O som dos alarmes de segurança ecoava pelos corredores quando Alexander chegou à sede da Moretti Jewels na manhã seguinte. Ele não estava vestido como Alex Rocha, o trabalhador do depósito, mas sim como Alexander Moretti, o CEO que todos conheciam. O terno bem cortado, os sapatos impecáveis e a postura firme indicavam que ele estava ali para tomar decisões.
Victoria já o esperava na entrada do prédio. Ela segurava uma pasta com os relatórios que ele havia pedido na noite anterior. Seu rosto mantinha a mesma expressão impassível de sempre, mas havia um leve brilho de curiosidade em seus olhos.
— Trouxe tudo o que me pediu, senhor — disse, entregando a pasta. — Mas preciso alertá-lo de que o conselho pode não gostar do que pretende fazer.
Alexander folheou rapidamente os papéis, absorvendo os números e informações. Os relatórios confirmavam o que ele temia. O setor de limpeza era visto como um “gasto desnecessário”, e a terceirização já estava sendo discutida havia meses. Se ele não interviesse, Clara e muitos outros perderiam seus empregos nas próximas semanas.
— Eles nunca gostam quando alguém desafia o modelo de corte de custos — respondeu Alexander, fechando a pasta. — Mas eu não estou aqui para agradá-los. Estou aqui para consertar as falhas que deixamos passar.
Victoria abriu a boca para dizer algo, mas se conteve. Caminhou ao lado dele até o elevador, sem questionar.
Quando Alexander entrou na sala de reuniões do alto escalão, encontrou os diretores já sentados ao redor da longa mesa de vidro. Eles estavam conversando em tom baixo, mas silenciaram quando ele se sentou à cabeceira.
O diretor financeiro, um homem de meia-idade com óculos finos e um olhar calculista, foi o primeiro a falar.
— Senhor Moretti, soubemos que solicitou uma análise detalhada do setor de limpeza. Algum motivo específico para esse interesse?
Alexander olhou para cada um dos membros da diretoria antes de responder.
— Sim. Quero revisar a decisão sobre a terceirização desse setor.
Um burburinho se espalhou entre os diretores. Alguns trocaram olhares, outros se remexeram nas cadeiras. O diretor de operações, um homem corpulento de voz grave, pigarreou antes de falar.
— Com todo o respeito, senhor, mas a decisão de terceirizar já está em fase final. As projeções mostram que isso reduziria nossos custos em quinze por cento.
— E os impactos para os funcionários? — questionou Alexander.
O silêncio que se seguiu foi incômodo.
— Isso é irrelevante para os lucros da empresa — disse outro diretor, ajustando a gravata.
Alexander sentiu a irritação crescer. Durante anos, ele aceitou essas respostas sem contestação. Ele via os números, mas nunca parou para olhar as pessoas por trás deles. Agora, essa perspectiva fria e insensível o enojava.
— Não é irrelevante — disse ele, sua voz firme. — Os funcionários da Moretti Jewels são parte do que nos mantém no topo. Não são apenas números em uma planilha. Eles têm vidas, famílias. E mais do que isso, eles são o coração da nossa produção.
O diretor financeiro balançou a cabeça.
— Estamos falando de corte de custos necessários para manter a empresa competitiva. Esses funcionários serão substituídos por uma equipe terceirizada treinada para realizar as mesmas funções por um custo menor. Isso é um movimento estratégico, senhor.
Alexander respirou fundo. Ele sabia que convencer aqueles homens de terno seria um desafio. Eles eram programados para pensar em números, não em pessoas.
— Então vocês estão sugerindo que sacrifiquemos trabalhadores leais para contratar temporários que, no fim das contas, terão menos comprometimento com a empresa? — perguntou Alexander.
Mais uma vez, o silêncio caiu sobre a sala.
— Senhores, eu passei os últimos dias observando de perto como nossa empresa funciona, diretamente no chão de fábrica. E sabem o que vi? Pessoas que dão tudo de si, que mantêm esse lugar funcionando. Se acham que cortar custos à custa da dignidade dessas pessoas é um bom negócio, então é sinal de que estamos indo pelo caminho errado.
Os diretores trocaram olhares desconfortáveis. Ninguém estava acostumado a ver Alexander Moretti questionando as decisões corporativas dessa forma.
— O que sugere, então? — perguntou o diretor de operações, cruzando os braços.
Alexander sabia que não podia simplesmente cancelar a terceirização sem apresentar uma alternativa viável.
— Quero um estudo detalhado sobre como podemos otimizar os processos internos sem recorrer a cortes desnecessários. Se o problema é eficiência, então vamos investir em treinamento, modernização de equipamentos e melhoria das condições de trabalho. A longo prazo, isso será mais sustentável do que simplesmente substituir pessoas.
Houve um longo momento de silêncio.
— Isso vai atrasar as mudanças estratégicas que planejamos — disse o diretor financeiro.
