Alexander Moretti olhava fixamente para o reflexo no espelho de seu banheiro. Os traços bem definidos de seu rosto, que tantas vezes estamparam capas de revistas de negócios, agora pareciam marcados por uma tensão que ele não conseguia explicar. A ideia que surgira na noite anterior não o deixava em paz.
O vapor da água quente envolvia o ambiente, mas não afastava o frio em seu peito. Ele sabia que tomar aquela decisão significava mais do que se disfarçar. Era um risco. Não apenas para sua reputação, mas também para o controle que ele sempre mantivera sobre a empresa.
Enquanto se vestia para o dia, Alexander ponderava os detalhes. Como poderia se infiltrar sem que fosse descoberto? Ele precisaria adotar uma identidade nova, convencer as pessoas ao seu redor de que era apenas mais um trabalhador. Seria difícil, mas não impossível.
No entanto, a maior dúvida era outra: e se ele não gostasse do que encontrasse?
No andar superior da Moretti Jewels, Victoria o esperava com uma expressão controlada, mas era evidente que estava curiosa. Ela segurava um tablet e o seguia com passos calculados enquanto ele cruzava o corredor em direção à sala de reuniões.
— A diretoria está aguardando sua aprovação para os novos contratos internacionais, senhor. E sobre o jantar cancelado de ontem, devo remarcar?
Alexander parou de andar e virou-se para ela.
— Victoria, você confia em mim?
A pergunta a pegou desprevenida, mas ela não demonstrou.
— Sempre, senhor.
— Então vou precisar que me ajude com algo… incomum.
Victoria arqueou levemente a sobrancelha, mas permaneceu em silêncio, aguardando.
— Quero trabalhar disfarçado na empresa. Como funcionário comum. Preciso ver o que acontece aqui de verdade, sem as aparências que me mostram todos os dias.
Ela ficou imóvel por um instante, tentando avaliar se ele estava falando sério. Quando percebeu que estava, sua expressão permaneceu neutra, mas seus olhos refletiam preocupação.
— Isso é uma ordem, Victoria. Preciso que organize tudo. Quero começar amanhã.
— Muito bem, senhor. Mas… isso pode ser arriscado. E se alguém descobrir?
Alexander deu um leve sorriso.
— Então teremos que garantir que ninguém descubra. Confio em você.
Victoria assentiu, mesmo sem estar completamente convencida. Organizar algo assim seria um desafio, mas, se Alexander Moretti queria se disfarçar, ela faria acontecer.
No dia seguinte, Alexander deixou de lado seus ternos impecáveis e vestiu roupas simples, próprias para o tipo de trabalho que desempenharia. Olhando-se no espelho, quase não reconheceu o homem que via. Não era mais o CEO bilionário; era apenas um funcionário comum.
Victoria, sempre eficiente, organizou tudo para que ele começasse como auxiliar de almoxarifado. Era um cargo discreto, longe dos holofotes, mas suficientemente próximo para observar a dinâmica entre os trabalhadores.
Ao chegar ao setor, Alexander sentiu a diferença imediatamente. O ambiente era barulhento, com pessoas se movendo apressadamente, caixas sendo empilhadas, e máquinas funcionando a todo vapor. Ele foi apresentado como Alex Rocha, um novo contratado temporário.
— Bem-vindo, Alex. Sou o Jorge, seu supervisor. Aqui não tem moleza, mas, se você for rápido, vai se sair bem.
Jorge era um homem robusto, com cabelos grisalhos e um jeito direto de falar. Ele entregou a Alexander um uniforme e o levou para o depósito.
— Seu trabalho é simples. Pegue as caixas que estão etiquetadas com “prioridade” e coloque-as na esteira para envio. Qualquer dúvida, me pergunte.
Alexander assentiu e começou a trabalhar. O ritmo era intenso, e ele rapidamente percebeu o quanto aquele serviço exigia esforço físico. O uniforme começou a colar em sua pele devido ao suor, e seus braços doíam com o peso das caixas.
Enquanto trabalhava, observava as pessoas ao redor. Muitos pareciam cansados, mas havia uma energia coletiva que o intrigava. Eles estavam conectados, compartilhando o mesmo esforço para manter a empresa funcionando.
Durante uma pausa, ele reconheceu um rosto familiar. Clara, a jovem faxineira, passava pelo corredor empurrando um carrinho de limpeza. Seus olhos se cruzaram brevemente, mas ela não pareceu reconhecê-lo. Ele era apenas mais um no meio da multidão agora.
Alexander observou enquanto ela conversava com outro funcionário, um homem mais velho que parecia dar-lhe conselhos. Eles riam de algo, e por um instante, Clara parecia mais leve. Havia mais em Clara do que ele imaginava.
