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Verdades Entre Linhas

O segundo dia de Alexander como Alex Rocha começou antes do amanhecer. Ele acordou com o corpo dolorido da rotina exaustiva no depósito. O trabalho pesado e o ambiente abafado haviam deixado marcas que ele não esperava. Enquanto vestia o uniforme simples fornecido por Victoria, não pôde deixar de refletir sobre como seus funcionários enfrentavam aquilo diariamente. Para ele, era uma experiência temporária, mas para muitos, era a realidade.

Quando chegou ao depósito, o movimento já estava em pleno andamento. Jorge, seu supervisor, fazia anotações em uma prancheta enquanto dava instruções a outros funcionários. O som das empilhadeiras e o arrastar de caixas ecoavam pelo ambiente. Alexander respirou fundo antes de se juntar ao grupo.

— Alex, bom dia! Espero que esteja pronto para mais um dia cheio. Precisamos agilizar o envio de um lote prioritário antes do almoço.

Alexander assentiu, mantendo sua identidade fictícia. Cada passo que dava naquele ambiente o aproximava de uma realidade que ele nunca havia experimentado. Como CEO, sua visão era ampla e estratégica; como Alex Rocha, ele era apenas mais um carregador de caixas.


Enquanto trabalhava, Alexander começou a notar detalhes que haviam passado despercebidos no dia anterior. O sistema de ventilação do depósito era precário, mal conseguindo manter o ar fresco. Alguns funcionários improvisavam ventiladores pequenos em suas mesas, mas o calor parecia inevitável. Além disso, os equipamentos que usavam eram antigos, exigindo mais esforço físico do que o necessário.

Ao seu lado, um jovem chamado Pedro carregava caixas com uma velocidade impressionante.

— Você está aqui há quanto tempo, Pedro? — Alexander perguntou, tentando soar casual.

— Quase quatro anos. Comecei no setor de produção, mas pediram para eu vir para cá. Trabalho onde precisam.

— E você gosta de trabalhar aqui?

Pedro deu uma risada curta.

— Gosto quando o salário cai na conta. É honesto, mas não é fácil. E você? Novo aqui, né? Já está se acostumando?

— Estou tentando.

A conversa foi interrompida por Jorge, que se aproximou para dar novas instruções. Alexander observou enquanto Pedro voltava ao trabalho, sua expressão alternando entre foco e resignação. Havia algo comum entre todos ali: o esforço constante para cumprir suas tarefas, mesmo em condições difíceis.


Na hora do almoço, Alexander escolheu sentar-se em um dos cantos da sala de descanso. O espaço era apertado, com mesas simples e cadeiras de plástico. Alguns funcionários comiam em silêncio, enquanto outros conversavam sobre assuntos triviais.

Foi então que ele viu Clara. Ela estava sentada ao lado de uma colega, rindo de algo que havia sido dito. Seu sorriso iluminava seu rosto de uma forma que Alexander não tinha notado antes.

Ele pensou em se aproximar, mas decidiu esperar. Em vez disso, começou a observar as interações ao seu redor. Algumas conversas giravam em torno de problemas no trabalho; outras, sobre os desafios da vida fora dali. Alexander percebeu que, para muitos, aquele almoço era uma pausa preciosa em meio a uma rotina exaustiva.

Quando Clara se levantou para sair, Alexander tomou coragem e a abordou no corredor.

— Clara, oi. Podemos conversar um instante?

Ela olhou para ele, confusa.

— Sim, claro. Você é novo aqui, não é? Alex, certo?

— Sim. Só queria dizer que notei o quão duro você trabalha. É inspirador.

Clara riu suavemente, como se não soubesse como responder a um elogio tão direto.

— Obrigada, mas acho que é só o que todos nós fazemos, não é? Trabalhamos duro porque precisamos.

— E você gosta do que faz?

Ela hesitou antes de responder.

— Gosto de saber que estou fazendo algo útil. Mas não é o trabalho dos meus sonhos, se é isso que você quer saber.

Alexander percebeu a sinceridade em suas palavras. Clara não reclamava; apenas reconhecia a realidade em que vivia.

— Você tem sonhos além daqui? Algo que gostaria de fazer?

Clara parecia surpresa com a pergunta, mas sorriu.

— Tenho, mas eles parecem distantes. Sonhos não pagam as contas, certo?

Alexander queria dizer algo, mas se conteve. Ele sabia que não podia revelar quem realmente era, pelo menos não ainda.


O dia continuou com mais trabalho pesado, mas Alexander estava cada vez mais atento às pessoas ao seu redor. Ele via os esforços, as pequenas vitórias e as dificuldades que enfrentavam diariamente. A cada interação, sentia que estava mais conectado à essência da Moretti Jewels do que jamais estivera em seu escritório no topo do prédio.

No final do turno, Jorge reuniu a equipe para dar um aviso.

— Pessoal, amanhã teremos uma auditoria no setor. Quero todo mundo atento. Precisamos garantir que tudo esteja em ordem, especialmente os registros de estoque. Alex, Pedro, vocês vão me ajudar a organizar isso.

Alexander assentiu, mas a palavra “auditoria” despertou sua curiosidade. Quem conduziria essa auditoria? E o que exatamente estariam procurando?

Enquanto caminhava para fora do prédio, ele notou Clara ao longe, conversando com outra funcionária. Ela parecia animada, gesticulando enquanto falava. Alexander não pôde deixar de se perguntar como ela se sentia em relação ao futuro.

Ao entrar no carro, Alexander sentiu o peso do dia. O trabalho físico era exaustivo, mas o que mais o afetava eram as verdades que começava a descobrir. A Moretti Jewels era um império, mas o que sustentava aquele brilho eram as mãos calejadas de pessoas como Clara, Pedro e tantos outros.

Enquanto dirigia para casa, Alexander sabia que precisava ir mais fundo. Ele precisava entender mais, ver mais. Apenas assim poderia tomar as decisões que realmente importavam.

E, no fundo, ele sabia que Clara era a chave para muitas das respostas que procurava.

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