— Talvez — respondeu Alexander. — Mas vai garantir que a Moretti Jewels continue sendo uma empresa que valoriza seus trabalhadores.
Os diretores ainda pareciam hesitantes, mas ninguém ousou desafiar a decisão de Alexander diretamente. Ele sabia que não havia vencido a guerra ainda, mas havia dado o primeiro passo.
Quando a reunião terminou, Victoria se aproximou enquanto ele organizava os documentos.
— Isso foi arriscado — disse ela. — Eles não vão esquecer isso tão cedo.
Alexander soltou um suspiro.
— Eu também não.
Victoria observou-o por um instante antes de falar novamente.
— E agora? O que pretende fazer?
Alexander fechou a pasta e olhou pela grande janela de seu escritório, observando a cidade lá fora.
— Ainda há muito para entender, Victoria. Meu tempo no depósito não acabou.
Ela ergueu uma sobrancelha, surpresa.
— Vai continuar como Alex Rocha?
Ele assentiu.
— Vou continuar até ter certeza de que sei tudo o que preciso saber.
Victoria ficou em silêncio por alguns segundos antes de soltar um pequeno sorriso.
— Isso vai ser interessante.
Alexander não respondeu. Ele sabia que essa era apenas uma batalha. Havia muito mais a descobrir.
E ele não pararia até garantir que a Moretti Jewels não fosse apenas uma empresa lucrativa, mas uma empresa justa.
O som do relógio de parede preenchia o escritório silencioso de Alexander. A cidade se estendia além das janelas de vidro, um oceano de luzes e sombras que pareciam pulsar no ritmo de sua inquietação. Ele havia tomado uma decisão firme na reunião com a diretoria, mas sabia que sua batalha estava longe de terminar.Ser CEO nunca foi uma questão apenas de poder. Ele sempre soube jogar o jogo corporativo, entender números, estratégias e lucros. Mas agora, depois de dias como Alex Rocha, ele começava a perceber o que nunca esteve nos relatórios. O que fazia a Moretti Jewels realmente funcionar não estava nos gráficos financeiros. Estava nas mãos calejadas dos trabalhadores que passavam despercebidos.Victoria entrou no escritório sem bater, segurando o tablet com uma expressão indecifrável.— A terceirização foi oficialmente suspensa. O conselho aceitou sua solicitação para revisar os custos, mas não estão felizes com isso.Alexander soltou um suspiro, apoiando-se na mesa.— Já esperava r
Alexander sentia o peso da noite anterior enquanto voltava para o depósito. A conversa com Clara permanecia em sua mente, ecoando como um lembrete incômodo de tudo o que ele estava descobrindo. Pela primeira vez, ele via sua empresa de uma perspectiva que nunca havia considerado.O dia começou como qualquer outro. Jorge distribuía tarefas, funcionários carregavam caixas, e o calor abafado do depósito fazia com que todos se movessem mais lentamente. Mas havia algo diferente no ar.Pedro se aproximou de Alexander, segurando uma prancheta cheia de anotações rabiscadas.— Algo grande está para acontecer — sussurrou ele.Alexander ergueu uma sobrancelha, interessado.— O que você ouviu?Pedro olhou discretamente ao redor antes de continuar.— Ouvi Jorge conversando com um dos gerentes. Parece que alguém denunciou irregularidades no setor de produção.Alexander sentiu um frio percorrer sua espinha.— Que tipo de irregularidade?— Problemas de segurança, cortes de custo que comprometeram as
Alexander chegou à sede da Moretti Jewels sentindo que o tempo estava contra ele. Desde que assumira sua identidade como Alex Rocha, sua percepção sobre a empresa havia mudado completamente. Ele entrou no depósito como fazia todos os dias, misturando-se aos trabalhadores, mas desta vez carregava um peso maior. A auditoria no setor de produção não era apenas um evento rotineiro – algo muito maior estava acontecendo nos bastidores, e ele precisava entender o que estava por trás de tudo.Os corredores pareciam mais silenciosos do que o normal, e os funcionários trocavam olhares desconfiados. Ele percebeu que a tensão era quase palpável. As engrenagens da empresa estavam se movendo, mas ninguém sabia ao certo para onde.Pedro, sempre atento ao que acontecia ao redor, aproximou-se assim que viu Alexander.— Você ouviu? Parece que alguns funcionários foram chamados para uma conversa particular com a diretoria.Alexander franziu a testa.— Alguma ideia de quem?Pedro coçou a cabeça, olhando
