Início / Romance / Corações Lapidados / Sob a Superfície do Luxo
Sob a Superfície do Luxo

O brilho das luzes da cidade se espalhava pelas janelas amplas do escritório de Alexander Moretti, lançando reflexos cintilantes sobre sua mesa de mogno polido. De onde estava, no topo do arranha-céu da Moretti Jewels, Alexander tinha a cidade inteira a seus pés. Mas, naquela noite, a vista não lhe trazia satisfação. Ele estava inquieto.

Sua vida era um reflexo do sucesso absoluto: poder, riqueza, influência. Aos trinta e dois anos, comandava uma das maiores multinacionais de joias de luxo, admirado e invejado por muitos. Porém, enquanto desabotoava o paletó e afrouxava a gravata, ele não conseguia afastar uma sensação incômoda que vinha crescendo nas últimas semanas.

Ele passou os dedos pela superfície lisa de sua mesa e olhou para o pedestal de vidro no canto do escritório. Ali, repousava o símbolo do início de tudo: um diamante impecavelmente lapidado, a primeira joia criada por seu avô, fundador da empresa. Alexander caminhou até o pedestal, observando a pedra como se buscasse respostas nela. Era um lembrete do legado que herdara, mas também do peso que carregava.

— Sr. Moretti, a reunião com os acionistas foi um sucesso. Eles sugeriram um evento para celebrar os lucros recordes do último trimestre.

Victoria, sua assistente pessoal, entrou no escritório com passos firmes e postura impecável. Ela era a eficiência personificada, sempre dois passos à frente do que ele precisava.

— Cancele minha agenda para hoje, Victoria.

Ela parou, surpresa.

— O senhor tem um jantar com investidores esta noite.

— Cancele. Não vou comparecer.

Victoria hesitou, mas sabia quando não insistir.

— Entendido, senhor.

Assim que ela saiu, Alexander voltou a olhar para o diamante. Como seu avô reagiria se visse o que a empresa havia se tornado? Ele não tinha dúvidas de que os números eram impressionantes, mas e as pessoas que sustentavam tudo isso? O que ele realmente sabia sobre elas?

Com esse pensamento o impulsionando, Alexander pegou o paletó e deixou o escritório. Ele precisava enxergar sua empresa além das paredes luxuosas de sua sala.


Os corredores dos andares superiores eram silenciosos e impecáveis, revestidos de mármore, iluminados por lustres modernos e perfumados com o aroma suave de flores frescas. Mas, conforme Alexander descia para os andares inferiores, o cenário mudava. As paredes eram mais simples, os pisos de material industrial, e o ar era mais pesado, impregnado com o cheiro de metal, graxa e produtos de limpeza.

Ele raramente visitava esses andares. Para ele, eram apenas números em relatórios: operações, logística, produção. Mas, naquele momento, ele sentiu a diferença. O som das máquinas ao longe misturava-se ao eco dos passos de trabalhadores em uniformes que carregavam caixas ou ajustavam equipamentos.

E foi então que ele a viu.

Uma jovem estava ajoelhada no chão, esfregando vigorosamente uma mancha no mármore. Seu uniforme simples já mostrava sinais de desgaste, e seus cabelos castanhos estavam presos em um coque desalinhado. Havia algo em sua postura que chamou a atenção de Alexander: uma combinação de exaustão e determinação.

Ele parou, observando-a por um momento antes de se aproximar.

— Boa noite, senhor.

A voz dela era baixa, quase apagada pelo som ao redor, mas havia uma gentileza que Alexander não esperava. Ela ergueu os olhos rapidamente, apenas o suficiente para reconhecer sua presença, antes de voltar ao trabalho.

— Boa noite... Qual é o seu nome?

Ela parou por um instante, surpresa pela pergunta. Lentamente, levantou os olhos novamente.

— Clara, senhor. Clara Nogueira.

Alexander repetiu o nome, como se estivesse testando a sensação de pronunciá-lo.

— Há quanto tempo trabalha aqui, Clara?

— Dois anos, senhor.

Ela voltou a esfregar o chão, mas ele percebeu a hesitação em seus movimentos. Não era comum que alguém em sua posição falasse com ela, muito menos que fizesse tantas perguntas.

— E como é trabalhar aqui?

Ela parou por um momento, avaliando se deveria ser completamente honesta.

— O trabalho é honesto, senhor. Mas... é cansativo.

A resposta simples e direta o desarmou. Alexander ficou em silêncio, observando-a enquanto processava aquelas palavras. Ele olhou para o balde de água ao lado dela, o pano que ela torcia com as mãos cobertas por luvas gastas, e o brilho no mármore que começava a aparecer. Quantas Claras existiam na Moretti Jewels? Quantas histórias como a dela ele ignorava diariamente?

— Você sempre faz esse turno?

— Sim, senhor. Às vezes faço extras quando pedem.

Ela respondeu sem olhar para ele, voltando a focar no trabalho. Mas Alexander percebeu algo: havia um certo orgulho em sua voz, como se, apesar das dificuldades, ela encontrasse valor no que fazia.

Ele poderia ter agradecido, seguido em frente e esquecido aquela conversa no instante seguinte. Afinal, era o que sempre fazia. Mas algo naquela cena o incomodou profundamente.

Ao voltar para o elevador, as palavras de Clara continuavam ecoando em sua mente. “É honesto, mas cansativo.” Ele sabia que havia algo profundamente errado em ouvir isso de alguém que trabalhava sob sua liderança.

Quando entrou novamente em seu escritório, Alexander olhou mais uma vez para o diamante no pedestal.

“Como posso liderar se nem sei o que realmente acontece na base da minha empresa?”

Foi naquela noite que a ideia surgiu. Uma ideia ousada, inesperada. Ele precisava se infiltrar. Precisava viver aquela realidade para entender o que significava trabalhar na Moretti Jewels como um funcionário comum.

Ele precisava enxergar a verdade.

Naquela noite, enquanto planejava mentalmente o próximo passo, Alexander não fazia ideia de como aquela decisão mudaria sua vida e a de Clara para sempre.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App