No final do dia, Alexander sentia cada músculo do corpo protestar. O trabalho era exaustivo, muito mais do que ele esperava. Enquanto voltava para casa, pensava nas condições que havia presenciado. As máquinas estavam velhas, os equipamentos, desgastados, e o sistema de ventilação mal dava conta de manter o ar respirável no depósito.
Como ele nunca havia notado isso antes?
Quando entrou em seu apartamento, o silêncio o envolveu. Ele se jogou no sofá e passou as mãos pelo rosto, exausto. Pela primeira vez, Alexander começou a questionar se era capaz de lidar com o que havia decidido fazer. Mas ele sabia que não havia como voltar atrás.
Ele precisava entender mais. Não apenas sobre as condições de trabalho, mas sobre as pessoas. E, principalmente, sobre Clara. Havia algo nela que o fazia querer saber mais.
Aquela era apenas a primeira etapa de sua jornada, mas Alexander sabia que estava prestes a descobrir verdades que poderiam mudar tudo o que ele pensava sobre si mesmo, sua empresa e o mundo ao seu redor.
O dia amanheceu com uma leve garoa que escorria pelas janelas do prédio da Moretti Jewels. Alexander chegou cedo ao depósito, vestindo novamente seu uniforme simples e assumindo sua identidade como Alex Rocha. As dores no corpo ainda eram evidentes, um lembrete constante do trabalho exaustivo que seus funcionários realizavam diariamente. Ele estava começando a entender o peso daquela rotina.Ao entrar, encontrou Jorge, o supervisor, conversando com dois homens de terno. Eles seguravam pastas e pareciam analisar papéis com cuidado. A auditoria havia começado. Alexander notou a tensão no ar. Funcionários se moviam com mais cuidado, e as conversas eram murmuradas.— Alex, venha aqui! — chamou Jorge, gesticulando para ele se aproximar. Alexander apressou o passo e parou ao lado do supervisor.— Esses são os auditores responsáveis pela inspeção. Eles vão revisar o estoque, e precisamos ajudá-los com o que for necessário. Pegue essas caixas e organize-as nas prateleiras, começando pelas q
O som dos alarmes de segurança ecoava pelos corredores quando Alexander chegou à sede da Moretti Jewels na manhã seguinte. Ele não estava vestido como Alex Rocha, o trabalhador do depósito, mas sim como Alexander Moretti, o CEO que todos conheciam. O terno bem cortado, os sapatos impecáveis e a postura firme indicavam que ele estava ali para tomar decisões.Victoria já o esperava na entrada do prédio. Ela segurava uma pasta com os relatórios que ele havia pedido na noite anterior. Seu rosto mantinha a mesma expressão impassível de sempre, mas havia um leve brilho de curiosidade em seus olhos.— Trouxe tudo o que me pediu, senhor — disse, entregando a pasta. — Mas preciso alertá-lo de que o conselho pode não gostar do que pretende fazer.Alexander folheou rapidamente os papéis, absorvendo os números e informações. Os relatórios confirmavam o que ele temia. O setor de limpeza era visto como um “gasto desnecessário”, e a terceirização já estava sendo discutida havia meses. Se ele não int
O som do relógio de parede preenchia o escritório silencioso de Alexander. A cidade se estendia além das janelas de vidro, um oceano de luzes e sombras que pareciam pulsar no ritmo de sua inquietação. Ele havia tomado uma decisão firme na reunião com a diretoria, mas sabia que sua batalha estava longe de terminar.Ser CEO nunca foi uma questão apenas de poder. Ele sempre soube jogar o jogo corporativo, entender números, estratégias e lucros. Mas agora, depois de dias como Alex Rocha, ele começava a perceber o que nunca esteve nos relatórios. O que fazia a Moretti Jewels realmente funcionar não estava nos gráficos financeiros. Estava nas mãos calejadas dos trabalhadores que passavam despercebidos.Victoria entrou no escritório sem bater, segurando o tablet com uma expressão indecifrável.— A terceirização foi oficialmente suspensa. O conselho aceitou sua solicitação para revisar os custos, mas não estão felizes com isso.Alexander soltou um suspiro, apoiando-se na mesa.— Já esperava r