O dia amanheceu pesado. Alexander sentia a tensão no ar assim que entrou no depósito. Os rumores sobre a auditoria haviam se espalhado, e a incerteza pairava sobre todos. Ele sabia que a diretoria estava tramando algo. Depois da reunião com Victoria e os relatórios que analisara na noite anterior, não havia dúvidas de que estavam preparando cortes estratégicos para salvar sua própria pele.Pedro se aproximou, parecendo inquieto.— Você viu? Chamaram o Jorge de novo. E alguns supervisores também. Isso não é bom sinal.Alexander olhou para o escritório no andar superior do galpão, onde as cortinas estavam fechadas. Algo estava acontecendo ali dentro, e ele precisava descobrir o que era.— O que você acha que vai acontecer? — perguntou Pedro, a voz carregada de preocupação.— Se eu tivesse que adivinhar, diria que estão decidindo quem vai embora primeiro.Pedro soltou um suspiro, cruzando os braços.— Toda vez é a mesma coisa. Eles chamam o pessoal para reuniões, fingem que vão resolver
O dia começou com o som constante das máquinas no depósito, um ruído que já parecia fazer parte do ambiente. Alexander, agora acostumado a sua identidade como Alex Rocha, misturava-se à rotina com maior naturalidade, mas a tensão no ar era palpável. As conversas eram sussurradas, os olhares, furtivos. Todos sabiam que a auditoria do dia anterior poderia trazer mudanças, e mudanças raramente eram boas para os trabalhadores.Pedro, o jovem que dividia as tarefas com Alexander, parecia mais quieto do que o habitual. Enquanto empilhavam caixas, Alexander tentou puxar conversa.— Está tudo bem? Você parece distante.Pedro deu de ombros, sem interromper o movimento de erguer uma caixa pesada.— Não é nada, só estou pensando. Essa auditoria… Sempre sobra pra gente. Eles nunca vêm aqui pra melhorar as coisas, só pra cortar custos.Alexander segurou uma caixa mais leve, mas o peso das palavras de Pedro era mais difícil de carregar. Ele sabia que, por trás de cada decisão corporativa, havia núm
O brilho das luzes da cidade se espalhava pelas janelas amplas do escritório de Alexander Moretti, lançando reflexos cintilantes sobre sua mesa de mogno polido. De onde estava, no topo do arranha-céu da Moretti Jewels, Alexander tinha a cidade inteira a seus pés. Mas, naquela noite, a vista não lhe trazia satisfação. Ele estava inquieto.Sua vida era um reflexo do sucesso absoluto: poder, riqueza, influência. Aos trinta e dois anos, comandava uma das maiores multinacionais de joias de luxo, admirado e invejado por muitos. Porém, enquanto desabotoava o paletó e afrouxava a gravata, ele não conseguia afastar uma sensação incômoda que vinha crescendo nas últimas semanas.Ele passou os dedos pela superfície lisa de sua mesa e olhou para o pedestal de vidro no canto do escritório. Ali, repousava o símbolo do início de tudo: um diamante impecavelmente lapidado, a primeira joia criada por seu avô, fundador da empresa. Alexander caminhou até o pedestal, observando a pedra como se buscasse res
O segundo dia de Alexander como Alex Rocha começou antes do amanhecer. Ele acordou com o corpo dolorido da rotina exaustiva no depósito. O trabalho pesado e o ambiente abafado haviam deixado marcas que ele não esperava. Enquanto vestia o uniforme simples fornecido por Victoria, não pôde deixar de refletir sobre como seus funcionários enfrentavam aquilo diariamente. Para ele, era uma experiência temporária, mas para muitos, era a realidade.Quando chegou ao depósito, o movimento já estava em pleno andamento. Jorge, seu supervisor, fazia anotações em uma prancheta enquanto dava instruções a outros funcionários. O som das empilhadeiras e o arrastar de caixas ecoavam pelo ambiente. Alexander respirou fundo antes de se juntar ao grupo.— Alex, bom dia! Espero que esteja pronto para mais um dia cheio. Precisamos agilizar o envio de um lote prioritário antes do almoço.Alexander assentiu, mantendo sua identidade fictícia. Cada passo que dava naquele ambiente o aproximava de uma realidade que
Alexander Moretti olhava fixamente para o reflexo no espelho de seu banheiro. Os traços bem definidos de seu rosto, que tantas vezes estamparam capas de revistas de negócios, agora pareciam marcados por uma tensão que ele não conseguia explicar. A ideia que surgira na noite anterior não o deixava em paz.O vapor da água quente envolvia o ambiente, mas não afastava o frio em seu peito. Ele sabia que tomar aquela decisão significava mais do que se disfarçar. Era um risco. Não apenas para sua reputação, mas também para o controle que ele sempre mantivera sobre a empresa.Enquanto se vestia para o dia, Alexander ponderava os detalhes. Como poderia se infiltrar sem que fosse descoberto? Ele precisaria adotar uma identidade nova, convencer as pessoas ao seu redor de que era apenas mais um trabalhador. Seria difícil, mas não impossível.No entanto, a maior dúvida era outra: e se ele não gostasse do que encontrasse?No andar superior da Moretti Jewels, Victoria o esperava com uma expressão co