro dourado e redondos, refletia as luzes da cidade à distância. Thom gostava dos cabelos castanho-claro de Rafa, e de como os fios desmaiavam sobre seu rosto ocasionalmente. Se ele o beijasse, ele pensou, quando ele o beijasse, colocaria seus dedos naqueles cabelos e sabia que iria sentir como se tocasse o céu - ou os cabelos de Pedro. Ele afastou a ideia da mente quando Rafael repetiu a pergunta. Thomaz hesitou por um instante. Não estava bêbado o suficiente para cumprir qualquer desafio, mas também não queria parecer careta demais; entretanto, aquela seria sua primeira verdade ainda, o que diminuía o peso em sua consciência. — Verdade. Rafael refletiu, não conhecia Thom o suficiente para elaborar uma boa pergunta. — A bebida acaba e essa pergunta não sai. — Elizabeth comentou. — Calma. — Respondeu Rafa. — Então... é verdade que você já foi apaixonado pe
Houve um tempo em que Thomaz temia interações como aquelas. Até os 18 anos, suas amizades eram resumidas em uma ou duas colegas de escola e alguns vizinhos com quem jogava FPS online, mas nada disso se comparava ao que ele passou a ter quando decidiu sair da própria bolha. Tão logo passou a fazer as escolhas que o colocavam de frente à construção de uma identidade própria, acabou por parar nesse momento: lá estava ele, dando toda a atenção do mundo para os recém-chegados amigos de Luiza. Thomaz conhecia a irmã de Elise há um tempo, assim como Marcos; porém, se perguntado, Thom diria que Rafael era o rosto menos conhecido dali. Uma bela de uma mentira, considerando que ele e Lucas já haviam conversado sobre o garoto há um tempo, quando usavam Grindr para julgar os gays do aplicativo (e, vez ou outra, aliviar a tensão). Rafael não parecia diferente da foto, muito dificilmente seria difícil de reconhecê-lo, com ou sem filtro, mas o que chamou a atenção de Thom, quando os quatro se aproxi
Elizabeth está com aquela mesma sensação de ter esquecido algo, mesmo agora, enquanto vai de encontro à concentração de pessoas desinteressantes com gostos por carros de som, luzes coloridas e álcool. O que quer que ela tenha esquecido, não tem relação com aquele momento, ou pelo menos, é isso que espera. Ao imaginar aquele rolê, em sua mente, o lugar estaria praticamente vazio. Ela respira fundo enquanto Marcos parece notar um pouco atrasado que estavam caminhando em direção a um formigueiro de pessoas – e pior: certamente, uma grande maioria desconhecida. — Isso não era para ser um rolê pequeno? A mão de Luiza já estava começando a doer com o peso da sacola que segurava. Os quatro tiveram uma pequena votação para decidir quem levaria as sacolas com bebidas – duas, no total, onde um par de vodca sabor blueberry e um par de refrigerante de limão estavam divididos – e Marcos e Luiza haviam perdido a votação. Não que isso importasse. Naquele momento, ninguém mais do que ela estava est
Thomaz certamente não estava no clima para beber – ainda. Ele tinha em sua cabeça, o pensamento de que aquela rua estaria cheia em pouco tempo, mas deu um longo gole em sua mistura alcoólica quando cogitou a possibilidade de que ele estaria lá. Não um ele qualquer, mas alguém cuja memória Tom não conseguia abandonar. — O que está pensando? — Questionou Lucas, que estranhamente estava com um cigarro aceso entre os dedos. Tom o encarou, alternando o olhar entre o rosto de Lucas e o cigarro, e então de um para o outro. — Eu sei... — disse Lucas, percebendo a estranheza da situação. — É só esse. Vocês dizem que é bom pra ansiedade, né? Eles formavam um semicírculo no chão, mas Rita não estava junto. Ela observava a luz oscilante de um poste ao longe, estado ela há apenas alguns passos do grupo. Otto também não havia voltado de seu momento no “banheiro público”, o que fazia Lucas querer ir ao seu encontro e dar-lhe um tapa. — Não é o cigarro em si, — disse Elise. — É o controle. — Vo