Alexander sentia o peso da noite anterior enquanto voltava para o depósito. A conversa com Clara permanecia em sua mente, ecoando como um lembrete incômodo de tudo o que ele estava descobrindo. Pela primeira vez, ele via sua empresa de uma perspectiva que nunca havia considerado.O dia começou como qualquer outro. Jorge distribuía tarefas, funcionários carregavam caixas, e o calor abafado do depósito fazia com que todos se movessem mais lentamente. Mas havia algo diferente no ar.Pedro se aproximou de Alexander, segurando uma prancheta cheia de anotações rabiscadas.— Algo grande está para acontecer — sussurrou ele.Alexander ergueu uma sobrancelha, interessado.— O que você ouviu?Pedro olhou discretamente ao redor antes de continuar.— Ouvi Jorge conversando com um dos gerentes. Parece que alguém denunciou irregularidades no setor de produção.Alexander sentiu um frio percorrer sua espinha.— Que tipo de irregularidade?— Problemas de segurança, cortes de custo que comprometeram as
Alexander chegou à sede da Moretti Jewels sentindo que o tempo estava contra ele. Desde que assumira sua identidade como Alex Rocha, sua percepção sobre a empresa havia mudado completamente. Ele entrou no depósito como fazia todos os dias, misturando-se aos trabalhadores, mas desta vez carregava um peso maior. A auditoria no setor de produção não era apenas um evento rotineiro – algo muito maior estava acontecendo nos bastidores, e ele precisava entender o que estava por trás de tudo.Os corredores pareciam mais silenciosos do que o normal, e os funcionários trocavam olhares desconfiados. Ele percebeu que a tensão era quase palpável. As engrenagens da empresa estavam se movendo, mas ninguém sabia ao certo para onde.Pedro, sempre atento ao que acontecia ao redor, aproximou-se assim que viu Alexander.— Você ouviu? Parece que alguns funcionários foram chamados para uma conversa particular com a diretoria.Alexander franziu a testa.— Alguma ideia de quem?Pedro coçou a cabeça, olhando
O dia amanheceu pesado. Alexander sentia a tensão no ar assim que entrou no depósito. Os rumores sobre a auditoria haviam se espalhado, e a incerteza pairava sobre todos. Ele sabia que a diretoria estava tramando algo. Depois da reunião com Victoria e os relatórios que analisara na noite anterior, não havia dúvidas de que estavam preparando cortes estratégicos para salvar sua própria pele.Pedro se aproximou, parecendo inquieto.— Você viu? Chamaram o Jorge de novo. E alguns supervisores também. Isso não é bom sinal.Alexander olhou para o escritório no andar superior do galpão, onde as cortinas estavam fechadas. Algo estava acontecendo ali dentro, e ele precisava descobrir o que era.— O que você acha que vai acontecer? — perguntou Pedro, a voz carregada de preocupação.— Se eu tivesse que adivinhar, diria que estão decidindo quem vai embora primeiro.Pedro soltou um suspiro, cruzando os braços.— Toda vez é a mesma coisa. Eles chamam o pessoal para reuniões, fingem que vão resolver
O dia começou com o som constante das máquinas no depósito, um ruído que já parecia fazer parte do ambiente. Alexander, agora acostumado a sua identidade como Alex Rocha, misturava-se à rotina com maior naturalidade, mas a tensão no ar era palpável. As conversas eram sussurradas, os olhares, furtivos. Todos sabiam que a auditoria do dia anterior poderia trazer mudanças, e mudanças raramente eram boas para os trabalhadores.Pedro, o jovem que dividia as tarefas com Alexander, parecia mais quieto do que o habitual. Enquanto empilhavam caixas, Alexander tentou puxar conversa.— Está tudo bem? Você parece distante.Pedro deu de ombros, sem interromper o movimento de erguer uma caixa pesada.— Não é nada, só estou pensando. Essa auditoria… Sempre sobra pra gente. Eles nunca vêm aqui pra melhorar as coisas, só pra cortar custos.Alexander segurou uma caixa mais leve, mas o peso das palavras de Pedro era mais difícil de carregar. Ele sabia que, por trás de cada decisão corporativa, havia núm
O brilho das luzes da cidade se espalhava pelas janelas amplas do escritório de Alexander Moretti, lançando reflexos cintilantes sobre sua mesa de mogno polido. De onde estava, no topo do arranha-céu da Moretti Jewels, Alexander tinha a cidade inteira a seus pés. Mas, naquela noite, a vista não lhe trazia satisfação. Ele estava inquieto.Sua vida era um reflexo do sucesso absoluto: poder, riqueza, influência. Aos trinta e dois anos, comandava uma das maiores multinacionais de joias de luxo, admirado e invejado por muitos. Porém, enquanto desabotoava o paletó e afrouxava a gravata, ele não conseguia afastar uma sensação incômoda que vinha crescendo nas últimas semanas.Ele passou os dedos pela superfície lisa de sua mesa e olhou para o pedestal de vidro no canto do escritório. Ali, repousava o símbolo do início de tudo: um diamante impecavelmente lapidado, a primeira joia criada por seu avô, fundador da empresa. Alexander caminhou até o pedestal, observando a pedra como se buscasse res