Troco olhares divertidos com Samanta.O som de thinking out loud,de Ed Sheeran,começa a soar e vejo vários casais se concentrando no centro do salão e começam a dançar. Samanta conta que a tia,a Pâmella em questão,tinha posto essa música na playlist especialmente para que ela e Marcos dançassem. Contudo,agora a garota está numa empreitada nos andares de cima e Peter não entra mais de forma alguma no seu WhatsApp e sinto vontade de roer as unhas. Evellyn está a ponto de sentar no colo de Marcos Logan e Sasha quase se ajoelha nos seus pés para que o cara dance a música coladinho a ela. Sinto vontade de rir.— Por que não dança com o Marcos até a tia Pâmella descer,Rubi? — Samanta tem a ideia mais fodida do planeta. — Você sabe dançar?As amigas de Pâmella me encaram como se eu fosse um pedaço de carne à mercê dos leões.— Eu sei.Marcos me pede ajuda articulando com os lábios em uma linguagem muda. Se levanta e estende a mão para mim. Rapidamente minha mente repassa a cena em que dançam
Rio de Janeiro,Brasil18 de Janeiro,2014Lembro-me como se fosse ontem do cheiro que aquela mulher exalava quando invadiu a minha fortaleza,com planos de levar para longe tudo o que tinha me restado,logo de uma garotinha que não passaria de uma mera pedra no seu sapato. No entanto,parece que os gigantes têm esse mal,quanto mais inferior você for,mais vão querer se livrar de você,e mais tratarão de destruí-lo,sem deixar de subestimá-lo. Soraya Ortiz cheirava a rosas vermelhas,inconvenientemente,o mesmo cheiro da mulher que nos trouxe ao mundo,nos abandonando uma semana depois com nosso pai de partida ao exterior,em busca de riquezas e vida de luxo. Posso não conhecer a minha mãe,mas a odeio por ter nos largado como se fôssemos nada nessa vida de merda. Agora,no nosso aniversário de doze anos,em pleno a um passeio muito divertido que tivemos pelo zoológico,apesar da companhia indesejada de Soraya,papai nos revela duas caixinhas de veludo,uma vermelha para mim,e uma verde escuro para mi
Fiz que sim e voltei para continuar a escutar o que era falado na sala,porém,um silêncio total tomava de conta do lugar. Espichei um pouco o pescoço para ver algo e encontrei a sala vazia. Rapidamente puxei o braço de Ágata para darmos o fora dali e chegarmos em casa antes de Soraya,sem levantar suspeitas. A desgraçada é muito pior do que imaginava,é uma interesseira que veio à procura de raspar tudo o que pertencia a sua irmã que certamente odiava. Agora me pergunto se essa mulher também não era uma golpista fria e calculista como Soraya,mas,pelo que pude ouvir,ela era muito pior e mais ardilosa que nossa madrasta. Ela deixou suas filhas e seu marido por dinheiro sujo,deixando duas migalhas para nós duas,filtradas pelo seu trabalho desonesto e que,por consequência,caso seja a tal chave que aquelas pessoas procuram,podem colocar nossas vidas em perigo. Eu odeio mais ainda aquela mulher,espero que pague pelos seus pecados no inferno,meus sentimentos seriam insignificantes a pessoas com
Pedras batiam na lataria do automóvel e a estrada parecia tortuosa dado as curvas radicais do motorista. Abri os olhos devagar,notando a frieza das algemas em meus pulsos,o ambiente hostil em que nos encontrávamos e os cabelos de Soraya voando sobre o banco à nossa frente devido as pancadas fortes de vento que atravessavam a janela. Ela coloca a cabeça para fora e volta rapidamente,sacando sua pistola urgentemente. Pensei muito se deveria fazer algo,olhei para minha irmã sonolenta e me recordei do seu estado de poucas horas. Não. Não poderia ficar sem fazer nada. Me ergui e olhei pela janela,estávamos sendo perseguidos,talvez pudesse ser a polícia. Então não ruminei muito sobre as consequências e simplesmente agi,pulando no volante que o amante de Soraya dirigia. Ela gritou e tentou me tirar de cima,puxando meus cabelos e me ameaçando com a pistola voltada na minha cabeça. O carro dançava de um lado e outro pela estrada.— Mata logo essa pirralha,Soraya! — dizia o amante. — Soraya!So