Assim que abriu os olhos, logo que soou o primeiro alarme do seu celular, a primeira coisa que Rita procurou, no criado mudo ao lado da cama, foi seu celular. La tela, a mensagem de Tom, enviada na madrugada daquele mesmo dia, às 4h. “Rolê hoje?”. Rita não iria, pelo menos não até o dado momento em que sua mãe a questionou se pretendia sair. Era um milagre, e posteriormente ela descobriria que, realmente, era um milagre. Não um milagre qualquer, mas considerando que sua mãe raramente a incitava a simplesmente sair, encontrar os amigos e... beber; aquela situação foi, no mínimo, inesperada. Rita só respondeu à mensagem duas horas depois, e passara o resto da manhã e da tarde, ansiosa com a ideia de que hoje poderia encher a cara e curtir as últimas semanas na cidade com os amigos. Fazia uma semana que Rita não saia de casa, a não ser para a universidade. Precisava de permissão maioria das vezes para encontrar com os amigos, e, às vezes, nem podia demorar. A simples ideia de não saber
Aconteceu tão logo Thom reconheceu a silhueta de Elise, Lucas e Otto. O casal sentado em duas cadeiras em frente à conveniência, enquanto Elise, de pé, bebia uma cerveja. Uma Tiger, ele notou de longe. Aquele fora o verdadeiro gatilho - a latinha de Tiger. A memória, inicialmente turva, começou a ganhar forma, cor, sabor... Thomaz sentiu lentamente seu coração palpitar em seu peito, mas ele não conseguia evitar continuar caminhando. Ele estaria em frente à conveniência logo, e precisaria que aquilo desaparecesse o mais rápido possível; que ele lembrasse de tudo de uma vez, ou simplesmente não lembrasse.Thomaz respirou fundo. Há poucos passos de Elise, a garota jogou as tranças, antes sobre seus ombros, para trás, movendo o rosto e vendo, no exato momento em que fez isso, Rita e Thom se aproximar. Ela sorriu e correu para abraçá-los. Sem abraços, Thomaz pediu mentalmente. Sem abraços. Mas era tarde demais. Elise já estava sobre ele. As lembranças veio em uma torrente.Pedro. Pedro.
Enquanto Otto, Lucas e Elise se dirigiam ao local marcado da farra, Rita e Thomaz caminhavam logo atrás, um pouco distante para que não ouvissem sobre o que estavam conversando. Foi assim que Rita percebeu que havia mais do que Thomaz estava querendo contar, e ela só saberia a verdade completa quando Pedro surgisse. — Eu te disse, foi um acidente. — Como isso poderia ser um acidente? — Disse ela, diminuindo o tom de voz assim que notou Elise a encarando naquele exato momento, como se tivesse a ouvido. — Acidentes não acontecem do nada. — Claro que acontecem, Rita. — Respondeu, Thom, acendendo um de seus cigarros. — É por isso que se chamam acidentes. A alternativa é doença ou assassinato. Até overdose normalmente não é intencional. — Não se considerar... — Sim, eu sei. Mas não é este o caso. — Sabe que vou descobrir por mim própria, não é? — Quando acontecer, eu terei voltado de novo. — E eu vou lembrar. — Talvez. — Retrucou Thomaz, avançando o passo em um ato que findava aque
"Eu era o demônio, aparentemente" ele dizia, quase como se isso fosse explicação para algo. "Meus pais evitam essa história, eu quase me ferrei por causa disso e, graças a isso também, demorei a fazer amigos." Na primeira vez que ele contou isso para alguém além de Rita, a amiga mais antiga dentre todos os outros, eles estavam bebendo na calçada de uma igreja vazia. Era véspera de natal e já haviam secado três vodcas: Eli, Thom, Rita e Otto; Lucas era um participante ocasional antes de começar a namorar Otto nessa época. Passava maior parte do tempo em casa, tentando fingir que as notificações em seu celular não eram mensagens de caras querendo um lance rápido e casual. Ele apareceria em algum momento, pouco depois da meia-noite."Era muito pequeno para sofrer as consequências dos meus atos" disse entre uma dose e outra. "Mas, eu devo ter sofrido por algum motivo, bem aqui…" ele colocou a ponta do dedo indicador em sua têmpora esquerda."Nada passa despercebido pelo cérebro." Elise com