Dias atuais…Buenos Aires,ArgentinaEscolher brinquedinhos de tortura se tornou a parte mais divertida do meu trabalho. Pego o machado em meio às diversas variedades jogadas pela mesa e me volto a cadeira onde meu interrogado está amarrado e amordaçado. Olho para Ametista que sorri imaginando meu próximo passo. Me sento na mesa à sua frente,cruzando as pernas,chamando a atenção do homem. Engraçado,mesmo com o medo do que pode lhe acontecer,o desgraçado não trai seus instintos sexuais.Pigarreio com um sorriso diabólico.— Seria mais interessante se me olhasse nos olhos em vez das minhas pernas. — Olho para Ametista e ela atende ao comando,retirando a mordaça. Sorrio para meu prisioneiro. — Alejandro González.O homem cerra os dentes e me encara com uma face nada amigável.— Rubi Jenner — ele cospe meu nome com ódio na voz. — O que quer comigo?Estudo-o com os olhos.— Você tem algo que eu quero e eu posso garantir que minha superior não faça nada a sua família. — Desço da mesa e me ap
Suas pernas estão trêmulas e sua respiração está ofegante… Eu gosto. Gosto muito disso.Solto-a e guardo minha pistola,olhando para Carmín e peço desculpas. Saio daquele refeitório com meu sangue borbulhando nas veias. Subo as escadas até os estúdios de dança e me sento no meu lugar preferido. Nas enormes janelas com vitrais italianos,no alto,logo abaixo,a turma da tarde ensaia seus passos de balé. Scarlett designou cada uma de suas pedras preciosas para diferentes funções,sem deixar de exaltar que cada uma de nós já somos belas e a beleza é a arma mais perigosa que existe. Existem as preciosas para ataques aos inimigos e excelentes nas linhas frontais,existem as sensuais para distração de nossos rivais,e,por último,as pedras do encanto,que são como se fossem cristais com refletores capazes de nos cegar com tanto brilho: as dançarinas. Elas dançam com leveza e delicadeza,atingindo com força os nossos olhos,nos prendendo aos seus passos enquanto as pedras do ataque fazem o resto do tra
Fecho o caderno e checo meus olhos. Estão secos. Há mais ou menos oito ou seis anos atrás,essas palavras escritas por mim ainda causavam algum rebuliço por dentro. Mas não sinto mais nada. Meu coração tinha se tornado uma pedra como aquele rubi em minhas mãos. E eu não ligava.Olho para baixo e Esmeralda e as demais bailarinas não estavam mais lá. Eu estava sozinha. Desço da janela com o auxílio das escadas e rumo até os espelhos do estúdio. Estou mudada. Tingi meus cabelos castanhos-escuros há cinco anos de ruivo,comecei a fazer academia e ganhei mais corpo,enquanto moldava minha postura para algo amedrontante e intimidador. Deixei aquela Sofia morrer. E sabe,eu não me arrependo disso,e isso não me preocupa. E sei que é assustador.Nem mesmo as memórias em um papel embalam o coração de rubi.Saio do estúdio levando o caderno comigo. ***Rio de janeiro, Brasil27 de Abril,2012.Eu gostava de andar de bicicleta toda tarde pela nossa rua.
Dias atuais…Buenos Aires,ArgentinaFecho o caderno e amasso aquele bilhete que tinha escrito para entregar a Marcos e nunca o fiz. Procuro pela lata de lixo no quarto e não encontro,retorno para a cama e jogo o pedaço tosco de papel de volta no caderno velho. Nem sei o porquê de ter trago isso comigo para cá,devia ter deixado onde estava,onde é o seu lugar,sufocado no passado daquela garota franzina e fraca de anos atrás. Caminho para o banheiro e arranco a camisola de seda,passando pelas pernas,enquanto me inclino para girar a torneira para encher a banheira. Ponho o roupão e abro a embalagem dos sais e deposito dentro da água,formando espumas atrativas. Me sento na tampa do vaso sanitário e gasto o resto do tempo de espera até a banheira estar cheia de água para navegar pela internet.Abro meu Instagram e troco meu pessoal por uma conta fake que criei há uns dias para stalkear a vida perfeita da primeira-dama. Digito Soraya Albuquerque na barra de pesquisa e clico no perfil verific